Capítulo 17



Capítulo 17

Todos os Weasley ainda estavam lá. Ele sentou-se em uma cadeira afastada. Queria ficar sozinho. Gostava da solidão. Conjurou um copo de café. Pôs-se a beber o líquido quente e amargo em goles curtos e distanciados.

Após minutos, o Weasley de cabelos compridos se aproximou e sentou-se ao seu lado.

-Quem diria. Um Malfoy e uma Weasley.

-É. Quem diria.- ele respondeu distante.

O silêncio caiu sobre eles. Ele pensava em como iria usar as empresas para limpar seu nome. Provavelmente, elas precisariam de uma renovação total de pessoal. Daria trabalho. Então ele se deu conta. O Weasley ao seu lado trabalhava no Gringotes. Como desfazedor de feitiços. E ele precisaria de pelo menos um em suas empresas.

-Você trabalha no Gringotes, não?

-É. Só aturo aqueles duendes porque realmente preciso do emprego, sabe.

-Sei...E você é bem pago por eles?

-Dá para viver...

-Você trocaria o emprego no Gringotes por um emprego de 1000 galeões mensais?

-Sem pestanejar. Mas ninguém pagaria tudo isso para um desfazedor de feitiços.

-Eu pagaria.

-Você? Mas por quê?

-Bem, você deve saber que os Malfoy possuem várias empresas em vários setores bruxos. Só que essas empresas nunca foram usadas como empresas. Então, eu pretendo explorá-las como tais. Só que todo o pessoal teria que ser demitido, sabe, estão até o pescoço em magia negra. O que é péssimo, em termos de imagem. Então, eu precisaria de um desfazedor de feitiços. E eu pagaria 1000 galeões. Mas não precisa decidir agora. Quando você decidir, me avise.

-Tudo bem. É que preciso conversar com a Fleur...

-Sua esposa?

-Sim. E hoje não é um bom dia...TPM, sabe?

-Deve ser terrível...

-E é. O sangue veela fala mais alto. Bem mais alto. Ah, Fred está me chamando. Não se preocupe. Quando eu conversar com ela, te mando uma coruja.

E o ruivo se foi. Ele estava sozinho novamente. Como sempre estivera. Mas agora ele tinha Angel. E ela tinha a ele.

Ele agora se entretinha com o copo vazio. A madrugada corria. E ele fazia planos para as empresas. Angel não dissera que os gêmeos tinham uma loja de logros? Quem sabe ele não poderia fazer uma parceria com eles? Ele financiaria as invenções, as filiais, tudo. E teria parte nos lucros. Os Weasley cochilavam nas cadeiras. Ele apenas observava. E fazia planos. Não havia um que trabalhava com dragões? Poderia patrocinar as pesquisas e a reserva em que ele trabalhava. Observava o movimento de medibruxos e curandeiras.

Brincava com a aliança. Tirava-a e colocava-a de novo. Uma Weasley e um Malfoy. Tentava lembrar-se dela em Hogwarts. Lembranças começaram a invadir seus pensamentos. Fora ela quem lhe lançara uma Azaração para Rebater Bicho Papão em seu quinto ano. Outra lembrança surgiu. Fora ela quem mandara um poema ridículo para o Potter em seu segundo ano. E agora ela era sua noiva.

A noite se transformava em alvorecer. Os Weasley ainda dormiam. Mas ele se mantinha vigilante. Atormentado pela insônia, ele observava os bruxos que chegavam ao hospital.

Precisava de algo que o distraísse. Durante as madrugadas insones no apartamento, ele brincava com os cabelos dela. Ou ficava a contemplá-la. Tão bela. E era sua. Mas ela não estava ali. Estava longe. Reclinou-se. Apoiou a parte superior das costas no encosto da cadeira. A vida sabia ser cruel. Novamente ele teria de pagar por algo que não fizera. Pagaria por algo que Lúcio Malfoy fizera. Novamente. Lúcio Malfoy jogara o nome da família na lama. E quem pagaria? Ele, Draco Alexander Malfoy. Ele teria que lutar para fazer com que o nome Malfoy fosse arrancado da decadência em que mergulhara.

A luz invadia o aposento. Ele observava a lenta expansão da luz através do aposento. Os Weasley haviam acordado. E se ele tivesse recusado? Recusado o seu destino? E se houvesse se rebelado? Provavelmente estaria morto. Ou sendo caçado como desertor das fileiras do Mestre. E os motivos para tanto nunca lhe haviam sido dados. Pelo contrário. Haviam sido banidos.

Ele fez com que outro copo de café surgisse do nada. O copo de isopor era negro. Negro como um dia ele fora. Em algum lugar em sua alma ele ainda era negro. Mas o negro era sufocado pelo cinza escuro que agora se apossava de seu interior. Balançou a cabeça. Estava filosofando demais. Sobre o passado. Achou melhor encerrar a filosofia antes que feridas fossem reabertas. Antes que memórias acorrentadas se libertassem. Aquele apartamento logo ficaria pequeno demais. Precisariam se mudar para uma casa. Mas a questão era onde? Ela uma vez lhe dissera que amava o mar. Ela dissera que o mar a fascinava por sua capacidade de mutação. Uma calmaria podia subitamente se tornar uma tempestade. O que era apenas uma planície de água calma podia se encapelar em fúria contida. E todos subestimavam a força do mar. O mar podia corroer lentamente. Ou podia arrastar cidades para o caos em minutos.

Quem sabe a Cornualha? A Cornualha era uma península, no sudoeste da Grã-Bretanha. Em alguns pontos, seu litoral era extremamente rochoso. Ele gostava disso. E havia o mar. Mas também havia Bristol. Bristol era uma cidade portuária inglesa, a oeste de Londres. Era também um centro comercial de destaque desde a sua fundação. Além disso, era um importante centro industrial. Para ele e seus negócios Bristol seria melhor que a Cornualha. Mas o mar da Cornualha era mais bonito. E agora? O melhor a fazer seria conversar com ela. Também precisaria saber se ela preferiria uma casa nos arredores de Bristol ou uma propriedade de campo na Cornualha. Os recursos não faltavam.

O café acabara. Fez com que o copo sumisse. E conjurou outro. Não deveria estar fazendo isso. Mas sua varinha estava no apartamento. Tomou um grande gole. O líquido desceu queimando. Ele ignorou. Observava de novo os Weasley. Eles haviam acordado. E agora conjuravam seu café da manhã. Mas ele não tinha fome. Tomou outro gole. Observava o que os Weasley haviam escolhido para o café da manhã. Guilherme comia ovos com bacon. Carlinhos escolhera salsichas e ovos. Os gêmeos comiam torradas e salsichas. Ronald optara por torradas e ovos. Mas o senhor Weasley comia torradas, bacon, ovos e salsichas.

Lembranças vieram à tona. Lembrou-se de quando a trouxera pela primeira vez. Pálida. O sangue escorrendo. Empapando suas vezes. Os gritos que ecoavam pelos corredores. A balbúrdia ao seu redor. A confusão. O medo. O pânico. Os soluços. O pranto.

Ele sufocou as lembranças. Não queria trazer aquele inferno de volta. Ela o havia destruído e enterrado. Ele não iria refazê-lo. Ela lhe dera motivos para lutar contra seus demônios. Ela era o motivo. Se ao menos ela tivesse aparecido antes. Se ao menos alguém tivesse aparecido antes. Alguém que lhe desse os motivos para uma negação. Uma negação de seu destino traçado por outros. Não por ele. Ele nunca tivera controle sobre seu destino. Até ela tirá-lo do inferno.

Tomou o último gole que restava. Os Weasley haviam terminado a refeição. Com acenos de varinha, eles faziam com que os pratos sujos simplesmente sumissem. Não iria ficar se perdendo dentro do passado. Ou imaginando como sua vida poderia ter sido diferente se alguém o tivesse ensinado a amar quando ainda era tempo de rejeitar seu destino.

Recostou-se na cadeira. Amassava o copinho de isopor, fazendo com que estalos abafados ecoassem pela sala. Que horas eram? Ele buscou com o olhar um relógio. Havia um no balcão. Oito horas. Que horas ela seria liberada? Aquele lugar estava arruinando sua sanidade. Mas não sairia dali sem ela.

Decidiu perguntar. Levantou-se. As costas doíam. O pescoço estalava. Culpa da noite passada na cadeira. Foi até o balcão.

-Pois não?- a curandeira o atendeu.

-A senhorita Weasley. Que horas ela será liberada?

-Só posso dar essa informação para a família dela.

-Mas eu sou o noivo dela.

-Infelizmente, só posso passar essa informação à família Weasley. Ou com a autorização da família.

Ele deu as costas ao balcão. Como poderia saber? Olhou para os Weasley. O Weasley com quem ele conversara na noite anterior vira a cena. E agora se encaminhava para o balcão.

Minutos mais tarde, o Weasley se encaminhava para ele.

-Ela disse que a Gina deve ser liberada daqui a umas duas horas. E eu também consegui convencê-la a deixá-lo entrar. Apenas uma pequena retribuição pela proposta que você me fez ontem.

Ele assentiu. O Weasley se afastou. Ele levantou-se. Precisava vê-la. Adentrou os corredores. Parou em frente à porta do quarto dela. Achou melhor bater antes de entrar. Bateu. A porta abriu com um estalo.

Ele entrou. Ali estava ela. Adormecida. Julien em seu colo. A senhora Weasley estava sentada na poltrona. Ela levantou-se. Antes de sair, ela lhe disse baixinho.

-Não a acorde.

Ele? Acordá-la? Ela parecia tão serena. Os cabelos ruivos estavam levemente desgrenhados. Não conseguiria acordá-la. Sentou-se na poltrona. Observando novamente. Apenas observando.

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