Brooklin



CAPÍTULO 17 - BROOKLIN


HERMIONE JANE GRANGER SE dirigiu ao caixa, com a bolosinha de contas cheia de trocados. As moedas talvez estivessem fazendo mais barulho que os meses de tralhas que se acumulavam dentro dela.


Iria demorar, pois a atendente daquela loja de conveniência vinte e quatro horas, a única da região, estava ajudando uma senhora a carregar suas compras para fora.


- Em que posso ajudar? – a atendente perguntou. Hermione tinha realmente muitos problemas ultimamente, mas com certeza não seria uma balconista o salvador da pátria. Sem mais delongas, pagou a conta e foi embora. Na primeira esquina, vestiu a capa da invisibilidade e desaparatou.


Caiu cerca de uma quadra antes do esconderijo, por causa dos feitiços de proteção. Apertava bem a sacola de papel junto ao peito, bem como a bolsinha de contas. Chegou à curva já conhecida daqueles últimos dias em Nova York. O mar naquela parte do porto refletia o luar, e os galpóes abandonados formavam um todo fantasmagórico. As luzes da cidade distante não acalentavam a situação.


Se aproximou da casa em estilo colonial, quem seria capaz de escolher um lugar como aquele para se esconder? Afinal de contas, o edifício estava condenado, e as venesianas não eram abertas havia séculos.


- Até que enfim! – Rony reclamava – estou morrendo de fome!


- Pare de reclamar Ronald – Gina apareceu – ela tem feito de tudo nesses dias.


- Claro – Harry confirmou. Foi Hermione quem teve a idéia de fugirem para os EUA, porque este é o país com o maior índice de desaparatação registrado pelo Ministério da Magia. Estavam ali fazia mais de uma semana, e ainda assim, nem sinal de Belatrix.


Harry foi ajudar Gina a organizar as coisas na despensa.


- Harry, você precisa descansar! – Gina o impedia.


- Acho que já cansei de descansar – ele brincou, mas a monotonia daqueles dias era angustiante. Pior agora que sabiam que Belatrix tinha um comparsa. De que outra forma ela conseguiria colocar quatro mortalhas-vivas dentro de um trem num lugar tão remoto?


- Não se preocupe – Gina realmente tinha o dom de adivinhar seus pensamentos – encontraremos um jeito de acabar com isso tudo antes do fim do ano.


O fim do ano ia mesmo chegando depressa. O outono já ia morrendo e as folhas das árvores já não existiam.


O frio foi constatado naquela mesma noite, quando Hermione teve que reproduzir as chamas azuis que fazia na caça às Relíquias. Uma nova camada de roupas foi adicionada ao corpo de todos. Até Bichento, que parecia ter sumido, surgiu miando do fundo da cesta de vime em que Hermione costumava carregá-lo.


O jantar foi algumas latas de sopa que Hermione comprou naquela loja de conveniência, misturado com alguns legumes e caldo. Rony estava com tanta fome que nem reclamou.


Por volta das dez da noite, Gina sugeriu:


- Harry, não podemos pedir a ajuda de Monstro? – a sugestão incomodou especialmente à Hermione, que pareceu impressionada com a carga que Gina pretendia impôr ao elfo.


- Não – ele respondeu, mas não foi para ser solidário com Hermione – não sabemos onde ele está, não é seguro.


- Hum – Rony resmungou, virou para o lado e dormiu.


- Mas Harry – Hermione desviava dos roncos do namorado – podemos pedir ajuda de outras pessoas,  agora que o Ministério deve saber que não fomos seqüstrados.


- Deve saber – Harry frizou, na verdade não queria muita gente envolvida; primeiro por questões de segurança, e segundo, porque aquela era uma batalha pessoal contra Belatrix; num eco do duelo na Sala da Profecia.


- Sim, mas... – Hermione já ia se irritando com os roncos de Rony, uma rima perfeitamente cabível – temos a AD.


Aquela sigla disparou em Harry lembranças muito pouco confortáveis. Hermione estuporada debaixo de uma montanha de escrivaninhas destruídas, a varinha quebreda de Neville, Rony sendo estrangulado pelos cérebros... E tudo por causa de apenas uma bolinha de vidro. Com o atual possível retorno de Voldemort a situação com certeza seria bem pior.


- De qualquer forma – Gina apareceu inesperadamente – não podemos ficar aqui, esperando que Dumbledore caia dos céus para nos ajudar. – desta vez, Harry quase chorou. Gina não sabia dos conflitos que o trio teve sobre esse assunto no ano passado. Hermione alertou-a com o olhar.


- Desculpe Harry – ela tinha os olhos marejados de lágrimas – não tive a intenção.


- Às vezes, acontecem coisas que não podemos controlar – ele a abraçou, perdoando e consolando-a.


Hermione se sentia um pouco avulsa, olhando piedosa para Rony que roncava de boca aberta no sofá, em uma posição esdrúxula.


- Vamos dormir – Harry apagou a chama azul com um aceno de varinha. Com certeza teriam muito trabalho a partir dali.


 


Harry acordou de seu colchonete mal arrumado no assoalho infestado de cupins quando Rony projetou sua sombra ao passar na frente das largas janelas de venesianas fechadas. Um reflexo fatiado por feixes de luz.


- Para onde vamos? – Gina perguntou, enquanto Harry desfazia os feitiços de proteção da casa.


- Aeroporto JFK – ele respondeu, decidido – vamos pegar um avião.


- Você ficou louco? – Hermione ficou no mínimo espantada – Sequer temos passaportes!


- Francamente mulher, você nem parece criada por touxas! – Rony disse, e por ser Rony todos ficaram admirados – Que é? Eu presto ateção às aulas de Estudo dos Trouxas!


Harry recordou de quando alguns alunos fizeram um pequeno protesto no Salão Comunal, porque a profesora Bourbage passou um filme sobre os trouxas mafiosos.


- Mas porque voar? – Rony perguntou, agora apreensivo.


- Não podemos mais correr NENHUM risco, por menor que seja. Não podemos desaparatar nem ficar vulneráveis. O que fizemos na Sibéria foi no mínimo uma tolice – Harry explicou, e Gina pareceu um pouco ofendida.


- Mesmo assim, vamos estar nos expondo às autoridades trouxas! – Hermione argumentou, e Harry teve de concordar. A Alfândega seria o lugar mais propício para um ataque de Comensais da Morte, especialmete se os policiais começassem a interrogá-lo sobre os usos que fazia daquele objeto pontiagudo potencialmente letal quer era sua varinha – De qualquer forma – ela completou – não agüento mais um segundo nesta MALDITA casa.


 


Andaram por um longo período de tempo, até chegarem a uma área mais densamente povoada. Se sentiam estranhos naquele ambiente. Quatro formigas em um cupinzeiro. O movimento atordoava a qualquer um, e a cada dois minutos a linha suspensa do metrô parecia querer desabar com o peso dos trens. Entraram num táxi.


- Central Park, por favor – Harry pediu ao motorista, que parecia não acreditar no pedido – é pra lá mesmo – Harry confirmou, só depois percebendo que o motorista queria o pagamento adiantado.


Gina lhe entregou uma nota de cinqüenta dólares do prêmio de Rony e ele saiu cantando os pneus.


- Rony, por favor, abaixe o vidro. Estou torrando aqui dentro – Gina pediu, estava mesmo um dia anormalmente quente, em contraste com a noite anterior.


Com os quatro vidros abertos, o táxi chegou ao Central Park após uma hora de trânsito caótico. Iriam descer no próximo quarteirão, e o sinal vermelho irritou o motorista. Hermione estava atenta a esconderijos em potencial naquela zona nobre de Manhattan.


Um pequeno congestionamento ia se formando, quando um motociclista vetido de couro preto parou ao lado da janela de Harry. O que ele tirou do bolso impressionou Harry: uma varinha. Um veio de pavor jorrou pela sua espinha. O comparsa de Belatrix os havia descoberto.


Movido pela curiosidade, fitou na direção do homem, tentando divisar algo pelo visor do capacete, mas nada viu além do seu próprio reflexo. Por uma fração de segundo escapou de ser estuporado. O jorro de luz vermelha atravessou o veículo e arrebatou um caminhão de cervejas que descarregava do outro lado da rua. Estouraram diversos barris, provocando o maior estardalhaço e Harry se esgueirou para fora do táxi pelo lado oposto ao da moto, arrastando os amigos consigo.


Seguiram agachados por entre os carros o mais rápido que conseguiam sem cair. A moto trancada no trânsito atrás deles.


Harry olhava constantemente para trás, conferindo. Para seu horror, numa brecha entre os veículos, o motociclista se achava numa reta perfeita atrás deles. Ele acelerou, se alguém estivesse em sua gente, com certeza morreria. Ao menos não podria disparar feitiços e controlar a moto ao mesmo tempo.


Eles corriam desesperadamente. Harry sentia a moto se aproximar e ao olhar para trás constatou o pior. Na moto havia um carona, que empunhava uma varinha e sabe lá Deus quantas motos existiam.


O carona na segunda moto lançou um feitiço, mas Harry desviou para a fileira de carros a sua esquerda, entre os carros estacionados. A primeira moto agora vinha costurando em sua direção, e quando Harry passou para a calçada ela fez o mesmo. Atravessaram a rua com o trânsito em movimento, despistando-o. Viraram a esquerda na outra esquina, e Gina acabou caindo na curva, mas Rony a socorreu.


No fim da rua, uma terceira moto vinha na direção oposta, com o carona já fazendo a mira. Rony o estuporou e ele caiu da moto, mas o motoqueiro desaparatou antes que outro carro o atingisse.


- O que foi isso? – Hermione perguntou, os olhos fixos no ponto onde o homem misterioso desaparecera.


- Eis os reforços de Belatrix – Harry respondeu, entrando em um beco antes que alguém os visse. Achava estranho ela conseguir reforços e ao mesmo tempo permanecer na surdina. Na certa encontrou um modo de proferir a Maldição Imperius sem ser detectada pelo Quartel General dos Aurores.


- Ai! – Gina reclamava da dor. Boa parte do seu braço havia sido esfolado na calçada, e dele agora brotavam pequenos filetes de sangue.


- Vou dar um jeito nisso – Hermione pôs a bolsinha de contas no chão e dela tirou um kit de primeiros socorros. Pingou algumas gotas do seu líquido milagroso e o braço de Gina estava curado num instante.


 


- Você acha mesmo que eram eles os comparsas de Belatrix? – Rony sussurrou, enquanto almoçavam numa barraquinha de cachorro-quente, entre dezenas de executivos apressados que engoliam seus lanches sem mastigar.


- Quem mais poderiam ser? – ele afirmou, enquanto pagava a conta.


- Seu troco senhor – a atendentelhe estendia algumas moedas. Tinha os olhos levemente puxados, uma franja muito bem conservada e um sorriso largo. De alguma forma lembrava a Cho Chang, mas Harry leu no crachá: “Vanessa T.”.


Voltou para o grupo, onde Gina agora coçava o braço alérgico.


- Por sua causa ainda vou parar no St. Mungus! – dizia ela.


- Ora – raciocinava Hermione – mais cedo ou mais tarde iremos voltar lá.


- Leastrenge vai ter dificuldade emfazer isso – zombou Harry, agora que via meia dúzia de vituras policiais cercando o ponto onde o motociclista desaparatara – de qualquer forma temos que ir andando.


- Sim – concordou Rony – mas podemos fazer umas visitas.


- Ao Lackart?


- Não – disse Hermione – aos pais do...


- O que foi? – Gina preocupou-se.


- Neville – completou Harry, automaticamente os planos de Belatrix Leastrenge se formaram em sua mente, antes de se formarem nos dela – temos que achá-lo antes dela.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.