Transiberiana



CAPÌTULO 16 - TRANSIBERIANA


POR UM INSTANTE HARRY IMAGINOU estar no mesmo local de antes, mas quando percebeu que as pessoas não falavam alemão, mudou de idéia.


- Em que país estamos? – ele levantou rápido demais, e sua cabeça começou a latejar.


 - Rússia  – Hermione explicou – pegamos o Expresso Transiberiano – Harry ainda tinha o mesmo semblante de quem não está entendendo nada.


- Eles não acham que a gente venha a fazer algo tão arriscado – Rony completou, quando falava eles, com certeza se referia ao Ministério e Belatrix.


- Fique tranqüilo, Harry – Hermione pediu – desta vez vamos ser mais cautelosos.


Só agora Harry lembrou do que aconteceu dentro daquele trem em Berlim. Quando os quatro desa´parataram para dentro do trem, o seqüestrador quis estuporar Gina, mas acabou acertando Harry.


- Gina – ele lembrou, e sua cabeça pulsou como se alguém comprimisse suas têmporas em um quebra-nozes.


- Os banheiros deste vagão são os piores que eu já vi em toda a minha vida – Gina voltava para a cabine – não sei se vou suportar ficar vinte dias dentro dessa caixa de charutos!


Apesar da forte dor de cabeça, Harry tinha uma boa lembrança do que era a Transiberiana. A maior ferrovia do mundo, ligava Moscou a Vladvostok, no Mar do Japão passando pelo Lago Baikal,em pouco mais de vinte dias de balanço naueante. Realmente estavam espostos a um ataque. Se Belatrix obstruísse os trilhos, era só desaparatar e consertar. No entanto, Harry temia que ela reservasse algo mais sombrio. Agora que o Ministério sabia que o seqüestro era uma farsa, ela teria de sair da sua toca e partir atrás deles.


Completamente curado da dor enxaqueca, Harry resolveu sair do cubículo. Arrependeu-se logo que chegou na porta. O vagão possuía um corredor muito estreito porque, ao contrário do Expresso de Hogwarts, tinha cabines dos dois lados. Algo incompreensível, pois numa viagem tão longa devia se privilegiar o conforto. Porém, quando observou mais atentamente as portas do outro lado, viu que possuíam o desenho universal dos bonequinhos: eram sanitários, embora ainda assim muito pequenos, com apenas dois chuveiros (aquecidos).


Como bom Wesley, em dois cinco dias de viagem Rony já havia memorizado todo o cardápio do vagão restaurante, embora Hermione o tivesse proibido de degustá-lo totalmente, apesar do prêmio de Rony não estar nem na metade.


Dormir era quase impossível. As paredes da cabine eram revestidas com painéis decorativos que se desdobravam, formando um ângulo de noventa graus, revelando um pequeno nicho onde se achava um colchão inflável. Os dois bancos da cabine também se abriam, formando uma cama de casal que os quatro iam revezando. Armários com roupas de cama personalisadas também possuíam seus nichos abaixo dos bancos.


O trem fazia inúmeras paradas durante o trajeto, e com pouco mais de uma semana de viagem, já haviam contornado os montes Urais. Estavam em uma cidade conhecida pela beleza das suas mulheres, a cidade das “mulheres de cristal”.


Assim que o trem parou, uma multidão irrompeu de dentro dele, como uma bala saindo pelo cano de uma espingarda. Rony também saiu, estava muito estressado com o vai e vem e com a monotonia do ambiente. Hermione foi atrás dele, muito mais preocupada com as moças do que com suas próprias pernas.


As paradas duravam cerca de uma hora, sendo que alguns passageiros aproveitavam esse período para tomar um banho ou dormir sem serem incomodados pelo movimento, tanto de pessoas, como da própria locomotiva. Harry optou por tirar um cochilo, enquanto Gina foi tomar uma ducha.


A porta da cabiine se abriu cinco minutos após Rony sair em disparada, Harry já estava pegando no sono, pensou que fosse Hermione, mas era Gina.


- Sonolento Harry? – ela perguntou, com um pequeno sorriso nos lábios.


“Será que ela não está vendo que eu estou tentando dormir?”, pensou Hary. Não era grosseria da sua parte, mas aqueles poucos dias trancado dentro daquele trem, ainda mais com a perspectiva de uma Belatrix o caçando em cada centímetro quadrado do globo terrestre, era esgotante.


- Hum – ele resmungou, esperava que  ela entendesse.


- Então está bem, se prefere dormir a conversar... – ela sentou aos pés da cama, e Harry sentiu os cobertores apertarem os seus pés naquele ponto. Mesmo distante, Harry sentia dos seus cabelos ainda molhados, que ela tentava secar.


- Não! – ele agora completamente desperto, fazia um esforço para se desvencilhar daquela armadilha aos seus pés.


- Calma, eu não mordo... – Gina proferiu essas palavras com suavidade, suas intenções agora eram óbvias.


- Nunca lhe agradeci como devia por você ter salvo a minha vida – ela sussurrou. Harry, agora que tinha levantado e começava a desinflar o colchão azul-petróleo, corou levemente.


- Não se preocupe – Harry desviava – levaria a vida inteira... – ele media se suas palavras não saíram convencidas demais.


- Exatamente – ela deu um passo a frente – sabe que eu quero ficar a vida toda com você.


Harry corou mais ainda, agora prestava atenção para ver se Rony vinha vindo.


- E já sou crescida o suficiente para cuidar da minha vida sem se preocupar com o Ronald – ela acrescentou, era mesmo decidida, poucas mulheres resolvem tomar a iniciativa.


Harry não poderia estar mais confuso, no entanto, estava gostando da situação. Uma parte dele dizia que sim, outra; que não, e esta era a mesma parte que o impeliu a romper com ela no sexto ano. Existiam riscos, sim, mas o que é da vida sem riscos? Seus instintos diziam que nada mais de ruim iria acontecer a ela. E foi neles que confiou.


- Claro –obviamente não sabia o que dizer. Não precisava, Gina já havia entendido. Com um beijo rápido, porém cheio de paixão, calou o namorado. Não seriam mais ditas palavras ali.


Harry retribuiu o beijo, desta vez demorando mais em cada vez. Tropeçaram em algumas malas e caíram no assento da cabine. O trem quase deserto, as portas e janelas fechadas e foi o necessário: Harry e Gina encontraram uma forma de se aquecer naquela fria tarde na Sibéria.


 


Dois dias depois, foi Hermione quem puxou o assunto. Era noite, e a neve se acumulava nas janelas.


- Vocês dois andam muito quietos, se animem!


- Ah, claro, se animem! Tem uma psicopata atrás de vocês! – Rony imterrompeu.


- Tá, mas não precisa fazer cara de velório!


- Nós dois estamos muito bem! – o casal respondeu em uníssono.


- O que vocês querem dizer com “nós dois”? – desconfiou Rony.


- Ora, Ronald, você sabe muito bem o que está acontecendo! – Gina foi direto ao ponto – Além disso, já posso decidir o que fazer da minha vida por mim mesma!


- Claro – Hermione confirmou num tom calmo, ausente.


Harry simplismente ficou em silêncio, não queria que a situação se agravasse e Rony se visse obrigado a atirar ele e Gina na linha férrea. Gina então o fitou como quem diz “E você? Não vai fazer nada?!”, e ele abriu a boca.


- Você não precisa se preocupar, vou cuidar dela muito bem. Afinal de contas, ela é irmã do meu melhor amigo – Rony não deu atenção, talvez não tivesse compreendido, Harry acrescentou – Se eu tivesse uma irmã, não ia querer que alguém a machucasse.


- Vocês falam isso como se eu nunca fosse aceitar! – Rony riu-se, levemente indignado – Cara, se tem alguém aqui que pode cuidar da minha irmã, fora eu – ele acrescentou – esse alguém é você!


Saíram rindo da cabine e foram “comemorar” no restaurante. Hermione não ficou medindo od gastos, e teve o bom senso de não perguntar nada nem ao Harry, nem à Gina. Contudo, Harry ouviu ela instruindo Rony a fazer o mesmo.


Foi como se alguém estivesse enfiando um lenço em sua garganta com um ponta metálica. Harry flutuava, era essa a sensação que tinha por estar com o corpo dormente. Não mudara de posição desde que se deitou, para conservar o calor. Naqueles últimos dois dias de viagem, a temperatura caiu bastante, de modo que tiveram de comprar alguns agasalhos.


O mais estranho daquilo tudo era que a ponta que Harry sentia descer pela sua garganta produzia uma leve sucção, porém indecentemente forte para algo tão pequeno. Começava a ter enjôo, já sentia a bile subindo pelo esôfago, mas não sabia se era o enjôo ou a ponta metálica que a fazia subir.


De repente, Harry se deu conta de que ainda respirava, apesar de sentir a boca obstruída. Quando o vômito se aproximou, mudou insistivamente de posição, para evitar se engasgar.


Assim quue o fez, abriu os olhos, mas não conseguiu enxergar coisa alguma. Algo cobria a sua visão. Usou as mãos, certo de que aquilo era o lençol. Mas aquele tecido se desviava a cada investida sua, como se fosse uma coisa viva. Desesperado, viro mais uma vez na cama e acabou caindo dela. Pegou sua varinha.


- Lumus! – sua voz saiu abafada pela mortalha-viva que se alojara em sua boca.


Harry sabia, aquela criatura era um parente distante do dementador. O parasita em forma de véu costuma se infiltrar no organismo do hospedeiro através de cavidades como boca e nariz, e só sai depois de sugá-lo completamente por dentro.


Temia o que ver a seguir. Olhou em volta com extrema dificuldade, pois a parte da mortalha-viva ainda fora do seu corpo se contorcia como uma mola derretida. Os outros ainda dormiam, mas outros parasitas se preparavam para se infiltrar neles.


Sem pensar duas vezes, ordenou:


- Expecto Patronum! – o veado prateado irrompeu de sua varinha e espantou as criaturas. Até a que estava em sua boca caiu no chão e foi queimada pelo brilho intenso.


Metade do vagão acordou.


- Harry, o que foi isso? – Hermione perguntou, esfregando os olhos.


- Mortalhas – Harry ofegou – vivas.... – e caiu no chão, não queria desmaiar de novo, mas não podia se conter, a mortalha havia lhe sugado muita energia.


- Gina, pegue a essência de Ditamno! – ouviu Rony chamar Gina e desmaiou.

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