Capitulo Oito



CAPITULO OITO – PRISIONEIROS DA ALMA

Tod se considerou muito estúpido pelo modo que falou daquela estrada, parecia que nem aqueles filmes chulos em que o personagem dizia o nome de alguém ou algum lugar, enfatizando, floreando demais. Após refletir um pouco se odiou, fizera exatamente igual.

Depois de muita conversa e uma ameaça do avô, Tod decidiu que deveria ter sido apenas um sonho, e que deveria dormir um pouco. Porém o sonho, os nomes dos amigos de Harry Potter de quem ele nunca ouvira falar e claro o jeito que os velhos se entreolharam e as palavras de Olivaras, fez a cabeça de Tod pipocar de perguntas. Se lembrou que Harry Potter era o nome do garoto que sobreviveu, ao mesmo feitiço que o avô o disse ter o atingido na noite anterior.


Para alegria do garoto, ele teve um sono sem sonhos.
Então acordou, um brilho vindo da janela arqueada fez o manto de Morpheus ser retirado dele. Estava numa espécie de torre, as paredes eram de pedras de rio, lavadas, que traziam um certo brilho com o fulgor do sol. Ao olhar para o corredor pela porta entreaberta viu que o resto do lugar deveria ser de pedras normais, cinzentas.

Olivaras, Florean e o avô já não estavam no quarto quando Tod acordou. Era um quartinho pequenino, havia algumas caixas com vidros sujos de poeira que não deixava ver o que havia dentro deles. A cama era macia mais parecia já ter visto verões suficiente, além do mais uma mola ou outra queria saltar para fora dele.

Não havia muito de interessante no quarto, mais isso era o de menos para Tod, que se sentou na cama e colocando as mãos no rosto tentou digerir tudo que havia acontecido na noite passada, foi então que se lembrou da clareira onde apareceram e a árvore que o engolira, mais ao fazer isso o sonho se materializou na mente dele novamente. Com um chacoalhar, a cabeça do jovem se esvaziou de novas preocupações e ele esqueceu o sonho.

- Não aquento mais ficar sentado aqui olhando para essas paredes – disse Tod se levantando, o brilho na janela estava mais forte, ele olhou para o relógio em seu pulso, era sete e meia da manhã, nem no Brasil deveria ter um sol daqueles em plena manhã. – Mas onde eu vim parar?

Ele olhara pela janela e mais uma vez o coração do garoto deu pulo, estava olhando para um pequeno forte num lugar magnifico, uma enorme floresta com um pequeno riacho passava a leste , mas não foi isso que o deixou assustado era a localidade onde este forte se encontrava.

Não havia céu, o que estava no lugar era uma sólida rocha e pra deixar as coisas mais estranhas ele viu de onde vinha tal claridade.

A mais de dez campos de futebol de distancia, se erguia um enorme paredão de rocha e incrustada no meio dela e ocupando boa parte, da pedra vinha um brilho intenso e quase cegante, mesmo que Tod estivesse a milhares de metros de distancia.

- Só falta um dino passar correndo pelo castelo para isso virar um mini-série da HBO não é? – disse a voz de Florean as costas de Tod que se virou imediatamente.

- Eu atravessei uma árvore e vim parar num lugar onde não tem sol, mas uma pedra brilhante igual a Dinotopia? Quanto mais eu conheço desse mundo, mais eu quero esquecer – disse Tod convicto, então olhou bruscamente para Florean. – Pera ai, como você sabe que só faltava um dinossauro para isso aqui ficar igual a Dinotopia, acho que bruxos não vêem tv?

- Por que acha isso?

- Por que não vi uma tv na sua sorveteria – respondeu Tod.

- Quando se é um bruxo Tod ou você fica fazendo bruxaria o dia inteiro ou vai até um campo de Quadribol, mas isso só nos finais de semana – explicou Florean se sentando na cama e deixando o seu olhar vagar sonhadoramente. – Então por que não se divertir vendo os programas trouxas, e falando em Dinotopia, anos atrás um trouxa foi pego perto de uma fonte de minério de Lithdyo, os locais fizeram um feitiço de memória rudimentar nele e o deixou ir, meses depois parece a mini-série e olha lá as pedras Lithdyo.

- Então há algo de bruxo em tudo o que a gente vê na tv? – indagou Tod se aproximando do velho, uma idéia formigou na cabeça dele.

- Basicamente sim.

- Até em certas estradas? – assim que ele terminou o rosto de Florean endureceu, o olhar dele se tornou mortífero.

- Não devia estar perguntando essas coisas Tod – rebateu Florean.

- Mais eu acho que eu já estou atolado demais nessa sujeira, eu quero saber o que está havendo – Tod estava realmente determinado a ter as suas informações. – Droga Florean, eu quase fui morto. Então nem pense que me resguardando dessas informações que vai me salvar, então por favor me diz o que está acontecendo e no que eu me envolvi, por que estão nos perseguindo?

- Tod eu não posso, se eu lhe contar vou estar quebrando um juramento que fiz a Macbeth e seu avô. Algo que prometemos nunca revelar a ninguém. Ninguém.

- Então me chama de fulano e me conta.

- Não é tão simples, há um rumo de uma guerra em jogo. Tudo o que poderia ser feito se a localização da estrada fosse encontrada.

- Então é isso, realmente existe uma estrada, e pra que ter tanto medo em um simples caminho de tijolos negros. Qualé, são apenas pedras. – indagou Tod.

- No nosso mundo nada se resume a apenas, sempre á algo mais – Florean se levantou, Tod segurou seu braço.

- Florean eu preciso saber, preciso saber que fardo meu avô carrega a tantos anos e quem nem me contou, nem minha mãe deve saber.

- É por isso que eu não quero te contar Tod – disse Florean se livrando dele e indo em direção a porta do quarto. – Seu avô teria mistérios revelados que não suportaria que você conhecesse, e contando os dele os meus iriam juntos, e não estou querendo me livrar desse peso e me confessar com alguém. Eu sinto muito, se tiver que saber de alguma coisa, terá de ser por conta de Tumblius.

Ele sai do quarto, Tod soca o ar. Um rosto aparece na porta subitamente fazendo Tod recuar, Florean voltou com seu rosto animado.

- E só para não me esquecer, estamos lá embaixo esperando por você para tomar café – ele diz e sai novamente.

A cabeça de Tod começa a trabalhar, tentando decifrar alguma coisa nas palavras de Florean que possa o ter denunciado. Algo aconteceu, ele pensou consigo mesmo, algo muito ruim.

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Florean desceu as escadas de pedra e encontrou Tumblius e Macbeth sentados em poltronas velhas e esburacadas num imenso salão vazio, nas paredes pinturas estáticas ao lado das pinturas bruxas e no alto um gigantesco lustre de ouro e prata que ocupava metade do teto abobadado, o que fazia a sala correspondente logo acima parecer fora de nível, uma pequena mesa de chá estava posta no meio deles.

Tumblius conversava com Macbeth a respeito de varinhas de alcaçuz quando Florean se aproximou bastante preocupado.

- O que houve? – a pergunta de Tumblius foi imediata.

- Temos de começar a pensar no que vamos fazer e como vamos lidar com nossas responsabilidades – respondeu Florean muito sério.

- Você tem razão, mas nossas responsabilidades vai se tornar um problema maior quando Ravner vir pra cá ou você acha que ele se esqueceu desse lugar Florean. Se ele achou Tumblius deve estar bem munido de informação. – Olivaras disse num tom calmo tentando deixar o amigo em seu mesmo estado de espirito.

- Se fosse apenas nós dentro desta fortaleza eu não me preocuparia, mas agora temos um jovem que pode se machucar e não quero mais sangue em minha consciência – a voz de Florean quase sumiu quando acabou. – Temos de contar a Tod com o que ele está lidando de agora em diante.

- Você não tem o direito de decidir o que dizer a ele, foi apenas um sonho – Tumblius assumiu um tom acima do que ele costumava fazer, era o mais próximo de uma ameaça que iria fazer ainda calmo. – Erramos? Sim, porém não vou fazer o meu neto parte desse erro. Eu quase o perdi Florean, vi meu neto morrer e ressuscitar na minha frente por um feitiço daquele maldito.

- Eu acho que Florean quer dizer que não temos tempo para pensar, sabemos o que vai acontecer daqui pra frente – Olivaras se interveio na conversa. – Temos apenas uma única chance de acabar com isso de uma vez por todas e creio que depois dela acordar isso irá ficar evidente não acham.

- Eu não quero saber se a Guia vai respeitar o nosso pedido ou não, mas eu não vou me envolver em mais uma caça inocente – Tumblius olhou para Florean. – Desde que achamos aquela maldita estrada eu penso todos os dias no que aconteceria se alguém tentasse fazer aquilo de novo.

- Aquilo o que? – disse uma voz vindo das escadas. Tod vinha a passos largos com sua expressão modificada por uma desordem e confusão. Estivera escutando mais nada fazia sentido a ele. – E então vô, vai dizer o que planejou a muitos anos atrás, o que o fez sair daquele estado louco e brincalhão para se tornar alguém sério com uma missão a cumprir?

A única resposta que Tod recebeu foi o silêncio perturbador de todos na sala.

- Eu quero saber o que está acontecendo! – Tod gritou, sua voz reverberando nas paredes, fazendo um eco terrível.

Olivaras coloca a mão sobre a boca, pensativo, batendo com indicador no nariz cada vez mais lentamente. Ele então cruza as mãos como se fizesse uma oração silenciosa.

- Está bem Tod – ele diz tranqüilamente, Tumblius se exalta.

- Não Macbeth, não me traia desse modo – ele implora.

- O pecado de cada um vira ao seu tempo Jhon, não será o único a se envergonhar pelo que foi feito.

O velho avança para replicar, um aceno de varinha o faz ficar parado no mesmo lugar, Tod apenas observa sem mover um músculo.

Dos olhos azuis de Olivaras nascem uma tristeza que Tod parece sentir transportar para si mesmo, sabe o que virá da boca dele é apenas más noticias.

- Há quanto tempo não vê seus pais Tod?

- Por que está me perguntando isso, eu quero saber o que está acontecendo aqui não venha me enrolar com esse papo furado – disse Tod se irritando.

- Responda a pergunta Tod – Florean disse do outro lado da sala.

- Eu o vejo apenas uma vez por ano, ele trabalha no México como historiador e minha mãe não pode acompanhá-lo por causa do visto. Satisfeitos agora?

- Seu avô está sempre presente quando eles vem? – perguntou Olivaras sem fazer sentido para o garoto.

- Olha eu não sei onde querem chegar, não conheço vocês e nem sei por que inferno encontrei ou fui me envolver nessa e é isso que eu quero saber. Meu pai e meu avô não se dão, por isso ele nunca está lá.

- Não meu jovem, seu avo não se relaciona bem com o seu pai por que ele está morto. Seu avô o matou e levou a sua mãe a loucura.

A voz de Olivaras atingiu os ouvidos de Tod, seguidos de um outro som estranho, enquanto o jovem tentava avaliar o que o velho o tinha dito.

- Mas o que você quer diz...

Tod foi interrompido por um bater de asas e um som veio do lado de fora da fortaleza. Era um som melodioso e tranqüilo, mas no meio se tornava feroz e agourento como um cântico que começava dizendo sobre heróis e no final sobre suas mortes trágicas.

Um frio intenso invadiu a fortaleza, um vento forte e agressivo soprou pelo salão. Os vidros começaram a quebrar voando cacos para todos os lados, como se algo fosse jogado contra elas.
Algo rolara parando perto do pé de Tod, ele se abaixou e pegou, era molhado e frio, uma enorme pedra pontiaguda de gelo derretia lentamente na mão do garoto.

Ele olhou para os velhos a procura de respostas e apenas o que teve foi um vislumbre de seus olharem tristes antes de o brilho das pedras Lithdyo se perder e tudo ficar escuro.

Tod ficou em pé apenas mais um segundo, um vento forte bradou e o lançou ao chão numa tempestade de gelo que viera dos andares superiores o imenso lustre bambeou no alto da abôboda.

Por todo o lugar uma camada de gelo surgia, como se fosse uma hera viva ganhando um muro ao longo dos anos, tornava a fortaleza toda num imenso palácio de gelo.

O teto acima deles ruiu, Tod teve tempo de gritar e se afastar para não ser esmagado pelo imenso lustre que veio abaixo, não pode ver bem mais pelo meio da tempestade, mas pareceu ter visto alguma coisa. Que havia descido do topo da fortaleza para o salão.

- Mas o que está havendo? – gritou Tod do chão.

- Ela acordou – avisou Macbeth Olivaras sem nenhuma alegria.

==========

Um tapa forte no rosto foi o que acordou Ellen, antes de seus olhos se acostumarem a escuridão recebeu outro tapa forte no rosto, pode sentir o gosto do sangue dentro da boca e o cabelo cair sobre o rosto. Um cigarro se acendeu na escuridão.

Parado bem na frente dela estava Ravner, estava sem camisa deixando ver seu torso coberto por enormes tatuagens estranhas de monstros com garras e tentáculos. Ele trazia sua varinha segura numa mão e o cigarro na outra, com um aceno o manto estava de volta em seu corpo e com outro uma cadeira se arrastou até ele.

Ele se sentou cara a cara com Ellen, tragou longamente e jogou a fumaça no rosto da garota, ela se manteve firme. Não iria demostrar nenhuma fraqueza, seus olhos sorrateiramente procuravam Donald, mas o restante da sala estava imersa na escuridão que não enxergava nada.

Então seus olhos vacilaram por um momento, surgiu momentaneamente um aperto no peito dela, era como se a fumaça estivesse esmagando seus pulmões.

- Sabe eu nunca tinha tido nenhuma proximidades com esses artefatos trouxas – enquanto Ravner falava a menina se retorceu de uma tal maneira que o homem abriu um sorriso. - Muito interessante, você é mesmo uma trouxa muito excepcional.

Ele se aproximou dela e a beijou, a moça tentou lutar mais se deixou levar, enquanto o beijava o aperto em seu peito passava. Ravner se afastou os lábios dos dela lentamente, uma fumaça negra saiu de dentro da boca de Ellen para a dele.

- Um simples cigarro trouxa pode fazer mal a pessoas de diferentes modos, mas sempre é no peito que a verdadeira fumaça se esconde.

Ellen respira aliviada porém arfantemente, achara que o seu sopro tivesse sido roubado. Agora seus olhos olhavam os abismos negros de Ravner com uma fúria.

- Olha eu sei que você deve querer dar um imenso discurso antes de me torturar até eu falar, mas pode cortar por ai tá bom. Poupe-se do trabalho e vá para o inferno – disse Ellen numa calma absurda.

Ravner sorri e levanta a varinha e tira uma mecha de cabelo do rosto lindo e agora vermelho de Ellen.

- Eu queria mesmo um grande discurso, mas não se preocupe eu guardo para mais tarde – Ravner disse. – Não tenho planos para lhe matar com um sopro de vento seguido por um brilho verde.

- Pelo menos vai ser limpo – disse Ellen num tom jocoso.

- Sabe moça o que é mais terrível em meu mundo? É que ninguém, nenhum bruxo tenta resolver as coisas de uma outra forma além de um feitiço. Com um simples lampejo verde e bang, você mata uma pessoa, até uma criança se condicionada faz isso.

- E onde você quer chegar.

- A tortura, ao único modo onde a vida de uma pessoa fica na intensidade de a outra se controlar ao desejo infernal de ver a outra se retorcer, sangrar e gritar por socorro.

- Pensei que havia aprendido a maldição Cruciatus.

- Eu acho que você não entendeu o que eu quis dizer – Ravner tragou novamente e jogou a fumaça para longe – Somos tão dependentes de uma coisa chamada magia que esquecemos do que realmente somos.

- Monstros sem alma?

- Isso todos podem se tornar, mas no final somos apenas carne e sangue, como todos no mundo sejam trouxas ou não – Ravner se levanta e tira do bolso de seu manto uma arma, uma pistola nove milímetros. – Uma pessoa atingida por uma bala na cabeça morre correto, e o mesmo se aplicaria a um bruxo, mesmo ele podendo fazer uma magia sem varinha, ele teria calma e concentração sabendo de que um pedaço de metal e pólvora é mais poderosa do que a tão preciosa magia.

Ellen continua o encarando, percebendo que aquele homem a sua frente tem em sua mente algo que nunca vira nos bruxos, um senso de realidade. De que nem tudo poderia ser resolvido com um aceno de varinha.

- Ainda não entendeu? – ele apontou a varinha para um canto escuro. – Então vou lhe dar uma demonstração.

Da ponta da varinha surgiu um clarão de luz que dissipou a escuridão a frente. Ellen teria preferido permanecer na escuridão.

Preso ao teto por uma corrente, feito um porco para o abate estava o corpo de Donald, sua camisa estava rasgada e ensangüentada. Da sua perna esquerda pingava sangue formando uma poça enorme e vermelha pelo chão. Seu corpo estava em algumas partes queimado e em outras furado por algo pontiagudo.

- Mas que droga você fez com ele! Donald, Donald! – os gritos desesperados de Ellen acusou uma reação no corpo até então inerte de Donald.

O garoto levantou a cabeça, seus olhos estavam cheios de lagrimas e a boca se abriu, mas nenhum som saiu de dentro dela. O senso de realidade do qual Ravner tinha sumiu da mente de Ellen, sentia ódio dele. Ele dizia que nem tudo se resolvia com magia, mas naquele momento Ellen teve vontade de que em suas veias corressem um pingo dela. Para poder com duas palavras fazer o corpo daquele monstro cair no chão sem vida.

- Maldito! Maldito! Eu te mato! – Pela primeira vez Ellen percebeu que seu corpo não estava amarrado como pensava, seus pulsos estavam unidos as costas da cadeira por algum fio invisível incrivelmente forte, assim como suas pernas. – Solta ele senão eu te mato! Eu juro que te mato!

Seu corpo se sacudia inutilmente, ela gritava de raiva. Ravner colocou a arma de volta ao bolso e baixou a varinha, Ellen parou de bradar gradativamente conforme viu que ele desistira da idéia.

Ravner colocou o cigarro na boca e abriu um largo sorriso.

- Mas quando se está totalmente dependente de uma coisa é difícil largar, pelo menos vai ser limpo – as palavras dele fizeram Ellen sentir um frio na espinha.

Os olhos de Ellen se arregalaram ao ver que Ravner erguera a varinha. A moça nem ouviu seu grito tudo que ela ouvira naquele momento eram aquelas duas palavras, e que os seus olhos vislumbraram aquele brilho verde.

A morte atingiu o corpo de Donald como um balde de água, o envolvendo numa névoa fúnebre por um momento se dissipando em seguida. Donald balançou de um lado para o outro, seus olhos arregalados, mas sem nenhuma outra demonstração de dor.

Ravner voltou a cadeira de frente para Ellen e a fitou com aqueles intermináveis abismos negros sem alma. A pobre moça estava em choque, parecia que ela havia congelado no tempo, perdida em pensamentos.

- Me diga uma coisa, depois disso tudo você quer morrer ou quer me matar?

Ellen continuou fitando o vazio sem sair um único som de sua boca, dentro de sua cabeça começou a soar uma melodia como se contasse uma história, sobre heróis e que no final morriam por uma boa causa.

Mas naquele momento Ellen tinha sentenciado o amigo a morte sem ele poder ter feito nenhuma diferença além de colocá-los para dentro do museu por idéia dela ignorando o fato dele ser totalmente contra, ela gostaria de voltar no tempo.

Voltar e ter dado ouvido ao seu amigo, ter ficado no seu lugar como uma trouxa e deixar os bruxos e suas malditas guerras de lado, mesmo querendo salvar Tod desse meio conturbado.

Teria sido melhor se tivesse deixado Tod seguir em sua jornada, seu destino. Nem sabia se ele mesmo não tinha fugido e com seu avô juntado em alguma loucura por ai.

Mas não, preferir seguir com sua cruzada pessoal achando que por ter sido uma pessoa em sua família que tinha feito a diferença sem ter tido de recorrer a magia, que poderia ter ajudado, como sua avô fez no passado.

A única coisa que fez com certeza foi jogar o amigo no meio disso tudo para morrer como um pedaço de um animal nas mãos de um louco, um maníaco sádico e louco que não falava coisa com coisa e que ao invés de ter pego o maldito escaravelho e ido embora decidiu matar um jovem inocente.

- Não ligue para o que falam Ellen, você é especial.

Ellen piscou, saiu do transe. Ravner a olhava com um sorriso cínico de lado a lado do rosto.


- Eu sei que é, eu vi em seu peito, a força do legado que você carrega – desta vez ele não abriu a boca, e de alguma forma a voz de Ravner soava em sua cabeça.

- Não vou te matar agora moça, você é importante para mim assim como o escaravelho, e só pra você saber seu amigo foi bravo, nem um minuto falou nada – disse ele agora mexendo os lábios.

- Então não precisa de mim, faça a maldita pergunta e será respondido é só isso que tem de fazer – disse Ellen revelando sem se importar se Ravner acreditaria ou não.

- Isso é o que os amadores pensam sobre o escaravelho, mas depois de ver ele pessoalmente me lembrei. Lembrei do que é preciso para revelar tal chama maligna, e sabe o que é mais interessante? E que eu preciso de você.

- Eu nunca ajudaria você – disse ela relembrando o brilho verde e o corpo de Donald balançando.

- Nem se puder trazer seu amigo do mundo dos mortos.

- Isso é impossível – Ellen respondeu, com uma pouco de si desejando que pudesse ser verdade.

Ravner se inclina para frente ficando cara a cara com a garota.

- No meu mundo nada é impossível, mas tudo tem um preço.

Ellen olhou para os olhos de Ravner, já não eram mais os abismos vazios de outrora eram um poço com um fundo, e dentro dele havia um brilho e esse brilho acendeu-se se tornando uma chama e secando a á pouca água que existia no poço.

Tendo apenas essa simples visão como um sinal seus olhos responderam e Ravner sorriu, desta vez sem cinismo e malícia.

Havia pego a peça que precisa e a movera em direção a um xeque mate sem saída, que nem Lord Voldemort poderia prever.

Agora o futuro da guerra estava em suas mãos.

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