Capítulo 18



Capítulo 18

Observava. Ele apenas observava. Observava seu anjo caído. Ela apenas dormia e sonhava. As dez horas do dia aproximavam-se. O silêncio do quarto era quebrado apenas pela respiração suave e cadenciada dela. A respiração de Julien mal se fazia ouvir.

Mas o que Julien despertara nele? Ele sentia que precisava protegê-lo. Mas não era um sentimento com a mesma intensidade com a qual ele sentia que precisava proteger Angel. Julien cativara nele uma certa afeição. Não conseguia definir. Mas sabia que Julien despertara algo. Talvez o mesmo sentimento que é compartilhado inconscientemente por irmãos. Mas não era o amor despertado por filhos. Talvez por irmãos.

Ela dava mostras de que acordava. Ela abriu seus olhos castanhos, ainda sonolentos, mas lindos mesmo assim.

-Oi...-ela quebrou o silêncio.

-Bom dia.

-Que horas são?

-Dez horas.

-Eu dormi tudo isso?

-Acho que sim...

-E você? É óbvio que não dormiu...

-Não. Insônia, você sabe. E não dá para dormir decentemente naquelas cadeiras.

-E o que você ficou fazendo a noite inteira?

-Pensando...E tomando café. Foram três copos.

-Não me espanta que você não tenha conseguido dormir.

-E eu falei com seu irmão.

-Qual deles?

-O do Gringotes.

-O Gui? Temos algum progresso então. Mas o que você falou com ele?

-Nada de mais. Só ofereci a ele um emprego de 1000 galeões.

-Anuais?

-Não. Mensais.

-E ele?

-Disse que ia conversar com a esposa.

-Ahn...

Não pôde completar a sentença. Um choro agudo preencheu o quarto. Julien acordara. E estava com fome. O silêncio se instalou novamente sobre o quarto enquanto Julien mamava.

Uma hora correu. Julien voltara a dormir. Uma batida na porta se fez ouvir. Logo em seguida, um medibruxo adentrou o quarto.

-Bom dia, senhorita Weasley. Antes de lhe dar alta, gostaria de fazer alguns exames em você e na criança. Apenas rotina.- o medibruxo virou-se para ele.- O senhor poderia nos dar licença?

Ele não respondeu. Apenas saiu do quarto. Voltou à sala de espera. Dos Weasley, só estavam presentes Molly Weasley. Todos os demais haviam ido para seus empregos.

Voltou a sentar-se em uma das cadeiras desconfortáveis da sala de espera. O hospital estava começando a ficar repleto de pessoas. Não tantas quantas quando a guerra ainda durava. O hospital estava muito mais silencioso do que nos tempos de guerra. Não havia gritos ou soluços preenchendo o ar.

Seus pensamentos voltaram-se para alguém que, supostamente, deveria permanecer ali, enterrado vivo em insanidade e obsessão, até o fim de seus dias. Ele se perguntou por quanto tempo as paredes do hospital iriam encarcerar Lúcio Edward Malfoy. Quanto tempo até Lúcio desistir da farsa? O antebraço esquerdo deu uma fisgada. Algo em seu interior gritava que Lúcio sairia dali. Custasse o que custasse. Algo em seu interior gritava que Lúcio apenas aguardava a sua hora. E ele tinha certeza de que seria o primeiro a saber quando Lúcio resolvesse pôr fim àquela encenação. Lúcio se encarregaria disso. E a maldita marca em seu braço também.

Mas faltavam peças no quebra cabeça. Por que Lúcio não matara Angel? Era o destino de todas as outras. Por que Lúcio tivera aquele acesso de ira? Lúcio Edward Malfoy podia agir como alguém tomado pela insanidade em alguns momentos, mas ele sabia que Lúcio não era insano. Lúcio Edward Malfoy era cruel. Ele deu de ombros. O tempo se encarregaria das respostas, caso elas tivessem de vir à tona.

Mas ele receava. Receava por Angel. Receava por Julien. Tinha certeza de que Lúcio usaria um deles ou até mesmo ambos para tentar arrastílo de volta ao inferno.

Foi nesse momento que se decidiu. Não perguntaria à Angel se ela preferia Bristol ou a Cornualha. Ele já havia decidido. Seria a Cornualha. Ela teria o mar. Ele teria o isolamento que desejava.

Havia decidido. Só lhe restava convencê-la. Ela relutaria provavelmente. Provavelmente ela não desejaria se afastar tanto da família. Mas ele a convenceria. Não demoraria muito e aquele apartamento começaria a sufocílo. Era pequeno demais. E ele sempre fora acostumado a mansões e grandes propriedades. Além disso, aquele apartamento era perto demais de seu passado.

Perto demais de um passado que ele queria esquecer. E que Londres não deixava. Fora naquela cidade em que torturara. Fora naquela cidade em que matara. Em comparação aos outros, haviam sido poucos. Apenas para provar lealdade. Era a sua vida ou a dos que haviam morrido. Queria esquecer. Queria escrever seu próprio destino. E faria isso. Faria isso com Angel.

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