O primeiro metrô de Londres

O primeiro metrô de Londres



Lúcio continuava indo e vindo do Ministério a pedido de Voldemort. O mestre achava que haveria alguma ligação entre os feitiços executados pelos Potter e o lugar onde estavam. O Comensal, porém, nada encontrava, apesar de dominar os funcionários que levantavam perguntas inoportunas e obriga-los a trabalhar em seu pedido: descobrir o paradeiro de Kassandra Crabbe e de Tiago e Lílian Potter.
Theobald Crabbe tinha se tornado um homem reservado depois daquele episódio. Talvez fosse a constante punição de Voldemort, talvez a vergonha que a esposa lhe causara diante dos companheiros, mas Snape acreditava em outra teoria. Acreditava que Crabbe sentia falta de Kassandra, apesar de sempre humilhado nas mãos dela.
— Baldo, pode me dar um minuto? - pediu Snape detrás da escrivaninha que podia ser vista do corredor onde Crabbe passava.
— Eu... bem... - gaguejou Crabbe apontando o dedo para frente, mas adentrou no aposento observando ao redor para constatar se estavam sozinhos.
— Eu sei que o Lorde provavelmente já cansou de lhe perguntar isso, mas - falou Snape, fitando o alto homem com certo pesar - não tem idéia de onde ela poderia ter ido?
Crabbe olhou para cima, bufou e se jogou no sofá. Definitivamente não era mais o mesmo homem, ele havia emagrecido, fios de cabelos brancos apareceram-lhe entre os castanhos e o rosto perdera o tom rosado.
— Você mesmo poderia responder melhor a esta pergunta - rebateu com coragem, encarando os olhos negros de Snape. - Passava muito mais tempo com ela do que eu.
Snape ergueu a sobrancelha, desviando os olhos de Crabbe para o tinteiro sobre a mesa.
— Pela sua cara, por um único motivo - ironizou descontente.
— Eu não fazia idéia de que ela pretendia fugir. Mas devo admitir que ela sempre foi uma mulher depressiva.
— E o que você sabe sobre depressão, Snape? Você nem mesmo é casado.
— Não, não sou. Talvez seja uma boa coisa, não acha agora, Baldo?
Crabbe o fitou com raiva e os punhos cerrados.
— Na última noite em que a vi aqui, ela insistiu em saber sobre Rabicho...
— Quem confiava nele, me diga? Você?
Snape riu com acidez.
— Ninguém. Mas... - ele abriu os braços deixando no ar a suposição de que Kassandra e Rabicho conspiravam.
— Eu sei sobre ela e o mestre - confessou Crabbe ainda mais angustiado e nervoso. - Eu sei. E Kassandra sempre foi interessada por tudo o que nos diz respeito.
— Coisa que não acabou bem, não é mesmo?
— Ah, Snape, por favor!
— Se você tivesse dado um basta na primeira oportunidade...
— Retiro o que eu disse. Você não conhece Kassandra.
— Eu acho que ela precisa apenas de um homem com pulso forte - alfinetou Snape com sarcasmo.
— Por que você não tentou, então? Deixe ver... Oh, sim! Não conseguiu nem segurar os pensamentos para ela! - Crabbe foi tão irônico quanto Snape.
— Não foi por mim que ela soube do plano! - rosnou Snape.
Crabbe riu com o canto da boca e recostou as costas no sofá.
— Eu gostaria de matá-lo, Snape - confessou Crabbe com os olhos fixos no outro. - Mas já sofro punição suficiente por uma só pessoa.
— Eu deveria me sentir intimidado? - riu Snape, empurrando o corpo para trás e erguendo as duas pernas frontais da cadeira.
— Que diabos você quer afinal? Eu não sei onde ela está!
— Não é o que eu penso. E muito menos o que o Lorde pensa. Por que acha que ele o pune? - Snape fez uma pausa, levantou e andou até Crabbe.
— Baldo, meu caro - Snape se sentou e pousou a mão sobre o ombro do outro Comensal -, eu quero ajudá-lo - e novamente fez uma pausa, lançando um olhar demorado para a porta. - Se encontrarmos Kassandra, nós encontraremos os Potter. E encontrando os Potter, o mestre ficará feliz. Logo, todos ficarão felizes.
Snape parecia explicar pausadamente, como se Crabbe não pudesse apreender toda a frase dita em velocidade moderada.
— Você me diz onde está Kassandra e eu irei até ela. Somente eu.
Crabbe arregalou os olhos e se afastou de Snape.
— Você não quer que ela sofra e eu só quero encontrar a criança e Potter. Mulheres não me interessam, Baldo. Somente Potter e o filho dele.
— Somente os dois? - repetiu Crabbe curioso, mas ao mesmo tempo indeciso e acuado. Snape poderia muito bem estar blefando e qualquer resposta que desse seria um prato cheio para o Lorde das Trevas. - Eu não sei de nada!
Crabbe ficou de pé, mas não deu passo algum porque Snape se levantou antes dele, barrando-lhe a passagem. Os dois se mediram, Crabbe era muito mais alto. Se aquele confronto tivesse ocorrido há meses atrás, Snape teria sentindo certa insegurança, pois o outro Comensal sempre fora duas vezes o seu tamanho, contudo, hoje, ele não era metade do antigo homem.
— Só quero acabar com tudo isso - murmurou Snape estreitando os olhos. - O mestre precisa do menino, nada mais e nem ninguém.
Os dois estavam a centímetros um do outro. Crabbe indeciso, Snape incapaz de fazer-se ouvir. Até lembrar de algo... algo que estivera guardado no bolso de seu paletó.
— Tome.
— O que é isso? - perguntou Crabbe ao segurar uma foto muito antiga dos Potter.
— Eu a encontrei na casa onde o medalhão foi achado. O seu - e Snape espetou o dedo indicador no peito do outro - medalhão, Baldo.
Crabbe se surpreendeu, revelando a Snape a suposição correta: o amigo comensal sabia mais do que aparentava.
— Eu... deveria odiá-la... - admitiu Crabbe fitando a foto em suas mãos. - Mas eu não posso. Eu a amei desde o primeiro momento em que a vi e sabia - enfatizou a última palavra - que ela seria...
— Encrenca? - completou Snape.
Crabbe o encarou.
— Não. Eu sabia que ela seria indomável.
— Onde ela está?
— Isso... eu não sei. Mas posso dizer como ela chegou lá.
Snape caminhou até a porta, fechou-a e atirou um Abafiato nela, retornando para perto de Crabbe logo em seguida.
— Um tipo especial de Flu, feito das areias do fundo do lago Pushkar, na Índia, o lugar mais antigo do mundo. Esse pó foi preso num vira-tempo a centenas de anos... e a ampulheta esteve conosco durante todo o tempo - lamentou-se ao final.
Snape não precisou se esforçava para entender aonde Crabbe queria chegar, mas aquele falatório parecia coisa da mente de um bruxo desmemoriado.
— Você está querendo me dizer que Kassandra tinha uma ampulheta que voltava no tempo? Isso explicaria a datação da foto - e Snape leu nela: O primeiro metrô de Londres. - Mas você há de convir que seja um tanto mirabolante...
— Por que é tão difícil acreditar? - quis saber Crabbe irritado.
Snape se calou, voltou a olhar para a fotografia por algum tempo, antes de encarar o amigo Comensal.
— Você acredita, Baldo?
— Eu... eu acho que sim.
— Poderiam ter morrido. Tantas coisas poderiam ter dado errado. Tudo para proteger um... uma criança - Snape falava mais para si do que para Crabbe, e caminhou até a janela como se olhar para a paisagem o fizesse pensar melhor.
— A foto... indica que chegaram - disse Crabbe apontando para ela. - Talvez tenha sido Kassandra quem a tirou.
— Não me faça rir, Baldo! Potter e Kassandra compartilhando experiências? Seria absurdo demais.
Crabbe baixou os olhos e sentou novamente.
— Eu quase impedi Kassandra - falou chamando a atenção de Snape. - Eu a vi com o mestre...
Snape revirou os olhos.
— Eles discutiram! - acrescentou com raiva, fixando os olhos em Snape. - Ela não queria que ele fosse até os Potter. Primeiro achei que fosse por medo que algo acontecesse a ele. Eu sabia que ela sentia... - mas Crabbe não terminou a frase, piscou seguidas vezes, e então continuou: - Ele estava decidido a matar quem se opusesse. Ia matar a família toda! Eu o ouvi. Vou acabar com todos, um por um, ele disse, e vou quebrar o menino em dois! E depois ele saiu da sala batendo a porta na cara de Kassandra. Mas ela não ficou lá, sozinha e chorando as mágoas, pegou a capa e saiu.
— Estávamos na sala logo ao lado. Foi por isso que o mestre chegou irritado...
— Sim. E eu a segui até o pátio. Estava disposto a fugir de tudo aquilo, esquecer que algum dia fiz parte disso tudo. Por Kassandra. - Ele soltou uma gargalhada alta, e mesmo sendo protegidos pelo feitiço, Snape ficou apreensivo. - Ela não quis fugir. Quis proteger a droga da família Potter!

Eu a puxei pelo braço, quase o arranquei e ela me ameaçou com o olhar.
— Solte-me imediatamente - ela ordenou.
— Você quer salvar uma família? Porque não salva a nossa? - respondi furioso.
— O que tem para ser salvo? - ela riu alto, parecia desvairada. Como a Bella. Então ela disse: - Eu não amo você! E você, meu caro, tem uma família melhor para tomar conta!
— Kassandra... - eu ia implorar, mas fui orgulhoso. - Se o mestre descobrir, vai... vai matar você!
— E se fizer isso depois que eu salvar Lílian Potter, terei cumprido meu destino!
Ela estava fora de si, me empurrou e seguiu andando. E eu, covarde, fiz o que um homem descontrolado faria, a puxei pelos cabelos e a agredi. Deixei-a desmaiada no chão enquanto pensava num jeito de fugir, num lugar para me esconder com ela. Contudo, quando olhei outra vez para o chão, Kassandra não estava mais lá. A desgraçada tinha ido salvar Lílian Potter e o filho.

Snape andou até a porta, livrou-se do feitiço e a abriu. Olhou para fora, assegurando-se de que não havia ninguém e tornou a encostá-la suavemente.
— Escute aqui, Baldo, trate de esquecer o que conversamos hoje ou o mestre irá acabar com nós dois. Eu encontrarei o menino e tudo será esquecido.
— Se Kassandra voltar... o mestre... irá puni-la com toda certeza. Eu não quero isso - murmurou com os olhos presos no nada, lembrando de cada uma das punições que recebera.
— Eu vou dar um basta nessa história - Snape terminou a conversa abrindo a porta e indicando a saída a Crabbe.

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