A Boneca de Pano



Capítulo 26 – A Boneca de Pano


 


 


 


 


 


 


O corredor da delegacia dissolveu-se ao redor de Harry no mesmo instante em que ele murmurara o feitiço. Em seu lugar formou-se o amplo corredor de um casarão. As janelas abertas deixavam entrar a espessa brisa de verão que carregava consigo os perfumes das árvores.


Harry olhou pela janela, um imenso jardim caprichosamente podado em formas geométricas contornava uma pomposa fonte onde os passarinhos brincavam. Mais adiante, no fim do caminho de saibro havia um enorme portão de ferro fundido e trabalhado nas iniciais TJ “Toujours Pour” – “Sempre Puro” era o lema da Família Black.


Tudo parecia pertencer a um enredo de conto de fadas, exceto pelo fato de haver uma menininha, ainda de pijamas apesar da manhã avançada, com longos cabelos negros cacheados que ultrapassavam a cintura e enormes olhos verdes quase negros.


Harry notou que ela observava com atenção alguma coisa através da fresta em uma porta, alguma coisa muito desagradável de se ver.


O semblante da menina estava estático conforme a cena se desenrolava naquele quarto, até que o choro soluçante e agudo de um bebê tomou conta do ambiente. Mais que depressa ela se desviou do caminho, antes que fosse pisoteada por uma das curandeiras do St. Mungus, que saiu correndo do quarto, avisando:


- Sr. Black, Cygnus, por favor. Sr. Black, sua filha nasceu.


Ao ouvir a palavra “filha”, Belatrix pareceu tomada por um forte enjôo. Subiu as escadas correndo para o seu quarto.


Harry esforçou-se para acompanhá-la, desviando dos diversos ajudantes e empregados que trabalhavam na casa, mesmo que nenhum deles pudesse notá-lo.


Quando chegou ao quarto – que mais parecia uma grande casa de bonecas – notou que a menina soluçava, escondida debaixo das cobertas. Harry esforçou-se para não sentir pena dela, mas não pôde.


Então, de repente, a menina levantou-se. Devia ter tido alguma espécie de epifania, e começou a arremessar todos os seus brinquedos imaculados das enormes prateleiras nas paredes. As bonecas de porcelana e as miniaturas de vidro tilintavam ao se espatifarem no grosso tapete como se ele não existisse.


Parecia que não havia nada capaz de detê-la, e que em poucos minutos a menina botaria abaixo todo o quarto. Esquecendo-se da sua invisibilidade, Harry começou a gritar para que ela parasse e ela parou, não por causa de Harry, mas sim por suas amas, que vinham subindo as escadarias apressadamente.


Ao perceber isso, Belatrix se viu tomada por outro acesso de fúria, destruindo a maior parte dos brinquedos. Ia derrubar a maior de todas as bonecas, que provavelmente era a sua preferida, mas parou com o braço no ar, arregalou os olhos e guardou-a num baú ao pé da sua cama.


Antes que a ama pudesse questioná-la sobre a anarquia, Leastrenge já corria aos prantos porta afora, para o jardim. Harry correu atrás dela sem se dar ao trabalho de desviar de ninguém, quando a encontrou, estava no meio da sebe, num lugar onde somente ela poderia entrar. Era um esconderijo.


Ali ela brincava com diversos insetos, maltratando-os com o auxílio da magia provavelmente recém descoberta. Fazia os grilos pularem à força, também exibindo as asas das joaninhas sem o consentimento delas. Harry estava achando aquilo tudo uma insanidade. Porque ela haveria de sofrer tanto com o nascimento da irmã, sendo que nem a conhecia?


A resposta pareceu próxima, pois tão logo Harry a formulou, a cena dissolveu-se sobre seus pés, revelando o mesmo local, porém anos depois. Belatrix deveria estar com cerca de doze anos, mas o seu semblante carregava a imagem de uma pessoa bem mais velha. Ela estava deitada no chão, e daquele ângulo não era possível ver o que ela fazia.


Harry se aproximou e tentou ver o que era: ela estava escrevendo. Seria um diário?


Como se obedecendo a um comando, Belatrix afastou-se para que Harry pudesse ler suas confidências.


A julgar pelo aspecto do caderno, ela devia passar muito tempo sozinha naquele mato, o que justificava seu vestido todo puído.


 


13 de julho de 1963


 


Hoje, mais do que nunca pude perceber o quão difícil a minha vida ficou após o nascimento da minha querida irmã Narcisa. E isso foi algo premeditado por minha tia tão logo mamãe engravidou: “Ela dará trabalho a você, Bela”, ela me dizia e hoje posso ver que ela estava certa. Mesmo tomando todas as medidas que tomei após seu nascimento, ela tornou-se para mim o maior dos estorvos. É que hoje tivemos a alegria de constatar que Narcisa é uma bruxa prodigiosa. Aos oito anos de idade já foi capaz de fazer que a lareira acendesse sozinha. Por favor! Estamos em pleno verão! Isso é decididamente um ultraje! Pelo menos eu tive a decência de ter feito um feitiço útil como meu primeiro encantamento: na verdade, eu matei o gato do nosso vizinho. Ele vivia entrando por um buraco na cerca - viva e enchia a nossa casa de pêlos, só que os empregados não estavam mais dando conta de limpá-los e eu perdia meu tempo com uma maldita escova.


Quando Narcisa executou seu imprestável primeiro encantamento, lembrei do que havia feito aos sete anos e sabe o que ela disse? Disse que um feitiço útil teria sido se eu tivesse arrumado uma nova forma de limpar os tapetes sem precisar de empregados! Ora, os empregados são todos abortados e não teriam para onde ir se começássemos a usar magia para tudo! Ela deveria ter se lembrado disso, mas papai ficou tão impressionado com o encantamento dela que nem notou a tolice proferida por ela.


Já posso prever o que acontecerá comigo quando ela entrar para Hogwarts: não irá largar do meu pé, e todos os professores irão falar que minha irmã mais nova é um prodígio e que eu deveria seguir os seus passos.


Mas até lá eu tenho três anos para preparar bem o ambiente para ela.


 


Harry terminou aquele trecho com certa dificuldade, a caligrafia de Belatrix não era das melhores, seja pelo ambiente ou pela situação emocional. E aquelas letras deixavam a mente de Harry suja, não só pela caligrafia horrível, mas também pelo que representavam: Bela odiava Narcisa sem nenhum motivo, aparentemente estimulada por sua tia. E Harry tinha um forte palpite sobre quem era essa tia.


O que ela planejou e executou nesses quatro anos Harry não queria saber, mas não teve tempo de bloquear esse desejo e foi arremessado para outra lembrança.


Desta vez ele estava na sala de visitas da mansão. Belatrix, e seus pais estavam espremidos no sofá. Defronte, estava sentado um jovem cuja face era velha conhecida de Harry: Tom Riddle. Narcisa estava sentada assustada numa poltrona, e olhava ora para os pais, ora para o convidado. Andrômeda, escandalosamente parecida com Belatrix, espiava do topo da escadaria.


- Eu não acho prudente que eu favoreça isso – disse Cygnus, olhando com desconfiança para Tom, que exibia seu sorriso inocente.


- A situação é essa, estou apenas relatando os fatos – ele se defendeu.


- E por que faz isso? – a mãe interveio.


- Vocês são dignos de confiança, apesar de empregarem tantos abortos, mas eu preciso de um pouco de apoio para iniciar o meu projeto – explicou o jovem.


- Seu proje...? – perguntou Cygnus, torcendo o nariz – Escute rapaz. Minha família acha sim que tanto os trouxas, nascidos trouxas e abortados são criaturas inferiores. Mas não acreditamos que só por isso eles mereçam ser punidos.


Houve silêncio, enquanto só se ouvia o som da fria chuva lá fora. Mesmo assim os lustres estavam apagados e a sala escura.


- Até agora – ele disse – nessa última década eles têm se infiltrado nas mais conceituadas famílias bruxas através de facilitações como essa – ele apontou displicentemente para a cozinha – eles estão preparando-se para arruinar nossas árvores genealógicas e quando nos dermos conta, os trouxas já estarão no comando do nosso mundo!


- A professora Bourbage nos disse que muitas invenções trouxas são perigosas – interrompeu Narcisa. Tenho medo deles.


- Quieta Narcisa! – só então Belatrix falou, ela devia ter cerca de dezesseis anos agora, quase concluindo Hogwarts.


- É normal que as crianças temam o desconhecido – concluiu Cygnus.


- Mas também é normal que as piores invenções venham das piores mentes – Tom havia dado seu último argumento, que parecia ter surtido o efeito desejado.


- E o que você pretende fazer quanto a isso? – perguntou Cygnus. Harry aguardava a resposta do bruxo, embora já soubesse exatamente qual era.


- Pretendo primeiro aconselhar as famílias bruxas a ficar atentas quanto ás pessoas que convivem em suas casas, como estou fazendo até agora.


- E depois? – perguntou a mãe.


- Acredito que muito poucos de nós podem prever o futuro, pelo menos de uma forma clara e objetiva, então, veremos o que acontece.


- E porque o senhor acha que cabe a você fazer isso?


- Mamãe – interrompeu-a Belatrix – Tom é um aluno extremamente respeitado por todos os professores de Hogwarts, e sofreu muito durante sua infância por causa dos trouxas, mas ele não gosta de comentar isso. Por favor, respeite – Harry ouviu aquelas últimas palavras com muita atenção. Ao que parecia, Voldemort havia encoberto alguns fatos do seu passado para ganhar a confiança de Belatrix. Enquanto conviviam em Hogwarts, ela deve ter se identificado com o aparente “abandono dos seus pais em um orfanato trouxa”. Se ele revelasse que era mestiço, seu plano ruiria.


- Pois bem – disse Cygnus – eu acredito em você. Sua causa é nobre, parabéns!


- Devo pedir sua permissão para que Bela me ajude a contatar outras famílias bruxas, e alertá-las desta situação – Voldemort fez uma pequena reverência em direção aos pais de Belatrix.


- Sim, é claro. Será bom que ela tenha algo em que se ocupar neste feriado de Páscoa.


Então Belatrix subiu para o seu quarto com o visitante, Andrômeda descendo a escada assim que ele levantou do sofá.


- Posso ir junto, mamãe? – perguntou Narcisa, com os olhos brilhando.


- Não! Você ainda é muito jovem para sair de casa sozinha! – Cygnus a impediu, autoritário.


- Mas mãe... – ela olhou clemente para a mãe.


- Sem “mas” – ela levantou-se – você ainda é muito jovem! Não fale mais nisso.


- Eu achei esse cara muito suspeito – disse Andrômeda, devia ter não mais que seis anos.


- Drômeda! Não se meta! – implicou a mãe – Tenha mais respeito! Bela nos disse que ele sofreu!


- Eu não iria me aliar a ele assim tão fácil – Andrômeda continuou, falando para Narcisa – tenha cuidado.


- Ok – Narcisa piscou – também o achei bem esquisito.


Vendo que perdia seu tempo, Harry subiu para o quarto de Belatrix. Era outro quarto em outro ponto da mansão. Não havia mais nenhum brinquedo além da boneca que ela havia guardado no baú anos atrás, e o ambiente não transmitia nenhum sentimento.


Ela estava arrumando suas coisas para partir com Voldemort, enquanto ele observava a paisagem rural através da janela. Havia acabado de fechar sua mala, e escrevia no seu diário. Harry se apressou a ler antes que ela fechasse o livro:


 


12 de abril de 1967


 


Hoje consegui finalizar o meu plano. Vou viver longe das minhas irmãs e da minha família. Tom é um bom rapaz e acredito que possa me proporcionar certa felicidade. Ele está engajado em um grandioso projeto pessoal, e me escolheu como sua ajudante. Finalmente poderei fazer uma coisa na qual tenho certeza que me sairei melhor do que Narcisa. Finalmente encontrei o meu lugar, e embora eu ache que os projetos de Riddle envolvam muito mais do que conversas com famílias, esse é um preço justo a ser pago pela glória. Vamos desaparecer por alguns meses, pondo o resto do plano dele em prática. Com sorte, temos alguns partidários em Hogwarts que nos ajudarão. Malfoy irá nos acolher em sua casa e logo se juntará definitivamente à causa. Já havia tentado convencer minhas amigas, mas Lílian, por ser filha de trouxas interveio e acho que ela poderá se tornar uma pequena pedra no caminho junto com o Potter.


Não pretendo voltar aqui tão cedo. Só espero que Narcisa não procure por mim.


 


- Já podemos ir? – perguntou Voldemort, sorrindo e carregando a maior parte das mochilas.


- Claro – disse Belatrix, e também sorrindo trancou a porta do quarto antes que Harry pudesse sair.


Tudo ficou escuro por um instante, até que outra memória se materializou:


As luzes iam se acendendo vagarosamente, e o crepitar das tochas invadia a adega silenciosa: era a adega na Mansão Malfoy. Harry lembrou-se quando Draco lhe disse que seu pai possuía “sua própria Câmara Secreta debaixo da lareira” e talvez fosse aquilo.


Voldemort estava com cerca de trinta anos agora, debruçado sobre diversas anotações que estudava sob a luz de uma vela, uma vela numa Mão de Glória. Harry tentou não se lembrar de como uma daquelas mãos quase o aleijara no segundo ano.


Ele parecia muito preocupado, como se uma coisa estivesse dando errado. Harry se aproximou e tentou ver o que ele lia, mas o texto se apagou tão logo Voldemort afastou os olhos dele. Então Harry percebeu o motivo das luzes terem se acendido: Belatrix havia entrado com Lúcio escada abaixo, e ambos carregavam um imenso saco de juta que parecia conter um...


Harry pôs a mão à boca, embora ninguém fosse escutar seu grito.


- Esses são os vizinhos dos McKinnon – explicou Lúcio – eles ouviram muito da discussão e não tivemos escolha a não ser... algum problema, milorde?


- Não, eu só... – Voldemort virou-se de costas, observando o papel, mas do ângulo em que estava a sobra de Voldemort encobria a visão de Harry – e os McKinnon?


- Mortos – rosnou Belatrix – da forma como ordenado.


Forma? Pensou Harry Que tipo de pessoa escolhe a forma com que...


- Ótimo! – Voldemort sorriu – Não podemos afrouxar um só ponto nessa altura em que estamos meus amigos. Com sorte, Snape logo conseguirá alguma informação útil vinda de Hogwarts. Tive muito trabalho para que ele se juntasse à mim – Voldemort fez uma pausa, como que raciocinando – coloquem eles ali – ele apontou para um imenso tonel de carvalho que estava sem a metade superior, mas ainda nos suportes.


Harry tapou os ouvidos, fechou os olhos e prendeu a respiração. Será que Voldemort fazia experiências com os corpos? Porque mesmo com as Horcruxes, com certeza ele iria querer uma forma de fortalecer seu corpo, pois estava muito instável com todas aquelas divisões. Imediatamente Harry entendeu o que Voldemort e Belatrix fizeram nos primeiros anos de aliança: procuraram e mataram todos os empregados que trabalhavam na mansão.


Alguém batia na porta, e Belatrix foi atender.


- Olá Belatrix – a voz de Snape chegou aos ouvidos de Harry e ele virou-se. Pôde ver o rosto branco envolto pelo capuz muito negro – receio ter notícias que muito agradarão ao Lord das Trevas.


- Certamente – Belatrix permitiu sua passagem – Voldemort logo virá atendê... – ela parou no ato, pois de trás de Snape surgiu a figura que ela menos desejava ver.


- Ela me perguntou onde você estava então eu a trouxe – explicou Snape – não se preocupe, é ela mesma.


- O que faz aqui? – o tom de sua voz estava visivelmente irritado.


- Vim falar com você – elas desceram as escadas – em particular – Narcisa acrescentou. Então as irmãs entraram em uma sala adjacente, porém vazia.


Harry ficou no dossel da porta, de onde poderia extrair fragmentos das duas conversas.


- Parece que a nova professora de Adivinhação é interessante, milorde – começou Snape – há pouco, em sua entrevista com Dumbledore ela fez uma previsão um tanto quanto chocante, da qual extraí boa parte...


- Conte-me mais – disse Voldemort, imensamente interessado e incapaz de ouvir a discussão na sala ao lado.


- Ora, Bela! Mamãe está doente e preocupada com você!


- Agora ela se preocupa? – disse Belatrix, com desdém – Ela devia ter se preocupado quando você casou-se com o Malfoy!


- Temos alguns meses de preparo, não temos? – raciocinava Voldemort.


- Sim – respondeu Snape.


- E eu me preocupo com o Malfoy! Afinal de contas ele praticamente me abandonou após o casamento! Que mulher precisa de autorização para entrar na casa do marido?


- Você! – Belatrix riu.


- Até parece que ninguém sabe disso que vocês fazem! – Narcisa apontou para os tonéis mais adiante – isso é perigoso e logo o Ministério cairá sobre vocês como caiu sobre Grindewald!


- Não ouse comparar milorde com aquele tolo do Grindewald! Dumbledore o derrotou de olhos fechados! Além disso, se você quer passar mais tempo com seu marido, porque não entra para o nosso clube?


Narcisa pareceu refletir por um moimento, então disse:


- Seja como for, se eu tomar essa decisão não vai ser a você que eu irei me reportar.


- Ótimo – Belatrix continuava desdenhosa – é só o que tem para me dizer?


- Só – respondeu Narcisa, já saindo da sala – por enquanto.


Narcisa cobriu-se com o capuz e encaminhou-se para a porta da adega, cochichando algo com seu marido antes de sair.


 - Então – continuou Voldemort após a passagem de Narcisa, Lúcio recostado num tonel observando a lua através da vidraça – é preciso que redobremos a segurança nesses próximos meses. Estou sentindo que o Ministério está cada vez mais próximo. Fique a tento, Lúcio! – essa última frase tinha um duplo sentido.


- Eu vou ficar – ele garantiu, girando a varinha entre os dedos.


- Quanto a você, Belatrix, tenho uma pequena tarefa para você e seu marido – ele acrescentou no que Belatrix surgiu no recinto – onde está Rodolfo?


- Em casa, fazendo a vigia – ela respondeu, devia estar um tanto insatisfeita com seu casamento com Rodolfo Leastrenge.


- Naturalmente – Voldemort segurou o riso – preciso que vocês dois vasculhem cada canto e procurem cada membro da Ordem da Fênix. Parece que dois deles terão um filho que me interessa.


A cena se dissolveu e outra tomou forma em seu lugar.


O corpo de Alice Longbotton tombou inerte ao lado de Belatrix. Estava inerte, mas ela ainda estava viva. O mesmo ocorria com Franco, do qual Rodolfo estava dando cabo. Ao que parecia, eles haviam escondido seu filho, e não queriam dizer onde ele estava. Num canto, Bartô Crunch Jr. Observava a cena.


Harry ficou chocado pela súbita mudança na atmosfera, queria gritar, mas não teve forças. Então, antes que alguém pudesse ser morto, Belatrix curvou-se para frente, segurando o braço.


- O que foi Bela? – Rodolfo perguntou, mas logo começou a ter a mesma sensação. Ele ergueu a manga da capa e Harry conseguiu visualizar, mesmo à luz fraca que entrava pela janela da cozinha, que a Marca Negra nos braços dos dois Comensais parecia estar sendo arrancada, a tatuagem estava inchada a uns dois centímetros acima da pele e subia ainda mais – Que diabo é isso? – Rodolfo perguntou, entre gemidos. O mesmo ocorria com Bartô, até então silencioso.


Desesperada, Belatrix constatou a terrível verdade:


- Ele caiu, Rodolfo, Voldemort caiu!


À menção do nome “Voldemort”, meia dúzia de aurores desaparataram ao redor deles, e os levou para Azkaban.


Harry piscou diante da súbita mudança de luminosidade. Agora o cenário era seu conhecido, estava de volta à Mansão Malfoy. Lembrava daquele dia como se fosse ontem.


Pedaços do lustre caído eram visíveis onde quer que se olhasse. O cenário era de completa anarquia, e o medo dos presentes era quase palpável quando Voldemort desaparatou. Tivera um encontro com Grindewald anteriormente, e estava todo ensopado pela brisa marítima.


- Quem me chamou? – ele questionou ainda calmo.


- Eu, milorde – Belatrix ergueu o braço, um pouco encolhida pelo medo.


- E onde está ele? – Harry podia muito bem deduzir que “ele” significava “Harry Potter”.


- Escapou – ela apontou para o ponto onde eles haviam desaparatado, se encolhendo um pouco mais – mas com sorte eu o acertei com a minha faca – ela ergueu os olhos, orgulhosa.


- Sua tola! – Voldemort partiu para cima dela, erguendo-a pela garganta – SOU EU QUEM DEVE MATAR HARRY POTTER!


- Mas, milorde...eles...encontraram...a es...pada... – Belatrix esforçava-se por reportar aquilo o mais rápido possível.


- O que? – ele largou-a no chão com displicência e voltou-se para Lúcio, pedindo mais informações.


- Milorde, eles estavam com a espada de Griffyndor.


Os olhos de Voldemort assumiram um novo sentimento. Ele estava com medo.


- Milorde, nós encontramos a garota Granger, ela não contou como adquiriram a espada nem sob tortura – acrescentou Fenrir Greyback – uma pena, parecia tão deliciosa...


- Mas se eles conseguiram a espada – Voldemort ignorou por completo as palavras de Greyback – é provável que eles também tenham posto as mãos na...


- Taça? – completou Narcisa – acho muito pouco provável, precisariam passar pelo dragão.


- Isso não seria problema para o garoto – admitiu Lúcio – no entanto, seria um verdadeiro milagre se conseguisse entrar no Gringotes sem ser notado. A não ser que tivesse uma ajuda interna.


- E os prisioneiros? – Voldemort perguntou, agora inquieto.


- Fugiram – respondeu Draco – e milorde – Draco arrastou o corpo de Petigrew para perto de Voldemort, mas este o ignorou e passou por cima do cadáver.


 - Inclusive o duende?


- Sim – todos responderam em uníssono, agora entendendo os temores do seu mestre.


O Lord então deu um longo suspiro que mais pareceu um silvo, fechou os olhos e virou-se para Belatrix, que ainda ofegava no chão.


- Belatrix, Greyback, tenho um servicinho para vocês – ele passou por cima de Belatrix sem ajudá-la, e seguiu com o lobisomem para uma sala ao lado.


Belatrix levantou-se com alguma dificuldade, encontrando o mestre e seu servo na sala. Tão logo a Comensal entrou, Voldemort fechou as portas duplas e fez com que ela fosse até um divã.


Ele contornou a sala e, com um aceno de varinha fechou as janelas em forma de losango e apagou as luzes. Tochas se acenderam automaticamente.


- Seus serviços foram muito úteis, Fenrir – Voldemort circundava o divã onde Belatrix já ficava assustada – encontrou Potter e seus amigos e graças a isso descobri o que eles têm feito ultimamente. Obrigado.


Greyback limitou-se a fazer uma leve reverência com a cabeça.


- No entanto – ele voltou-se para Belatrix, seus olhos agora estavam cheios de fúria – você teve três chances de capturá-lo e falhou nas três! Parabéns Leastrenge! Você merece uma recompensa!


Harry já estava sentindo o que iria acontecer, não queria ver, mas também precisava ver.


Voldemort então enfeitiçou Leastrenge, e esta caiu deitada no divã.


- Ela vai lembrar-se de muito pouca coisa depois disso – a voz de Voldemort foi ficando mais distante – Fenrir, você me disse que queria Granger, pois bem – a voz ficava cada vez mais distante – Leastrenge não é como Granger, mas...

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.