A Herdeira do Trono



Capítulo 4 - A Herdeira do Trono

A
LUZ DA LUA ENTRAVA sem pedir licença pela minúscula abertura das maciças paredes de pedra da prisão de Azkaban, que como estava situada muito mais ao norte, já havia sido invadida pelo breu. As celas com portões de aço enfeitiçados estavam abarrotadas com as centenas de novos prisioneiros adquiridos naquele mês, de forma que a movimentação de guardas, tanto aurores quanto Dementadores, era intensa. O ar estava muito mais denso que o normal, pois o número de Dementadores havia sido aumentado consideravelmente, para compensar a atmosfera alegre proporcionada acidentalmente aos condenados pelos patronos dos aurores.


Mas a parte mais alta e interna do edifício triangular estava recebendo uma atenção especial, já que era ali que estavam confinados os Comensais da Morte. Naquela parte da prisão, havia oito Dementadores para cada individuo em cela.


Belatrix Lestrange estava agachada no frio chão de mármore da sua solitária, aguardando julgamento. Não deitava na cama porque ela era feita de ferro, que estava enferrujado pela rara brisa marítima que conseguia entrar pelos nichos da pedra. Então, só restava o chão repleto de limo, no único vértice em que a luz da lua não incidia. A roupa que usava estava repleta de suor, não pelo calor, mas pelas visões que os Dementadores projetavam em sua mente; não piores que aquelas que o Lord projetava em sua mente. Ela estava muito triste por ele não ter correspondido seu amor de uma forma satisfatória em vida, mesmo ela cumprindo todas as tarefas a ela confiadas, desde o auxílio na tortura de Franco e Alice Longbotton.


Afinal de contas, ele não teria espaço para ela em sua vida de dominações e torturas. Não poderia correr o risco de a sua imagem ser abrandada com um romance. Quando ele aprisionou aquela maldita cobra ao seu lado, começou a desconfiar que ele houvesse feito Horcruxes, até tentou destruí-la, mas não teve coragem de matar o seu amado, pois sabia que ele haveria de confiar a ela uma missão maior, e estava certa.


Mas como haveria de fazê-la? Como iria pô-la em prática?


Ela não sabia as respostas, certamente estava sozinha, já que sua irmã, sua terrível e ignorante irmã, estava livre junto de seu marido e filho, morando naquela maldita casa. Não conseguia entender, Belatrix, que sempre fora tão leal ao Lord das Trevas, era aquela que mais estava sofrendo. Não conseguia entender.


Snape? Será que ele poderia ajudá-la? Não. Ele era muito covarde, quase nunca entrava em combate, escondido debaixo da saia de Dumbledore, com a desculpa de estar espionando-o. Além do mais, corriam boatos de que ele havia feito um voto perpétuo com Narcisa para proteger Draco, segundo o que Rabicho havia lhe dito.


Rabicho também era outro inútil, não só por estar morto, mas também por ter conseguido a proeza de se suicidar por acidente. Talvez mantivesse o cérebro de rato depois de se transformar em bruxo.


Ela pegou sua colher, puxou a lata e que se servia comida na prisão para mais perto de si, e mexeu a comida. Não teve surpresa em constatar que estava congelada. Ao olhar para aquela mistura de milho e leite na lata, lembrou-se das fartas refeições que tinha ao lado do seu mestre, e de todo o conforto que ele a proporcionava, embora ainda assim nem desconfiasse de seu amor.


Teve ódio, a cada dia que passava ela nutria cada vez mais ódio do Potter, o mero pensar naquela figura deixou-a enojada, todas as coisas que perdera por causa daquele pirralho, a esperança de conquistar o amor de Voldemort, de vingar-se de sua irmã bem sucedida, e de Snape. Ora, porque ele havia ajudado Draco a se livrar de um duelo com Dumbledore que certamente resultaria em sua morte, idéia que ela havia sugerido ao Voldemort, como uma forma de punir sua irmã pelo seu fracasso.


Narcisa sempre foi a mais bonita, simpática, e procurada para os encontros. Ela sempre teve toda a atenção dos pais, e graças a eles havia se casado com um dos homens mais ricos e poderosos da época. Então, quando ambas se alistaram no serviço a Voldemort, Belatrix encontrou sua forma de passar por cima da irmã, mostrando que a superioridade de sua astúcia e dedicação ás Artes das Trevas, venceriam o charme e inteligência da irmã. Mas a atual situação era uma prova de fogo. Era necessário manter a lealdade a ele, mesmo estando morto? Claro!


Ela se levantou com dificuldade, pois seu corpo era praticamente só esqueleto, apoiou as mãos no minúsculo nicho na pedra e vislumbrou o mar pela primeira vez desde que fora posta ali. Como poderia escapar?


De repente, ela sentiu um calor muito forte (ou seria pela intensidade do frio que sentia?). Pôde ouvir o Dementador em frente à sua cela recuar alguns metros, olhou para o lado e viu que um esquilo prateado havia entrado por entre as grades, seguido por três bruxos altos, com as varinhas acesas apontadas para o seu rosto. O bruxo que estava no meio falou, sua voz ecoou no andar:


- Belatrix Lestrange?- ela acentiu, assustada – Você será encaminhada à Suprema Corte para julgamento.


 

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