Sob a toalhinha bordada



Snape aparatou em Spinner’s End, na casinha descuidada e mofada onde passara toda a infância. Entrou, trancou a porta, jogou-se sobre o sofá e mirrou o teto encardido. Voldemort precisava encontrar os Potter, era imprescindível matar o menino porque poderia vir a ser o único bruxo a poder derrotar o Lorde das Trevas mais tarde; mas a caçada estava cada vez mais estressante e infrutífera. Por onde andaria Lily? Como conseguira sumir da face da terra sem deixar vestígios? Kassandra deveria ter passado horas arquitetando aquilo tudo. Sim, Kassandra sempre fora meticulosa, tinha extremo cuidado com o que quer que fosse: organizando os bens e pertences, os jantares e até a divisão do trabalho entre os elfos domésticos.
Ao descobrir que ela o traiu, Snape ficou possesso, direcionou toda sua fúria em uma única coisa: encontrá-la. Mas os dias passaram, e os meses também. Então, encontrou o bilhete. Um singelo e breve bilhete, deixado debaixo da toalhinha bordada sobre a mesinha ao seu lado. E todo aquele rancor se transformou em compreensão.

“Não deixarei que nada aconteça a Lily. Estaremos a salvo até o dia do confronto.”

O bilhete o acompanhava, protegido no bolso interior de seu paletó, todos os dias desde que o encontrara. A letra fina e desenhada de Kassandra sempre lhe agradara aos olhos, parecia uma arte, era como se ela estivesse rabiscando qualquer coisa e saísse aquela letra arredondada sem-par, todas do mesmo tamanho, todas perfeitas.
Entendia agora que o motivo fora o de salvar o garoto que derrotaria Voldemort. E estava grato por ela ter sumido com os Potter. Não por causa do garoto e muito menos pelo pai dele, e sim por Lily. Se não fosse por Kassandra, Lily estaria morta.
Mas o que mais o surpreendia era a forma como ela conseguira descobrir tudo. Não ouvindo atrás das portas ou nos aposentos próximos como fizera Rabicho, morto por sua incompetência, mas, sim, utilizando-se da legilimência de forma assustadoramente incomparável. Sem vestígios ou erros. Não era uma dedução. Era uma confirmação que Snape fazia, porque suspeitava que ela utilizava-se de tal artimanha desde o dia em que a pegara tentando ler sua mente. Não tinha certeza, nem poderia afirmar que fora da mente dele que Kassandra havia tirado todas as informações, mas também não descartava a possibilidade. Tinha somente certeza de que, quando estavam juntos, na cama, milhares de pensamentos rodopiavam em sua mente, mas o frenesi e a luxúria não permitiam que ele enxergasse a verdade: Kassandra lia sua mente enquanto faziam amor. E se ela conseguira algumas informações em sua mente, daquela forma, dos outros homens poderia ter tirado informações melhores e mais precisas.
A toalhinha emporcalhada sobre a mesa de centro lhe mostrara um pouco mais sobre a traiçoeira mulher de Crabbe, cuja vida não deveria ter sido fácil para tê-la deixado tão arrogante e prepotente, tão desinteressada e frustrada.
— Fique onde está, Kassie - murmurou com a mão sobre o bolso que guardava o bilhete.

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