Letras de Sangue



Harry, Gina, Hermione, Rony e Draco aparataram na Floresta Proibida e sem trocar uma palavra rumaram para o Jardim dos Mortos. A determinação que unia aqueles cinco jovens era latente e fazia com que todas as diferenças antes existentes entre eles desaparecessem momentaneamente.
Seguiam cuidadosos pela trilha já tão conhecida, mas um estalo seco, diferente de tudo que normalmente ecoava entre as árvores, fez Draco parar.
- O que foi, Malfoy? – perguntou Rony que vinha logo atrás do loiro.
Draco não respondeu. Virou para os companheiros e colocando o indicador na frente dos lábios, pediu silêncio e indicou um ponto a sua direita.
Harry se aproximou o mais silencioso que pôde e olhou para onde Malfoy apontava. De imediato, reconheceu o que produzia o som e falou para os amigos quase aliviado.
- São apenas testrálios. Tem dois ali.
Entretanto, quando voltou a observar os animais, percebeu que eles se alimentavam de um corpo muito pálido e com as roupas em frangalhos. Lançou um olhar significativo e assustado para os demais. Eles se aproximaram cautelosos e diante da falta de reação dos testrálios, puderam chegar perto do corpo já bastante dilacerado pelas fortes mandíbulas dos animais.
- Está podre! – exclamou Malfoy com nojo – Deve ter morrido há uma semana no mínimo.
- Não é um corpo qualquer – falou Harry, preocupado.
- Não mesmo! – concordou Hermione com um leve tremor – Isso era um inferi.
- Inferis? – questionou Malfoy – Inferis são assim? Então temos que nos apressar. Se os inferis estão aqui, o castelo já foi invadido!
Os cinco trocaram um rápido olhar e sacaram suas varinhas novamente. Harry guardou a taça no bolso do blusão e eles seguiram ainda mais quietos que antes. Os ouvidos atentos a qualquer movimentação suspeita.
Na trilha que escolheram tiveram alguns problemas com outros inferis perdidos pela floresta. Rony apanhou um galho mais grosso que estava caído ao chão e improvisou uma tocha. Sabiam pela indicação de Harry que o fogo manteria os inferis afastados.
Andavam cada vez mais apreensivos. E se algum dos seguidores de Voldemort descobrisse a entrada para o esconderijo de Dumbledore? O número de inferis no caminho começou a aumentar e o temor de que o ex-diretor agora estivesse desprotegido crescia em cada um.
Rony a toda hora procurava por Hermione, temendo que a presença das criaturas que sugaram suas forças pudesse perturbá-la. Mas a jovem parecia mais confiante que nunca. Era a sua hora da desforra. Agora ela estava armada e produzia feitiços tão potentes que deixaria qualquer auror com inveja.
O bruxo ruivo sorriu discretamente, admirado com a habilidade da amiga e correu para ajudar a irmã, cercada por um grupo de 4 inferis, todos armados com as varinhas que já não produziam o mesmo resultado preciso de antes.
A cada grupo de inferi encontrado e derrotado, eles ficavam mais e mais ansiosos. Corriam contra o tempo, precisavam alcançar o Jardim dos Mortos antes que algum comensal descobrisse a passagem para lá.
Mais de uma hora havia se passado desde que aparataram na Floresta quando eles finalmente avistaram as costas da estátua de Godric Gryffindor. Correram para chegar até o elmo, mas antes de se virarem para a entrada da catacumba, que estava completamente às escuras, outro vulto apareceu vindo do lado da lápide branca.
Fenrir havia alcançado o Jardim praticamente ao mesmo tempo em que os jovens bruxos. As feições machucadas e o corpo dolorido pelo exercício intenso naquela floresta cheia de armadilhas o deixaram ainda mais feroz.
Farejou o ar na direção oposta e uivou satisfeito. Logo mais dois lupinos apareceram às suas costas e um grupo de quatro comensais também apareceu, orientado pelo uivo do lobisomem que comandava o ataque.
Por um breve instante, ninguém se moveu. Nem de um lado nem do outro. Olhavam-se tensos. Ironicamente, os comensais estavam posicionados diante da Lápide Branca, o local onde deveria ter sido erguida uma estátua de Salazar Slytherin, e que abrigava o corpo que Voldemort perdeu na noite que marcou Harry como seu igual. Enquanto os cinco jovens que representavam a resistência, pararam diante da estátua de Godric Gryffindor.
- Acho que você está do lado errado, Draco! – berrou uma outra voz que o jovem loiro reconheceu como sendo de Avery.
Os outros comensais soltaram risadas sarcásticas, enquanto Fenrir apenas observava a situação. Ele e os outros dois lupinos eram os poucos da espécie que conseguiam controlar a besta que insistia em habitar dentro de cada lobisomem.
- Não, Avery! – respondeu o loiro com um arroubo de coragem pouco comum à sua personalidade sonserina – Agora eu estou do lado certo!
- Como ousa falar uma asneira dessas, moleque? – vociferou um outro comensal.
- Oras, Holmes, eu sou um Malfoy, esqueceu? E os Malfoy só lutam do lado dos vencedores!
Os lábios do rapaz esboçaram um sorriso cínico e seus olhos imediatamente ganharam um brilho de bravura que nenhum dos companheiros de batalha havia visto antes.
Harry acompanhou a direção que o jovem loiro olhava e entendeu o que lhe inspirava tanta confiança. Fawkes novamente aparecera. A fênix seguiu Fenrir por todo o caminho e agora estava encarrapitada sobre um dos galhos mais altos da árvore atrás do lupino. O rapaz fez um gesto discreto e chamou a atenção dos amigos para a ave. Fawkes tinha o dom de inspirar coragem e despertar os sentimentos mais profundos em cada um.
Um dos comensais pareceu perceber a coragem crescendo entre os jovens, embora não soubesse exatamente o que provocava aquele excesso de confiança. Puxou sua varinha e a apontou para o alto enquanto gritava:
- Morsmordre!
A Marca Negra brilhou esverdeada sobre a Floresta, numa tentativa de marcar aquele território como pertencente a Voldemort.
Sem que Harry, Draco e Hermione pudessem fazer qualquer coisa, Gina e Rony, ainda sob o efeito do olhar de Fawkes, também apontaram a varinha para o alto. Ambos conjuraram um feitiço patrono.
Os dois jatos prateados se misturaram no céu antes de assumirem a forma de cada patrono individual. A energia dos feitiços se concentrou e acabou explodindo numa imensa nuvem alaranjada, da cor dos cabelos dos Weasley e formando um colossal leão sobre a Floresta.
Ao longe, em Hogsmeade, os bruxos que saíam de suas casas para ajudar a Ordem da Fênix a remover os feridos, puderam enxergar as duas imagens brilhantes, cobra e leão, flutuando sobre a Floresta Proibida.
Rapidamente, eles entenderam o que aquilo significava. Harry e os outros estavam lá, lutando contra os comensais que escaparam das armadilhas preparadas por Hagrid. Deram algumas instruções para os habitantes do povoado bruxo e correram para a Floresta.
Hagrid, que sabia o ponto exato do conflito, aparatou levando Tonks e Moody consigo. Grope e a namorada Freyja logo alcançariam o lugar também graças a seus passos largos. Em suas costas, iam Gui e Arthur Weasley.
A batalha na floresta começou, assim que o leão rugiu no céu. As duas imagens instigavam ambos os lados a se atacarem. Um comensal chegou a arremessar Hermione longe logo de cara, se aproveitando que ela duelava com um dos lobisomens, executando feitiços que mantinham o lupino à distância.
A garota caiu de costas contra uma árvore e de seu bolso caiu um objeto dourado. Ela chacoalhou a cabeça para recobrar os sentidos rapidamente e olhou o pequeno objeto. Era a moeda que marcava as reuniões da Armada de Dumbledore.
Lançou um olhar para a batalha, que prometia ser difícil, e decidiu-se por usar a moeda. Correu para trás de uma das estátuas, que lhe daria proteção por tempo suficiente para acionar a magia do objeto e mudou os dizeres da moeda para:
AD AGORA URGENTE FLORESTA PROIBIDA!
Guardou a moeda novamente no bolso e voltou para o combate, ainda mais agressivo que antes. Hagrid finalmente apareceu com Tonks e atrás dele, ainda arrastando a perna mecânica, vinha Moody.
Quando eles chegaram, um comensal lançou novamente o feitiço Morsmordre convocando reforços. Os comensais convocados surgiam pela boca da cobra que pairava sobre a batalha, como se aquela imagem dissolvesse a proteção anti-aparatação que cobria todo o terreno de Hogwarts.
Estava ficando cada vez mais difícil controlar o ataque. Os comensais estavam conseguindo massacrar a Ordem, diante de uma desvantagem numérica tão favorável aos seguidores de Voldemort.
Quando Grope alcançou o Jardim dos Mortos, os cinco jovens tiveram uma chance de respirar e limpar os ferimentos. Draco exibia um corte feio no braço que segurava a varinha, mas em momento nenhum reclamou de dor. Além de uma escoriação no queixo, Harry apresentava os óculos quebrados. Hermione reparou os óculos do amigo e de todos ali, ela era a única que não apresentava cortes pelo corpo, apesar de sempre levar as mãos às costas, massageando o local da trombada com uma das árvores seculares que cercavam o Jardim.
Gina tinha um machucado feio no joelho e sua camiseta já estava rasgada e empapada de sangue. Ela mesma cuidou de fechar o ferimento e não deixou ninguém ver onde a tinham acertado. Rony também estava com machucados por todo corpo, arranhões, luxações e um corte maior na altura do peito, que a irmã o ajudou a fechar.
- Se não recebermos ajuda vamos ser derrotados logo! – falou Harry nervoso.
- Eu já convoquei a Armada – informou Hermione.
- Será que eles vêm? – perguntou Gina respirando fundo e olhando rapidamente para a batalha.
A conversa não pode continuar. Um dos lobisomens alcançou o local onde os jovens estavam e partiu com tudo para cima deles. Por mais que estuporassem o lupino, ele continuava investindo, mostrando que os lobisomens de Voldemort eram mais fortes que os demais.
O cheiro de sangue se espalhando pelo ar em conjunto com os raios da Lua Cheia que saía agora de trás de uma nuvem escura, ainda resquício da tempestade que caíra sobre o país há poucos instantes, deu aos lupinos uma força fora do comum.
Os pelos do corpo pareciam ter se transformado em espinhos. Os olhos ganharam um brilho avermelhado e as garras e presas dobraram de tamanho. Todos eles uivaram alto como se respondessem a um chamado do céu e continuaram a lutar.
O lupino que atacava o grupo de jovens saltou feroz para cima de Rony. A agilidade com que se movimentava era assustadora e o ruivo não teve como desviar do ataque. Ambos rolaram pelo chão da floresta, com o bruxo fazendo o impossível para se manter fora do alcance das presas do agressor.
Os outros quatro jovens bruxos não sabiam o que fazer. Qualquer feitiço lançado poderia acertar Rony e facilitar o ataque para o lobisomem. Gina assistia a cena sem piscar, apertando o pulso de Hermione ao seu lado. Harry olhava de Rony para Draco, na expectativa que o ex-comensal soubesse como lidar com aquelas criaturas. Mas o loiro parecia tão aflito quanto os demais.
Rony notou que o lobisomem abriu ainda mais a boca. Agora faltava pouco para que ele o atacasse de verdade. Seus braços tremiam com a força que fazia para empurrar aquele pesado corpo de cima do seu. Sentiu o hálito de carne que exalava da boca daquela criatura e um arrepio sinistro percorreu seu corpo quando a baba do animal pingou em seu pescoço.
O bruxo fechou os olhos e respirou fundo, se preparando para o inevitável. Sentiu, intimamente, que preferia que o lobisomem acabasse de vez com sua vida. Não sabia se teria a coragem de Lupin de viver com aquela maldição.
Uma jogada de corpo do lobisomem indicou que o bote viria a seguir. Rony não sentiu dor. Apenas o braço molhado de pequenas gotículas que escorriam pesadas sobre sua pele.
Aquilo não se parecia em nada com o que ele imaginava. Um uivo mais parecido com um ganido indicou que ele poderia abrir os olhos. O lobisomem saiu de cima dele e agora uivava furioso e corria para perto dos outros.
Parado a pouco mais de um metro estava Gui, com a varinha em punhos. O chão estava salpicado das mesmas gotículas que escorriam pelo corpo de Rony. Eram gotas de prata, conjuradas pelo mesmo feitiço que o bruxo usou contra Greyback na sala de Dumbledore.
Esticou o braço para o irmão ainda caído e perguntou:
- Você está bem?
Rony aceitou a mão do irmão e levantou com a ajuda dele, fazendo que sim com a cabeça.
- Que feitiço... que feitiço foi esse, Gui? – perguntou Gina saindo do estado de choque.
- Argenttial, é um feitiço que magos franceses usam para controlar os lupinos que trabalham para eles. Foi meu sogro quem me ensinou, caso Greyback tentasse voltar para terminar o serviço.
Um barulho de algo muito pesado caindo ao chão ecoou pela floresta e Draco falou:
- Parece que estamos com novos problemas.
Os seis bruxos voltaram para o centro do Jardim e perceberam que o que fez tanto barulho foi o tombo de Grope, quando um dos lobisomens atacou-lhe as pernas. O gigante já estava se levantando e aproveitou para esmagar um dos comensais com as mãos enquanto se apoiava nele para voltar para a luta. A namorada de Grope, Freyja, mostrava a toda hora que uma mulher gigante pode ser mais agressiva que os homens e conseguia, invariavelmente, lançar comensais e lobisomens para longe da batalha.
Todos seguiam compenetrados nos duelos que travavam com os seguidores do Lorde das Trevas. Hagrid se posicionou diante do Elmo de Godric e não deixava que ninguém se aproximasse o bastante do local.
Os reforços da Ordem chegavam de tempos em tempos, mas os comensais continuavam em maior número. E se aproveitavam disso para encurralar os inimigos.
Foi com grande alívio que Harry avistou surgir do meio das árvores um grupo muito grande de bruxos. E entre eles estava o maior número de membros da Armada de Dumbledore que o rapaz viu desde os encontros no quinto ano na Sala Precisa.
Não apenas os bruxos que receberam treinamento na Borgin & Burkes apareceram, mas muitos outros que eles não viam há meses. Cho Chang, Simas Finnigan, as gêmeas Patil, os irmãos Creevey, Alicia Spinett e Katie Bell, acompanhavam os gêmeos Weasley, Lino Jordan, Dino Thomas, Angelina Johnson, Luna Lovegood e Neville Longbottom.
Junto deles, outros tantos bruxos e bruxas corriam reforçando as fileiras da Ordem da Fênix, que agora se mostrava verdadeiramente capaz de enfrentar os comensais.
Os jatos coloridos voltaram a cruzar pela Floresta, já que o número de bruxos em conflito aumentou consideravelmente, forçando a batalha a se espalhar por entre as árvores. O barulho dos gritos dos bruxos atingidos se mesclava ao dos feitiços pronunciados com garra e determinação.
A confusão estava instaurada naquele pedaço do terreno de Hogwarts e nenhum dos bruxos ouviu o som dos cascos que trotavam ali perto. Os centauros, sempre alheios aos problemas de outras criaturas se sentiram perturbados em seu próprio território.
Os astros informavam a eles quem estava certo e quem estava errado naquela batalha. E logo eles se decidiram por tomar partido, apoiando aqueles que assim como eles só desejavam restabelecer a ordem no mundo.
Agora, uma legião de 35 centauros usava seus poderosos cascos para ferir os comensais. Visavam principalmente atingir com patadas os braços estendidos que empunhavam varinhas. O barulho de ossos sendo quebrados a cada investida dos centauros dava aos guerreiros da Ordem muito mais confiança.
Era impossível manter um grupo unido naquela confusão. Os membros da Armada de Dumbledore viam-se obrigados a lutarem praticamente sozinhos, já que os duelos iam empurrando cada um para uma direção.
Harry se separou dos demais e correu para perto de Hagrid. Sua única preocupação era destruir a última horcrux guardada dentro de sua blusa. No entanto, não conseguia pensar em nenhuma forma de fazer aquilo.
A taça em sua mão não parecia ter nenhuma abertura como o medalhão. Ele tentou girar a base, virou-a de boca para baixo e até mesmo lançou alguns pequenos feitiços. Nada adiantava.
Não poderia lançar uma maldição imperdoável naquele objeto. Primeiro porque não se achava capaz para tanto. E segundo porque sabia da importância de manter o objeto inteiro.
O elmo estava fechado e ele não poderia descer para pedir ajuda a Dumbledore. Ficou nesse dilema durante muito tempo, até ser sacudido por Hagrid.
- Tome, Harry, pegue! “Ele” mandou eu lhe entregar isto.
Colocou alguma coisa fria nas mãos do garoto e saiu novamente para enfrentar alguns comensais com o que mais sabia fazer, acertando-os com socos.
Harry olhou o objeto e percebeu que era o medalhão de Slytherin. Só então é que se deu conta de que estava com os objetos de três dos fundadores de Hogwarts. O colar de Ravenclaw estava em seu pescoço, a taça de Hufflepuff em sua blusa e agora o medalhão de Slytherin estava em suas mãos.
Agora, tudo o que ele precisava era da espada de Griffyndor para retirar o Livro dos Segredos. Mas por que raios Dumbledore não mandou a espada também junto com Hagrid, Harry não conseguia entender.
Tampouco teria tempo para pensar naquela incógnita. Um trovão altíssimo estremeceu todo o local. O som dos duelos diminuiu e agora Harry só ouvia um murmúrio desesperado e muitas pessoas correndo pela floresta. Saiu de trás do guarda-caça e avistou o motivo de tanto pavor.
Voldemort!
O Lorde das Trevas em pessoa havia saído de sua preciosa Fortaleza para resolver seus “assuntos” pessoalmente. Trazia consigo uma guarda pessoal, composta por Snape, novamente armado, e outros seis comensais.
Ironicamente, pensou Harry, Voldemort trazia sete guardas. Como se cada um fosse capaz de proteger uma das partes de sua alma maldita e dividida.
Olhava a tudo com um desprezo disfarçado de superioridade e elegância. Eliminava até mesmo seus próprios comensais que ele considerava incapazes de realizar qualquer tarefa.
Não poupava crueldade. O que ele queria ali não era apenas pôr as mãos no Livro dos Segredos. Também precisava provar que, após ser derrotado por um bando de crianças e ter sua fortaleza invadida, ele ainda era Voldemort. O maior bruxo de todos os tempos.
Deveria ser temido e respeitado! O Lorde das Trevas, senhor das magias mais escuras e sombrias estava ali para mostrar o tamanho do seu poder.
Um dos lobisomens foi reduzido a uma massa disforme de carne e ossos, e seus companheiros lupinos foram todos amaldiçoados com Imperius e obrigados a comer daquela carne.
Inclusive Greyback teve sua parcela de dor, tendo suas garras arrancadas uma a uma, deixando as pontas das patas desprotegidas e ensangüentadas.
A satisfação de Voldemort aumentou quando notou que muitos dos guerreiros da ridícula Ordem da Fênix continuavam no Jardim. Aos olhos do Lorde das Trevas, eles não passavam de bruxos decrépitos ou crianças mal criadas. Mas a presença de todos ali dava ao ambiente um agradável tom de espetáculo.
Ninguém fazia nada. Todos os olhares estavam vidrados na distinta figura de Lorde Voldemort, caminhando entre os seus seguidores, destruindo aqueles de quem ele já não precisava e castigando os outros, cujas ações ele julgou decepcionante.
Ele continuou com seu show de horrores e só quando atingiu Alastor Moody, fazendo seu olho mágico crescer e forçar os ossos do crânio, provocando gritos desesperados no ex-auror, é que os membros da Ordem resolveram reagir.
Havia um prazer sádico em cada feitiço murmurado pelo Lorde das Trevas e, mesmo com toda equipe da Ordem mostrando suas habilidades, a força de Voldemort e seus sete protetores era ainda maior.
Harry não deixava de notar que Snape mantinha muito bem a sua posição de comensal. Ao contrário da vez que lutou ao lado dele dentro da Fortaleza, o ex-professor lançava os feitiços nos antigos companheiros da Ordem da Fênix e não titubeou em acertar Arthur Weasley com muita força.
O bruxo caiu inconsciente e com o peito rasgado por um sectumsempra conjurado com o máximo de raiva. Gina abandonou a batalha para socorrer o pai e o arrastou para longe do conflito principal, onde poderia tentar fechar o horrível machucado.
Enquanto todos lutavam entre si, Voldemort continuava com sua pose bem treinada. Sua obsessão em se tornar um lorde, o deixava ridiculamente assustador. Caminhou destemido, ciente de que nada poderia destruí-lo, até o centro do Jardim e contemplou por alguns segundos o livro de pedra.
Acariciou a escultura com as pontas dos dedos compridos e brancos. Notou os símbolos desenhados em baixo relevo no mármore verde, onde as relíquias deveriam ser depositadas e semicerrou os olhos.
Com um gesto lento e bem ensaiado, girou o rosto para os dois lados vagarosamente, certificando-se de quem estava guerreando por ali. Até que seus olhos pararam de encontro a outros olhos, muito verdes.
Naquele momento todo o resto deixou de ter importância para Voldemort. Apenas a presença de Harry lhe chamava a atenção. Ali estava sua tão sonhada oportunidade de acabar de vez com seu pior inimigo. E seria ainda melhor que tudo o que imaginou em dezesseis anos. Destruiria Harry Potter diante de todos e ainda se tornaria imortal, tudo numa mesma noite.
- Harry Potter! É quase sublime encontrá-lo aqui esta noite!
A voz sibilante falava dentro da cabeça de Harry. O mundo a sua volta deixou de ter sentido e o rapaz se viu mais uma vez em contato mental com Voldemort.
- Soube por Severo que você e seus amigos visitaram meu castelo esta noite, durante a minha ausência!
- Não! Eu não visitei lugar algum! – berrou o rapaz.
- Vai querer me enganar, Harry? Eu estou dentro da sua mente. Eu posso ver os seus segredos!
- Não estou mentindo! Eu não visitei o seu castelo. Eu o invadi bem debaixo dos narizes de seus comensais!
Um brilho rancoroso passou rapidamente pelos olhos de Voldemort. O rapaz era, sem dúvida, muito petulante em lhe encarar daquela maneira. Mas era melhor que fosse daquele jeito, assim o jogo teria mais graça.
- Sua ousadia seria muito louvável, se não fosse tão tola, Harry! Você está em minhas mãos agora. Seus amigos estão ocupados demais tentando salvar as próprias vidas para se darem conta de que o duelo principal agora é entre você e eu.
Harry olhou para os lados, aflito! Voldemort falara a verdade, os amigos estavam todos ocupados se defendendo dos ataques e não percebiam o que acontecia com ele.
- Expelliarmus! – falou Voldemort com muita calma.
A varinha de Harry voou longe e ele não conseguiu correr para recuperá-la, pois no instante seguinte Voldemort já o havia prendido.
- Harry, para que a pressa? Ah – disse em tom descontraído – está preocupado com sua varinha? Fique tranqüilo, para onde você vai não irá precisar dela. Os mortos não lançam feitiços!
Harry estava preso a cordas invisíveis. Tentou gritar, mas notou que a voz também não saía. Seu desespero aumentou quando viu Voldemort erguer a mão, apontar a varinha para ele e se preparar para assassiná-lo.
Da varinha de Lorde Voldemort não saiu luz alguma. Apesar do olhar cruel, ele não lançou a maldição da morte como Harry imaginou que faria. Assassinar Harry Potter depois de ter passado por anos de sofrimento e humilhação causados pelo rapaz era muito pouco.
Harry sentiu uma dor aguda tomar conta de seu corpo. Voldemort o estava torturando, do mesmo modo como fez no cemitério há três anos. Só que naquele momento, Harry não tinha como correr ou se esconder atrás de nada.
Voldemort tornava a agitar a varinha e a dor se intensificava. Sentia sua pele sendo perfurada por pequenas lâminas frias, os ossos pareciam crescer e ele não estranharia se seu corpo fosse dilacerado de uma hora para outra.
Quando a dor desapareceu, Harry arfou cansado. As lágrimas escorriam involuntárias pelo rosto suado.
- Então, Harry? Já está preparado para pedir para morrer?
- Nunca! – falou o rapaz ainda sentindo os efeitos da tortura pelo corpo.
- Vamos ver quanto mais você agüenta! Crucio!
A dor agonizante retomou o corpo do rapaz com muito mais força. Harry já havia sido torturado com aquela maldição antes, mas não conseguia se lembrar de uma dor pior que aquela.
O ódio de Voldemort alimentava a maldição, fazendo com que ela se concentrasse cada vez mais e provocasse dores alucinantes. Harry agora conseguia berrar de dor e, embora não tivesse forças o bastante para pronunciar nenhuma palavra, sentia que precisava de ajuda. Se ninguém viesse em seu auxílio, ele com certeza morreria.
Quando Voldemort suspendeu o feitiço, o rapaz caiu quase inconsciente. Respirava com dificuldade e se deixaria ficar assim se aquele que se intitulava Lorde das Trevas não zombasse de sua condição.
- Surpreso em ver que seus amigos não respondem ao seu chamado?
Sim, Harry estava surpreso. Mais que isso, estava com medo. No entanto, sentia que enquanto os outros estivessem alheios ao que lhe acontecia, pelo menos permaneceriam a salvo.
O jovem bruxo fez um esforço sobre-humano e apoiou-se nos braços, erguendo o corpo. Voldemort continuava a zombar da condição solitária do rapaz, fazendo insinuações sobre a pouca importância que ele tinha na vida daqueles que se diziam seus amigos.
Quando finalmente conseguiu se pôr de pé, Harry avistou uma mancha pequena e dourada passar ao seu lado. Voldemort não a viu, mas o rapaz entendeu para onde aquela mancha estava indo.
Fawkes iria até Dumbledore! Quem sabe lhe trouxesse novamente a espada de Godric Gryffindor. Levantou a cabeça, exibindo um sorriso melancólico, lembrando da vez que enfrentou o basilisco.
Curiosamente, agora encarava Voldemort e ele nunca lhe pareceu tanto com uma cobra do que naquele instante. Não só suas feições eram ofídicas, mas todo seu ser emanava um veneno perigoso.
Finalmente, a visão de Harry se desanuviou e ele pôde avistar os amigos tentando alcançá-lo. Hermione lutava com vigor, procurando abrir espaço entre os comensais que cercavam o local. Rony dava cobertura à amiga, impedindo que alguém a atacasse pelas costas. Neville e Luna usavam todos os conhecimentos adquiridos nas aulas da Armada para também se aproximarem de Harry. Até Draco e os membros menos ativos da AD se esforçavam para socorrê-lo.
Não estava sozinho e isso lhe deu novas forças. A dor começou a sumir à medida que a confiança nos amigos ressurgia. Estudou onde estava e calculou o quanto precisaria se locomover para recuperar sua varinha.
Precisava fazer isso sem que Voldemort notasse. Jogou-se no chão, fingindo não se agüentar nas próprias pernas.
O Lorde das Trevas agora se divertia com o sofrimento do rapaz, que ele julgava ainda iludido na redoma de solidão que criou em sua mente. Um simples feitiço para confundir, executado com maestria.
Harry se arrastava gemendo pelo chão, sem levantar a cabeça com medo que Voldemort percebesse sua encenação. Estava muito próximo de sua varinha, só precisava se concentrar.
Parou um pouco e deitou-se de costas no chão frio. Respirou alto e cansado, para mostrar que estava visivelmente abalado com as torturas. Ficou assim por um tempo indefinido. O ouvido sempre atento aos gritos dos colegas.
Quando finalmente se virou para continuar rastejando até a varinha, notou uma capa preta parada a sua frente.
- Ardiloso, Harry! Pena que não funcionou!
Os pés de Voldemort estavam sobre a varinha do rapaz. Sem dar importância para as aparências, o Lorde chutou o rosto do rapaz, quebrando-lhe o nariz que passou a sangrar profusamente.
Ainda sem sair do lugar, Voldemort ergueu a perna direita e desceu-a com toda força sobre a varinha de Harry partindo-a em dois pedaços.
Sentindo a carne do rosto inchar, por causa do machucado, Harry mal conseguiu divisar a cena de sua varinha sendo destruída. Um sentimento de derrota se apossou dele, dizendo-lhe que o fim havia chegado.
Sem nenhuma bravura, sem nenhuma honra. Tudo terminaria com ele caído ao chão, o nariz quebrado como se tudo não bastasse de uma briga de trouxas. E depois, o mundo bruxo seria só escuridão.
Voldemort sentiu a tristeza invadir o peito do rapaz. Sua mente sádica arquitetou um novo plano. Não mataria Harry Potter. Faria algo muito pior.
Apontou a varinha para o alto e murmurou:
- Féretrumm!
Harry não conseguiu distinguir o que Voldemort falava. Mas assim que um frio sobrenatural enregelou seus ossos ele percebeu que feitiço o Lorde das Trevas havia lançado. Ele havia conjurado os dementadores.
Centenas de seres encapuzados, com suas peles cinzentas e cobertas de feridas agora apareciam pela floresta. Secavam e congelavam as plantas ao redor e logo a lamúria dos bruxos atingidos por aquela tristeza cruel chegava aos ouvidos de Harry.
A expressão no rosto de Lorde Voldemort não poderia ser mais assustadora. Os gemidos de dor, o choro estridente e a agonia verbalizada dos bruxos atordoados pelos dementadores pareciam música aos seus ouvidos. Uma sinfonia a qual ele assistia extasiado.
O novo plano era dar a Harry o beijo de um dementador. Acabaria com a vida daquele que havia se metido em seu caminho e ainda guardaria seu corpo como troféu.
Fez um gesto com a varinha e os dementadores atenderam seu novo chamado, indo em direção a Harry que continuava caído, sentindo o gosto do próprio sangue que lhe escorreu pela boca quando o nariz quebrou.
Cinco dementadores o cercaram, enquanto o resto mantinha os demais bruxos subjugados pelas lembranças dolorosas de suas vidas.
Harry sentiu o mundo ruir ao seu redor. Reviu tudo o que de pior acontecera em sua vida. Os anos que passou com os Dursley, a lembrança dos gritos de seus pais, o lampejo verde, a morte de Cedrico.
As imagens vinham sem uma ordem precisa e muitas voltavam várias vezes. Voldemort segurava os dementadores, fazendo que Harry sofresse ainda mais antes de receber o beijo.
Os olhos já estavam revirando quando ele avistou aquele mesmo brilho dourado pairando sobre sua cabeça. Deu um suspiro sentido, e a imagem de fawkes se firmou em seu pensamento.
- Quantas vezes ele dependeria daquela ave mágica para não morrer? – pensou cansado e agradecido.
Mas ela parecia estar caindo. Em círculos imprecisos e leves, uma parte de Fawkes caía levemente e atravessava os dementadores que cercavam o garoto.
Harry fechou as mãos e sentiu que o que Fawkes deixara cair era uma pena. Uma grande pena laranja, que fez com que a mão do rapaz formigasse levemente enquanto emanava uma suave luz amarela.
Entendendo o que a fênix havia feito, Harry apertou a pena mais uma vez entre os dedos e murmurou:
- Expecto Patronum!
Um jato prateado desprendeu-se da pena e logo o cervo investia contra os dementadores. A ave cantou satisfeita vendo que o rapaz entendera seu sinal. O canto da ave renovou as energias do garoto.
Harry levantou-se apressado, sem dar tempo para Voldemort reagir e correu a espantar os dementadores que prejudicavam seus amigos. Instantes depois, os outros bruxos executavam seus feitiços patronos tentando livrar o local da presença funesta dos dementadores.
Voldemort se irritou e partiu com toda ira para cima de Harry, assassinando dois aurores que entraram no caminho. Harry viu, desesperado, quando Voldemort assassinou Quim Shackelbolt.
Aquilo não estava certo! – pensou aflito – O problema deveria ser resolvido entre ele e Voldemort. Correu decidido para frente do grupo, evitando que o bruxo das trevas assassinasse mais algum inocente.
- Muito nobre! – falou Voldemort reassumindo seu ar aristocrático – Não esperaria menos de um homem de Dumbledore.
Harry não pôde reagir. Suas mãos e pés estavam novamente atados e Voldemort o arrastava sem o menor cuidado pelo chão agora coberto de corpos e sangue.
- Irônico como eu não vim até aqui para assassiná-lo, Harry. Eu só vim para garantir minha completa imortalidade. Já lhe disse uma vez, em um dos nossos encontros no passado, que tomei certas providências para afastar a morte de mim. Mas eram providências temporárias. – deu uma pausa para escolher bem as palavras que usaria a seguir, por fim murmurou sibilante ao ouvido do rapaz - Você assistirá a minha vitória antes de se reencontrar com a sangue-ruim da sua mãe, Harry!
Deu as costas e caminhou novamente para o altar onde estava o Livro dos Segredos. Estava quase chegando, quando se virou bruscamente dizendo:
- Mudei de idéia! Avada Kedavra!
O raio verde-esmeralda, da mesma cor dos olhos de Lílian Potter, brilhou pela floresta, interrompendo os conflitos que aconteciam entre comensais e membros da Ordem e da Armada.
Todos assistiram num silêncio conjunto o feitiço acertar Harry na altura do abdômen. O rapaz chegou a flutuar alguns segundos e finalmente caiu a dois metros de onde estava.
Um barulho estrondoso ecoou pelos ares no mesmo instante em que Harry foi atingido pela maldição da morte. De sua barriga uma fumaça esverdeada pairou no ar por um breve instante e foi suficiente para que Voldemort entendesse o que ela representava.
Tirando a todos do estado de contemplação pasma, Harry tossiu, levando as mãos sobre a barriga e levantando a camisa. O feitiço de Voldemort atingiu a Taça de Huflepuff, destruindo, assim, a última horcrux.
No lugar que a taça encostava a pele de Harry, apareceu uma grande queimadura. Mais uma cicatriz deixada por um feitiço de Voldemort. O rapaz massageou o local com as pontas dos dedos e segurando a taça com uma das mãos levantou-se dizendo:
- Obrigado, Tom!
O susto de Voldemort foi tanto que nem mesmo a menção de seu nome de batismo o tirou do estado de choque. Harry recuperou a pena da fênix e se posicionou para lutar quando o Lorde das Trevas gritou:
- Seu imundo! Pensa que destruindo essa porcaria vai conseguir acabar comigo? Eu sou Lorde Voldemort, senhor das magias da escuridão, seguidor dos princípios mais malignos sobre a Terra e o maior bruxo que já existiu! Essa taça não tem qualquer valor para mim!
Reunindo toda a coragem que possuía, Harry o encarou e respondeu a suas palavras na mesma altura que o bruxo usara.
- Você sabe bem que isso não é uma porcaria qualquer. Era a última que restava, Voldemort. Eu cuidei do seu diário, do seu testamento, de Nagini e do medalhão. Você se livrou da taça para mim. E o anel da sua nobre família bruxa, Dumbledore destruiu. Ele sim é o maior bruxo do mundo! Não você!
A ira do Lorde das Trevas era tamanha que um vendaval começou a varrer para longe as folhas caídas das árvores. Logo um grande redemoinho cercou o Jardim dos Mortos e uma nova tempestade se formou.
- Dumbledore nunca foi um terço do bruxo que eu sou! – berrou Voldemort com uma voz mais grave do que o normal, bem diferente do sibilado ritmado de sempre – E sabe por que, Harry? Porque ele foi estupidamente enganado e assassinado por alguém que ele confiou. Por alguém que ele amou.
Harry não conteve o espanto ao ouvir que Dumbledore havia amado Snape. Aquelas palavras não faziam o menor sentido.
Voldemort apreciou o ar da dúvida que Harry deixou transparecer.
- Oh, você não sabia? Dumbledore nunca lhe contou o que realmente o ligava a Severo Snape?
O ex-professor de Poções estava ali a poucos passos de distância, mas não conseguia se aproximar para impedir Voldemort de fazer aquela revelação.
- Acho justo que você entenda o quanto o amor é um sentimento inútil e traiçoeiro, Harry. Dumbledore amava Snape, como todo tio ama seu sobrinho. Sim, Snape era filho de uma meia-irmã de Dumbledore. Eileen foi uma bastarda imunda, que nasceu de um caso tórrido entre o pai de Dumbledore e uma prostituta qualquer.
“Severo sempre teve vergonha disso e, mesmo sendo acolhido bem por seu ‘meio-tio’, o fez jurar jamais revelar esse grau de parentesco entre eles.”
Harry sentiu um buraco se formar dentro de sua barriga.
- Entendeu, Harry? Dumbledore nunca foi um grande bruxo por dois motivos: por amar demais e por se deixar morrer!
- Acredito – disse uma voz forte atrás de Voldemort – que você terá que reformular sua teoria, Tom. Como vê, eu não morri!
Voldemort virou-se cauteloso, a dúvida passando por seus olhos momentaneamente, reconhecendo a voz, mas ainda relutando em acreditar que ela estava ali, atrás de si.
- Dumbledore?! Isso é impossível! – bradou colérico.
- Pro-professor, o senhor não devia... – balbuciou Harry, mas parou em seguida, atendendo a um gesto que Dumbledore fez com a mão sadia e que agora empunhava sua varinha.
- Tom, você dizia que eu era fraco por ter morrido, não é mesmo? E agora que percebe que eu não morri, o que acha que eu sou?
- Uma farsa! – berrou o bruxo lançando um feitiço que pela cor, Harry sabia ser letal.
Fawkes mais uma vez deu uma rasante sobre Voldemort e parou diante de Dumbledore, absorvendo o feitiço e se transfomando em um monte de cinzas.
- Ave maldita!
- Aceita agora que eu não sou uma fraude?
- Se você não é uma fraude, eu sei de outra pessoa que é!
Ele deu dois passos para a esquerda, divisando entre os bruxos os cabelos loiros de Draco Malfoy. O jovem que deveria ter assassinado Dumbledore e não conseguiu, deixando a tarefa para Snape. Era óbvio que o sobrinho não mataria o próprio tio.
E Voldemort mataria os dois. Ou melhor, os três naquela noite. Antes de destruir Harry Potter, cuidaria de assassinar Draco, Snape e Dumbledore.
- Severo! – chamou Dumbledore quando entendeu a intenção de Voldemort.
Snape atravessou o Jardim dos Mortos a passos largos e se lançou diante do jovem loiro assim que Voldemort lançou o feitiço. Antes que o Lorde das Trevas pudesse conjurar outra maldição, dezenas de bruxas arrastaram Draco dali, deixando o corpo inerte de Severo Snape caído ao chão.
Quando se virou para encarar Dumbledore o velho bruxo se preparava para entregar a espada de Godric Gryffindor. Era a peça que faltava a Harry para libertar o Livro dos Segredos antes de Voldemort.
Este, por sua vez, ao enxergar qual objeto estava com Dumbledore, aproximou-se rápido, estuporando o velho que caiu inconsciente. Antes, seria preciso muito mais que um simples feitiço estuporante para nocautear Dumbledore. Mas ele já estava velho e muito doente, desde o dia que destruiu o anel de Peverel.
Hagrid urrou vendo Dumbledore ser arremessado longe e correu para levantar o ex-diretor do chão. Voldemort não deu importância ao meio-gigante. Apanhou a espada de Gryffindor do chão antes que Harry conseguisse alcançá-la e adiantou-se para os bruxos que voltaram a duelar.
Agarrou a primeira capa que passou a sua frente e arrastou seu dono, deitando o rosto do bruxo contra o livro de pedra fria. Ergueu a espada para cortar-lhe a garganta, quando Hermione apareceu gritando:
- Neville! Não!
Harry olhou para o altar e viu o amigo, Neville Longbottom preso pelas mãos esguias de Voldemort. Agitou a pena da fênix e falou:
- Avada Kedavra!
Mas o raio que saiu de sua varinha não acertou Voldemort. Desfez-se no ar e tudo que ele conseguiu arrancar do Lorde das Trevas foi uma risada cínica seguida de um comentário ainda mais cruel do que tudo o que ele fez naquela noite.
- Você é coberto de amor, Harry! Tolo, acha mesmo que todo esse sentimento puro vai permitir que lance um feitiço mortal? Mas é bom ver que se importa com esse pobre coitado, assim esse sacrifício ganha um sabor especial para mim.
E antes que Harry, Hermione ou qualquer um fizesse alguma coisa, Voldemort desceu a espada contra o pescoço de Neville, fazendo o sangue do rapaz escorrer pela pedra e tingir as páginas de vermelho.

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