Capitulo Nove



CAPITULO NOVE – RUMO A ESCURIDÃO

Ghoeth Foxbolt retirou a capa de invisibilidade assim que saiu do bar de trouxas onde Hammer, que estava ao seu lado, colocara Ravner rumo as crianças no museu.

- Acha que ele irá saber como fazer o escaravelho funcionar se matar a garota? – indagou Hammer quando eles deixaram o beco e voltaram a rua movimentada do centro de Londres.

- Mesmo que não saiba ou trucidar a pobre coitada vai descobrir, não fará diferença – afirmou Ghoeth, puxou a varinha e seu manto longo se tornou um terno armani elegante e no topo da cabeça um chapéu negro de aparência cara tomou lugar do cônico anterior. – Thomas Ravner tem motivos suficientes para odiar todos os velhos, mas não é o único.

- Acha que ele vai concordar? – comentou Hammer, que com um aceno fez o sinal mudar de vermelho para verde, ambos continuaram a caminhar.

- Já o pus a par dos assuntos.

- Mesmo?

- De um ponto de vista diferente do nosso é claro – corrigiu-se Ghoeth.

- Ravner vai encontrar o caminho e será uma bela reunião – disse Hammer. – Estou certo de que ele pensa que irá agradar o Lord com essa descoberta.

- Quem irão se alegrar serão os sensacionalistas - proferiu Ghoeth com um tom que demostrava uma preleção dos fatos que seguiriam – o que esses três esconderam irá abalar a comunidade bruxa de tal modo que a segunda guerra vai tomar um rumo mais furioso que nunca. Até imagino as colunas do profeta diário.

- Acha que o Lord das Trevas suspeita de algo? – a voz de Hammer soou preocupada.

- Creio que não, há coisas demais para ele se preocupar. Até Dumbledore desconhece os fatos, soube que ele se colocou numa busca por certos artefatos.

Os dois enveredaram por uma esquina e surgiram numa rua ladeada por casas de tijolos vermelhos, janelas arqueadas e muito antigas. Ghoeth e Hammer continuavam a conversa enquanto olhavam de relance para os números das residências, estavam passando pelo cinqüenta.

- Dumbledore enlouquece a cada dia, não consegue viver sabendo que é o único que se equipara ao Lord e não pode derrotá-lo, que ao invés disso um moleque de dezesseis anos o coloca no bolso contra um combate com Voce-Sabe-Quem. Tem horas que eu penso que ele mesmo é um dos comparsas do Lord, esperando por seu pedaço do mundo mágico. Sabe, se não pode vencê-los junte-se a eles – expôs Hammer. – Mudando de assunto acha necessário usar ele? Esse homem está fora de tudo isso a mais de doze anos e num arroubo de egoísmo vamos jogá-lo de volta.

- Para o que vamos fazer precisamos de alguém com experiência no assunto, que sabe o que é perder alguém. Além do mais precisamos de uma alma com um gosto reconhecível para ele – explicou Ghoeth.

- O demônio não tem fome de sangue, ele tem fome de almas – proferiu Hammer quando pararam. Estavam de frente para uma casa igual as outras dessa rua, o número era a única coisa que a diferenciava das demais. Era a casa de número sessenta e seis. – Como podem estar tão perto e nem assim saber da existência do outro?

- Eles sabem, apenas preferem ficar cada um em seu próprio lugar, orgulho sabe como é. O segundo filho do sexto bruxo de uma linhagem que se perdeu nos laços de sangue – Ghoeth disse mais para si do que para Hammer.

- Vamos bater?

- Não precisa – Ghoeth olhava fixamente para a janela da casa, havia um homem nela. Tendo os olhares se encontrado ele saiu de vista, não demorou muito e a porta se abriu e ele se colocou em pé na entrada.

Dava para ver um pouco do interior da casa, próxima a porta havia um uniforme, era preto que aparentava ser de bombeiro e preso nele um distintivo reluzente com o nome Robert Gholl escrito.

Robert fechou a porta e rumou em direção aos dois homens parados logo a frente, impassíveis.

- Olá Ghoeth – ele cumprimentou com um imenso pesar na sua voz. – Está na hora não é?

- Temos uma pista de onde ela pode estar – disse Hammer se pondo na conversa.

- Terei vingança? – perguntou o homem.

- Terá mais do que isso Robert Ravner, tudo em troca de apenas um pequeno sacrifício – afirmou Ghoeth com um brilho nos olhos.

=========

O tufão de gelo continuava a varrer o salão da fortaleza com ferocidade, Tod tentou se segurar em algo, mas não havia mais nada em que pudesse se agarrar no salão.

A nuvem de gelo cortava seu rosto, tentou focar os velhos para ver logo a frente na direção de seu avô e os outros, ver em que seguravam porém não havia nada. Os três estavam no olho do tufão, junto com a coisa azul que parecia uma ave. Olivaras deu um passo a frente e estendeu a mão, a criatura estendeu o bico e pelo que pareceu quase arrancou um pedaço do dedo do bruxo, em seguida fez o mesmo como os outros dois.

A coisa azul pousou no chão e abrindo sua enormes asas parou o fluxo de vento, o tufão perdeu força até parar. Tod se levantou, estava coberto de pó de gelo da cabeça ao pés, presumiu que seus dedos estavam congelados dentro do tênis.

Ele agora podia ver a coisa azul sem que nada obstruísse sua visão. Era mesmo uma ave, porém muito maior do que as outras, tinha enormes garras e na realidade não era totalmente azul, era branca com uma listra azul indo de sua cabeça a cauda.

- E então Jhon, sabe o que é preciso ser feito – Olivaras disse olhando para Tod.

- Faça o que tem de fazer Olivaras, - a voz dele saiu sem a emoção que carregava antes, lançou um olhar culpado ao neto. – Já não importa mais, ele quer saber a verdade então vai ter a verdade.

- Temos de ir – disse Florean se dirigindo a criatura. – Você sabe para onde e temos de levar o jovem conosco.

O pássaro baixou o bico e curvou a cabeça para frente, em seguida fez esse mesmo movimento só que mais agressivo, soltava um silvo agourento a cada investida.

Tod viu que a cada agouro as penas da criatura ficavam mais acinzentadas até que então começou a surgir enormes manchas negras nas penas e iam tomando todo o corpo como se piche fosse derramado sobre ela. A guia já não era mais azul e sim o que aparentava ser um corvo negro enorme de olhos vermelhos como sangue.

- Mas que negocio é esse, num momento é um pokémon de gelo e agora um maldito urubu carniceiro! – Tod mal terminou a frase o Pássaro se virou para ele e abrindo as enormes asas, investiu contra o garoto.

Tod abaixou o mais rápido que pode, mas não rápido suficiente. O bico cortou seu ombro esquerdo e o sangue escorreu manchando sua camisa. Já não sentia mais frio e sim uma dor latejante.

Ele olhou em direção aos três velhos, mas eles continuavam parados como se fossem estatuas de gelo. Tod levantou a cabeça para ver onde a criatura estava, o que veio a seguir foi um silvo agourento que se mesclou com o grito de dor do garoto.

O Pássaro cravara suas garras fundo nas costas de Tod, com o bico encostado na orelha dele chiou bem alto. Tod não sabia se estava ficando louco, mas pode discernir uma voz no meio daquele chiado.

- Não resista, apenas aceite o que tem de passar e todas as respostas pra suas perguntas eu vou revelar – era uma voz suava e bem decidida de uma mulher.
As garras afundavam cada vez mais na carne de Tod, ele caiu de joelhos já não conseguindo mais manter se em pé.

- Mesmo que eu ande – as palavras saíram de sua boca sem fazer sentido para ele mesmo, talvez estivesse delirando. – pelo vale da sombra da morte, eu não temerei mal algum.

- Mas vai – afirmou a voz da mulher antes dele perder os sentidos.

=======

Ellen se achou louca, mas devia fazer. Era pelo seu amigo que estava naquela encruzilhada e apenas por ele que iria fazer aquilo. Após Ravner ter sinalizado com sua varinha os braços e pernas da moça se soltaram de seu fio invisível a libertando da cadeira.

A primeira coisa que veio a cabeça dela era se jogar contra aquele homem e corta-lhe a garganta de lado a lado e ficar olhando até a última gota de sangue pingar de seu corpo sem vida, mas não foi isso que ela fez.

Ellen cambaleou até o corpo trucidado de Donald, o rapaz ainda tinha os olhos inchados, abertos e vidrados. Estava frio e coberto de sangue seco, suas roupas estavam rasgadas por obra de alguma lamina ou mesmo uma varinha e seus variados usos nas mãos de um louco.

- O que você quer de mim? – ela perguntou sem olhar para Ravner.

- Apenas que me ajude a achar seu amigo Tod e seu avô – ele mantinha a voz calma e agora falava pausadamente como se fosse difícil para continuar no tom, talvez fosse a excitação de chegar mais perto de seu tão desejado desejo desde que tinha quinze anos. Depois disso trago seu amigo de volta.

- Eu não sou estúpida! – ela bradou. Sabia a verdade, mas quem sabe houvesse outro jeito. – Não há uma magia sequer capaz de fazer isso.

- Eu não falei que era magia, e ainda mais uma simples que se aprende em escolas ou em livros. Porém eu disse que haveria um preço.

Ellen se virou e fitou o bruxo.

- Que preço?

- Apenas um pequeno sacrifício – ele respondeu levantando o escaravelho dourado na altura dos olhos.

Ela caminhou até ele, levou a mão em direção ao artefato que fora de sua vó que apenas duas pessoas sabiam usar, uma estava morta e a outra tomava um rumo que nem imaginava que iria tomar.

Ravner tirou o objeto de alcance e com um movimento rápido segurou o pulso de Ellen a puxando para junto de si.

- Se aceitar não poderá voltar atrás – avisou a Ellen. – Irá caminhar por um mundo de trevas onde seus pesadelos serão reais.

- Meu pesadelo já é real – ela forçou o pulso e Ravner a soltou entregando o escaravelho na mão dela.

Ele abriu os braços num sinal de conformismo e afastou uns passos da moça. Ela deixou o escaravelho na palma de sua mão, voltou até a poça de sangue que havia pingado do amigo e molhou os dedos nela.

Passou nas costas do objeto, e em seguida fechou os olhos e molhou as pálpebras com o sangue de Donald. O escaravelho em sua mão absorveu o sangue como se fosse uma esponja, Ellen começou a falar palavras numa língua antiga, que Ravner apenas ouvira falar em suas tardes de estudo na escola.

Ela lembrou de como a avó dela a ensinara palavra por palavra, e como Donald que era um morador quase que permanente na casa de Ellen ouviu aquelas mesmas palavras também. O sangue tinha propriedades e respostas que apenas os que ouviam o que não devia ser ouvido conseguiam ver, dizia a vó dela. Deveriam usar apenas sangue de dragão e se sangue trouxa ou bruxo fosse usado talvez a pessoa não saísse do transe e a magia que vinha do escaravelho pudesse tomar o possuidor de tal maneira que a pessoa viria a ser uma marionete das magias antigas.

Essas palavras foram as últimas que ela ouvira de sua vó naquele verão que ela apareceu bruscamente assustando a própria mãe da garota. Ela dizia ter sido esquecida pela mãe por não ter certas qualidades, que Ellen veio a descobrir depois. Ela tinha oito anos na época.

A avó desapareceu no dia seguinte e nunca mais voltara. Já fazia dez anos desde o último encontro, ela havia sido vista doando o tal artefato para o museu e foi o último lugar pelo qual passou. No mundo bruxo diziam que ela havia sido pega pelos Comensais da Morte que se escondiam por trás de sorrisos falsos, e o motivo era o mesmo que se matava hoje, informação.

O som das asas do escaravelho se abrindo e fazendo um ruído igual de uma cigarra trouxe um pedaço de Ellen de volta. Os olhos dela também, estavam negros e sem brilho. Ravner sorriu.

- Tenho as respostas para todas as suas perguntas – a voz que saía da boca dela era quase monstruosa, lembrava uma mistura de zumbido e uma voz diabólica de gelar a espinha.

- Quero saber o paradeiro de Jhon Tumblius, Macbeth Olivaras e Florean Fortescue. Assim como o que eles chamam de a estrada sombria.

E com aquela voz agourenta, Ellen contou tudo o que Ravner pediu. Tudo o que ele precisava saber.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.