O Jardim dos Mortos



Assim que o barulho na casa cessou, indicando que todos haviam se deitado, as garotas levantaram e saíram de jeans, blusão e tênis, até o quarto de Rony. Bateram na porta conforme o combinado.
Após lançarem os feitiços do Kit Solidão Legal, eles desceram as escadas sorrateiramente. Saíram da casa e decidiram aparatar na Casa dos Gritos, por ficar mais fácil para chegar ao castelo, já que poderiam usar a passagem subterrânea. Em poucos instantes os quatro estavam naquele quarto sujo e abandonado onde há alguns anos descobriram que o Perebas, o rato de Rony, era na verdade Pedro Pettigrew, o homem que entregou Lílian e Tiago Potter para Voldemort.
- Ótimo! – falou Harry – É bom irmos depressa. Eu saio na frente, me arrasto até o nó na raiz do Salgueiro e aperto para vocês passarem.
Eles correram pelo corredor iluminado apenas pelas varinhas de cada um. Harry apertou o nó capaz de imobilizar o Salgueiro Lutador e logo eles alcançaram o muro de pedra que cercava a Floresta Proibida.
- Será que o muro ainda está encantado? – perguntou Hermione.
- Vamos testar – disse Rony avançando para colocar a mão nas pedras.
- Não! – apressou-se Harry – Se estiver enfeitiçado você pode se machucar muito. Tenho uma idéia melhor. Monstro, Dobby, preciso ver vocês agora!
Dois estalos característicos se fizeram ouvir e os dois elfos domésticos apareceram diante dos meninos.
- Meu senhor Harry Potter! – exclamou Dobby feliz – Que faz no castelo. Castelo fechado para os alunos.
- Eu sei, Dobby. Mas preciso ir até a Floresta encontrar o Hagrid. Um assunto muito urgente. Por isso, Monstro – disse se dirigidno ao outro elfo – quero que você cheque se ainda há magia nesse muro e não me engane!
Monstro foi até o muro resmungando, falando o quanto odiava servir o menino Potter e encostou a ponta dos longos dedos no muro.
Um raio branco impeliu o elfo para trás com tanta força que ele caiu há mais de três metros de distância.
Hermione ficou chocada. Mas logo o elfo se levantou e perguntou se poderia ir. Harry o dispensou e voltando-se para Dobby falou:
- Agora, Dobby, eu preciso que você encontre um jeito de nos fazer passar por esse muro. Acha que consegue?
Dobby pensou um pouco e deu um sorriso esperto. Agarrou o braço de Harry e com um barulho surdo sumiu com o rapaz. Logo voltou e foi passando um a um do mesmo modo que sumia e desaparecia dentro do castelo.
Quando todos estavam do lado da Floresta, Dobby fez um aceno e sumiu, desta vez, sozinho.
- A sensação é melhor que aparatar – comentou Gina.
- Pelo menos a gente não fica tonto – resmungou Rony.
- E agora, Harry? Para onde vamos? – questionou Hermione.
O rapaz olhou para a faixa estreita iluminada pela luz das varinhas. A lua estava quase cheia, mas as árvores se adensavam de tal forma que impediam a luz do astro de passar.
- Por aqui. Vamos por aqui e fiquem atentos a qualquer barulho ou qualquer sinal que possa ser o rastro de Hagrid.
Eles caminharam com passos apressados e em pouco mais de 15 minutos alcançaram a toca que foi de Aragogue. Era verdade! As acromântulas haviam abandonado o lugar.
- Aqui – chamou Gina – tem um rastro. Alguma coisa foi arrastada aqui.
- Não foi arrastada, Gina. Alguma coisa arrastou-se por aqui. Nagini já passou. Espero que ela não tenha alcançado Hagrid.
- Vamos seguir o rastro da cobra. Talvez a alcancemos primeiro. Hagrid anda muito e é veloz. A cobra apesar de grande não é tão ágil quanto ele – procurou raciocinar Hermione.
Começaram a seguir os rastros deixados por Nagini. Não estavam muito frescos e em alguns lugares outros bichos já tinham passado, confundindo os jovens.
Eles se embrenhavam cada vez mais fundo na Floresta. Passaram, e muito, do limite que conheciam daquelas terras. Até mesmo o descampado que serviu de abrigo para Grope no ano anterior ficara para trás.
Harry estancou de repente e fez um gesto para todos pararem e ficarem em silêncio. Alguns metros a frente, um acampamento mal feito chamou a atenção do rapaz. Indicou uma árvore muito grossa a um lado da trilha que seguiam, e escondendo-se atrás dela sussurrou para os amigos:
- Aquela cabana é pequena demais para Hagrid. Tem mais alguém na Floresta, e pode estar atrás dele.
- Só tem um jeito de descobrir – falou Hermione – precisamos ir até lá.
- De jeito nenhum, nós não sabemos em quantas pessoas eles estão – protestou Rony.
- E eles não vão saber em quantos estamos. Venham aqui, vou desiludir vocês.
- Você sabe desiludir? – perguntou Harry abobalhado.
- Sei, Moody me ensinou enquanto vocês treinavam ataque às cegas. Rápido, não temos tempo a perder!
Ela deu uma batida seca com a varinha na cabeça de cada um e na dela própria. Eles sentiram um frio escorrer pelas costas e quando procuraram se olhar perceberam que estavam mesclados à paisagem local, como verdadeiros camaleões.
Esgueiraram-se procurando fazer o mínimo de barulho possível. Aproximaram-se por trás das árvores e constataram que era mesmo um grupo de comensais. Pelas conversas dava para saber que ali estavam apenas quatro pessoas, mas dentro da Floresta outros cinco rondavam procurando alguma coisa.
- Deve ser Hagrid ou Nagini – sussurrou Gina.
Eles chegaram mais perto. Precisariam se espalhar para atacar os comensais sem dar chances deles revidarem ou pedirem socorro, cada um do grupo procurou ficar as costas de um dos inimigos.
Mas quando foram lançar os feitiços, Hermione se enroscou num cipó e caiu, provocando um estrondo que chamou a atenção dos homens de máscara.
- Depressa, tem alguém aí!
- A senha – berrou alto um dos homens.
Como ninguém respondeu, eles puxaram as varinhas e antes que se aproximassem demais do local onde Hermione caíra, Harry, Gina e Rony lançaram alguns feitiços.
Pegos de surpresa e pelas costas, três dos homens foram nocauteados. Mas um se virou e conseguiu desarmar Gina.
Moddy não havia explicado a Hermione que a desilusão acaba quando o bruxo lança um feitiço. Agora, os três amigos estavam visíveis e duelavam contra o comensal.
Harry recuperou a varinha da namorada, mas não teve tempo de devolvê-la, pois homem investia contra ele.
O treinamento de Tonks valeu a pena. Os rapazes se esgueiravam pelas árvores sem dar tempo ao comensal. O homem murmurava palavras de um jeito cheio de ódio, mas não conseguia pronunciar um feitiço inteiro sem perder de vista um dos jovens que ele pretendia acertar.
Um jato de luz verde explodiu a árvore que Gina usava para se esconder, obrigando a jovem bruxa de cabelos vermelhos a pular para longe dali. Quando saltou do meio dos destroços da árvore, o comensal a acertou com um feitiço que a lançou de costas contra outra árvore.
Mas antes de bater contra o tronco nodoso de um imenso carvalho, ela lançou um feitiço. O jato de luz vermelha que saiu da varinha da jovem acertou o comensal bem na cara fazendo sua máscara voar longe e um filete de sangue escorrer de um corte em seu supercílio.
Quando a máscara caiu, eles puderam ver um rosto de pele macilenta e pálida. O nariz adunco e o queixo quadrado, de maxilar forte, revelavam uma expressão dura, moldada pela crueldade de toda uma vida como comensal. Os olhos negros e frios, pareciam duas pedras sem brilho, lapidadas pelos dementadores no tempo que ele passou em Azkaban.
O homem era Rodolfo Lestrange, marido de Bellatriz, e um dos responsáveis pelo estado em que se encontrava os pais de Neville Longbottom. Harry o reconheceu na mesma hora, lembrando do cartaz espalhado pelo Ministério na ocasião da fuga dele e de mais nove prisioneiros da prisão mais bem guardada do mundo. Foi essa fuga em massa que deu a certeza de que os dementadores estavam do lado e Voldemort.
Harry sentiu uma raiva tão grande daquele sujeito que assim que os olhos dos dois se encontraram o homem caiu de joelhos e o rapaz, sem saber o que estava fazendo, penetrou na mente do comensal.
Rodolfo Lestrange ainda achou que seria brincadeira lutar contra Harry Potter e se deixou dominar, com o intuito de virar o jogo, dar cabo do menino e entregá-lo a seu senhor.
Enquanto ele achava que seria capaz disso, Harry sentia no fundo de sua alma que o que mais queria naquele momento é que Lestrange pagasse pelos crimes que cometeu, especialmente o que fez com os pais de seu amigo. Queria que ele sofresse em dobro os danos causados a Alice e Frank Longbottom.
Enquanto isso acontecia Hermione ficou de pé e se uniu a Gina e Rony para duelar com os outros cinco comensais que se aproximavam atraídos pelo barulho. Imediatamente a floresta foi marcada pelos jatos de luz de várias cores que cruzavam o ar saindo dos dois lados. Muitos jatos revelavam que aqueles comensais não estavam para brincadeira. Não mediriam esforços para se verem livres daquele grupo de jovens bruxos intrometidos.
Lançavam maldições imperdoáveis uma atrás da outra. Rony foi atingido duas vezes pela maldição da tortura. Caíra urrando de dor, se contorcendo e só não foi mais atacado porque Hermione ou Gina arrumavam um jeito de acertar o atacante do menino e tirar a concentração dele. Assim, Rony podia rolar para o lado, respirar fundo e, corajosamente, se colocar de pé e voltar para a batalha.
Misteriosamente, ninguém se aproximava de Harry ou de Rodolfo que continuavam a travar uma luta dentro da mente do comensal. O jovem bruxo procurava extrair todas as informações que podia e isso provocava uma dor imensa no marido de Bellatriz.
Rodolfo tentava fechar sua mente, mas Harry já havia se apoderado dela. Sabia como usar a legilimência. Era intuitivo. A Rodolfo não restava nem mesmo usar oclumência, porque o garoto já se infiltrara num nível de seu subconsciente que seria capaz de fazer o que quisesse dentro da mente do comensal.
E foi o que ele fez. Implantou ali toda a dor e sofrimento que conseguiu se lembrar. Dores físicas, como a que sentiu quando perdeu todos os ossos do braço, quando teve uma fratura no crânio, quando a pena de Umbridge rasgou a sua mão e quando a presa do Basilisco, repleta de veneno furou sua carne.
Também cuidou de dores emocionais, quando vivia na casa dos Dursley, quando era humilhado na escola trouxa pelos amigos de Duda, quando foi chamado de mentiroso por toda comunidade bruxa, quando viu Cedrico ser assassinado, quando viu Dumbledore ser traído e morto por Snape.
Tratou de se concentrar ao máximo. Não queria implantar ali suas memórias. Só queria dar a Rodolfo Lestrange uma dor real. Uma dor muito maior que qualquer maldição consiga superar.
E só quando um raio verde passou bem próximo ao rapaz é que ele perdeu o contato visual com o homem que agora estava caído de borco, gemendo, chorando e com o olhar aparvalhado.
Harry sacou a varinha mais uma vez e entrou na luta acirrada. Usou todos os feitiços que conhecia e teve sucesso quando levantou um dos inimigos pelo tornozelo e fê-lo parar no ar. Rony aproveitou e chicoteou magicamente o peito e o rosto do comensal que urrou de dor e desmaiou assim que bateu a cabeça no chão quando Harry o soltou.
Ele deu uma olhada para Rony e piscou com o olho direito. Era assim que eles se livrariam dos ataques. Lutariam juntos, um ajudando o outro.
Aos poucos, Hermione e Rony deram cabo de mais um deixando-o inconsciente e posteriormente dividindo o bruxo com a Transfiguração Múltipla ensinada por Luna.
Rony ainda chutou um dos “pedaços” do comensal para bem longe, para que ninguém o transformasse de volta.
Gina e Harry petrificaram outro comensal e a garota ia usar incendium nele, quando Harry segurou seu braço:
- Fogo na floresta não! Pode colocar todos em perigo. Inclusive as criaturas que não tem nada a ver com essa batalha.
Ela assentiu e tratou de estuporar o oitavo bruxo que chegava sorrateiro por trás de Hermione. A bruxa se virou e terminou o feitiço transfigurando o bruxo num imenso toco de árvore podre cheio de fungos.
Só faltava um. Mas eles não encontraram último comensal em lugar nenhum.
- Deixa – falou Harry – é bom que ele fuja. Vai avisar Voldemort que nós estamos preparados. E com certeza vão mandar alguém buscar o Lestrange. Espero que a mulherzinha dele o veja e se prepare. Pois eu faço questão de deixá-la mais incapacitada ainda. Agora venham, eu sei por onde Nagini foi.
Eles se encaminharam para a trilha por onde os outros comensais surgiram e logo reencontraram o rastro da enorme cobra. Seguiam atentos, os corações disparados e a respiração ofegante.
Nagini havia passado ali há pouco tempo e eles entenderam que não estavam seguindo uma cobra qualquer.. Mais do que obedecer Voldemort, Nagini deveria pensar. Os rastros eram precisos e o peso elevado da serpente deixava um sulco no chão o que mostrava que a terra, abaixo do rastro, ainda estava úmida.
- Ela está próxima – exultou Harry.
Ainda andaram cerca de 10 minutos até que deram direto numa árvore enorme. O rastro da cobra sumia exatamente sob a árvore,. Mas não havia nenhum buraco por onde ela poderia ter passado e eles começaram a olhar em volta, na esperança de reencontrar o rastro ou algum sinal de onde a cobra poderia ter se escondido.
- Será que tem alguma passagem secreta por aqui? – perguntou Rony.
- Não sei. Nunca estive por aqui... – respondeu Harry.
- Tem alguma coisa sinistra nesse lugar – disse Gina com um calafrio.
- Toda a Floresta é sinistra – retrucou Hermione procurando fechar mais ainda o blusão.
- Não, aqui é diferente – ajuntou Harry – tem um cheiro estranho. Tem cheiro de morte...
Eles se entreolharam assustados. Mas Harry tinha razão. O cheiro daquela parte da floresta lembrava um grande velório. Ou pior, um necrotério. Era o mesmo cheiro que pairou na ala hospitalar quando os cinco alunos não resistiram aos ferimentos.
- E agora? Para onde vamos? – perguntou Gina querendo mudar de assunto e espantar o medo que começava a sentir.
Ninguém respondeu. Estavam pensando no que fazer. Sem os rastros de Nagini ficaria impossível determinar por onde ir. E no local em que estavam já não dava mais para sair procurando Hagrid sem correr o terrível risco de se perderem.
Talvez, pensou Harry, era exatamente isso que ela queria. Nos encurralar nesse buraco estranho e sombrio. Para nos impedir de encontrá-la antes que Hagrid fosse avisado da presença do réptil.
Os quatro agora davam pequenos passos enquanto discutiam o que fazer, do mesmo modo que Dumbledore fazia em seu escritório quando queria pensar.
Harry parou debaixo de um galho muito grosso da árvore em que terminava o rastro de Nagini. Encostou-se à planta, depois de um tempo deu uns passos a frente e ia começar a falar quando Hermione gritou:
- Harry, cuidado!
O garoto olhou para trás em tempo de ver a enorme boca de Nagini pronta para lhe dar o bote. A cobra estava sobre a árvore e mostrava ao rapaz aquelas presas conhecidas por terem machucado o Sr° Weasley. A boca da cobra se abria cada vez mais e indicava que o alvo da cobra agora era ele.
Harry não conseguiu raciocinar. Sabia que qualquer cobra reage ainda mais rápido diante de um movimento brusco. Mas ficar ali parado era suicídio. Tudo passou em sua cabeça numa fração de segundos e quando ele viu o pescoço da cobra fazer um movimento para trás, de modo a impulsionar o bote, ele se jogou para o lado.
No mesmo instante um jato de luz verde atingiu a cobra bem na altura dos olhos e o clarão que se seguiu ao estrondo iluminou a floresta até bem acima da copa das árvores. Harry gritou mesmo sem saber o que tinha acontecido e sentiu sua cicatriz se abrir e começar a vazar.
Nagini caiu imóvel aos pés do garoto que teria sido sua vítima. A boca ainda aberta, o veneno escorrendo pelas presas, mas completamente sem vida. Por poucos milímetros ela não conseguiu cravar as preás venenosas na sola do sapato de Harry.
Ele se virou, encolheu as pernas o mais rápido que pôde diante do susto e se pôs de pé em seguida. Olhava para a cobra e passava as mãos na testa para ver se o que vazava era sangue. Mas não saía mais nada de sua cicatriz e não havia nenhum indício de que alguma coisa tivesse saído dali antes.
Quando ele olhou para os amigos, viu que Gina e Hermione olhavam atordoadas de Nagini para Rony. Um silêncio constrangedor se abateu sobre o local. Todos respiravam profundamente e então os olhos de Rony se encheram de lágrimas e se sentou no chão, chorando.
Gina correu e abraçou o irmão. Ele agora se deixava deitar no ombro da menina e chorava mais alto, soluçando sem parar.
- Se você não tivesse feito isso eu teria – disse baixinho ao ouvido do irmão.
- Eu não... eu não estou triste – disse entre as lágrimas – só estou assustado. Não sabia que poderia fazer isso. Sabe, é o mesmo que matar alguém.
Ele suspirava, forçando para parar de chorar.
- Rony! – chamou Harry – Obrigado! Você salvou a minha vida, cara!
Ele olhou o amigo de pé na sua frente, levantou e deu-lhe um abraço apertado.
- Foi meu primeiro feitiço mudo – falou o rapaz procurando se orgulhar do que tinha feito.
- E foi perfeito! – elogiou Hermione pegando a mão do rapaz e a apertando entre as suas.
Rony olhou Hermione nos olhos e os dois ficaram ali de mãos dadas. Ele ainda tremia, mas agora o coração disparava por outros motivos.
- Venham, - chamou Harry cortando o clima entre os amigos - acho que se seguirmos em linha reta vamos sair daqui. Depois Dobby nos leva de volta para um lugar de onde poderemos aparatar. Pelo menos, agora sei que Hagrid está seguro.
- E conseguimos nos livrar de mais uma horcruxe – falou Rony com uma voz bem mais séria.
Eles caminharam mais alguns metros e logo perceberam que Hermione havia ficado para trás. Ela estava parada, a boca semi-aberta.
- Deixa pra ficar pasma depois, Mione – chamou Harry.
- Olhem! – respondeu ela apontando para um espaço no meio de duas árvores.
Os três se viraram para o local que a jovem apontava e entenderam o motivo de tamanho espanto.
Ali, no meio da floresta, estava a mais bela construção que eles jamais haviam imaginado. Superava todas as surpresas que o castelo revelava a cada dia. Lembrava uma espécie de templo, mas sem paredes. Havia um altar de mármore esverdeado no centro, de onde emergia um suporte com um livro também esculpido em mármore. Estava tudo coberto por folhas secas e alguns ramos de uma trepadeira que subia exibindo delicadas flores brancas que exalavam um perfume maravilhoso.
Era aquele cheiro que eles sentiram antes. Mas agora, não era cheiro de morte. Era cheiro de liberdade, de vida eterna, de paz. Nenhum deles conseguiu descrever a sensação que aquele aroma causava. Apenas sentiam que tudo estava bem e que as coisas seriam resolvidas no seu tempo certo.
Harry deu alguns passos e atravessou as árvores visualizando o que realmente protegia aquele altar. Três enormes estátuas de mármore branco, levemente rajado de cinza e pontilhado por musgo cercavam o altar.
Os quatro andaram em direção aos monumentos, que deviam ser da mesma altura de Grope, e começaram a observar cada detalhe. As estátuas representavam duas mulheres e um homem.
Eram mulheres bonitas e apesar da altura, cada traço em seus rostos era perfeitamente visível.
A da esquerda foi esculpida erguendo uma taça incrustada de pedras preciosas, como se estivesse brindando com as estrelas. Trajava uma veste longa, com muitos bordados, um chapéu pontudo e sandálias. Sorria de um jeito tão manso que seria impossível não gostar dela. Os olhos fixavam um ponto no alto e ela carregava uma varinha presa ao cinto de cordas que marcavam a cintura em suas vestes.
A da direita foi esculpida com vestes como a sua companheira de eternidade. Mas no lugar da taça, ela segurava uma coisa junto ao peito. Não era possível identificar, mas estava presa a um enorme cordão que lhe passava pelo pescoço. Seus olhos, apesar de serem feitos de pedra, revelavam um brilho que variava entre o maternal e o perspicaz, como se aquela estátua pudesse ler cada sentimento na alma dos presentes e compreendesse todos os segredos do mundo. Sua varinha também estava presa no cinto, que parecia ser feito de uma larga tira de couro.
O homem ao centro das duas mulheres trajava uma vestimenta de guerra. Era visível a armadura que trazia sob o enorme manto bordado com a imagem de um leão. Aos pés dele, estava depositado um elmo com todos os detalhes bem trabalhados e que parecia oco por dentro, proporcional ao seu tamanho. Ele tinha uma vasta cabeleira levemente ondulada e usava uma barba que apesar de rala, dava muita personalidade a suas feições. Havia uma expressão de coragem em seu rosto. Uma coragem inteligente, sutil. Típica dos heróis que sabem diferenciar ousadia de imprudência e escolhem a hora certa de agir. A sua frente, bem segura pelas duas mãos cruzadas, pouco abaixo do peito, descia uma enorme espada, tão bem esculpida que eles poderiam jurar que a lâmina não era de pedra, mas de algum metal da cor do mármore da estátua.
Um lugar vago em frente ao guerreiro de pedra foi marcado com uma pedra também de mármore. Era mais nova que as esculturas e não tinha nada crescendo por perto. Nem flores, nem grama, nem musgo.
- Quem será que elas representam? – perguntou Rony.
- Não está claro? – falou Harry – Aquela com a taça é Helga Hufflepuff, esse do centro é Godric Griffyndor e essa outra é...
- Rowena Ravenclaw – completou Hermione.
- Então essa pedra simboliza Salazar Slytherin – concluiu Rony.
Eles se aproximaram da pedra e olharam para ela em silêncio. Até que Hermione, olhando mais uma vez em volta do local, falou:
- Não é uma pedra. É uma lápide!
- Uma lápide? – repetiu Rony.
Eles olharam e concluíram que só podia ser aquilo. Estavam no local onde os fundadores de Hogwarts foram enterrados. Havia mesmo algumas datas escritas abaixo das estátuas.
- Mas eu pensei que nunca nenhum... – começou Gina.
- Eu sei o que você vai dizer. Realmente nenhum diretor foi enterrado aqui antes de Dumbledore. Mas eles não foram diretores, foram os fundadores. Os mentores de toda essa instituição – cortou Hermione encantada com o fato de ter descoberto algo que não está descrito no livro Hogwarts: Uma história.
- Será que não deu tempo de fazer uma estátua para o Salazar Slytherin? – perguntou Rony – Porque aí nessa lápide não tem nem a data.
Harry se aproximou da lápide. Ajoelhou e passou lentamente as pontas dos dedos sobre a pedra fria. Por fim, murmurou:
- Deve ser porque ele não está enterrado aí. Essa lápide pode ser só uma homenagem, sei lá!
- Ou então – falou uma voz muito grave atrás dos quatro – porque não é Salazar Slytherin que está aí.
O coração deles tornou a gelar. Uma sombra enorme se movimentava pelas árvores atrás da estátua de Godric. Passos pesados denunciavam o tamanho da criatura que chegava rápida e decidida.
- E eu creio que vocês também não deveriam estar aqui – falou o dono da voz alcançando uma parte iluminada pelo clarão da lua que em dois dias se tornaria cheia por completo.
- Hagrid! – exclamou Gina – Você nos assustou.
- Vocês não deviam realmente estar aqui – falou o meio-gigante parecendo bravo.
- Viemos porque estávamos preocupados com você. Se soubesse o que tivemos que passar para chegar até aqui seria mais agradecido – retrucou Harry.
- Eu tenho noção de tudo o que vocês passaram, Harry – disse Hagrid com uma voz firme e autoritário que nunca tinha usado com eles antes.
- Será que tem mesmo? – ironizou o rapaz – Ultimamente você não tem tido muito tempo para pensar em nada. Você não fez nada quando o castelo foi atacado! Aliás, você nem tem se importado com o castelo ou com qualquer um de nós!
- Isso não é verdade, Harry! Eu não fui socorrer o castelo na hora do ataque porque estava resolvendo outros assuntos...
- Já sei, já sei! Assuntos de Dumbledore! Grande coisa...
- E o castelo estava protegido, tinha aurores e professores e...
- E cinco alunos morreram! – berrou Harry.
Hagrid olhou Harry como se estivesse vendo o garoto pela primeira vez.
- Como...? Cinco...? Morreram?
- Foram assassinados por comensais, Hagrid – explicou Hermione enquanto Harry bufava andando de um lado para o outro – Todos pequenos: dois do primeiro ano, um do segundo e outros dois do terceiro.
- Foi a avad... foi a maldição da morte? – perguntou com a voz bem mais baixa.
- Não, foram muito machucados e não resistiram – respondeu a moça mais uma vez.
Ele passou as mãos enormes sobre a cabeleira desgrenhada tentando, sem grande sucesso, fazê-la baixar.
- É por esse tipo de coisa que vocês não deveriam estar aqui! Estão correndo riscos. A floresta está cheia de comensais e aquela cobra horrorosa agora deu pra me seguir. E se vocês se depararem com eles?
- Nós não somos mais crianças! Até quando todos vão achar que têm a pesada tarefa de me proteger? Caramba!
- Eu vou proteger você, sim senhor! Queira ou não!
- Ah, ótimo! E me diz quem é que vai proteger você?
- Eu nunca corro perigo na minha floresta! – berrou Hagrid.
- Essa floresta nunca foi sua, nem de ninguém. E você corre tanto perigo quanto nós! Pode ser grandão e dar boas porradas, mas estamos falando de mágica e disso você não sabe muita coisa.
- Harry! – exclamou Hermione assustada.
O rapaz havia tocado no ponto fraco de Hagrid. O meio-gigante foi expulso de Hogwarts quando tinha apenas 13 anos e sua varinha foi quebrada pelo Ministério da Magia. Ele encarou Harry profundamente magoado e respondeu tentando manter a calma.
- Eu sei me defender do meu jeito. Já vi onde está o acampamento dos comensais, e sei que todos estão atrás de mim. Inclusive a cobra.
- Eu sei disso! Eu vi a cobra farejando você. Só não entendi o que ela queria!
- Ela queria achar o caminho pra este lugar – zangou-se Hagrid novamente – Ou melhor “Ele” queria que alguém lhe mostrasse o caminho até esse lugar!
- Não me olhe com esse ar acusador – ralhou Harry.
- Não estou te acusando de nada! Só quero que você perceba aimprudência de ir se guiando de novo por uma de suas visões. Ele fez isso com você uma vez e aposto que está fazendo de novo!
- Quer dizer que você acha que eu fui um fantoche para Voldemort descobrir o caminho para um cemitério acabado? Tenha dó!
A discussão entre os dois tomou uma proporção que deixava qualquer criatura por perto assustada. Hagrid, que estava realmente zangado, tinha uma voz de trovão e batia um dos pés sempre que terminava uma frase. Harry encarava o meio-gigante e falava o mais alto que podia, deixando claro que não estava ficando intimidado com o tamanho do amigo.
- Em primeiro lugar aqui não é um cemitério acabado! E em segundo lugar...
- Em segundo lugar o quê?
- Em segundo lugar eu sempre consegui saber com antecedência se alguém estava no meu caminho.
- Lógico que sabia! Usando o mapa que roubou de dentro do meu malão, não é mesmo?
Finalmente eles chegaram ao ponto que tanto incomodara Harry, e ele observou satisfeito que Hagrid ficou totalmente desconcertado.
- Não sei do que está falando!
- Pare de mentir, Hagrid! Eu vi o mapa caindo do seu bolso. Eu o peguei de volta. Se você tivesse pedido eu teria emprestado, Hagrid.
- Eu o achei na floresta... - começou o meio gigante.
- Mentira! Men-ti-ra! Eu sei que você está mentindo! Se você tivesse achado um mapa que sabe que é meu, teria pensado que eu entrei na Floresta e ia me procurar pra me dar uma bronca e me devolver o mapa. Mas você não fez nada disso! E agora, além de ter me roubado, ainda acha ruim que a gente tenha enfrentado nove comensais e tenha destruído aquela cobra maldita só para te proteger!
- Você destruiu a cobra? Você destruiu a Nagini? – perguntou Hagrid ficando aflito.
- Eu não. Rony a destruiu – respondeu Harry ainda nervoso – Agora que tal nos falar a verdade. Depois de tudo isso, merecemos uma prova de que você não enlouqueceu e ainda é nosso amigo.
- É que... bem, eu... Eu não posso contar nada, Harry.
- Acho – disse uma outra voz vinda do mesmo lugar por onde Hagrid surgiu – que o argumento do jovem Potter é suficiente para que ele saiba a verdade. E eu faço questão de contar!
Harry olhou aflito para a estátua de Godric. Por um instante acreditou que aquela estátua havia ganhado vida e falava com ele. Mas o som, ao contrário do que Harry pensou, não saía da boca da estátua. Nem de trás dela, como aconteceu quando Hagrid apareceu.
A voz vinha do chão. Mais precisamente da parte abaixo do elmo, que agora emanava uma luz amarela de dentro para fora.
Eles mais sentiram que ouviram a voz. Entreolhavam-se com expressões de dúvida, medo e apreensão. O que quer que fosse, ou melhor, quem quer que fosse o dono daquela voz era mais que assustador.
Fazia a voz ecoar pelos quatro cantos da floresta ao mesmo tempo em que as frases chegavam como sussurros carregados pelo vento até eles.
Rony fechou o blusão para tentar se aquecer do calafrio que sentiu. Sacou a varinha apesar de saber que não ia adiantar muita coisa.
Harry fez o mesmo. Passou a mão direita para se certificar que a cicatriz não estava doendo. Percebeu que estava tremendo e então enfiou a mão que estava sem varinha no bolso do jeans.
Hermione fitava o chão balançando-se para frente e para trás enquanto prendia os cabelos com um elástico. A varinha saía do bolso do blusão, mas ela nem se preocupou em pegá-la. Alguma coisa que ela não sabia explicar lhe inspirava confiança e ela sentia que não precisaria atacar ninguém.
Gina olhava tudo desconfiada. Assumiu uma posição desafiadora, pronta para qualquer coisa. Batalha, interrogatório, o que fosse. Ela não havia treinado com tanto afinco nas reuniões da Armada para sentir medo agora.
Mas o que se mostrou mais assustado foi Hagrid. Ele se sobressaltou quando ouviu a voz e correu em direção aos pés da estátua de Godric. Parou diante do elmo e começou a falar numa língua estranha, cheia de grunhidos e palavras pequenas.
Eles não conseguiam entender, mas supunham que Hagrid não queria que a conversa acontecesse. Por fim, Hagrid aceitou a conversa, mas não sem antes impor algumas condições.
- Não acho que isso vai ajudar de alguma forma, mas venham. Venham depressa! – disse gesticulando para Harry, Rony, Hermione e Gina.
Ele estava contrariado e ainda não perdoara Harry pela insinuação maldosa. Segurou a aba do elmo levantada para que os quatro entrassem. Ele passou para dentro e deixou a aba se fechar levemente.
Ninguém ousou falar uma palavra sequer. Só notaram que estavam no topo de uma longa e circular escadaria de pedra. Mas assim que o elmo se fechou, a escuridão voltou e eles mal conseguiam divisar a distância do primeiro degrau.
- Já que eu sou um nada em magia, acho bom um aí iluminar o caminho. A escada é grande e se alguém cair vai dar sorte se chegar lá embaixo com todos os ossos quebrados. Ah, e tomem cuidado! As pedras ainda estão escorregadias.
Gina agitou a varinha e iluminou o local com uma luz branca e fantasmagórica. Deixou Hagrid passar para indicar o caminho, embora não fosse preciso. Eles só precisavam descer. Descer cada vez mais, como se as escadas não tivessem fim.
- Agora sim eu me sinto num cemitério – murmurou Rony.
Depois de um tempo que pareceu imenso, eles avistaram uma luz bruxuleante que tingia os degraus de mármore de um amarelo intenso.
- Se não estivesse tão frio, eu poderia jurar que nós chegamos no inferno – sussurrou Gina.
O fim da escada chegou onde eles suspeitavam, uma imensa câmara que abrigava uma catacumba típica de Idade Média. Os túmulos cavados na parede de pedra, iluminados por archotes.
Algumas esculturas pequenas de entidades religiosas e místicas, adornavam o lugar simbolizando a viagem que todos os mortais fazem quando abandonam seus corpos e partem para a eternidade.
Na câmara eles contaram quatro tumbas. Mas apenas três estavam ocupadas não por caveiras, como era de se esperar, mas pelos corpos perfeitos das pessoas que inspiraram as estátuas da superfície.
- Incorruptíveis, como todo bruxo de grande poder – falou a mesma voz que eles ouviram antes de descerem até ali.
Agora era possível identificar de onde a voz saía. Ao fundo da câmara, no local menos iluminado estava uma porta recém escavada. Dentro da pequena sala só era possível avistar o pedaço de um móvel rústico que deveria ser uma cama.
Havia alguém se levantando dela. Agora um vulto se fazia visível, de pé, com as mãos apoiadas na parede e recortado pela fraca iluminação.
Ele esticou uma das mãos para que Hagrid fosse ajudá-lo e Harry então reconheceu de imediato aquela mão. Uma mão velha, enegrecida pela alta magia negra contida no Anel de Gaunt.
- Não é possível! – falou Harry mais alto do que pretendia.
Rony, Hermione e Gina também estavam espantados.
O homem deu um sorriso cansado e respondeu:
- Não só é possível como é real, Harry. Por favor, se aproximem, eu não tenho mais a mesma agilidade que antes.
Receosos de que tudo não passasse de um truque ou uma emboscada, eles deram passos vacilantes, enquanto Hagrid buscava uma cadeira bastante confortável para que Dumbledore se sentasse.
O velho bruxo se recostou às almofadas macias e deu um suspiro sentido.
- Não imaginam a saudade que eu senti da sua juventude – disse encarando um a um.
Agora não havia dúvida. Alvo Dumbledore estava mesmo ali, muito doente, mas ainda assim vivo! E sorria para eles.
- Diretor... – falou Hermione – como... como pode... como é possível? Harry viu a maldição ser lançada...
- Então mais alguém sobreviveu? – adiantou-se Gina – Harry não é o único?
- Uma coisa de cada vez, senhorita Weasley.
- O senhor não pode se cansar a toa – grunhiu Hagrid.
- Ora, Hagrid, não fique tão chateado. Esses jovens guerreiros destruíram tudo aquilo que punha em risco a nossa segurança e a integridade do nosso plano. Devemos agradecê-los como se deve. E eu começo pedindo desculpas a você, Harry.
O menino não respondeu. Estava emocionado demais, engolia as lágrimas e não queria que sua voz o traísse.
- Acho que dei muito trabalho a vocês, quando os tirei do conforto e segurança de suas camas para me seguir pelo castelo.
- Seguir o senhor? – espantou-se Rony.
- Sim, senhor Weasley! Eu que peguei os ingredientes na sala do professor Slughorn. Eu que usei a minha sala o tempo todo. E eu que entrei na Torre da Grifinória, revistei o malão de Harry e peguei o precioso Mapa.
A expressão no rosto de Harry mudou da emoção para a revolta. E ele estava a ponto de explodir como fizera com Hagrid minutos antes.
- Não se zangue mais que o necessário, Harry! – suplicou o diretor – Eu só fiz o que achei que traria mais segurança para vocês. Acreditei que sem o Mapa vocês não se atreveriam a sair pelo castelo atrás de mim ou de qualquer outro problema.
- Nós não avistamos o senhor no mapa – informou Rony.
- Ah, com certeza que não. Eu disse ao Harry uma vez, há muito tempo, que possuo meus próprios métodos para me tornar invisível. E essa invisibilidade é mais eficiente que a da capa.
Ele respirou fundo e fez mais um gesto para Hagrid. O meio gigante atravessou a câmera com três passos e alcançou um outro compartimento. Tirou de lá um frasco de vidro e o entregou ao ex-diretor que bebeu o conteúdo de um único gole.
Fechou os olhos e pareceu dormir. Os quatro amigos se agitaram sem saber o que fazer, mas Dumbledore abriu os olhos novamente e pediu:
- Agora, tenham a bondade de me contar como chegaram até aqui e como conseguiram fazer Voldemort se aproximar mais da humanidade.
Hermione fez um gesto e diante da aprovação dos demais começou a contar toa a história a respeito do ataque ao castelo, a visão de Harry e como eles fizeram para entrar na floresta. Após narrar a parte dos comensais, ela contou como Rony deu fim a vida da cobra Nagini.
O rapaz ficou envergonhado e escondeu a cabeça entre os braços que estavam cruzados sobre os joelhos. Era constrangedor assumir para Dumbledore que ele foi capaz de executar a pior das maldições imperdoáveis.
- Eu fico muito preocupado com a natureza desse ataque, apesar de saber o que eles realmente pretendiam. Mas fico muito satisfeito de saber que vocês são bons. Não bons em feitiços, mas na alma. A sua vergonha, senhor Weasley, é a prova disso. Vocês têm a capacidade de conjurar qualquer feitiço. Mas sentem aí dentro – disse apontando para o coração de Rony – o quanto isso é doloroso.
- Mas eu queria que ela morresse. Queria que ela fosse destruída! – falou o rapaz ainda abalado com sua atitude.
- Pelo que eu entendi, o senhor apenas quis salvar a vida de seu melhor amigo. E aproveitou para se vingar do que aquele ser fez ao seu pai.
Ele balançou a cabeça afirmativamente.
- Então saiba, meu rapaz, o que torna as maldições realmente imperdoáveis é o fato de usá-las pela simples vontade de matar. Não é o fim em si que faz da maldição uma habilidade tão repudiável. É o que precede a maldição. É o que impulsiona o bruxo. Fique tranqüilo, sua varinha não foi maculada. Muito menos sua honra.
Rony deu um suspiro aliviado. Se Dumbledore dizia, então ele acreditava e agora sentia seu coração se livrar de um peso inútil.
- Agora quanto as suas visões, Harry... Poderia detalhá-las para mim?
Harry contou tudo o que lembrava e quando mencionou a parte em que Voldemort se preparava para beber sua alma, Dumbledore deu outro suspiro, mas este agora era de satisfação.
- Isso é ótimo!
- O que é ótimo, senhor? – perguntou Gina.
- É ótimo saber que a ligação entre Harry e Voldemort se ampliou. Mas não se apavore – pediu vendo um brilho de pânico passar pelos olhos do rapaz – Isso significa que você não só consegue saber o que se passa na mente de Voldemort, mas também consegue entender as outras utilidades que ele deu para suas horcruxes.
“Você percebe, Harry, que você passou por dentro de duas e, se eu não estiver enganado localizou o local que a terceira está escondida?”
“Você já cavalgou a mente de Nagini uma vez. Agora, conseguiu cavalgá-la novamente, ao mesmo tempo que se viu dentro da taça de Helga. Não era você que Voldemort segurava, era a taça. Agora se puder concluir o raciocínio...”
- Eu posso penetrar mentalmente nas outras horcruxes e identificar o lugar em que elas estão.
- Exato! E isso é maravilhoso! Por que se você conseguir fazer outra viagem desse tipo, poderemos localizar todas as horcruxes.
- Mas eu não... quer dizer nunca foi uma coisa controlada, senhor.
- Eu sei disso, Harry – respondeu numa voz quase paternal – E foi exatamente por isso que eu me esforcei tanto para não morrer. Agora vocês precisam ir. O dia raiou há pouco e eu preciso muito descansar.
- Mas, senhor – chamou Harry – não vai nos explicar? Pelo menos o que aqueles comensais tanto queriam nesse local! Eles sabiam que o senhor estava aqui?
- Não Harry, ninguém, além de Hagrid, e agora vocês, sabe que eu estou aqui. Nem podem ficar sabendo! Eles só querem recuperar um outro corpo incorruptível, que está guardado sob a lápide branca. Agora, nos vemos daqui uns dias... Eu vou precisar recuperar minhas forças para continuarmos nossa conversa.
Sem que mais nada fosse dito, Hagrid levantou a cadeira com o professor sentado e a levou para dentro da saleta. Eles tiveram a impressão que Dumbledore adormecera antes de ser içado pelo fiel amigo Rúbeo Hagrid.
Depois que se certificou que o ex-diretor estava bem acomodado, Hagrid conduziu o grupo para fora da catacumba e os levou até o outro lado da Floresta.
- Neste ponto é permitido aparatar – informou – Uma suspensão necessária que Dumbledore colocou para podermos fazer as coisas mais rápido.
Gina foi primeiro, seguida de Hermione e Rony. Harry ficou para trás e antes de ir olhou para Hagrid e disse:
- Desculpa! É que... tudo isso... você entende, né?
- Entendo – respondeu o guarda-caça atrapalhando mais ainda o cabelo do rapaz.
Harry rodopiou sobre os calcanhares e instantes depois chegou no jardim da Toca. E deu de cara com um Sr° Weasley muito preocupada e uma Srª Weasley mais brava do que ficava com Fred e George.

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