Capítulo 2



Ele estava novamente em seu quarto, sua penumbra, seu inferno. Os urros furiosos de Lúcio ainda ecoavam pela casa. Mas não deu atenção a ele. Não até que ele começou a esmurrar a porta de seu quarto, ordenando que a porta fosse aberta. Ele urrava seu nome. Draco Alexander Malfoy. Nome de conquistadores. Nome de destruidores. Seu nome. Com um movimento da varinha do ocupante do quarto, a porta escancarou-se. Uma corrente de ar fresco invadiu o quarto. Ele ouviu as botas de Lúcio batendo pesada e furiosamente no chão de pedra, enquanto este adentrava o quarto. Ele preparou-se para o pior. Que não falhou. Veio.


-Seu imprestável! Seu inútil!- ele finalmente levantou-se da cama. Agora eram as suas botas que batiam no chão de pedra. Dois pares de olhos prateados cintilavam na penumbra.


-Cale a boca.- seu tom era gelado.


Levou uma bofetada. O pesado anel de prata com uma enorme pedra verde de formas afiadas cortou-lhe o rosto. Não houve reação. Um fio de sangue escorria pelo lado direito do rosto virado para a esquerda, os fios de cabelos por sobre o rosto, manchando-se de sangue.

Foi tudo muito rápido. Um erguer de olhos prateados e Lúcio chocava-se violentamente contra a parede. Ele se afundava mais em seu próprio inferno. Lúcio ergueu-se, tentando demonstrar orgulho, arrogância e sanidade. Sanidade há muito não existia naquela casa.


-Insolente! Ah, mas o Mestre vai gostar de saber que você tem pleno controle sobre seus poderes. Já era hora. Você sempre foi mais poderoso que os outros, moleque.


Os olhos antes baixos ergueram-se subitamente, faiscando. Lúcio foi novamente jogado contra a parede. Dessa vez, foi impedido de levantar-se. Ficou ali, jogado contra a parede, sem conseguir mover-se, os olhos do filho cheios de ódio fixos nele.

Finalmente, Lúcio caiu no chão gelado. Estava sozinho. Sozinho com sua ira. Sozinho com sua insanidade. Sozinho com sua esposa bêbada e arruinada.

O jovem Malfoy se fora. Simplesmente sumira, levando consigo apenas a roupa do corpo e a chave do cofre em Gringotes. Queria construir seu próprio inferno.

Quando ele deu-se conta, adentrava o Saint Mungus, e percorria o caminho até o quarto daquele anjo. Não sabia se estava lá. Mas apenas a confirmação de que ele não era o único condenado a viver em um inferno satisfazia-o. Gritos e soluços ainda cortavam o ar.

Chegou no quarto. Ela ainda estava lá. Um anjo caído. Dormindo. Sozinha. Poderia ser dada como morta, livre daquele purgatório que era a vida, se não fosse o leve movimento que seu peito fazia ao buscar o ar que lhe era necessário para prolongar a vida naquele purgatório. Ele percebeu que havia uma mecha de cabelo sob o rosto dela, quebrando o branco daquela pele de anjo. Ele adiantou-se para tirá-la do rosto dela. Ao encostar sua mão, fria como o habitual, no rosto dela aconteceu algo inesperado. Aquele anjo começou a debater-se e gritar horrivelmente, sem acordar.

Ele saiu rapidamente do quarto, ganhando a rua em poucos minutos. Do lado de fora havia uma neblina horrível. Ele pôs-se a vagar pela cidade, até que encontrou uma escadaria e, cansado de errar pela cidade, sentou-se nos degraus de granito, apoiando o rosto nas mãos, os dedos enterrados nos cabelos.

Aqueles gritos...Já os ouvira antes...Onde? Quando? Naquele momento, ele estava perdido no espaço e no tempo. Não sabia onde estava. Não sabia que horas eram. Não sabia que dia era. Nem sequer tinha certeza de saber em que mês se encontravam. Tinha a vaga impressão de que estavam em meados de novembro. Mas como saber? O clima não lhe permitia dizer em que mês estavam. O clima daquela ilha era horrível. Quando não tinha neblina, chovia. Quando não chovia, nevava. Londres não sabia o que era um dia ensolarado, com o céu sem nuvens. Mas aqueles gritos...Eles lhe eram familiares. O problema é que já havia ouvido muitos gritos. Gritos de pessoas antes de morrer. Gritos de pessoas quando viam que seus entes queridos estavam mortos. Gritos de pessoas queimando. Gritos de pessoas sendo torturadas. A única pessoa que nunca ouvira gritar de dor era ele mesmo. Ele sofria calado. Sofria sem sequer deixar transparecer a dor que sentia em seu olhar. Dor fazia parte do inferno, não fazia? Sofrer também era uma parte do inferno ou não? Estava acostumado a isso. Em seu mundo não haviam cores. Ele jamais conhecera a alegria ou a esperança. Nascera condenado ao inferno. Nascera no inferno. Desde sempre fora condenado a ser um anjo da morte.




N/A
bom, outro cap...Comentem, please!

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