A Carta do Papai



Gina dormiu pouquíssimas horas naquela noite, e dormiu mal. Foi um sono pesado, cheio de pesadelos. E em todos eles estava Harry, seus irmãos, Draco e Voldemort. Na verdade ela nunca o via o Lord das Trevas nos sonhos, só ouvia sua risada. Tinha sido um sonho parecido como aqueles que ela sempre tinha, desde o incidente da câmara secreta. Ele ria, ria... Ria dela ou ria com ela? Gina não saberia responder. Suas únicas palavras, em anos assombrando seus sonhos, eram sempre as mesmas. As exatas mesmas palavras que apareciam escritas no diário quando a pequena Gina escrevia pela primeira vez no dia. E foram as primeiras palavras que a garota ouviu da voz dele, quando ele lhe apareceu fisicamente, pela primeira vez.

- Bom dia, menina Virgínia!

Com essas palavras ecoando na voz jovial de Tom Riddle, Gina despertou.



Então Lúcio Malfoy ainda estava na ativa. Claro que estava, um homem como aquele nunca sabe a hora de parar. Gina estava admirada com a própria alienação diante de tudo aquilo. Só agora ela percebia que todos estavam mais quietos e mais preocupados... Com milhões de pensamentos passando pela sua cabeça no mesmo minuto ela se perguntava como não tinha percebido o clima tenso no colégio antes.

"Em que planeta eu estava?", ela se perguntava sem sinceridade, já que a resposta era evidente. Dava-lhe um pouco de medo perceber que Draco ocupava tanto seus pensamentos, e há tanto tempo, que ela nem tinha notado o mundo à sua volta. Se dava medo, também era estranhamente confortante, saber que , quando tudo ficasse muito ruim, ela teria algo no que pensar. E, por falar nisso, tinha pensado nele o dia todo, em todas a aulas. Ficou preocupada quando não o viu em nenhum lugar. Até foi falar com seu irmão no meio de uma troca de aula, só pra ver se via Draco por ali. Foi tudo inútil, ele não tinha assistido às aulas.

A garota ruiva que falava sozinha enquanto se afastava do campo de quadribol, era toda feita de preocupação. E se ele tivesse piorado? O vento gelado cortava seu rosto, por mais que ela subisse o cachecol até quase lhe cobrir os olhos... Mais cortante do que o frio, era a culpa. Seu irmão e seus amigos preocupados com a segurança de todos, e ela indo correndo se encontrar com um Malfoy. "Mas ele é diferente...", ela pensava confiante, "Se não fosse, não gostaria de mim". Ela estava contornando o baobá quando uma mão gelada e uma voz arrastada a interceptou.

- Agora você fala sozinha por aí? - Gina foi puxada para um abraço

- Draco! Você quase me matou de susto! - ela exagerava.

Enquanto estiveram abraçados, ela aproveitou para reparar se ele estava bem. Observou detalhadamente se ele parecia mais forte ("Pobrezinho, estava tão debilitado!"), se esta inteiro ("Ainda bem que sim...") e, instintivamente quis ver se ele estava corado. Claro que não estava. A julgar pela palidez da pele, e pela sua temperatura, Draco estava morto. "Que pensamento do mau gosto", Gina recriminou-se.

- Como você esta? - ela perguntou carinhosa.

- Ótimo! Eu teria saído pela manhã da enfermaria, mas Madame Pomfrey insistiu para que eu ficasse pelo menos até o almoço... - ele explicava despreocupado.

-...E você, muito esperto, aproveitou pra tirar o dia de folga? - ela completou divertida.

- Não fale assim! - ele disse em tom grave - Eu estava velando a minha StarCaptor!

A visão da vassoura quebrada passou rapidamente pelos olhos de Gina.

- Ela ficou muito ruim, né?

- Ruim? - ele riu - Foi perda total! Alias, preciso escrever pro meu pai pra ele me mandar uma nova.

- Deve ser muito cara... - ela pensou em voz alta.

- Ah! Custa mais que a sua casa! - ele disse com um sorriso maldoso, que logo se dissipou. - Desculpe! Foi força do hábito...

Gina deu de ombros tranqüilamente, sorrindo.

- Tudo bem. Provavelmente custa mesmo...

O sonserino adorou ser surpreendido por tanta maturidade. Afinal, Gina não era tão "bobinha" como ele achava antes... "Na verdade, ele pensou, "ela não é nada 'boninha'..."

Falaram de trivialidades por alguns minutos, até que Draco ficou sério de repente, e perguntou:

- Você acha que avisaram meus pais sobre meu acidente?

- Claro! - Gina disse prontamente. - Pelo menos todas as vezes que o Neville teve... er... acidentes...eles avisaram na casa dele.

Draco ia continuar falando, mas algo bateu no seu rosto fazendo um barulho estalado. Gina conteve o riso enquanto Draco observava o objeto. Um pequeno envelopinho preto, fechado com um brasão prateado.

- Coruja estúpida... - ele praguejou vendo a ave ir embora. Ele passou os olhos mais uma vez pelo envelope e, com a expressão muito severa, voltou-se para Gina.

- Vá embora...

- Hã? - ela não entendeu nada - Draco, o que foi?

- Gina, vá embora, depois eu te explico... - ele foi ligeiramente ríspido.

Contrariada, ela passou pela frente dele, para ir embora. Ouviu-se um barulhinho de papel, e Draco empurrou-a de volta para trás dele. O barulho era o envelope abrindo se sozinho. Gina lembrou do berrador que o irmão recebera há alguns anos, e dos vários que Neville sempre recebia. Um berrador preto? Com um brasão de família? Gina achou que aquilo só podia ser ruim.

- DRACO SEU IDIOTA! - berrou irada a voz masculina de dentro do envelope, que se sacudia violentamente na frente de Draco - O QUE EU TE FALEI SOBRE QUADRIBOL? ISSO NÃO É BRINCADEIRA MOLEQUE! VOCE SABE QUE VAI PRECISAR ESTAR INTEIRO QUANDO CHEGAR A HORA! JÁ ESTA NA HORA DE VOCE PARAR DE SE ARRISCAR DESSA FORMA IRRESPONSAVEL! É MELHOR QUE VOCE JÁ ESTEJA INTEIRO QUANDO RECEBER ESSA CARTA, SENÃO EU MESMO...!- nesse ponto a voz pareceu hesitar - SEJA CAUTELOSO, DRACO!

Gina só voltou a respirar normalmente, quando o envelope se desfez em pequenas partículas, negras, parecidas com areia. Draco pareceu fazer o mesmo. O alívio passou rápido, porque ela agora estava apreensiva esperando que Draco explodisse como o berrador. Ela o ouviu suspirar tedioso.

- Bem, - disse virando se de frente para Gina. Ela não entendeu quando viu que ele dava seu característico sorriso de desdém - Acho melhor esperar até amanhã pra falar sobre a minha vassoura nova.

Como era possível que ele estivesse tão tranquilo? Se seu pai falasse daquele modo com ela...Ah! Ela não conseguia nem imaginar o quão mal se sentiria. Será que Draco estava fingindo? Ou estava escondendo o que sentia? Ela tentou encontrar a resposta nos olhos cinza de Draco, mas eles pareciam insondáveis, como se cobertos por uma neblina espessa. Cinza. Os olhos de Draco não lhe diziam absolutamente nada, e sua expressão parecia tranqüila. Mas não era possível que ele estivesse tão tranqüilo, era? Ela o abraçou apertado e afundou o rosto no pesado casaco que ele usava, que alias, era pesado demais para o frio daquela tarde.

Draco não estava esperando aquela reação e, por isso, não retribuiu de imediato o abraço. Lentamente ele pôs os braços em volta dela. Gina pôde ouvi-lo sorrir e sentiu os dedos gelados do garoto passeando pelo seu rosto. "Como ele faz isso?", foi o pensamento nervoso que ela teve ao sentir-se congelar e aquecer ao mesmo tempo, ao toque do sonserino. Como se ele tivesse escutado o pensamento dela, Draco deu um toque inconfundível de malícia ao sorriso.

- O que você tem, Gina? - ele disse enquanto brincava com o cabelo dela.

Quando chegar a hora? De repente essa expressão, dita com tanta ênfase pelo pai de Draco, veio à mente da garota. Ela o abraçou mais forte ainda.

"Eu amo você", ela repetia desesperadamente em sua mente. Porque não dizia? Não parecia importante, não parecia necessário. Ela torcia para que ele pudesse sentir. Ele podia. Ela soube disso quando Draco ergueu seu rosto e a beijou passionalmente. Não foi preciso dizer mais nada...

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