Espectro alterado



Snape parou diante do espelho velho e descascado apoiado pelas mãos na cômoda, o pensamento muito além de seu reflexo distorcido.
— Se o espectro de Lílian pediu pelo Lorde, foi ele quem a matou. Mas como? - tentava compreender em pensamento alto. - Ela não poderia estar viva agora, nesta época... ou poderia? Não. Estaria velha demais. E seu filho também. Que mal poderiam fazer ao Lorde das Trevas então?
Fitou o reflexo novamente, os olhos vermelhos acusavam muitas noites em claro, na incansável busca de informações sobre o bastardo Potter.
— Mas e se o Lorde os tivesse encontrado, por que perderíamos tempo com tal busca?
Não havia lógica, muito menos argumentos. Snape precisava falar com seu mestre. Precisava de conselho e elucidação. E queria saber se algum dos molóides Comensais que trabalhavam no Ministério tinha conseguido alguma informação que fosse consistente!
Uma hora depois, Snape estava em Epping Forest, diante de seu lorde.
— Boa noite, mestre - cumprimentou Snape, entrando sem receios na sala de estar onde Voldemort pensava compenetrado.
— Vejo que tem algo para mim - Voldemort surpreendeu Snape.
— Na verdade, mestre, eu tenho apenas algumas perguntas...
Voldemort acenou em consentimento e apontou com a cabeça para o sofá a sua frente. Snape sentou, desabotoando o paletó e juntou as mãos, cruzando os dedos.
— Eu fui a casa onde Lúcio encontrou o medalhão. Mas algo me intriga. Um espectro protegia o local - Voldemort não pareceu se importar ou se surpreender. - E ele achou que eu fosse o senhor!
Voldemort pousou seus redondos olhos negros em Snape.
— Assim que pisei na soleira de entrada, o espectro voou sobre mim e uivou seu nome, mestre.
— Impossível - murmurou Voldemort, fitando além de Snape, o hall de entrada dava vista aos Comensais recém-chegados. - O que você acha, Severo?
— Acredito que alguém tenha alterado a magia do espectro. Talvez para despistar-nos...
— Ou talvez alguém de meu círculo esteja tentando contra mim - Voldemort foi cortante.
Snape franziu a testa, desentendido.
— Se eu tivesse liquidado os Potter, o que estaríamos fazendo agora, Severo?
— Bem... estaríamos... - Snape parou de súbito, encarando seu mestre e mudando o raciocínio. - Eu não entendo porque alguém enfeitiçaria um...
— Você acha que sou ludibriável?
— Mas, mestre, que diferença faria alguém lançar um feitiço sobre um espectro sabendo que...
— Severo, alguém dos meus quer que sejamos confundidos. Você ainda não percebe?
— Não posso crer que Crabbe faria algo do tipo. Ele não seria estúpido a esse ponto!
Voldemort o encarou com ar desafiador.
— Tomando as dores dele, Severo?
— Claro que não, mestre. Mas veja bem, a troco de quê ele teria bolado tal plano?
Voldemort parecia irredutível, queria punir Crabbe a qualquer custo, sem se importar com o motivo.
— Estou decepcionado com você, Severo. Achei que sua inteligência o levasse diretamente a Crabbe.
— Mestre, até acredito que ele possa ter feito, mas com que fim? Ele sabe que não tem capacidade intelectual para artimanhas... e não o vejo executando um plano complicado. A não ser que ele não esteja sozinho. Mesmo assim, quem poderia ter visto o tal espectro e com isso ter armas contra o senhor?
— Aqueles a quem Crabbe se aliou.
— Alvo Dumbledore? - Snape inquiriu de imediato. - Mas um feitiço ilusório como o desse espectro seria facilmente detectado e desconsiderado pelo Ministério ou pelo Conselho Bruxo, levando por água abaixo a prova de que foi o senhor quem liquidou os Potter. Além disso, mesmo provando que o senhor é o autor do crime, quem seria corajoso o suficiente para indiciá-lo?
— Eu gostaria de ver o espectro - Voldemort pareceu não dar ouvidos às suposições de seu Comensal.
— Não será possível, o prédio foi completamente demolido.
— Então ficarei com a minha primeira suspeita - afirmou Voldemort sem maior reação.
Snape baixou os olhos e murmurou com respeito:
— Se o senhor permitir, posso tentar descobrir se há envolvimento por parte de Crabbe nessa história.
— Quer poupá-lo das minhas punições, Severo.
— Claro que não, mestre. Apenas pedi permissão para me aprofundar no assunto. Com Crabbe o senhor faz o que desejar.
Snape deixou o aposento com o consentimento de Voldemort. O assunto estava longe de ser resolvido, mas era certo que Lílian tinha sido morta, porque um espectro daqueles somente apareceria se o fiel de um segredo fosse morto e o local ou objeto por ele escondido fosse encontrado ou revelado. Mas quem poderia ter liquidado Lílian se ninguém, na época em que ela vivia agora, sabia sobre a profecia que a ligava à Voldemort?
Nem mesmo o próprio Voldemort conseguia encontrar uma solução para voltar no tempo. E cogitar ir ao lago Pushkar para tomar um pouco da areia de seu fundo era querer suicídio certo. A cidade não possuía uma alma bruxa, era totalmente habitada por trouxas, que pareciam ficar acordados vinte e cinco horas por dia, mas tinha uma magia tão grande, criada pelas inocentes pessoas há milhares de anos atrás, ao acreditarem que o deus Brahma deixara cair pétalas da flor de lótus no lago. Os hindus, povo fanático por seus deuses - o que bem se via por conta dos quatrocentos templos existentes em volta do Pushkar -, não permitiam que estranhos entrassem em seu território, muito menos em seu lago sagrado, a não ser na pequena faixa cheia de degraus do lago, os ghats, onde Brahmins abençoavam e se ofereciam para fazer oferendas. E mesmo conseguindo entrar no lago para um banho espiritual somente, era preciso muita coragem e estômago, porque o lugar, apesar de belo, era tão sujo que se poderia pegar uma infecção ou doença em questão de segundos.
Voldemort nem conjeturava tal opção porque acreditava veemente que os trouxas haviam poluído tanto o lago que a magia nem poderia dar certo. Seria muito mais fácil encontrar outra ampulheta buscando em toda Inglaterra do que criar uma com as areias do fundo de um imundo lago tocado por imundos trouxas.
Snape não queria acreditar que Lílian estava morta, não depois de ela ter se arriscado tanto para fugir do presente com a ajuda de uma inimiga como Kassandra Crabbe. Talvez Lílian voltasse ao presente para concretizar a profecia quando tivesse criado o filho para se tornar um adulto poderoso, um exímio bruxo. Então, Snape se lembrou de Hogwarts. O garoto deveria ter sido chamado à escola, não havia dúvidas. Haveria como encontrá-lo porque era impossível que se mudasse de nome, já que a carta de Hogwarts seria entregue com o nome de batismo do aluno. E na época em que os Potter estavam agora não havia Alvo Dumbledore, não havia quem defendesse os nascidos mestiços. O único problema era entrar em Hogwarts e ter acesso àqueles arquivos, que deveriam ser muito confidenciais. Contudo, encontrando os arquivos, encontravam o tempo certo, e saberiam...
— MAS É ÓBVIO! - Snape foi atravessado por um relâmpago e ele espalmou a mão contra a testa. - Os registros do Ministério! Se Potter foi a Hogwarts, deve haver registro!
Agora a situação melhorara, somente era preciso que Lúcio Malfoy o colocasse na sala de registros e as conclusões seriam as melhores para o lado de Voldemort.

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