Capitulo Seis



CAPITULO SEIS - NÃO QUERO PASSAR UMA NOITE NO MUSEU.

Ellen já estava impaciente com a demora de Don, haviam marcado para se encontrarem na rua Stanforth, que ficava ao lado da Wilburth, era deserta a essa hora da noite e com os ânimos ainda atiçados pela casa dos Lockwell, nenhum olho curioso iria pousar sobre eles.

Pelo que pareceu todos tinham voltado para casa depois que os furgões roxos vieram e os bombeiros deixaram a rua, tudo voltava calmamente ao normal.

Um farfalhar colocou a moça em alerta, procurou na escuridão, não via nada naquelas condições.

- Quem está ai? - depois de dizer ela mesma teve de admitir que se fosse alguém querendo lhe causar mal, nunca iria respondeu.

- Aiii, droga - a voz era inconfundível, Donald saiu do meio do mato, o rosto vermelho e as mãos arranhadas assim como o casaco velho e puído dele.

- O que você estava fazendo ai dentro? - perguntou a moça curiosa. - Podia ter vindo pela rua.

- Quis cortar o caminho e me perdi - disse envergonhado pela falta de direção, na verdade era apenas uma caminhada de três minutos em linha reta, mas o jovem tropeçara num tronco podre e caíra, ao se levantar tomou o caminho para norte pensando que era oeste, direção que ficava a rua Stanforth.

- Agora não tem mais importância, trouxe a varinha? - perguntou, o rapaz puxou uma varinha de freixo, que de tão besuntada havia se tornado negra, o cabo era todo desenhado em alto relevo e tinha vinte e sete centímetros de comprimento, trazendo fios de unicórnio e centauros milenares. - Ótimo, pode fazer sinal.

- Ellen tem certeza que é uma ótima idéia, eu nem sei direito se vai dar certo - choramingou o rapaz. - Eu não quero invadir um museu em plena noite, e muito menos passar um tempo lá dentro procurando algo que nem a gente sabe se funciona.

- Eu já disse Donald, tudo vai dar certo. Agora faça o sinal, por favor.

- Tudo bem então - ele disse a contra gosto, e elevou lentamente a varinha em direção a rua. Não precisou de nenhum centímetro a mais a ser levantado.

Um vácuo de ar se abriu na rua, e explodiu jogando Don no chão enquanto Ellen ficou em pé maravilhada com o incrível Auto-Motorizado Mágico a sua frente.

O roxo berrante brilhava reluzente sob a pouca luz da noite, os três andares se elevavam perigosamente para o alto, podia se ver as camas que ficavam no lugar dos bancos.

Ellen até tinha se esquecido de Donald, que se levantara e sacudira a poeira do casaco, parecia ser um mau dia para ele. Um rapaz abriu a porta e saiu, com seu uniforme roxo e um chapéuzinho coco na cabeça, o rosto era de um jovem que se não fosse pelas espinhas em demasia seria um tanto bonito.

- Bem vindo ao Noitebus, o transporte preferido dos bruxos cansados e entorpecidos, meu nome Stan e podem... eu me esqueci mas venham não se acanhem.

Ellen olhou para a cara incrédula de Don.

- Vai ser uma longa e divertida noite - disse sorrindo para o garoto.

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Ravner nem ousou a voltar para o aconchego do seu mestre, pois sabia que esse retorno não seria nada aconchegante para ele, e mesmo essa omissão também não seria esquecida de nenhum modo.

Ravner estava sentado num bar nojento de uma parte nojenta de Londres, era um bar trouxa o que trazia mais um ar desgosoto para Ravner. Sua cerveja estava quente tinha um gosto amargo, mas ele a tomava em longos goles, nem tinha o mesmo gosto que uma amanteigada, porém o deixava meio zonzo, coisa que a bruxa não conseguia fazer.

A porta rangeu indicando que algum outro trouxa esquisito havia saído ou entrado. Por ele que se danem todos os trouxas já estariam mortos se ele não estivesse tão derrotado. Ai de um deles se viessem pedir para pagar por aquela droga de cerveja quente odiosa.

Uma mão pesou sobre o seu ombro, Ravner se levantou irado com o punho cerrado, nem iria gastar seu tempo tacando magias nesses trouxas, iria transformar a cara deles num amontoado de sangue com as próprias mãos.

- Tire suas mãos de mim, seu maldito - o soco parou a poucos centímetros do óculos escuros de Hammer, que os abaixou até a ponta do nariz para olhar Ravner, que parara atônito. - Que você está fazendo aqui Sam.

- Procurando um velho conhecido, por acaso o viu por ai? - disse irônico se sentado e puxando o copo de Ravner bebeu a cerveja e cuspiu. - Que droga é essa, cerveja trouxa tem de ser gelada, o troço ruim. - ele levantou a voz em direção ao bar. - O amigo, manda duas, geladas dessa vez.

Ele jogou o copo de Ravner longe, ela se espatifou no chão, chamando atenção de todos no bar. Ravner continuava em pé, Samuel Hammer indicou a cadeira.

- Tenho novidades para você.

- Que tipo de novidades eu ia querer de você, eu sou um Comensal da Morte, não preciso de ajuda de ninguém - ele disse pegando a cerveja da mão do homem que veio entregar duas canecas, suadas de tão geladas, ele se retirou rapidamente ao ver os olhos de Ravner o perfurarem - Se eu quero novidades, eu as tiro do cadáver morto, seja ele bruxo ou trouxa.

- Está agindo como um idiota Ravner - disse Hammer tomando um gole da cerveja. - Eu sou neutro nessa briga entre os mundos, sei que o mestre gostou de lhe ter ao lado dele, mas apenas por você saber algo.

Os olhos de Ravner fumegaram, uma fúria transpassou e o pescoço dele enrijeceu. Hammer parecia se divertir com aquilo tudo, ele acendera um cigarro e propositalmente jogou a fumaça no rosto dele.

- Alguma vez você pensou o que o seu mestre faria contigo se ele soubesse que você não sabe o caminho para a Estrada Sombria.

- Ele confia em mim, nunca teria essa desconfiança.

- Oh claro ele confia em você, essa é a frase favorita dos Comensais que se acham os favoritos do Lorde - outra baforada de cigarro e um gole de cerveja.

- Por que não vai embora Hammer, vai cuidar do seu ministro trouxa e me deixa em paz.

- E até deixaria, mas temo que o ministro está em boas mãos. E, além disso, o meu cargo me coloca a par das novidades dos dois mundos.

- E que interesse eu teria nas drogas das suas informações - Ravner já começava a se irritar com o jeito calmo e tranqüilo de Hammer.

- Temos uma pista, tenho certeza que você sabe do que se trata - os olhos de Ravner mostraram um interesse por um momento e depois se tornou frio novamente.

- Ainda não vejo o que isso pode me beneficiar e o porque você iria compartilhar essa informação comigo. Será mandado para Azkaban por traição.

- Não, claro que não. Não tem provas e eu nem estou aqui por sinal, e então quer ouvir ou não?

- E eu tenho escolha, você está falando a um tempão sem ser convidado - Ravner relaxou, mas Hammer sabia que ele estava desesperado para agradar o Lord.

- Uma menina trouxa e um jovem bruxo entraram no Noitebus a menos de meia hora atrás.

- Vem me dizer que sua pista é sobre dois piralhos, piralhos trouxas - indignou-se Ravner, Hammer fez um sinal, ainda não acabara.

- Isso é o de menos, eles estão indo para o museu de Londres, buscar algo - concluiu Hammer.

- Sobre o que estamos falando na verdade.

- Nós não temos a menor idéia...

- Nós?

- É eu digo eu e você - Hammer tentou consertar. - Como estávamos falando, esses dois jovens tem convicção que esse objeto pode ajudá-los a achar um tal de Tod Lockwell.

- O neto de Tumblius.

- Isso, achando esses jovens será meio caminho andado até os Lockwell e seu mestre terá mais um artefato de extrema preciosidade em mãos. - Hammer apagou o resto do cigarro em cima da mesa e matou a cerveja, por fim se levantou.

- O que você e seu amigo vão ganhar com isso Hammer? - disse Ravner olhando para o fundo da caneca.

- Que amigo? - disse Hammer olhando em volta.
- Não me tome como idiota - Ele olhou exatamente por sobre os ombros de Hammer - mande-o usar uma capa de invisibilidade menos chamativa.

- Não deixa passar um detalhe não é? - Hammer sorriu, e fez um sinal de arma para Ravner. - Vamos dizer que um favor do seu mestre, ou mesmo seu vai bastar.

Hammer faz um sinal com a cabeça e sai do bar, a porta rangendo mais do que o normal.

Ravner pega a caneca e tomando tudo de um gole só, joga a caneca do outro lado do bar. Era demais para o dono da espelunca que depois de seguir sua caneca voar pelo lugar e se espatifar no chão, se impôs virando em direção a Ravner.

- Amigo será que dá para parar com essa... - ele parou no meio da frase e procurou em volta, o homem de preto havia sumido.

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O Noitebus jogava as camas de um lado para o outro. Ellen sorria a cada solavanco, torcendo para que suas mãos não soltassem, por que se acontecesse iria voar do lado do motorista. Um homem velho, que Stan chamou de Ernesto, ele gritava com uma pequena cabeça encolhida com tranças rastafari, que cismava que ele tinha tomado o caminho errado.

- É museu de Londres - a cabeça gritou dando uma volta inteira por causa da curva fechada. - E não museu de Ponds. Sabe a diferença de Pondsherry e Londres, é que um é Pondsherry e o outro é Londres. É a mesma coisa que Surrey e Sussex não é?

- Eu já disse que ouvi - berrou Ernesto, girando o volante cada vez mais fechado, pelo pára-brisa, os carros passavam rápidos, e Ellen tinha a impressão que iria se chocar a qualquer momento, mas a coisa mais interessante era que as caixas de correio e os postes se envergavam para o Noitebus não o atingir. - Eu sou estou cortando caminho.

- Não se preocupem, eles se entendem em longo prazo - a voz de Stan tirou a atenção de Ellen da dupla que tentava conduzir o Noitebus. - O que você quer fazer no museu de Londres há essa hora, se fosse o da magia eu até entenderia, mas um museu trouxa?

- Eu quero ver...Ver... - Ellen tentava achar alguma explicação plausível então veio uma absurda e talvez seria a menos aceitável, mas se arriscou. - Quero ver quais as chances dos trouxas apreciarem as obras noturnas a...Noite.

Stan franziu o cenho, Ellen tinha de admitir era a coisa mais absurda para se dizer, então Stan abriu um sorriso, Ellen relaxou e sorriu também.

- Como ninguém pensou nisso antes, mas parece que seu amigo não está muito interessado.

Ellen se virou Donald estava de olhos fechados, dizendo algo baixinho, se segurava nas traves da cama com uma sagacidade absurda, o medo de Ellen voar se não estivesse se segurando era fichinha comparada ao medo do amigo.

- Ele só está nervoso - um som terrível de estrangulamento vinha da frente do carro, Stan se levantou num pulo e correu para salvar a cabeça.

Ernesto estava em pé com as duas mãos segurando a cabeça encolhida, enquanto seu pé direito girava pelo volante.

- Eu vou acabar com você, apertar a sua garganta até ficar sem ar! - gritava Ernesto.

- Tenho uma novidade para você - disse a cabeça numa voz esganiçada. - Eu não tenho pescoço seu gênio.

Stan havia chegado e separado os dois, Ernesto estava novamente em seu assento e cabeça rodopiava pelo seu cordame.

- Teve sorte de não amarrotar o meu terno - ele disse serio, o freio foi pisado até o fundo. A cabeça voou para frente e bateu no vidro, quicando nele. - Agora você vai ver. Não me segura não Stan, quem sabe eu não dou sorte e endireito a cara de velho.

- Museu de Londres - disse Stan, que segurava a cabeça, que mordia o ar ameaçadoramente.

Ellen se levantou e bateu no ombro de Donald, o garoto abriu os olhos, estava lacrimejantes e as bochechas vermelhas. A moça o ajudou a se levantar e caminharam pelo corredor do Noitebus até chegarem na entrada que era à esquerda do motorista.

- Espero que a briga dos dois não os tenham assustados - Stan se desculpou.

- Tiveram é azar, não querem ficar mais um minuto para ver o sangue desse velho jorrar que nem uma fonte, KILL BILL vai ser uma gotinha depois desse velho parasita! - bradava a cabeça.

- Não obrigada - disse Ellen educadamente, e desceu do Noitebus sendo seguida por Donald.

- Qualquer emergência com transportes é só levantar a varinha - disse Stan abrindo um sorriso para Ellen.

- Obrigada de novo, vou me lembrar disso - com isso as portas do Noitebus se fecharam, ele sumiu tão rápido havia aparecido cerca de quinze minutos atrás, teriam levado uma hora para chegar se viessem de ônibus trouxa. - Bem aqui estamos.

O prédio se elevava lúgrubemente à frente deles, a lua atrás dele o provendo de uma luz fantasmagórica e as árvores eram como braços estendidos para todos os lados. O Noitebus havia parado dentro da propriedade, não teriam o problema de pularem o portão, ouviram um som, um assovio. Ellen empurrou Donald para trás da árvore no momento que um guarda passou indo para o portão metros lá na frente. Donald olhou para Ellen que sacudiu os ombros.

- Talvez não seja tão fácil como eu pensei - disse ela por sobre um sorriso.

E ela tinha toda a razão.

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