SAUDADES



A primeira noite de sábado do mês de julho, trazia um vento leve e uma pequena garoa imperceptível. No céu, a lua junto com as estralas faziam um ilustre show de iluminação. Eram escutados, cuidadosamente, os cantos agudos das corujas, ao longe do bosque.
A mansão Potter ficara ainda mais iluminada e imponente ao monte, na noite que se realizaria o casamento mais comentado de toda a sociedade mágica: Hermione Granger e Ronald Weasley.
- Rony... vista logo esse paletó! – exclamou Harry ajeitando o colarinho de fronte ao espelho no quarto do amigo.
Rony andava de um lado para o outro, seus sapatos pareciam apertados, sua calça parecia não estar confortável e a cabeça parecia que ia explodir.
- Eu não pensei que seria tão difícil essa coisa de casar... – o garoto ruía as unhas.
- Não é difícil, você que está fazendo frescura...
- É, HARRY? Porque não é você que vai enfrentar trezentas pessoas lá fora olhando para você andando pelo aquele tapete...
- Mas também não sou eu que pegarei na mão da menina mais sensata e maravilhosa que existe, para casar.
Rony parou sua caminhada, olhou fixo para Harry:
- Sou um cara de sorte, né? – ele abriu um sorriso.
- Muita sorte! – Harry retribuía o sorriso e deu-lhe um abraço. – Agora ande logo, estamos atrasados.
Rony apanhou o paletó, que poucas horas antes a Sra. Weasleys havia engomado, e vestiu rapidamente.
- Eu nunca sei colocar essa coisa! – exclamou ele, se enroscando com a gravata.
- Não olhe para mim...
- Pela Ordem de Merlin! Vocês ainda não estão prontos? – os cabelos ferozes de Molly tinham se encaixado perfeitamente no chapéu verde limão.
- O Rony está com problemas na gravata... – Harry riu. Rony olhou abobado para a mãe.
- Oh, me dá aqui... é só dobrar... uhm... pronto! – a Sra. Weasley concertou o colarinho do filho, sorriu e abraçou-o. – Parabéns, Ronald.
- Obrigado, mamãe.

As paredes foram cobertas por pequenas fadas ascendentes. Um enorme tapete vermelho era estendido no decorrer de todo o jardim, seguido por pedestais que nas pontas levavam um gnomo segurando ramos de flores.
O altar, onde a ponta do tapete se encerrava, era totalmente branco, por exceção de bordas douradas nas hastes do arco que se interligavam, formando assim uma pequena capela com cobertura de ramos verdes.
As cadeiras estavam enfileiradas, uma a uma, todas acolchoadas com um tecido azul marinho. Em momentos distintos, foguetes produzidos pelos gêmeos, cruzavam o céu formando o nome dos noivos dentro de um coração vermelho que se explodia. Luna dava gritinhos e os olhos não piscavam.
- Calma cara, assim o chão vai esburacar. – Rony novamente continuava sua caminhada de vai e vem, agora sob o altar.
As cadeiras estavam totalmente ocupadas e várias vozes eram identificadas por Harry. Ele ficara ao lado de Rony no altar, próximo a Luna e Neville, que se deslumbravam com os fogos de artifício.
- Cara, será que ela não vem mais? – Rony parou novamente seus passos e encarou Harry com medo.
- Claro que ela vem, deixe de ser apressado...
- Todos em silêncio, por favor. – ordenou o Duende padre detrás da mesinha baixa, revestida por uma toalha bordada e cheia de velas vermelhas que cintilavam. – A noiva vai entrar.
O coração de Harry congelou. Estava nervoso por Rony e imaginou por um minuto como deveria estar o coração do amigo, que ainda não havia criado coragem para olhar a outra ponta do tapete.
Uma orquestra do lado esquerdo das cadeiras, sem ajuda de tocadores, fazia um som nostálgico e romântico, ao que Hermione mirou o altar. Harry virou-se vagarosamente para a amiga e:
- Uau! – os olhos caíram sobre os belos cachos de cabelo, caídos por cima do pescoço e coberto por colares de ouro branco.
Um vestido de cetim branco tomava conta das formas incríveis de Hermione e seu sorriso era estonteante. Marchava sobre o tapete, passo a passo. Todos aplaudiam, perplexos com tamanha beleza. Os braços eram mantidos hasteados abaixo dos seios, e segurava um buquê de rosas vermelhas nas duas mãos unidas.
Harry escutara diversos “UAU”, no decorrer da aproximação de Hermione do altar, só agora ele percebia a presença de um homem alto, bem vestido, entrelaçando o braço da amiga.
Hermione e o pai, pararam poucos metros antes das almofadas onde Rony ficara petrificado.
- Rony, acho que você deveria ir buscá-la. – exclamou Neville, beliscando o braço do amigo.
Rony só despertou do transe, no terceiro beliscão de Neville e então desceu os dois degraus montados do altar para o tapete.
- Você está linda! – disse ele, encarando os olhos cintilantes da bela.
- Obrigado, você também está...
Rony cortejou a garota e agradeceu ao Sr. Granger. Os dois interligaram os braços então, juntos e sorrindo, subiram os degraus e se ajoelharam nas duas almofadas de veludo.
Inevitavelmente Harry invejou o amigo. Daria qualquer coisa para estar no lugar de Rony... mas ao seu lado, a pequena Weasley. Uma lágrima pontiaguda escorreu-lhe dos olhos, repousando sobre os lábios unidos. A música lenta dos instrumentos, ainda não haviam parado.
Os aplausos iam se cessando, até que fossem totalmente extintos. Todos estavam adequadamente sentados em suas cadeiras, e não tiravam os olhos dos cumpridos cachos do cabelo da jovem, que tomava toda as costas sobre o belo vestido branco.
- Estamos aqui hoje para celebrar um casamento digno de muitas felicidades. De dois jovens adultos com carreiras distintas, dois jovens com brilhantes futuros, dois jovens que se amam e continuarão amando-se para sempre...
As palavras do duende padre, baixinho por detrás das almofadas, percorriam superficialmente os ouvidos de Harry. Ele agora pensava nos quase dois anos atrás, quando vira Gina ao lado de Fleur, “exuberante... perfeita.” Seus pés pareciam que iriam flutuar do altar. Não observava mais o casal, apenas encarava ponta a ponta do tapete vermelho.
- Estavam satisfeitos em serem apenas amigos, companheiros, mas os corações desses dois jovens pregaram-vos uma peça. O cupido flechou ambos os corações e assim, estamos hoje para uni-los eternamente...
Harry admirava cada vez mais o tapete e esperava que mais alguém entrasse por ele. Alguém que ele pudesse cortejar e buscar em seus braços e assim selar uma união. Mas parecia demorar, não tinha tanta pressa.
- Vocês já devem ter pensando, se não estavam errados: confundir amizade com estarem realmente apaixonados, mas como todos os jovens, sempre inventavam desculpas para se verem, mesmo que brigando. E os corações palpitavam de emoção... pensavam todas as noites antes de dormir, um no outro.
Harry não parava de pensar em Gina... tinha uma esperança radiante em seu peito de que ela entraria por aquele tapete e que o encontraria novamente.
- Chega de contos e historinha! Vamos logo ao que interressa: Ronald Weasley aceita Hermione Granger como sua legítima esposa, para amá-la e respeitá-la, até que a morte os separe?
- Sim.
- Hermione Granger aceita Ronald Weasley como seu legitimo esposo até que a morte...
Os pés de Harry não se encontravam mais no chão. Os brilhos das fadas nas paredes não reluziam mais em seus olhos e uma grande rajada de vento forte invadiu seu cabelo cuidadosamente ajeitado. Não via mais aquele tapete estendido sobre a grama... não via mais a multidão admirando as costas de Hermione.
Harry fechou seus olhos vagarosamente, abriu-os ainda mais lento. Sim, agora tinha certeza que estava ali, não era ilusão.







Estava na toca. Aquelas velhas árvores, que tanto o divertia no passado, sacudiam com a presença das corujas nos galhos. Viu a casinha pequena de telhado castigado, com limos e trepadeira revestindo-o. Caminhou reto pela estradinha de barro e encarou a caixa branca fixa ao chão com tristeza. Era um túmulo bastante belo, com os dizeres em prata:

Ginevra M. Weasley
24/07/1981 * – 16/05/1998 t
“Eternas saudades, de toda a família e amigos"

Harry caiu ajoelhado ao lado da lápide brilhante e parou de tentar conter as lágrimas. Chorou e chorou por um bom tempo. Lembrou-se de tudo o que passaram. Lembrou-se do dia em que ela se foi e pensou na vontade que teve de recussita-la. Sentia a presença dela, sentia a falta dela. E ficou ali... contornava as letras da garota com seus dedos finos. A boca batia com algumas palavras:
“Sabe Gina, quando tudo aquilo aconteceu, eu me perdi. Achei que não fosse conseguir continuar sem você, e doeu muito antes de conseguir voltar a ser como eu era antes. Eu sinto sua falta, do seu riso, das suas brincadeiras, de passar a tarde com você e mesmo sem fazer nada... mas me divertindo muito, só por você estar presente. Me lembro do quanto eu adiei tudo por medo de você se machucar, de te machucarem... como sempre fizeram com todos os que eu amei. E como eu tinha certeza que aconteceria, aconteceu não, é? As vezes, eu acho que sem você eu não vou conseguir. Aquela vontade que eu tive de te trazer de volta... aquilo tomou conta de mim. Se não fosse a Mione, agora você estaria aqui, viva, mas no corpo daquela menina repugnante e estaria sofrendo por mim... se sentindo culpada pelo que eu me tornei. Eu não tinha pensado no que você acharia de tudo aquilo. Eu só pensei no que eu estaria disposto a fazer para te trazer de volta. Sabe Gina, você se foi e nada pode mudar isso. Eu não tinha esse direito, mas eu queria que você soubesse, que eu continuo te amando e que não importa o que aconteça, o que eu faça, eu vou te amar para sempre, e nada nunca vai me fazer te esquecer.”

Harry olhou novamente a lápide e viu que letras negras começavam a surgir em sua superfície. Sem entender nada, começou a ler:

“Por muito tempo, evitei te olhar nos olhos, me escondia de você”.
Eu sempre me contentei com um beijinho, um abraço.
Isso já me servia muito.
Quantas coisas já perdi por medo de te perder,
Mas agora eu aprendi. Não vou perder você, estarei sempre ao seu lado.
Te amo, Harry! ”

Harry não sabia como aquilo acontecera, mas também não se importava. Não sabia como fora parar ali e não sabia como aquelas palavras sugiram, mas nada disso importava. Ela estava ali e ele podia sentir isso. E aquilo, era uma mensagem dela! Então, de que importava como ele chegara ali? Debruçou-se no túmulo e chorou ainda mais... amava-a, sabia que amava. Quando se acalmou, ergueu o rosto e percebeu que todo o cenário a sua volta começou a mudar novamente. Os rostos foram reaparecendo, os bancos, as flores, a decoração. Estava de volta ao casamento. Olhou para o lado e viu Rony e Hermione. Hermione respondia sorrindo:
- Sim, eu aceito!
Foi quando Harry percebeu, que o tempo ali não passara. Ninguém notara que ele havia saído de lá e voltado. Nem que ele havia ficado horas longe dali, por que não havia passado nem um minuto, desde a hora em que saíra.
- Eu vos declaro marido e mulher. O noivo já pode beijar a noiva. – todos aplaudiram de pé. Harry estava zonzo.
Rony e Hermione se levantaram e se beijaram em frente a todos. Estavam casados, enfim. Viraram-se na direção de Harry e se abraçaram:
- Obrigada, Harry, por tudo. Por todas as vezes que você nos ajudou, nos protegeu e salvou nossas vidas. Por todas as vezes que você nos reaproximou quando brigávamos, por estar sempre com a gente e por fazer parte de toda a nossa história. Nada disso estaria acontecendo se não fosse você.
- Eu e o trasgo, néh? – eles riram. E permaneceram assim. Abraçados, curtindo uma coisa que nem as trevas conseguiram mudar. A grande amizade e amor que eles sentiam um pelo outro e que assim permaneceria... Para sempre.

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