Descobertos



Os dias que seguiram passaram rápido e logo eles se viam a volta com o casamento de Gui e Fleur. Hermione e Harry tiveram que se desculpar com os noivos por não terem levado um presente, já que todas as confusões que envolveram os jovens impediu que eles saíssem do castelo.
- Não seja boba, Hermione – disse Gui risonho e animado – Não queremos presentes. Já temos tudo o que precisamos.
- Mas nós realmente queríamos dar alguma coisa a vocês – disse Harry.
- Então, combinamos uma coisa, pode ser? – falou Fleur – Vocês dão a gente um quadro! Só não temos um quadro nosso para nossa casa.
A idéia foi aceita de imediato. Eles pegariam uma das fotos do casamento e mandariam para um pintor executar a tarefa.
- Ótimo, agora quero todos subindo para seus quartos. O dia vai ser cheio amanhã! – falou a Srª Weasley.
Rony, Harry, Gina e Hermione haviam chegado de Hogwarts há poucas horas e não estavam nem um pouco interessados em dormir. Subiram para o quarto de Rony e ficaram conversando.
- Onde será que a Família de Fleur está hospedada? – perguntou Hermione curiosa.
- No Caldeirão Furado – respondeu Gina – ouvi mamãe conversando com ela. Parece que eles vão aparatar antes da cerimônia.
- E por falar em cerimônia, onde vai ser? Não estava escrito no cartão – comentou Harry.
- Vai ser num campo aqui perto. Papai arrumou um jeito do Ministério dar uma mãozinha e fazer um esquema de segurança anti-trouxa. Parece que vai ser uma festa bem simples... – respondeu Rony
- Melhor assim! Se fosse uma coisa muito luxuosa eu não me sentira à vontade – retornou Harry.
Eles ainda discutiram sobre a festa do dia seguinte e só pararam quando o rosto nervoso da Srª Weasley apareceu na porta mandando eles dormirem.
No escuro, Harry e Rony ainda decidiam que roupa seria melhor para usarem no casamento, sem saber que toda essa questão já havia sido resolvida.
Quando acordaram no dia seguinte, as roupas dos dois estavam aos pés da cama, devidamente passadas.
Parecia o mesmo traje do Baile de Inverno, mas era mais fresco e leve, afinal, o início de outubro ainda era bastante quente. A veste de Harry era azul escura, sem detalhes demais, enquanto a de Rony, para espanto do rapaz, não era marrom.
- Ela mudou a cor! Ah, eu nem acredito que ela não tenha me comprado uma roupa marrom. Olha só que beleza, Harry, é verde musgo!
Harry riu do amigo. Desde que se conheceram, Rony reclamava do fato de sua mãe sempre lhe mandar roupas marrons.
- Gostaram? – perguntaram duas vozes muito parecidas ao mesmo tempo.
- Oi Fred, oi George! – respondeu Harry animado.
- Lógico que gostamos! Mamãe acertou em cheio...
- Não foi a mamãe. Fomos nós! – disse Fred.
- Uma cortesia das Gemialidades Weasley – respondeu Jorge.
- Precisávamos ganhar a confiança de mamãe – ajuntou Fred.
- É, caso o contrário, ela nos impediria de vir ao casamento, com medo de alguma coisa explodir ou fazer os noivos virarem bichos – emendou Jorge.
Eles saíram do quarto e deixaram os rapazes se trocando entes de descerem para o café. Quando chegaram a cozinha as meninas terminavam de embalar suas roupas em enormes sacos de pano grosso e escuro, presos a cabides flutuantes.
- O que é isso? – perguntou Harry.
- Nossas roupas, ué! – respondeu Hermione. – Aqui elas ficam bem passadas e limpas até a hora da cerimônia.
- E a que horas vai ser mesmo? – perguntou Harry novamente.
O casamento de Gui e Fleur fora adiado inúmeras vezes devido aos problemas acontecidos naquele começo de semestre. Então, todas as informações que os jovens receberam antes não poderia ser levada a sério.
- Vai ser ao entardecer – respondeu Gui, que entrava na cozinha naquele momento – Fleur já foi se arrumar! Vai passar o dia com os pais e a irmã que vai ser nossa madrinha!
- E o padrinho? Quem vai ser? – perguntou Gina interessada.
- Eu, oras! Quem mais poderia ser padrinho dessa coisa aí? – disse um rapaz muito bonito, de cabelos vermelhos, mas com a pele bastante morena típica de quem trabalha ao ar livre, entrando na cozinha pela porta da frente.
- Carlinhos! – exclamaram Rony e Gina ao mesmo tempo enquanto se atiravam nos braços do irmão.
- Calma aí, Roniquinho! – disse ele – Você está enorme agora! Cresceu demais desde que te vi a última vez! E você, minha princesinha? Está um mulherão! Deve dar trabalho pro Rony te vigiar, certo?
Harry se engasgou com o mingau de aveia e nem teve tempo de disfarçar, porque Carlinhos já entendera muito bem.
- Vamos ter uma conversa, senhor Potter! – disse puxando Harry para fora da cozinha, mas virando a cabeça para trás e piscando para o resto da turma, dando a entender que só queria brincar um pouco com o rapaz.
O dia passou mais rápido ainda e por volta das quatro horas, a mãe de Rony os mandou se aprontarem. Eles se lavaram apressados e logo vestiam as roupas compradas pelos gêmeos.
Desceram para a cozinha por volta das 17h30min e encontraram só Carlinhos, Fred e Jorge.
- Cadê o resto do pessoal?
- Já foram – informaram Fred e Jorge.
- Parece que papai e mamãe têm coisas importantes para fazer lá na tenda. Só estamos esperando as meninas. – disse Carlinhos.
Pouco depois as duas apareceram. Gina usava um vestido muito bonito, feito de seda cor de rosa que contrastava muito bem com a cor de seus cabelos. A gola quadrada com alças finas e um decote levemente drapeado na parte de trás, mostrando as costas brancas e pintadas levemente de sardinhas. Os cabelos presos num coque-banana, enfeitado com pedrinhas brilhantes, que combinavam com o brinco pequeno e delicado.
Com certeza presentes de Fred e Jorge, visto que Harry tinha a certeza absoluta que a mãe de Gina não admitiria a idéia de ver a filha de um jeito assim, tão “adulto”.
Hermione também estava linda. Usava um vestido de cetim verde-água, recoberto de organza estampada com pequenas flores bordadas em linha fosca. Tinha os cabelos presos num rabo alto que despencava em grandes cachos propositalmente desiguais.
Trazia brincos dourados em forma de flor e uma gargantilha fina do mesmo tom, colada ao pescoço.
- Uau! – disseram Fred e Jorge juntos.
- Você me acompanha, Hermione? – perguntou Carlinhos dando o braço à garota.
Ela apenas sorriu, pegou o braço dele e foram para a varanda. Rony estava atônito e só se mexeu quando Gina lhe deu um beliscão, dizendo que se atrasariam.
Eles andaram alguns minutos em direção ao norte a partir da Toca e logo alcançaram um descampado coberto por uma relva verde pontilhada de pequenas flores azuis. Ali se encontrava uma enorme tenda amarela-clara.
- Infelizmente, vou ter que deixá-la aqui – disse Carlinhos enquanto dava um beijo na mão de Hermione – preciso me certificar que o Gui não vai querer fugir na última hora!
Ele saiu para se encontrar com o irmão e os outros seis entraram na tenda. Havia muito convidados. Professores de Hogwarts conversam com inúmeros bruxos desconhecidos que falavam com um sotaque carregado.
A um canto, muito escondido, Harry viu alguns duendes, que trabalhavam com Gui e Fleur no Gringotes. E mais adiante Harry viu os outros membros da Ordem da Fênix. Cutucou Gina e apontou discretamente para eles.
Pediram licença a Fred e Jorge e foram se sentar com Lupin, Tonks e Roxanne (a uem todos consideravam uma penetra).
- E aí Harry, Rony? Beleza, meninas? – perguntou a auror.
- Tudo certo, Tonks! – responderam juntos.
- Recebeu minha carta, Harry? – perguntou Lupin.
- Sim! Obrigado! Me ajudou muito, sabia?
Eles continuariam a conversar, mas uma música instrumental anunciou que a cerimônia estava começando.
Tudo aconteceu muito rápido e, como Rony o prevenira, de maneira simples. Fleur estava linda, de vestido branco, grinalda com flores no cabelo e um buquê de flores azuis. Gui usava uma veste a rigor também branca.
Após a cerimônia, os noivos abriram a festa dançando valsa e todos os convidados comentavam que eles formavam um belo par. O sorriso no rosto do noivo era tão sincero que acabava escondendo as cicatrizes deixadas por Greyback.
O jantar foi servido em seguida e após a sobremesa, Lupin se levantou da mesa, chamando Rony, Gina, Mione e Tonks para um passeio. Eles estranharam mas acabaram seguindo o ex-professor, de modo que Harry ficou sozinho com Roxanne.
Fez-se um silêncio constrangedor na mesa. Harry não gostava muito daquela mulher. Sabia que devia agradecê-la por ter salvado sua melhor amiga, mas não se sentia a vontade com ela.
Depois de muitas conversas com Gina, ele descobrira que Tonks sentia ciúmes dela e não tirava a razão da auror. Quando Roxanne estava perto, Lupin a cercava de atenções e por vezes parecia que não se lembrava que tinha uma namorada. E uma namorada linda!
- Você pode sair se não gosta da minha companhia – falou Roxanne, dando um sorriso ao rapaz a seu lado.
Harry se sobressaltou. Será que estivera pensando alto?
Como se tivesse lido o que o rapaz tinha acabado de pensar, ela respondeu:
- Não preciso ler a mente de ninguém para saber se as pessoas gostam ou não da minha presença. Sabe, eu não queria vir a esse casamento.
- Lupin lhe convenceu? – Harry deixou escapar.
- Sim, mas acho que a namoradinha dele não gostou muito.
- Dá para não chamar a Tonks assim? Você fala como se o que os dois tivessem não fosse importante!
Oras, pensou o rapaz, ele não tinha razão nenhuma para ser gentil com uma mulher tão arrogante.
- Você defende mesmo seus amigos...
- Sempre! Sempre que eu puder. Eles são tudo o que eu tenho e eu não admito que os tratem mal ou falem deles pelas costas.
Vendo que o rapaz estava se levantando para sair da mesa, Roxanne falou:
- Eu nunca quis trazer problemas para vocês. Eu só vim aqui porque... porque queria ver você.
Ele voltou a se sentar e encarou a bruxa que agora parecia menos altiva que antes.
- Você queria me ver? Algum motivo especial?
Harry não conseguia ser simpático com ela. E também não procurava se esforçar. Era o mesmo que tentar ser simpático com Draco ou Pansy.
- Lupin me disse que você queria me conhecer. Quer dizer...
- Conhecer você? De onde Lupin tirou isso? – respondeu indignado pensando se aquela mulher não estaria mentindo para conquistar sua simpatia.
- Ele disse que você perguntou pelo seu avô, sobre a vida dos seus pais e sobre a sua madrinha.
- Não, eu nem sabia que tinha madrinha, ele é que me... Espere um momento. Vai querer me dizer que você é minha madrinha? – ele estava chocado com a informação.
Ela fez um gesto afirmativo e continuou:
- Fui uma grande amiga da sua mãe em Hogwarts, sabe? Ela me chamou para madrinha assim que soube que estava grávida e eu aceitei. Bem, quando tudo aconteceu, eu estava longe em missão do Ministério. Cheguei e tudo já estava mudado. Você com seus tios, Sirius preso e todos felizes com tudo. Não tinha mais o que fazer por aqui e acabei indo embora.
Harry estava atônito. Olhava para Roxanne sem saber o que dizer. Por fim, se levantou mais uma vez da cadeira e despediu-se dizendo:
- Então, você é minha madrinha. Interessante. Mas não pense que isso vai fazer eu mudar meus pensamentos sobre você ou sobre o modo como fala dos meus amigos.
Procurou se juntar a Gina e Hermione. Deu as mãos para a namorada e reparou que Mione dançava bem próxima a Carlinhos. Ele reparou que o mais velho dos Weasley não tirava os olhos de sua amiga e não soube direito se aquilo seria bom ou ruim. Por fim nem reparou quando sua madrinha foi embora. Também procurou evitar ao máximo esbarrar em Lupin para não contar que a conversa que ele armou tinha sido bem desagradável.
Já passava da meia noite quando eles resolveram voltar para casa. O vento frio de outubro provocava arrepios nos corpos quentes dos jovens que até então estava dançando numa tenda quente e um pouco abafada.
Carlinhos ofereceu sua capa a Mione que aceitou de bom grado, diante de um olhar abobalhado de Rony.
Só quando estavam bem longe da tenda é que Harry contou aos amigos o que tinha descoberto naquela noite. Não se importou que os outros Weasley escutassem e ficou observando a reação dos amigos.
- Ah, não sei o que pensar. Eu não gosto muito dela – começou Hermione.
- Sei do que está falando. É o modo como fala da Tonks, não é? – perguntou Gina – Eu sinto a mesma coisa.
- Olha, não é porque ela é minha madrinha que eu tenho que gostar dela, certo? Eu morei com meus tios durante 17 anos e vocês sabem muito bem que os detesto – falou Harry, esperando a aprovação dos amigos.
- É isso mesmo! – respondeu Rony – Você não é obrigado a gostar dela. Olha só, eu tenho vários tios e tias que eu não gosto.
- Tios, tias, primos – assomou Fred.
- E até um irmão – emendou George.
Harry fingiu não ver o olhar acusador que Rony lançou a Carlinhos. Os gêmeos falavam de Percy e isso era uma verdade incontestável. Se eles tinham um irmão de quem não gostavam, e com razão, ele não precisaria se sentir mal de não gostar da madrinha. Decidiu que não pensaria mais no assunto. No dia seguinte eles voltariam para Hogwarts após o almoço e sua vida seguiria, do mesmo modo. Sem lugar para a madrinha.
A volta para Hogwarts foi tranqüila e antes mesmo do jantar ser servido, eles já estavam no castelo. Desfizeram a pouca bagagem que levaram e foram para o salão principal, onde tiveram uma surpresa que trouxe a idéia da caça as horcruxes de volta a mente dos quatro amigos.
Havia um estranho ali no salão. Era um velho baixo, porém forte, rosto moreno e pouco cabelo. Este era na maior parte de um grisalho prateado, contrastando ao máximo com a pele queimada de sol. Trajava uma veste grossa, feita de couro, botas até perto do joelho e trazia na mão um chapéu engraçado.
O estranho falava com a professora Sprout, que cuidou do castelo na ausência de McGonagal. Por cima da cabeça do velho, eles avistaram algumas penas de pavão se mexendo. Na hora, pensaram a mesma coisa, aquele homem só poderia ser o avô de Luna Lovegood.
Gina, que era da mesma série da garota, se adiantou para falar com ela e saber as novidades. Logo depois foi discretamente dando sinais para os membros da Armada e todos foram conhecer o avô da menina mais estranha que Hogwarts já vira.
O Sr. Marquardt era o avô materno de Luna. Tinha nos olhos a mesma expressão dos da neta. Gostava de contar histórias e parecia ser uma pessoa muito divertida. Nos poucos minutos de conversaram antes do jantar, ele contou como era sua criação de pégasus e acabou convidando os rapazes para irem numa espécie de rodeio que acontecia todo ano em sua fazenda.
Também explicou que uma vez tentou criar testrálios, mas ficava muito complicado, já que ele não conseguia ver os animais.
- Vocês nem imaginam a dificuldade de contratar alguém para cuidar deles. Sempre que eu colocava um anúncio, tinha que especificar: Procura-se encarregado de animais que já tenha presenciado uma morte. Ninguém nunca respondeu os anúncios e eu acabei vendendo os animais para um fazendeiro vizinho meu.
- E ele podia ver os animais? – perguntou Rony que até então nunca vira os tais testrálios.
- Podia sim, coitado! O velho Willian viu o filho ser arrasado por uma mantícora. Foi triste, viu?
- Uma... uma mantícora? – assombrou-se Hermione.
- É, você nunca viu uma? É uma beleza! O Will era doido com esses bichos e uma vez encomendou uma de um exportador indiano. Ela até que estava bem lá na fazenda, e os filhos dele ajudavam no trato da criatura. Mas no fim, ela ficou impossível! Acho que entrou no cio e saiu disparando os ferrões para todos os lados. Um deles pegou o Gilbert em cheio, bem no pescoço. Não durou um minuto depois disso.
- Uau! – exclamaram Rony e Harry ao mesmo tempo.
- Luna – chamou o avô – você nunca contou a eles as nossas aventuras?
O Sr. Marquardt então começou a contar as histórias que vivia com a neta em todos os verões. Pelo menos duas semanas das férias ela passava na fazenda dele e conheciam todo tipo de criatura fantástica.
Logo que o jantar foi servido, a conversa se deteve em banalidades e em comentários sobre o casamento do irmão de Rony e Gina. Quando os alunos começaram a sair do salão é que Luna entrou na conversa para a qual chamou o avô.
- Sabe o que é, vô, é que o pessoal aqui encontrou o tal Anel de Slytherin. Aquele que você sempre me contou a história.
O avô de Luna pareceu surpreso, mas não assustado. Deu um sorriso largo e comentou:
- E aposto que você esqueceu a história de novo e me chamou aqui só para contar.
A menina riu concordando com a cabeça.
- Minha lerdinha preferida! – disse o avô enquanto atrapalhava os cabelos da menina com as mãos – Mas não tem problema, eu conto a história para vocês.
Todos se aproximaram mais do velho Marquardt. Ainda tinham pelo menos uma hora antes de voltarem para os dormitórios de suas casas. E a oportunidade de ouvir mais uma lenda envolvendo um dos fundadores de Hogwarts não era uma coisa que acontecia todos os dias.
- Bom, eu conheci o Marvolo quando estudamos aqui em Hogwarts. Ele era uns dois anos na minha frente, mas abandonou os estudos meses depois que cheguei aqui...
Dinno Thomas, que estava sentado de frente para o avô de Luna franziu a sobrancelha. Voldemort tinha mais de 70 anos. Como é possível que aquele homem tivesse estudado com o avô dele? Quantos anos será que aquele senhor forte e moreno poderia ter?
Ao mesmo tempo, cada um ali começou a se fazer a mesma pergunta. Eles lembravam que Dumbledore era bem velho. Devia ter passado e muito dos 100 quando foi cruelmente assassinado. Mas Dumbledore aparentava ser velho.
E no entanto, aquele homem ali, sentado com um sorriso branco e sincero, não aparentava ter mais que 60 anos.
- E vocês – disse o velho interrompendo as contas dos garotos – parem de calcular a minha idade. Sou velho bastante para ter feito isso. Podem olhar no registro da escola.
A turma toda ficou sem graça e com as bochechas rosadas. Ele riu divertido da expressão deles e falou alegre:
- Para satisfazer as mentes curiosas de vocês, eu tenho 165 anos. Parece muito, eu sei, mas a vida no campo faz muito bem para a saúde. E além disso, todos os meus antepassados chegaram a quase 200 anos. Mas voltando ao assunto, bem, o Marvolo era um cara muito grosseiro. Arrogante e burro. Parecia uma pedra com pernas.
“Quando voltei do feriado de Natal ele estava exibindo um anelzão grosso de ouro. Tinha acertado o olho de um aluno com ele e o rapaz foi para a enfermaria com uma hemorragia daquelas. O anel tinha uma pedrona preta e transparente com uma cobra no fundo que dava medo!”
Harry reparou que, apesar de bruxo, o avô de Luna tinha o mesmo jeito de todo homem do campo. Falava engraçado, puxando o “erre” e dando entonação diferente nas sílabas.
- Mas logo ele virou motivo de chacota. Ninguém usava anel naquela época. Quer dizer, só os adultos. Então ele começou a berra que aquel anel era uma herança do Slytherin e servia para mostrar onde estava cada um dos seus descendentes.
- Mas eu poderia jurar que o anel tinha um outro nome pelo que Dumbledore me falou – interrompeu Harry.
- Tinha mesmo, mas aquela família era toda descendente de Slytherin. Eles não aceitavam misturar o sangue com famílias de outros bruxos que não fossem “dignos”, entende?
- E o anel funcionava do jeito que ele dizia? – perguntou Hermione interessada.
- Bom, na época a maioria dos nossos colegas achou que ele dizia aquilo para impor respeito e lembrar todo mundo de que família ele era. Mas cá entre nós, pelo pouco que conheci do Marvolo, acho que ele não era do tipo que ficava se gabando com mentiras. Quem duvidasse dele era humilhado na frente de todo mundo. Ele mostrava que estava certo, nem que tivesse que amarrar a pessoa numa árvore. Já o vi fazendo isso um monte de vezes. Dizem – ele abaixou a voz mais ainda para contar – que uma vez, uma professora duvidou que ele não fez os deveres porque estava com diarréia. Ele saiu da sala sem nem pedir licença e voltou logo depois com um penico cheio dá para imaginar de quê, né?
- O homem era um louco. Só pode! Isso e o jeito que Dumbledore disse que ele tratou os filhos – falou Rony indignado.
- Concordo com você. E foi por causa dos filhos dele que eu acho que essa lena pode ser verdadeira. Muitos anos depois eu fui até a casa dele levar um recado do Ministério. Eu trabalhava no Departamento de Expansão Agrícola e o meu chefe queria propor um trato para ele. Nessas alturas a filha já tinha fugido. Coitada! Não agüentou a loucura do pai.
“Mas mesmo sem ter notícias oficiais dela, ele dizia exatamente onde ela estava. Olhava para o anel e falava: ‘Olha lá a imunda, está péssima! Bem feito! Mereceu! Agora ta aí com esse bastardo na barriga, tentando vender a única coisa eu conseguiu da família’ Eu fiquei feito um bobo lá. Ele não falava de outra coisa e nunca me respondeu.”
- Ele sabia que ela estava vendendo o medalhão? – perguntou Harry horrorizado.
- Olha, filho, eu não sei de medalhão nenhum. O velho podia estar mais biruta do que sempre foi. Mas ele dizia que o anel mostrava para ele onde a filha estava e onde o neto estaria, porque ele fazia questão de saber para não chegar nem perto daquele mestiço.
Harry, Rony Hermione e Gina se olharam ao mesmo tempo. Pensavam a mesma coisa. Se a rachadura do anel não tivesse danificado a magia, eles poderiam encontrar Voldemort. Harry foi mais longe, pensou se aquilo não serviria para mostrá-lo onde estavam as várias partes da alma do Lorde das Trevas.
- Existem muitas outras lendas envolvendo os descendentes dos fundadores de Hogwarts. Mas hoje eu não tenho mais tempo de contar. Preciso voltar para a fazenda. Amanhã vou despachar uma tropa de cavalos alados para o Líbano e preciso checar e vacinar cada um dos animais.
Diante do murmúrio de insatisfação dos meninos, o avô de Luna prometeu que escreveria mais para frente contando as lendas que conhecia e indicando, para Hermione, em quais livros ela poderia achar mais informações.
Os jovens voltaram ansiosos para os dormitórios. Cada um formulava teorias mirabolantes de como conseguir utilizar o anel ou mesmo consertá-lo.
- Aposto – disse Neville – que alguma coisa naquela loja horrorosa pode resolver essa questão.
- Sabe que não é uma má idéia, Neville? – falou Gina – Assim poderemos convocar outra reunião da Armada. Já tem tempo suficiente para apresentarmos as novidades e tomar medidas de ação mais direta.
A idéia foi acatada e na manhã seguinte eles começaram a avisar os amigos sobre o encontro dali a dois dias.
As atividades escolares naqueles dias que antecederam a reunião da Armada foram marcadas por erros grosseiros, feitiços pela metade e transfigurações absurdas. Todos estavam distraídos, pensando o quanto facilitaria a busca se o anel pudesse ser consertado. E nem repararam que os professores estranharam ao máximo aquele comportamento deles.
Foi com essa expectativa que se reuniram na Borgin & Burkes, na tarde de quarta-feira, do mesmo modo que fizeram na primeira reunião. Estavam todos reunidos e falando baixo como sempre. E continuariam falando se Gina não reparasse na expressão no rosto de Neville. Parecia que o garoto havia visto uma dezena de dementadores.
Ele ficou branco, com os olhos saltados e a boca semi-aberta. Tentou falar alguma coisa enquanto apontava o dedo para um ponto atrás da cabeça de Harry. Mas este nem teve tempo de se virar. Sentiu uma mão ossuda e firme segurar seu ombro, enquanto uma voz asmática e sinistra falou:
- Sabia que voltariam!
Harry sentiu um frio na espinha e quando olhou para trás avistou o Sr. Borgin ali parado. Olhava com uma expressão doentia e feliz para os jovens reunidos em sua loja. As mãos ossudas e encardidas do velho apertavam o ombro do garoto cada vez mais e ele o puxou para um canto.
- Pare aí! – gritou Hermione puxando a varinha.
- Não seja tola – o velho respondeu ríspido – Conheço cada objeto da minha loja e posso acabar com todos vocês antes que consiga falar Lummus.
Ele deu as costas e se aproximou de um buraco muito sujo na parede mais afastada da loja. Só depois de alguns segundo é que Harry reparou ser uma lareira. Tinha a aparência de que não era usada há mais de 20 anos, empoeirada e coberta por teias de aranha.
O Sr. Borgin puxou a varinha, lançou alguns poucos pedaços de lenha dentro e fez aparecer um fogo vivo. Depois, guardou a varinha no bolso e pegou um pó esquisito, de cor bem diferente do usado na Rede de Flu.
As chamas brilharam num amarelo muito vivo e logo assumiram um aspecto etéreo, quase transparente. O dono da loja sentou-se num banquinho tão velho quanto ele, que dava a sensação de que iria desmanchar a qualquer momento, enfiou a cabeça na lareira e disse:
- Eles estão aqui. Exatamente como falei que fariam. Pode vir buscá-los.
As chamas apagaram assim que ele terminou de dar o recado. Tirou a cabeça da lareira e olhou para os jovens ali parados. Deu mais uma vez o sorriso doentio e empurrou Harry de encontro aos amigos.
Ninguém tinha coragem de fazer nada. Alguma coisa os impedia de fugir, gritar, correr ou mesmo lançar qualquer tipo de feitiço. O jeito era esperar quem quer que seja que o Sr Borgin havia chamado para buscá-los.
CRAQUE!
Um estalo de alguém aparatando na porta da loja se fez ouvir. Borgin olhou a volta, pegou sua varinha e com um gesto rápido, trancou o Armário Sumidouro.
- Para vocês não caírem na besteira de sair correndo – explicou enquanto andava para a porta.
Eles repararam que ele arrastava uma perna com dificuldade, mas se esforçava para chegar o mais rápido possível até a entrada da loja.
A pessoa que tinha acabado de aparatar murmurou alguma coisa para o Sr. Borgin e ele deu uma risada rouca.
Nenhum dos alunos conseguiu divisar a imagem por trás dos vidros sujos da loja. Nem conseguiram entender o que a pessoa do lado de fora havia falado. Ele murmurou mais alguma coisa e outro craque indicou que mais alguém havia chegado àquela estranha reunião.
- Fez muito bem em avisá-la – eles ouviram Borgin falando – agora, se tiverem a bondade, podem ver que eu tinha razão. Eles estão bem aqui!
Ele saiu da frente e deu passagem a duas pessoas. Mas nada teria preparado os jovens bruxos ali para a imagem que viram entrando da Borgin & Burkes.

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