FARPA FAMILIAR



Harry sentiu seus pés tocarem o chão em frente a sua casa na Vila do Lobo. Letícia ao lado apertava com força seu braço. Rony, que aparecera ali perto, quase deixara os livros que carregava cair. Muitas luzes estavam acesas na mansão e de uma delas vinha um cheiro característico que anunciava que a Sra. Weasley preparava sopa de cebola para o jantar.
- Ah... ótimo! Teremos sopa de cebola! – exclamou Rony satisfeito.
- Eca! – disse Letícia com cara de nojo. – Cebola é horrível! Ela pode causar mau-hálito, sabia? Quem comeria uma coisa dessas?
- Muita gente! – disse Hermione com um sorriso diabólico. – Conheço vários que adoram essa sopa da Sra. Weasley. –– completou ameaçadora. – O Harry, por exemplo.
Letícia ficara paralisada. Harry sentiu onde Hermione pretendia chegar com aquela conversa. E mais uma vez ficou perplexo com o que as meninas são capazes de fazer por ciúmes ou por qualquer outra contrariedade. Só não esperava que seu amigo Rony achasse aquilo engraçado, pois ele estava quase se agachando de rir.
- O Harry?! Mas... você não gosta de sopa de cebola, não é, Harry? – insistiu Letícia.
- Hã... bem. – Harry achou que Letícia poderia não aceitar a verdade. – Gostava.
- Viu? – virou se ela para Hermione. – Ele não gosta mais.
- Que história é essa Harry? – perguntou Rony. – Você sempre adorou a comida da minha mãe. Inclusive a sopa de cebola.
- É bom saber o quanto você não se preocupa com o que “os outros” pensam Harry. – ironizou Hermione.
- É! É bom mesmo. – apoiou Rony.
- Porque nós não entramos? – propôs Harry, não dando atenção aos protestos dos dois. – Você vem, Letícia?
A garota abriu a boca. Mas antes que pudesse falar, Hermione adiantou-se.
- Mas é claro que não!
- O que? Como ousa m...
- Ora! Você mesma disse, Letícia, em Hogwarts. “Que já era muito tarde, precisava ir pra casa e que sua mãe poderia estar preocupada”. Esqueceu? – Rony olhava admirado para a namorada. – E também, a não ser que você queira passar fome esta noite. Você não gosta de cebola, não é mesmo? Conheço a Sra. Weasley. Ela não iria permitir que fizesse pouco caso de sua comida.
- Você é mesmo brilhante! – falou Rony baixinho. Hermione de repente parecia até mais alta de tão satisfeita consigo mesma.
Letícia estava roxa de raiva. Com certeza Hermione não deixara falhas. Não tinha como negar que ela não havia dito essas palavras. Sentindo-se derrotada ela virou-se para Harry e lhe deu um beijo no rosto.
- Nos vemos outro dia, Harry.
- Boa Noite.
Ao sair, ela lançou um olhar mortal a Hermione que lhe retribuiu com um sorriso. Harry a acompanhou com os olhos e quando ela estava longe o suficiente...
- Qual é a de vocês, hein?! Dá pra você parar de implicar com ela, Hermione? Ou ta difícil?
- Ta difícil, Harry. Bem difícil. Essa menina não é legal, só você não vê isso?
- Ela é legal sim e eu gosto dela. E você não tem nada a ver com isso.
- Está bem, então. Vou provar pra você o quanto ela é falsa.
- Tente.
- Hã... pessoal? – Rony se pronunciou devagar. Parecia nervoso de ver os dois amigos discutindo furiosos a trinta centímetros de distância. – Nós temos todos esses livros pra lermos. Lembram? Snape? Espelho?
Harry parecia ter acordado de um transe. E Hermione finalmente respirava.
- Ah! Vocês estão aí! Pensamos ter ouvido vozes alteradas.
- Uma delas já bem conhecida.
- Mas não lembramos de ter visto você tão furiosa, Hermione.
Fred e Jorge aparataram por ali perto. Seus cabelos tão vermelhos eram fáceis de enxergar até mesmo na escuridão.
- Vocês não estavam na loja? – disse Rony.
- Resolvemos nos dar algumas horas a mais de descanso. – respondeu Jorge.
- Mas como foi que vocês ouviram Harry e Mione brig... – Rony se calara constrangido.
- Já estávamos em casa, maninho. Ouvimos a discussão da sala. Que feio vocês dois. – caçoou Fred apontando o dedo exatamente como sua mãe. Isso fez Harry lembrar de Gina. Era incrível quando ela imitava a Sra. Weasley. Gina realmente era uma pessoa extraordinária! Harry jamais esqueceria dela. Hermione não precisava ficar preocupada. De repente este pensamento o fez entender porque Hermione estava tão aflita em relação à Letícia. Ela tinha medo dele ter esquecido sua ex-namorada tão rápido. Era óbvio.
- Vocês levariam segundos pra vir da sala até aqui. Porque aparataram? – disse Rony indignado.
- Teremos que repetir mais uma vez, Rony? – disse Fred. – Tempo é Galeão!
- E então? Vão nos dizer qual foi o motivo? – perguntou Jorge.
- Isso não tem importância agora. – ralhou Hermione. – Podem nos ajudar a carregar estes livros?
- Com todo o prazer! Cunhada... – Fred se aproximou e agarrou os livros da mão de Hermione. Sem olhar pra trás, ela seguiu pra dentro de casa.
- Vamos Fred. Você não vem Rony?
Rony ficou indeciso se ia atrás da namorada ou se ficava ali com o amigo. Jorge, porém, decidiu por ele lhe fazendo um sinal com a cabeça para ir.
- O que aconteceu, Harry? Não é normal você e Hermione perderem a cabeça um com o outro. – disse Jorge quando ele e Harry ficaram sozinhos. Harry se surpreendeu com a expressão séria de Jorge. Não era normal ver os gêmeos assim.
- Ela esta implicando demais. Só isso.
- Implicando? Com o quê? Ta certo que Hermione é especialista quando se trata de implicância. Mas já estamos acostumados, não é verdade? Inclusive você.
- É, mas ela está exagerando. A Letícia nem fez nada pra ela.
- Ah... sim. – Jorge fez cara de quem entendera. – Hum, sim. Pressuponho que Hermione deva ter as razões dela.
- Como assim? Que razões?
- Nem imagino! – ele abriu um sorriso. – É surreal como as garotas sabem de coisas que nem imaginamos. Vamos entrar, Harry. Mamãe já estava pondo a mesa quando saímos.
Lentamente, os dois seguiram para a mansão. A noite começava a ficar fria e havia um início de cerração no ar. Dentro de casa estava bem aquecido. Ao entrar, Harry viu de relance Rony entrando na cozinha com a mão na barriga. Depois seguiu para a sala onde encontrou Hermione. Os livros, ao lado, no chão. A garota conversava com o retrato de Dumbledore. Parecia estar às lágrimas.
- Harry! Aí está você! – disse Dumbledore ao avistá-lo. Hermione, muito ligeira, afastou-se logo e sentou-se no sofá. Ela ficava com a cabeça baixa onde seus cabelos, muito espessos, escondiam seu rosto. Harry imaginou que ela os deixou assim de propósito para ele não ver a cara molhada.
- Boa noite, professor, como vai?
- Ah! Eu vou bem, Harry, muito bem! – ele deu um sorriso gentil. – Imagino que tudo correu bem em Hogwarts?
- Acho que sim. - disse Harry olhando para Dumbledore. Percebeu que Hermione o olhava de soslaio por debaixo dos cabelos. - Trouxemos alguns livros pra procurarmos com mais calma. Acho que vamos fazer isso depois do jantar.
- Ah, Harry. Não creio que hoje seja um dia apropriado para estudos – disse Dumbledore, apontando com a cabeça para Hermione, que olhava para outro lado – Dê tempo ao tempo, estão todos com os nervos abalados essa noite.
- Mas... Professor! Snape pode estar um passo a frente de nós! Pode estar preparando algo. Não podemos deixar isso pra amanhã.
- Harry, meu rapaz, acalme-se. A pressa é inimiga da perfeição. – O bruxo olhou Harry por cima de seus óculos de meia lua. Aquela velha sensação de que estava sendo radiografado deixou o garoto constrangido. – Um novo dia sempre traz novas respostas. Espere, amanhã estaremos todos descansados.
- Realmente, professor, o senhor não entende? Não temos tempo para...
Dumbledore apenas erguera a mão para Harry. Entendendo o gesto, o garoto calou-se.
- Entendo o quanto você está preocupado com Severo... – disse Dumbledore serenamente. – Mas é preciso ter calma, Harry. Aliás! De que adianta saber tão desesperadamente o segredo para abrir o livro? Você não tem em mãos nem o livro nem mesmo o espelho. Vá jantar, Harry! Molly já lhe disse hoje o quanto você está magro?

Harry acordou no outro dia muito cansado. Conseguiu dormir, mas seu sono foi perturbado por sonhos ruins. Lembrou que estava tentando encontrar respostas sobre o Espelho nos livros, mas que Hermione e Dumbledore, fora do quadro, interrompiam-no, acusando o garoto de trair a lembrança de Gina.
Ele se sentou na cama, massageando o pescoço. Olhou para a janela e viu que ainda estava escuro, mas não estava mais com sono e seu corpo doía, por isso se levantou. Pegou no cabide seu roupão azul e vestiu-o, saindo vagarosamente pela porta de seu quarto. Caminhava com passos leves, para não acordar o resto da casa. Desceu até a sala, ainda iluminada por brasas na lareira e viu os livros perfeitamente organizados por ordem alfabética em cima da mesa de centro. “Só pode ser coisa Hermione”, pensou ele, olhando para Dumbledore, que dormia em sua poltrona.
Harry pegou o livro de cima, se sentou no sofá folheando-o, atencioso. Ouviu o pio distante de Edwiges, que rasgou os céus, voltando de sua caçada noturna em direção ao seu poleiro no sótão. Ele continuou ali, lendo as páginas amareladas do livro, sem encontrar nada de que já não soubesse. Sua atenção voltou-se para um som fraco de passos vindo da escada. Ficou olhando para porta, e viu por ela passar Hermione, que parou no mesmo instante. Trajava seu roupão cor-de-rosa, os cabelos castanhos presos em um coque.
- Ah... Você está aí. – falou baixinho – Resolvi acordar mais cedo pra ler os livros, mas não sabia que você estaria aqui. Desculpe, não vou atrapalhar, vou para o meu quarto e...
- Senta aí, Hermione – disse Harry, indicando o lugar ao seu lado – Não vou achar nada sozinho.
A garota respirou aliviada, caminhando levemente e sentando-se no lugar ao lado de Harry.
- Eu quero te pedir desculpas por ontem, Harry. Eu...
- Tudo bem, Mione – disse Harry, cansado – Esquece.
Hermione sorriu encabulada, sua face corando. Harry achou educado retribuir o sorriso.

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