Para Aonde Ir?



Os últimos acontecimentos em Hogwarts tiveram um peso além do que todos imaginaram. Sem que um soubesse o que se passava na mente dos demais, os quatro bruxos mais unidos da escola, Harry, Gina, Mione e Rony, tomavam suas decisões intimamente.
A escola, como havia dito a professora McGonagal após a cerimônia funerária de Dumbledore, seria fechada a decreto do Ministério, até que todos os sistemas de defesa do castelo fossem refeitos e devidamente testados.
Para a maioria dos alunos isso significava praticamente um mês de férias antecipada. Mas para aqueles jovens amigos, a situação seria bem diferente. Nenhum dele pretendia regressar à escola quando o verão acabasse. A missão deixada por Dumbledore precisava ser cumprida se quisessem que o mundo bruxo voltasse a ter paz.
Os meninos subiram para o dormitório e se preparavam para arrumar as malas antes de deixarem Hogwarts pela última vez.
Harry despejou tudo o que tinha em seu malão e começou a ordenar as coisas por ordem de prioridades. As que ele considerava um tesouro ficariam por cima, enquanto as demais poderiam ser jogadas de qualquer jeito ao fundo da mala.
O rapaz nada dizia e Rony respeitava o silêncio do amigo. Entendia que a dor de Harry era profunda demais. Ele foi o único que presenciou a morte do único bruxo que poderia colocar alguma limitação às ações d’Aquele-que-não-deve-ser-nomeado.
A mala do jovem Weasley estava quase pronta quando ele ouviu Harry dar um soco na tampa do malão.
- Não acredito! Eu ainda não acredito! Não pode ter sido assim! – berrava Harry.
Rony correu para o amigo e aproveitando-se de sua estatura maior que a de Harry, abraçou o amigo com força e o fez se acalmar. Colocou-o sentado na cama e o encarou, esperando que ele falasse alguma coisa.
- Desculpe, eu... perdi o controle... – falou Harry sem graça.
- Não tem que se desculpar de nada. Você precisava desabafar... Só isso!
- Eu ainda não consigo acreditar, Ron. Não podia ser tão fácil matar Dumbledore. Quer dizer, ele era Dumbledore, não é mesmo? – falou Harry frisando bem o nome do diretor.
- Eu sei que parece ser impossível, Harry. Mas aconteceu. Você viu acontecer.
Harry concordava balançando a cabeça. Mas parecia que alguma coisa estava faltando. Dumbledore nunca o abandonara antes. E agora, com todas as novas informações, com o desaparecimento de uma das horcruxes e aquele bilhete...
- Olha – chamou Rony – a gente precisa terminar isso. O trem parte em menos de uma hora.
Harry olhou todas as suas coisas espalhadas pelo chão. Voltou para elas e tacou no fundo do malão as roupas de inverno e o uniforme de Hogwarts, que ele não precisaria tão cedo, os livros da escola, assim como os pergaminhos, vidros de tintas e tudo o mais que tivesse a ver com as aulas. Por cima, foram colocados o uniforme do time de quadribol, a capa da invisibilidade, o espelho que ganhara de Sirius, o kit para cuidar de sua vassoura, alguns bilhetes de Gina e o Mapa do Maroto.
- Harry, você estava esquecendo sua varinha – falou Rony enquanto pegava o objeto e passava para o amigo.
Mas ele nem se mexeu. Alguma coisa naquela frase fez Harry pensar em uma possibilidade. Mas ele não conseguia formular os pensamentos muito bem. Começou a olhar da varinha para Rony e de Rony para a janela, como se quisesse encontrar alguma coisa perdida no ar no meio de toda confusão.
Ele teria continuado ali se Lupin não tivesse entrado no dormitório e os chamado para descerem. Só faltavam poucos alunos e o Expresso de Hogwarts não costumava se atrasar.
Harry enrolou o resto das coisas numa velha toalha e finalmente fechou o malão. Eles desceram e encontraram Mione, Gina e Neville esperando por eles em frente ao retrato da Mulher Gorda.
- Você está melhor? – perguntou a jovem namorada de Harry.
- Acho que sim... – respondeu indeciso – só que...
- Só que o quê? – perguntou Mione, que ainda tinha os olhos inchados de tanto chorar.
- Eu tenho uma sensação esquisita, de que estou deixando escapar alguma coisa – respondeu sem muita convicção.
Ninguém falou nada e eles seguiram para o trem. No meio do caminho, Rony fez a pergunta decisiva:
- Um mês a mais na casa daqueles trouxas... Será que você vai agüentar?
Todos olharam para Harry esperando a resposta. Sabiam o quanto ele detestava aquela casa, e ter que aturar seus tios e seu primo após passar por tudo o que passou seria uma prova e tanto para Harry. O que o rapaz precisava era de sossego e paz.
- Eu não vou para lá – respondeu baixo sabendo que isso assustaria os amigos.
- Que história é essa, Harry? – adiantou-se Mione – Você precisa ir para lá, lembra? Uma vez por ano até completar 17 anos para estar protegido de Você-Sabe-Quem.
- Eu sei que isso faz parte do acordo mágico feito por Dumbledore e minha tia – respondeu exasperado – mas teoricamente, este mês ainda é período de aula, certo? Então, seria o mesmo que ficar aqui em Hogwarts.
- Mas aqui você sempre teve... – Mione recomeçou a falar, mas parou bruscamente.
- Pode continuar, Mione. Você ia dizer que eu sempre tive a proteção de Dumbledore. Certo, concordo com você. Mas Dumbledore morreu a noite passada, e agora tanto faz eu estar aqui, na casa dos meus tios ou em qualquer lugar. Quem me garante que o acordo não deixou de existir depois que ele morreu?
- Está bem – concordou Mione ao final – mas para onde você vai?
- Quer vir conosco para A Toca? – perguntou Rony animando-se com a idéia de poder ajudar o amigo a sair da tristeza em que se encontrava.
- Não, obrigado, Ron. Mas prefiro ir para a sua casa depois do meu aniversário. Sua mãe vai ter muito o que fazer com a proximidade do casamento do Gui.
- Então, para onde vai? – perguntou Neville que estivera calado até aquele momento.
- Vou para a casa de Sirius – sentenciou Harry.
Todos ficaram em silêncio. Um silêncio profundo o bastante para que não percebessem a aproximação de mais alguém.
Por fim, Gina quebrou aquele gelo e perguntou:
- Mas você vai ficar bem lá? Digo, será que tem comida, água, essas coisas... Além disso, vai ficar sozinho esses dias todos? Sem ninguém para conversar...
- Não vai ser fácil, – admitiu o rapaz – mas eu preciso fazer isso. É como se só assim eu fosse entender, notar algum detalhe que tenha passado despercebido, não sei. Mas é o que sinto que tenho que fazer.
Eles embarcaram no trem e seguiram a viagem cada um imerso em seus próprios pensamentos.
A solidão era uma coisa que Harry não gostava. Havia passado tempo demais sozinho, praticamente toda sua infância já que não tinha amigos. Agora havia se acostumado a estar rodeado de pessoas interessantes.
Começou a pensar em como conheceu Rony e o que fez com que eles ficassem tão amigos. Como Mione apareceu com sua inteligência e raciocínio rápido. E como Gina entrara em sua vida de um jeito tão simples e perfeito.
Ele olhava a garota que havia adormecido a sua frente, encostada no ombro do irmão. Uma vontade de ir para a Toca só para ficar perto de Gina tomou o coração do rapaz, mas ele não podia se dar a esse capricho. Não naquele momento. Quando completasse seus 17 anos iria imediatamente para lá e, quem sabe, pensou Harry, pudesse haver uma chance para eles.
Durante todo o trajeto Harry remoeu cada passo dado nos últimos dias. Entre esses pensamento, olhava Gina ainda adormecida e voltava a raciocinar tudo o que tinha acontecido.
Assim, ele não reparou o quanto Rony olhava Mione que, sentada ao lado de Harry, não desgrudava os olhos de um livro.
O jovem ruivo já havia reparado nela antes. Muito antes, pensava ele, logo que ela foi atacada pelo Basilisco. Sem que ninguém soubesse, ele corria até a ala hospitalar só para vê-la.
Aqueles cabelos desgrenhados, a cara de intelectual... E no baile do Torneio Tribuxo, quando ela desceu as escadas, perfeita num vestido de festa. Os cabelos arrumados e o sorriso... Ah que sorriso!
Rony suspirou fundo e todos despertaram de seus pensamentos e olharam para o rapaz. Até Gina, que dormia em seu ombro, acordou.
- Algum problema? Você está bem? – perguntou a garota ao irmão que tinha o rosto muito vermelho, como se refletisse a cor de seus cabelos.
Ele ficou constrangido e disse que precisava beber algo. Saiu da cabine que ocupavam e andou um pouco, parando logo em seguida.
Ninguém poderia saber de nada. Tirariam sarro da cara dele. Logo Mione, imagine, uma bruxa como ela, que já namorara Vitor Krum, jamais daria atenção a ele.
Rony deu um salto quando sentiu uma mão lhe tocar o ombro. Era a amiga que tinha saído atrás dele para ver se podia ajudar.
- Nossa, você parece muito assustado! Tem certeza que está bem?
- Tenho... – respondeu o rapaz ficando novamente vermelho – tenho sim... Acho, acho que foi a tensão de tudo o que aconteceu.
Os dois ficaram em silêncio no corredor. Começava a escurecer as luzes do Expresso eram acessas aos poucos. Por fim, Mione disse:
- Tem, tem uma coisa que preciso falar com você!
Ela parecia sem jeito, meio embaraçada até. O coração do rapaz disparou e ele sentiu como se tivesse engolido uma das rosquinhas preparada por Hagrid.
- Bom, eu vou direto ao assunto – ela respirou fundo e falou – você acha que pega muito mal se eu for para o Largo Grimmauld com o Harry?
Rony de vermelho passou a um branco cadavérico. Se não tivesse encostado à parede do vagão, poderia até ter caído.
Mione vendo a cara de espanto do amigo, completou:
- Ah, bem... Eu sei que você deve estar estranhando, mas, sabe, eu pergunto isso por causa da sua irmã. Será que ela vai se importar? Eu não quero deixá-lo lá, sozinho! E meus pais também estão viajando. Foram para uma conferência sobre Ortodontia na América do Sul.
Rony tentou engolir o que estava parado em sua garganta: a frustração. Por um breve instante acreditou que talvez Mione fosse lhe dar alguma esperança. Ela chegou tão de mansinho... Mas aí veio o balde de água fria!
- E então? – insistiu a garota.
- Não creio que ela vá se chatear com você, Mione. Afinal, ela e o Harry decidiram que não ficariam juntos.
Rony estudou a reação da jovem bruxa ali a sua frente. Esperava ver um brilho de alegria em seu olhar, mas ela desviou o rosto como se tivesse vergonha de olhar para ele.
Os dois voltaram para a cabine. Mione chamou Harry para uma conversa e logo eles voltaram com tudo acertado. A princípio Harry não tinha concordado em levar Mione junto, mas diante dos argumentos da menina, ele não teve escolha.
- Eu sei que você precisa ficar sozinho – disse ela – mas eu não tenho para onde ir. Até poderia ir pra casa, mas não me agrada a idéia de ficar lá, sem ninguém por perto.
- E por que você não vai para a Toca com Gina e Rony?
A pergunta pareceu ofender Mione, que olhou de lado e respondeu com os lábios tensos e um brilho nos olhos que Harry poderia jurar que era uma lágrima:
- Porque não quero ser um estorvo para ninguém lá!
Havia alguma coisa na voz da menina que Harry não conseguiu identificar. Nos últimos dias Mione ficava cada vez mais esquisita.
Gina não escondeu sua decepção quando soube os amigos iam dividir a casa do Largo Grimmauld por quase um mês. Os dois ali, sozinhos, longe de feitiços que proibiam os rapazes de entrarem no quarto das moças. Longe dos olhares supervisores dos bruxos adultos. Da vigília constante dos quadros.
O ciúme começou a crescer dentro dela, mas ela nada podia fazer. A decisão de não ficarem juntos, ela e Harry, tinha sido tomada pelos dois. Ela não poderia exigir nada do garoto agora.
Quando o Expresso de Hogwarts chegou a estação de King’s Croos, os quatro desembarcaram e se despediram com um “Até logo” mal pronunciado. Sabiam que se encontrariam em breve, que precisavam uns dos outros para cumprir o desejo de Dumbledore, mas ainda assim, aquela foi a despedida mais fria entre eles.

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