Capitulo Dez



CAPITULO DEZ – O PASSADO NEGRO VOLTA A TONA

Tod recuperou o sentido ao poucos, seu corpo doía e seus olhos teimavam em se manter fechados. Sentou-se no chão e tentou ver onde estava, depois de se acostumar com a fraca luminosidade pode ver onde se encontrava.

Era um pequeno quarto, uma lareira jazia apagada aos pés de uma enorme cama de pilares muito velha e apodrecida. Uma mulher estava deitada, seus braços estavam finos de tão magra, o rosto outrora bonito agora estava chupado e a pele acentuava os ossos da face, mas foram os olhos fundos que indicavam que ela não estava nada bem.

Havia mais uma pessoa no quarto, um homem. Ele se encontrava ajoelhado ao lado da cama, era um rosto forte cuja barba escondia boa parte de sua boca fina, dos olhos vertiam lagrimas silenciosas.

Tod se levantou sem jeito e assustado por estar naquele lugar, ele avançou lentamente.

- Me desculpe senhor eu não sei como vim parar aqui e... – o homem se virou para ele, seu olhar mudou. Olhava para Tod como se pudesse ver através dele, e a fúria que vinha daqueles olhos era assustador.

- O que está fazendo aqui? – saiu mais como uma ameaça do que uma pergunta.

Tod abriu a boca para replicar, mas sua voz foi abafada por uma outra mais conhecida.

- Vim oferecer uma alternativa – Tod se virou e viu um Olivaras mais jovem a sua frente, um temor tomou conta do garoto.

Uma mão pousou sobre o ombro dele, Tod se virou assustado e se viu de cara para uma mulher velha e encurvada. Ele recuou de susto e bateu contra a parede do quarto, seus olhos arregalados e vidrados de temor, a bruxa levou o dedo aos lábios num sinal de silêncio.

- Mas que raios de coisa é você? – bradou a voz assustada de Tod, a bruxa se aproximou dele, que afundou as costas contra a parede.

- Sou um agouro – a voz dela saia suave, mas decidida. Tod a reconheceu.

- Você é o pássaro.

- Sou uma guia e preste atenção, você queria respostas e as estou dando para você.

Tod se lembrou onde estava, e voltou os olhos para a cena que se desenrolava em sua frente.

- É impossível, não há mais nada a fazer por ela. Nem o Lord pode fazer algo – disse o homem se levantando.

- Nada no nosso mundo é impossível Theodore – disse Olivaras. – Se acha que os seus filhos iram se cuidar melhor no lado das trevas ótimo, mas eu sei que você só está nisso por medo. A sua mulher é a única que pode cuidar dos seus filhos enquanto você limpa seu nome.

O homem reflete melhor, seus olhos vão da mulher para a porta que se abre novamente deixando dois jovens entrarem seguidos de um Elfo domestico.

- Eu tentei impedi-los senhor, mas...

- Queríamos ver a mamãe – interrompeu o mais velho, seus olhos eram negros e brilhantes.

- Está bem Olivaras eu aceito, agora sai da minha casa – Olivaras olhou para as crianças e seus olhos piscaram por um momento em que Tod vislumbrou um pequena vontade do bruxo de voltar atrás.

Então ele se virou e passando pelos meninos saiu do quarto.

- O que o senhor aceitou pai? – perguntou o mais novo.

- Fazer um pequeno sacrifício – o homem falou numa voz triste.

A bruxa pegou no ombro de Tod e o levou para a porta, o menino tentou dizer algo mais a bruxa o silenciou mais uma vez, após atravessar a porta ela bateu sozinha.

- Droga – disse Tod se virando para a porta e depois voltou seu olhar, estava num lugar reconhecível, estava em casa.

Sua mãe estava tomando algo que seu avô a dera, ela tinha uma barriga de grávida e depois de devolver o copo ao pai seu rosto mudou e ela se tornou mais cansada e levou a mão à cabeça.

- Seu tônico não está fazendo muito efeito pai – ela disse não se sentindo muito bem.

- Mas que droga ele está fazendo com a minha mãe! – ele bradou para a bruxa ao seu lado.

- O que ele achava certo.

A mãe de Tod desmaiou e Tumblius a segurou em seus braços sem fazer alarde algum, a levou até a mesa no centro da sala e a repousou. Os olhos de Tod correram pelo local que era diferente do porão do avô, era um lugar sombrio cheio de objetos pontudos e coisas engarrafadas, livros negros e recortes de jornais com fotos que se mexiam estavam jogados num canto.

Tod conseguiu ver um bem de perto, “Quem poderá deter o Lord das Trevas”, “Onde está nosso Salvador”, jogados por sobre isto estavam anotações e rabiscos com nomes de coisas que Tod desconhecia.

- Olhe Tod – chamou a bruxa, o garoto se virou e viu o avô injetar com uma seringa algo na barriga da mãe. O que tinha na seringa lembrava um lodo negro, viscoso.

O corpo da mãe dele se elevou, ela abriu os olhos e o avô se sobressaltou. A mulher começou a gritar a plenos pulmões, o avô tentou tapar a boca dela para abafar o som.

Da porta atrás de Tod e da bruxa vieram batidas raivosas, o avô se tornou nervoso passou a procurar algo em sua sala até que vislumbrou sua maleta.

A porta explodiu e passou, com muito espanto, pelo corpo de Tod e da bruxa sem os atingir, Jhon Tumblius levantou a cabeça assustado.

No meio da fumaça Tod viu o rosto do homem que o visitava uma única vez ao ano, mas mesmo assim ele estava diferente. Seus olhos possuíam um brilho que Tod desconhecia, o rosto estava marcado por uma fúria incontrolável. Passou pela porta destruída, Tod saiu de lado para deixá-lo se adiantar, enquanto o olhava estupefato.

Ele virou a cabeça para a mulher deitada na mesa, seus olhos encheram de lagrimas, e por um segundo se esqueceu de Jhon Tumblius. O velho pegou um vidro com um liquido negro que Tod havia visto antes.

- Cuidado pai! – ele estendeu a mão em direção ao homem, e ao invés do que aconteceu com a porta, Tod o tocou.

A bruxa deu um grito e o puxou para si. O homem se virou para ele e o olhou com ternura, os olhos de Tod se arregalaram. Trevas se abriram diante dele conforme o vidro negro explodia no ar, envolvendo o homem a sua frente enquanto um sorriso se abria e sumia junto com o corpo dele. Depois disso, tudo se tornou negro e vazio.

Tod continuou atônito ao lado da bruxa que bufou e puxando a varinha conjurou uma enorme poltrona e uma lareira, com seus dedos longos e finos pegou no ombro do rapaz e colocou sentado.

- Isso que você me mostrou era real? – perguntou fitando o vazio.

- Você ficaria melhor se eu dissesse que não?

- Já é tarde – confessou. – Olivaras havia me dito que meu vô matou o meu pai. Tentei não acreditar no começo, mas no fundo eu sabia que havia algo errado.

- Seu avô se arrependeu depois do que fez – a bruxa revelou.

- E do que adianta – brigou Tod. – Arrependimento não vai trazer meu pai de volta e nem a sanidade da minha mãe, e pelo que parece ele me fez de cobaia de alguma coisa, – ele se virou para a bruxa. – e você sabe o que é.

- Sei – disse a bruxa receosa. – Ele tentou mudar um rumo de uma guerra que não fazia parte do mundo dele. Pelo amor que sentia por sua mãe ele quis resguardar você de tudo de ruim que estava acontecendo. Ele conseguiu criar por meio de fé, uma fé cega à proteção que todos os bruxos sonhavam em ter.

- Proteção contra uma maldita luz verde – zombou Tod.

- Não. Proteção contra a dor de ver filhos e filhas morrerem por um capricho de um bruxo sem coração. Que só por não ter conhecido amor tentou tira-los das mentes das pessoas por meio de morte e trevas. Seu avô queria nos salvar de tudo isso, tanto que usou a pessoa que ele mais amava no mundo para isso. Só que às vezes a procura por algo tão grandioso cega as pessoas.

- E o que isso tem haver com Olivaras e Florean, eles parecem estar nisso até o pescoço?

- Apenas ajudaram seu avô a tentar recuperar o que ele havia perdido.

- Quem era aquele homem no quarto? – perguntou Tod se lembrando do homem barbudo, ajoelhado ao pé da cama da mulher doente.

- O fardo que Olivaras e Florean terão de carregar.

- Eles o mataram – afirmou Tod, a bruxa balançou a cabeça e apontou para a lareira. Ele não havia percebido, mas no console da lareira havia um livro de capa dura, com uma gravura bem antiga no centro.

Tod se lembrou dos tijolos, das árvores secas e das lapides ao longo daquela estrada só que diferente do que viu havia algo mais.

Por trás de uma das lapides surgiu um tentáculo monstruoso e pegajoso, seguia até que sumia para a contra - capa.

- Mas que coisa é aquela? – a voz de Tod saiu cheia de curiosidade e receio pelo o que poderia vir como resposta.

- Vá até lá e descubra – ela indicou com seu dedo longo e fino para o livro.

Tod ficou olhando para ele tentando saber se valia a pena se levantar e descobrir, mas alguma coisa naquela gravura que o fez ter um arrepio.

Até que mordido pela maldita curiosidade ele se levantou e caminhou a passos curtos até a lareira. Ele recuou momentaneamente, vira a capa do livro oscilar como se estivesse preste a se abrir. E o mais esquisito é que parecia ter sido pelo lado de dentro.

Tod parou frente ao consolo e levou sua mão até o livro. A capa do livro se abriu violentamente e algo viscoso se entrelaçou no braço dele, o apertando. Tod tentou forçar a capa do livro contra o tentáculo negro e moribundo que saia de dentro. O cheiro de morte encheu as narinas dele que se virou para a bruxa que havia se sentado na poltrona e olhava para ele sem mostrar nenhuma reação.

- Me ajude! Não fique parada aí sua maracujá de gaveta maldita não me entregue como um petisco para essa coisa – o pedido de ajuda de Tod foi recebido como se fosse nada demais para a bruxa.

- Mas foi exatamente isso que eles fizeram – ao ouvir as palavras enigmáticas da bruxa, o rosto de Tod se iluminou de verde brilhante. O brilho vinha da lareira cujas chamas vermelhas se tornaram verdes, e num grito de horror Tod viu dois braços o segurar pelas pernas e o puxar. O tentáculo soltou seu braço e ele bateu com o peito no chão enquanto era puxado para dentro da lareira, suas unhas arranhavam o chão negro. A bruxa se levantou e como se deslizasse sobre rodas invisíveis se aproximou de Tod.

- Não deixe que ela se alimente novamente – ela implorou para ele. – Terá de fazer o que nenhum dos velhos terá coragem para fazer.

- O quê?

- Dar a própria vida para que o mal não se erga novamente – ela levou seus dedos longos e finos até as mão de Tod que se seguravam com todas as forças no chão.

- Por favor, não! – ela levantou as mãos de Tod tirando seu apoio, em seguida ele foi puxado para as chamas verdes e sumiu do vazio.

O coração de Tod deu um salto, o garoto recuperará a consciência, estava pálido e seus lábios roxos de frio. Percebera que não estava mais na fortaleza e sim numa pequena viela escura.

Olhou melhor, era aquela mesma parede com um tijolo faltando que ficava nos fundos do bar com nome esquisito. Na verdade estava sendo uma semana muito esquisita, mais nos últimos dois dias Tod se viu no meio de um emaranhado de história que apontava para a verdadeira face das pessoas ao redor dele. No seu relógio já eram oito horas da noite, já podia ouvir nos quartos acima alguma agitação, mais nada, além disso, talvez por ser domingo os bruxos também descansavam e ficavam naquele marasmo tão conhecido e apreciado pelos trouxas.

Florean estava as suas costas olhando fixamente para a porta como se conseguisse olhar através dela estava com a varinha em punho. Seu avô ficou parado próximo à parede, evitava olhar para o neto, mas este nem se importava mesmo, queria era que o avô sumisse de perto dele.

Tod ainda podia sentir os olhos do pai sobre ele, e o desespero de sua mãe, mas ao chacoalhar a cabeça fez isso tudo sumir.

- Viu o que falaram da gente enquanto ficamos fora? – comentou Florean para Olivaras. – Acha mesmo que eu seria levado à força por Comensais da Morte.

- Acho, e vai continuar sendo assim Florean, pretendo deixar tudo isso para trás por um tempo depois que acabarmos – respondeu Olivaras para o amigo que se concentrou em vigiar a porta.

Olivaras estava em pé frente à parede em que faltava um tijolo e lentamente levantou sua varinha em direção a ela.

- Espere – chamou Tod, fazendo Olivaras se virar para ele.

- O que foi jovem Lockwell?

- Não era para estarmos aqui, agora a pouco estávamos naquela fortaleza e tinha aquela ave maldita me atacando.

- Não tente entender tudo do nosso mundo Tod, pode ficar louco só de tentar. – Olivaras tentou tranqüiliza-lo, mas sem êxito. O rapaz ainda tinha os momentos que acabara de ver vividos em sua mente. – Deve fazer uma escolha Tod e rápido por que depois de atravessar esse portal não teremos muitas chances de volta.

- Olivaras eu...

- Eu sei que você viu – ele cortou dizendo exatamente o que se passou pela mente de Tod. – Mas o que lhe foi revelado é apenas para você, cada um vê o que quer Tod.

- Mas o que era aquele pássaro?

- Era a guia, a transformamos numa chave de portal – a voz de Jhon Tumblius cortou o silencio, como uma faca afiada - A encontramos numa viagem, pensamos ser uma Animago, mas erramos. A deixamos num sono profundo na fortaleza e agora estamos aqui, mais uma vez.

Florean se virou para os companheiros tinha em seu olhar um medo e aflição, Olivaras pareceu entender o que ele acabara de ver e rapidamente ao invés do que todos faziam, apontou para um tijolo totalmente diferente.

A varinha saiu do curso e apontou para cima, em direção a um tijolo cheio de lodo proveniente da chuva inglesa, uma luz negra saiu da varinha e o atingiu.

No mesmo momento de dentro do bar do Tom veio um som de algo se chocando contra a porta da frente.

- Eles estão aqui - anunciou Florean, ele apontou para a maçaneta da porta e sem dizer nada um brilho azul a fez se congelar, assim como toda a porta.
O som esquisito das pedras se organizando deu vazão para outro totalmente diferente, era como se a parede arranhasse vidro. Ao invés do beco diagonal o que se abria a frente era um portal negro.

- Rápido Tod! – gritou Olivaras entrando depressa pelo portal, seguido por Jhon e Florean.

Tod olhou para trás em direção ao portal de gelo, que começou a trincar.

- Accio Tod – gritou Olivaras, o menino foi puxado por uma força invisível para dentro do portal. – Chimeru.

No momento em que a porta explodiu em milhares de pedaços e mostrou uma silhueta negra dentro do bar, o portal se fechou rapidamente, antes dele se fechar formando uma parede de tijolos negros Tod viu uma outra silhueta perto do homem, uma silhueta de uma garota.

O portal desapareceu deixando apenas escuridão em seu lugar, na verdade tudo envolta estava tomado por uma escuridão assombrosa que lembrava o vazio em que Tod estivera momentos antes.

- Lumus Maxima – Florean fez um facho de luz muito forte brotar de sua varinha, iluminando boa parte do lugar onde estavam.

Tod se virou e seu coração começou a bater mais forte, logo a frente surgindo das trevas se erguia um imenso portão de ferro que ele havia visto antes.

Acima dele havia um letreiro em metal enferrujado onde estava escrito “Cemitério Grave”, o rapaz baixou os olhos para se assustar ainda mais. Ao invés dos tijolos comuns àqueles eram negros, e aquela conversa no vazio fez o coração de Tod bater mais forte ainda e seu peito subir e descer rapidamente.
A visão daquela criatura invadiu sua mente e o fez gelar até os dedos dos pés.

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