Purple rain



Gregory McCoy estava na varanda, os braços cruzados em frente ao peito e o chapéu ainda na cabeça indicavam que ele ia dar uma lição de moral em alguém, no entanto, não havia mais ninguém com ele, exceto a mulher ali diante, parada sobre o primeiro degrau gasto de madeira.
— Eu pedi que fossem embora...
— Essas terras são minhas, Kassie, ninguém vai me tirar daqui.
— Pelos céus - advertiu ela subindo o resto dos degraus e ajoelhando-se aos pés dele. - Eles virão e irão matar todos...
— Não, Kassie. Você não conhece essa família.
— Droga, homem! - ela berrou com raiva. - Não somos páreo para eles!
— Vamos entrar - pediu Gregory baixando o tom de voz. Ela permaneceu sentada no chão, de costas para ele e quando ouviu a porta atrás de si bater com certa raiva, pôs-se a chorar.
Kassandra acordou no sofá. Não fora ali que adormecera e nem sentira quando Gregory a levara até lá no meio da madrugada. Ao chegar à cozinha, ela se deparou com a família toda fazendo algazarra. Balançou a cabeça, um nó se formando em sua garganta, e entrou tentando demonstrar confiança, mas tudo em que conseguia pensar era em feridas e morte, então se dirigiu a Gregory, parando ao lado dele.
— Leve seus filhos daqui, pelo menos os mais novos.
O silêncio tomou conta e um ar de curiosidade cresceu entre todos.
— Sente-se, Kassie - pediu Gregory com gentileza.
Ela rangeu os dentes e com o coração na mão, saiu para o dia nublado.
— Olá, Kassandra - era Voldemort encarando-a com satisfação, na entrada da varanda. - Cercada por trouxas? Que surpresa inusitada!
Kassandra respirou fundo, engoliu em seco e o fitou.
— Foi difícil encontrá-la - Snape se atreveu a interromper seu mestre, colocando-se diante dela e sorrindo.
— Como... como você...
— Lily.
— Lily? - repetiu Kassandra sem entender. - Onde ela está?
Snape virou o rosto para seu mestre.
— Potter foi descuidado em deixá-la aqui ao invés de na Inglaterra - continuou Voldemort. - Acharam que tinham enganado a todos, mas ao voltar no tempo abriram um precedente... e como temos bom relacionamento com os funcionários do Ministério, descobrimos registros antigos e muito interessantes de um bruxo executando feitiços num país quase que totalmente trouxa.
Kassandra encarou Voldemort, quebrando o contato visual com Snape, ouviu um estalo e olhou de esgoela para trás e pôde distinguir as botas de Gregory McCoy ali perto, viu também que ele mirava o rifle para os bruxos.
— Admito, minha cara, que não achei esse descuido um ato seu. Primeiro porque, talvez, acreditasse veementemente que você jamais me trairia - sibilou Voldemort. - Segundo, porque, sabendo que você estaria foragida e que qualquer magia que usasse seria registrada imediatamente pelo Ministério, não achei que fosse usar sua varinha. Mas eu estava profundamente equivocado em minhas suposições. Você foi tola e descuidada.
Não havia o que discutir, Kassandra nem se arriscou a concordar com as verídicas palavras.
— Gostaria de ouvir - Voldemort falou sorrindo -, antes de fazer com você o que pretendo, qual é a verdadeira razão para ter me traído.
A intenção de falar existia, mas o medo não deixava que Kassandra transpusesse tal barreira.
— Para desencargo de consciência, e talvez fazê-la sentir-se melhor, Kassie, fique sabendo que AINDA não capturamos Potter.
— Uma questão de tempo, milorde - interrompeu Snape novamente.
— E é o que espero - rosnou Voldemort.
— Lily... - murmurou Kassandra, fitando Snape.
— Não se preocupe com a sangue-ruim, deve estar a quilômetros de distância com o filho, mas sei muito bem onde encontrá-la. É nossa próxima parada depois daqui. Godric’s Hollow, não é mesmo? - riu Voldemort olhando para Snape.
— Ah, Severo... como pôde? Você a ama! - balbuciou Kassandra.
Nesse momento, Voldemort gargalhou de forma descontrolada.
— CRUCIO! - berrou ele em seguida, fazendo Kassandra cair de joelhos e se contorcer de dor.
Gregory engatilhou o rifle, mirando em Voldemort, que riu da coragem do trouxa.
— Não posso... lhe dizer... muita coisa - Kassandra finalmente falou, interrompendo o enfrentamento entre os dois. - Eu não... não podia deixar... que uma criança fosse... morta por conta de uma profecia... maluca...
— Se essa é a única explicação na qual você pôde pensar, vou ter que ser um pouco mais drástico no castigo. SECTUMSEMPRA!
— NÃO! - berrou Kassandra se jogando contra o feitiço, mas ele passou por sobre ela e alcançou Gregory com toda força possível.
— Bem a calhar, Severo - riu Voldemort.
Enormes cortes apareceram no corpo de Gregory e ele caiu desfalecido.
— Milorde - implorou Kassandra, agarrando a perna dele -, a culpa é toda minha...
— É muito nobre de sua parte, Kassie, tomar o mundo nas costas e pedir perdão pelos erros de todos. Mas sou insensível a essas coisas, como você há muito deveria saber. - Terminando a frase, ele se abaixou, agarrou os cabelos dela e a puxou para dentro da casa.
— Agora, que você está acomodada, minha cara - Voldemort usava o sarcasmo contra ela sem piedade -, posso chamar a pessoa que irá castigá-la. - Ele acenou e por detrás de Snape, apareceu Crabbe. - Não se demore, sim? Não temos muito tempo, a festinha para nós está grande por lá.
Agora Kassandra entendia o plano de Potter. Haviam libertado Snape de propósito porque sabiam que ele passaria as informações do que vira e ouvira diretamente a seu mestre e Voldemort não tardaria a atacar a casa em Godric’s Hollow para liquidar quem quer que estivesse se pondo em seu caminho. Mas primeiramente ele queria a vingança contra Kassandra Crabbe, queria saboreá-la ao máximo, para só depois terminar o que começara. O que Voldemort não sabia era que naquele momento todos os aliados de Harry Potter haviam cercado a fazenda McCoy e esperavam apenas em momento exato para entrar.
Os olhos de Crabbe estavam quase vidrados, imóveis dentro de seus pensamentos, não tinha dúvidas sobre o que deveria fazer àquela mulher, mas mil perguntas rodopiavam em seu cérebro, deixando-o tonto e enjoado.
— Acabe logo com isso - murmurou Kassandra ao ver a curiosidade no rosto de Voldemort, na sala ao lado.
Crabbe se abaixou, ajoelhando-se, e apontou a varinha diretamente para o coração dela. Mas hesitou.
— Perdoe-me por tudo, Crabbe - disse com suavidade e certa ternura.
Ele engoliu em seco e franziu a testa, não tinha coragem de prosseguir, jamais a tivera, durante todo o tempo minara-se contra aquele momento e sabia que não seria capaz de matar Kassandra, ainda mais depois de ela ter dito palavras em tom tão sincero.
Voldemort rosnou alto da outra sala, já sabia o que se passava entre Crabbe e a esposa, e correu até eles, mas naquele exato momento, aurores começaram a invadir a casa e o próprio Harry Potter apareceu, 25 anos mais velho e muito mais experiente do que Voldemort esperava.
O céu escureceu mais ainda quando grossas e negras nuvens se instalaram sobre a planície. Os raios dos feitiços, azulados e vermelhos, se misturavam, transformando-se numa chuva púrpura de faíscas, resplandecendo tudo ao seu redor. O espetáculo até seria belo se não fosse uma matança deliberada entre bandidos e mocinhos.
Kassandra olhou para frente, ainda deitada de bruços no chão para esquivar-se dos pedaços de madeira arrebentados das paredes que voavam por todo lado, e viu o corpo de Gregory McCoy deitado de lado, o sangue secara e tinha uma desagradável aparência de sujeira. Rastejando, Kassandra conseguiu chegar até ele e ao tocá-lo, descobriu que ainda vivia, pois o corpo dele estava quente.
— Kass...
— Shhh! Por favor, não fale alto - sussurrou, assustada, para ele. - Onde estão as crianças?
— No sub... solo - ele gemeu baixo.
— Deixe-me ver se...
— Não - ele agarrou o pulso dela. - Fique... fique aqui. Eles estão b... bem. Veja... - e ele indicou a cozinha com a cabeça, onde o tapete continuava intacto debaixo da mesa, escondendo o alçapão que levava ao porão.
— Mas não podemos ficar aqui. Vou levá-lo a outro lugar. Segure-se em mim e não se solte, por favor.
— Não sem... meus filhos! - ele foi contundente.
— Voltarei para buscá-los...
— Não. Leve-os primeiro.
— Gregory, por favor...
— Não.
— Então, segure-se em mim e eu o levarei até eles.
A mentira foi eficaz e assim que Kassandra o sentiu segurá-la com todas as forças, desaparatou para fora dali. Mas ao perceber que não chegara ao esconderijo de seus filhos, Gregory se enfureceu, agarrou Kassandra pelos cabelos e depois quase sufocou-a.
Estavam na cabana de caça, além do rio e a milhas de onde travavam a batalha.
— Eu não sei... como fez isso, mulher... mas... trate de buscar meus... filhos.
— Acalme-se - ela conseguiu dizer depois que ele perdera as forças e caíra sentado no chão. - Fique aqui, irei buscá-los num instante.
— É melhor fazer isso mesmo... ou eu acabo... com você.
Não havia porque chorar, Kassandra sabia que toda aquela hostilidade e destrato lhe eram dirigidos por conta do medo que Gregory sentia, aquele tratamento seria dado a qualquer um que tivesse feito o que ela fizera, no entanto, lágrimas verteram dos olhos de Kassandra e seu coração se sentiu pequeno e solitário. Dando as costas a ele, Kassandra desaparatou sem se importar com as futuras explicações.
O porão estava escuro, mas o alçapão havia sido trancado por dentro, o que indicava que as crianças deveriam estar ali. Tateou no breu, sem varinha não havia muito que fazer, mas invocá-la talvez trouxesse os comensais junto, Kassandra decidiu seguir tateando pelas paredes e, então, sentiu uma estranha corrente de ar vindo de adiante. Já havia entrado no porão antes, não se podia ficar de pé e não havia como passar uma corrente de ar porque havia paredes de madeira maciça protegendo-o por todos os lados. Mas continuava a bater de leve em seu rosto o ar fresco, e ela temeu que os comensais houvessem encontrado os filhos de Gregory. Engatinhou o mais rápido que pôde por um estranho túnel; podia ouvir passos sobre sua cabeça e deduziu estar passando por baixo de onde lutavam os comensais e aurores. Depois de algum tempo, não sentiu mais sua cabeça bater no teto e nem os braços nas paredes, e ela pôde ficar de pé e se esticar.
Mas então, PLAM! Algo a atingira com muita força no estômago e Kassandra caiu de joelhos, sem quase conseguir respirar. Uma luz se ascendeu pouco depois de ela ter soltado um breve gemido e ao clarear sua visão, Kassandra viu que estava ao redor dos filhos assustados de Gregory, o mais velho tinha se defendido com uma pá.
— Kassie! - disse Elliot em voz alta, porém, Andrew logo tampo-lhe a boca com a mão.
— Que covardia!
— Não... - Kassandra se escorou em Cliff para se levantar. - Ninguém é covarde... por não lutar... garoto.
— Você está bem? - Elliot agora sussurrava.
— Estou, querido... estou sim.
Depois de explicar que tudo estava bem, Kassandra transportou todos para a cabana de caça e apesar de não entenderem e se amedrontarem com a forma com que chegaram até lá, nenhum deles fez qualquer pergunta, a prioridade agora era cuidar dos ferimentos do pai. Havia bastantes ervas medicinais aos redores da cabana e Nellie as conhecia, porque Kassandra a havia instruído bem.
Gregory estava novamente desacordado, mas suas feridas já estavam sendo tratadas e apesar de não correr riscos, uma leve febre persistia em seu corpo.
— Vou voltar para a casa...
— Não - disseram os garotos.
— Vou com você - eram Andrew e Cliff falando juntos, Kassandra, porém, não permitiu. Pediu que ficassem ali até que ela retornasse.

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