Ao tempo certo



Quando aparatou na fazenda McCoy, Kassandra percebeu que a luta terminara e que muitos corpos estavam sendo identificados por aurores. Pelo menos eles haviam espantado o resto dos comensais. A casa, no entanto, estava muito danificada e Kassandra se sentiu decepcionada ao observá-la.
— Não havia como cuidar disso - era Harry apontando para a casa.
— Eu sei - sibilou Kassandra cabisbaixa.
— Vamos consertá-la, não se preocupe - falou com a voz terna e tocando de leve na mão dela. Kassandra o encarou, não compreendendo o gesto num primeiro momento, mas depois, lembrando-se das palavras de Potter na última conversa, sorriu.
— Vamos entrar, alguns amigos estão preparando algo para comer...
— E o lorde...
— Ele fugiu, certamente voltou ao presente para reformular o plano e conseguir novos aliados. Ele acredita que somos tolos. A essa hora aurores já devem tê-lo rendido e levado a Azkaban.
Kassandra fitava-o incrédula, apesar de ter feito ela própria a viagem no tempo, não conseguia acreditar que estava olhando para o pequeno Harry Potter.
— Vamos? - insistiu para que ela o acompanhasse até a cozinha.
— Precisamos busca os McCoy - disse virando para trás, mas Harry a interrompeu.
— Está tudo bem. Já cuidei dos ferimentos dele, só vai precisar de uma boa noite de sono e estará bem.
— Esta é a casa deles, é aqui que devem permanecer.
— Não antes de terminarmos o conserto, não acha? Amanhã pela manhã estarão em casa e nem se darão conta do que aconteceu. E todos nós poderemos voltar ao lugar a que pertencemos.
— Você fala com certo desgosto...
Harry a fitou por alguns segundos e depois estendeu a mão, indicando a porta de entrada.
— Eu vou voltar à cabana e cuidar dos McCoy, amanhã não se lembrarão de nada do que aconteceu e espero que tenham consertado tudo por aqui.
Harry sabia que não havia como persuadi-la e contrariá-la seria pedir por uma guerra. Então, baixou os olhos, deu-lhe as costas e caminhou para longe. Mas antes de entrar na casa, virou-se para trás e ainda pôde vê-la olhando para o céu, antes de ela desaparatar para sempre de sua vida, pela segunda vez.
A porta da velha cabana se abriu e um rosto sorridente apareceu, era Nellie. Kassandra não conteve a excitação e sorrindo também, entrou e fechou a porta. Sentado na cama de palha estava Gregory e assim que ele a viu, franziu a testa em arrependimento.
— Desculpe...
— Não se importe com isso. Que bom que está melhor - disse Kassandra sentando ao lado dele.
— Todos estão e só tenho a agradecer.
— Eu jamais deixaria um de seus filhos para trás, Gregory. Mas não o culpo por achar que sim. Você teve tantas decepções...
— Não justifica, Kassie.
— Aonde pensa que vai? - perguntou Kassandra a Andrew.
— Se você voltou é porque está tudo bem. Vou para casa buscar a carroça...
— Vamos passar a noite aqui, amanhã você vai até...
Mas Andrew não se deteve.
— Andrew, por favor. E se aqueles homens estiverem por aí?
— Nellie, não comece.
— Eu vim por um caminho que nenhum de vocês pode vir - Kassandra foi direta, pondo-se de pé e parando diante de Andrew. - Não me peça para lhe explicar, porque não vou dar conta, mas posso garantir que aqueles homens podem viajar do mesmo modo ou até mais rápido.
— Então está decidido, passaremos a noite aqui - disse Gregory. Cliff, pode buscar algo para comermos? Nellie vai preparar, enquanto Andrew leva os pequenos lá para cima.
Gregory indicou a porta para Kassandra e caminharam para longe da cabana.
— Que bom que você está bem - ela falou antes dele, sabia que a conversa seria séria.
— Eu gostaria de entender tudo o que aconteceu, Kassandra, mas talvez eu não consiga.
Ela fitou-o desconcertada.
— Também acredito que as coisas mudaram entre nós depois de hoje, já que se eu não posso e nem quero entender o que aconteceu, o tratamento que posso lhe dar não será justo.
Ela se surpreendeu com a declaração.
— Eu sei que as crianças irão sofrer...
— Você quer que eu parta? - ela foi direta. - Se quer, não precisa me dar motivos ou explicações, basta pedir.
Eles se fitaram por instantes e depois Gregory desviou os olhos dela.
— Achei que gostasse de mim...
— E eu gosto, e as crianças também...
— Entendo.
— Vamos voltar para dentro...
— Vá. Entrarei em seguida.
— Kassie...
— Pode ir. Só quero pensar um pouco.
Gregory entrou sem olhar para trás, enquanto Kassandra permaneceu lá fora, os olhos encharcados não a deixavam ver um palmo a sua frente, mas seu coração podia ver muito além daquelas terras.
A noite chegou e com ela, um homem alto, de cabelos rebeldes. E ele bateu à porta da cabana onde os McCoy estavam. Antes de entrar, ele explicou a situação para Gregory e lhe afirmou que não havia mais ninguém em sua propriedade. Disse que era o delegado de uma cidade a leste e que estava atrás daqueles bandidos havia muito tempo. Depois que entrou, a cabana permaneceu quieta por algum tempo e então, um clarão invadiu o seu interior. Não demorou muito para o homem deixar a casa. Ele caminhou para perto do arvoredo e parou ao lado de Kassandra Crabbe.
— Você fez a escolha certa.
— Não sei. Mas está feito.
— Agora vamos voltar, há alguém que você precisa ver.
— E Snape?
— Não escapou. E Voldemort foi encurralado no Ministério.
— Vejo que fiz um bom trabalho com você.
— Fez sim. Eu cresci muito bem, não acha?
Kassandra sorriu, enlaçou seu braço ao dele e caminharam para encontrar o futuro, que agora seria completamente diferente.

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