Trouxas do oeste - segundo ato

Trouxas do oeste - segundo ato



O cheiro do lugar era desconhecido. Não estava conseguindo se localizar. E havia aquele pestinha sempre espiando pela cortina da janela. Como odiava crianças.
— É melhor nem tentar isso - disse uma voz feminina. Snape a reconheceria até no fim do mundo. - E nem tente falar, guarde seus xingamentos para quando se reencontrar com seu mestre.
Bem que tentou rosnar algum insultou e uma resposta de atravessado, mas simplesmente não teve forças e foi obrigado a ficar calado e ouvir o que ela tinha a lhe dizer.
— Se me encontrou é porque encontraram os Potter, suponho.
Snape balançou a cabeça em negação. Kassandra bufou sorrindo um sorriso maroto de vitória, dando a Snape a certeza de que os Potter estavam vivos e inatingíveis. Tudo iria ficar bem então, e ele fechou os olhos e dormiu.

...

As vozes provinham da sala ao lado. Não havia mais o barulho estridente de pés ou a algazarra do mundaréu de crianças. Apenas as vozes. E uma delas era a de Kassandra.
— Quem é ele? - perguntou a voz masculina pela terceira vez. Snape se surpreendeu com o tom que dela emanava. - É seu marido? É ele?
— Podemos conversar sobre isso depois? - Kassandra falou finalmente.
— Não. Ele já está aqui há dias e você tem evitado a conversa toda vez que ficamos a sós. É seu marido? Só pode ser. Ele tentou matar Andrew...
— Ele não teria feito isso - mentiu Kassandra, conhecia Snape muito bem e sabia do que um comensal era capaz.
— Eu posso ser ignorante em muitas coisas, Kassie, mas não sou burro. Você me conhece.
— Gregory...
— Não. Não me venha com...
— Ele não é meu marido. Crabbe é um covarde. Jamais teria a coragem de sair em busca de...
— Eu não sou um covarde, Kassandra - ele alterou o tom de voz, deixando-o mais forte que antes. - E você sabe muito bem porque não fui atrás de Sally.
— A história é completamente diferente, Gregory.
— Pois eu não concordo.
— Você não faz idéia de quem são os homens que andam com o meu marido.
— Então estou certo. Aquele desgraçado queria mesmo matar Andrew.
A voz de Kassandra não foi ouvida. Snape fechou os olhos, como se aquilo o fizesse aguçar a audição, porém, continuou sem ouvir nada. Pouco depois, escutou um sonoro bater de porta e, em seguida, Kassandra entrou no aposento com uma bacia nas mãos.
— Brigou com o namoradinho?
— Vejo - e riu com escárnio - que já está se recuperando.
— Os seus cuidados foram essenciais, minha cara - ironizou.
— Não fale assim comigo! - ordenou ela. - Não fale...
Snape agarrou o pulso dela, fazendo-a se calar. Kassandra percebeu que ele se recuperar quase por completo.
— Onde está Lilly?
— Jamais vai descobrir - respondeu Kassandra.
— É melhor me dizer, mulher.
— Não tenho medo de você, Snape.
— Não deitado aqui - rebateu, erguendo a sobrancelha.
— Vocês jamais os encontrará...
— Ela está morta, Kassandra. Está morta!
— É claro que está e eu também estou... lá naquela época. Ou achou que viveríamos para sempre?
— Não se faça de tola, mulher! - Snape tentou se levantar, mas seu peito doía muito, e com um gemido, voltou a se deitar.
— Encontraram o que eu deixei na casa?
— Sim - rosnou contrafeito.
— E o Lorde o mandou procurar uma saída, à qual você se grudou com afinco até descobrir.
Ele fez uma careta descontente e quase hilária, Kassandra foi obrigada a rir.
— E todo esse tempo... o que seu mestre esteve fazendo? Esperando em seu esconderijo?
— Não é óbvio? Já temos seguidores o suficiente para liquidar quem quer que se atreva...
— E porque então veio atrás de mim... atrás dos Potter? Que mal podemos fazer a causa do Lorde?
— Você sabe da profecia. Leu meus pensamentos. E eu sei o que planejaram: ficar a salvo até o garoto completar a idade da maturidade e estar pronto para acabar com o Lorde das Trevas.
— Se o menino não existe mais, para que se preocupar?
— Ele existe, sim. Só não está na época certa...
De repente, Snape compreendeu tudo. A maioria dos comensais havia se concentrado na busca dos Potter, sem sucesso e quando voltaram à casa do mestre, não o haviam encontrado. Supondo que o próprio mestre havia voltado no tempo, Snape tratou de ir ter com Kassandra antes que alguém descobrisse sobre o paradeiro dela. Mas os Potter, da mesma forma que não foram encontrados em Londres, também não foram ali. Senão estavam ali e tinham partido do antigo esconderijo... e o mestre já não se encontrava à disposição... Snape teve um pressentimento muito mau. Abriu os lábios numa pergunta em segundos formulada, porém, não a fez. Kassandra havia deixado-o sozinho novamente.

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