O Nome do Morto



Exatamente como Harry previra, o sono custou a vir. Ele se levantou da cama várias vezes. Ia até a janela, observava o terreno de Hogwarts que estava visível e voltava para a cama. Abria o mapa, revia cada sala e verificava quem estava dormindo.
Eram mais de duas da manhã e a única criatura que passava vez ou outra pelos corredores do castelo era a Madame Nora, a gata de Filch.
Quando Harry finalmente adormeceu teve um sonho muito agitado. Ele corria com os amigos como fizera algumas horas mais cedo. Mas quando chegavam na sala de Dumbledore, percebiam que não estavam mais lá.
O lugar agora era a torre onde o ex-diretor fora assassinado. Harry assistia a cena de fora, junto com Rony e Gina. Ao assistir a cena daquela perspectiva ele teve a sensação de estar usando um vira-tempo.
Harry reviu quando Snape puxou a varinha e se preparou para conjurar a maldição. Olhou desesperado para Dumbledore e reparou num detalhe que ele não havia notado antes. A varinha do diretor estava diferente. Dumbledore costumava usar uma varinha curta, de uma madeira cor de mel. Aquela era mais comprida, parecia pesada na mão do diretor e era de madeira escura.
Ele se virou para falar com os amigos, mas como estes tentavam sair dali, Harry correu atrás e acabou caindo da cama.
Levantou assustado, olhando para os lados como se esperasse ver um bando de comensais ali. A única coisa que notou foi que Rony não estava na cama.
Olhando com atenção, ele percebeu que a capa da invisibilidade não estava sobre o malão como deixara antes de deitar.
- Aposto que ele foi ver a Mione – disse Harry se jogando na cama e finalmente conseguindo dormir.
A manhã chegou com muito frio e vento. A tempestade da noite anterior havia se transformado num dia escuro e chuvoso. Os trovões não faziam mais tanto barulho e Mione parecia bem mais calma.
- Virei a noite lendo o livro! – informou mais bem humorada.
- Aposto que o Rony ajudou – brincou Harry.
- Muito! – respondeu ela sem entender a brincadeira – Algumas partes estavam difíceis de entender. Sabe como é, escritas a mão e numa letra não muito bonita.
- E o que falava o livro? – perguntou Neville chegando para o café.
- Basicamente sobre rituais de magia. A única parte ruim é que não podemos realizar nenhum deles. Quero dizer, eu e Gina não podemos realizar. As magias druídicas foram feitas para homens.
- Tinha alguma coisa relacionada com as horcruxes? – perguntou Gina sussurrando.
- Ainda falta uma boa parte do livro para ler, mas até agora eu não encontrei nada!
Eles saíram do salão para a primeira aula e Harry puxou Rony para falar com ele a sós.
- Você já contou para ela do que vimos ontem?
- Ainda não. Achei que talvez você quisesse contar.
- Seria bom se todos fôssemos juntos para a Sala Precisa a tarde para discutir isso. Até lá, não fale nada. Agora eu vou correr para alcançar a Gina e pedir segredo também.
Harry apressou o passo e segurou a garota pelo ombro.
- Posso falar com você?
- Eu tenho aula agora, Harry.
- Sei disso, mas é no caminho da minha aula também.
- Então, tudo bem!
- Só queria pedir que você não comentasse sobre ontem com ninguém. Pelo menos por enquanto é bom manter segredo. A tarde vamos nos reunir.
Ela concordou com a cabeça e adiantou-se para encontrar Luna e irem juntas para as aulas. Harry ficou vendo a jovem ruiva se distanciar. Nem de longe, pensou ele, o que sentia por Gina se parecia com a atração que tivera por Cho no passado.
Cho era visivelmente bonita. Seus olhinhos puxados chamavam a atenção dos garotos. Mas Gina era diferente. Não tinha uma beleza comum. Tinha garra, determinação, uma força interior e uma desenvoltura que faziam o coração de Harry disparar.
Cada vez que reparava na irmã de seu melhor amigo sentia as borboletas no estômago e muitas outras coisas que preferia que Rony não soubesse. Certamente, ele levaria uma bela e merecida surra do amigo.
As corujas, aquele dia, só chegaram na hora do almoço devido ao mau tempo. Hermione recebeu uma edição do Profeta Diário com notícias muito alarmantes.
- Vejam só isso – chamou a garota – pelo visto, toda essa tempestade não é natural! Não se sabe ao certo, mas parece que alguns comensais resolveram brincar de “senhores do tempo” e fizeram uma verdadeira bagunça. O Ministério acredita que eles estão tentando impedir os bruxos de saírem de casa.
- Que loucura! Qualquer bruxo pode sair aparatando – falou Luna.
- Menos nós... – raciocinou Harry.
- De qualquer modo, a gente não ia sair mesmo, certo? – ajuntou Rony.
- A não ser que isso seja para nos impedir de ir atrás do intruso – disse Gina.
- O intruso voltou? – perguntou Mione?
- Olha, a gente te explica isso a tarde, lá na Sala Precisa. Às cinco todo mundo já está livre, certo? – perguntou Harry.
Tudo acertado eles continuaram comendo quando Mione chamou mais uma vez.
- Tem outra coisa interessante. O Ministério deu batida na Travessa do Tranco e fechou todas as lojas por lá.
Uma luz surgiu na cabeça de Harry.
- Então é isso que a Sala quis dizer!
- O quê? Do que você está falando, Harry? – perguntou Neville.
Harry explicou a Neville e Luna o que tinham ido fazer na Sala antes e por fim falou aos amigos:
- Vocês viram um enorme guarda-roupa escuro que estava lá na Sala quando ela revelou o melhor lugar para reunir a Armada?
- Sim, claro! Você até pegou um livro lá perto! – respondeu Gina.
- Aquele armário faz par com outro numa loja cheia de artefatos malucos na Travessa do Tranco. Vai ser perfeito! Com a Travessa interditada, nós podemos chegar até lá pelo armário e o resto da Armada que não está mais em Hogwarts pode aparatar. Só precisamos avisá-los.
- Vamos avisar só Angelina e pedir que ela avise o resto. Assim, poupamos nosso tempo com o mistério do intruso – sugeriu Mione.
Quando a tarde chegou Mione já estava de mau humor tamanha era sua curiosidade para saber o que haviam visto na sala de Dumbledore.
A Sala precisa surgiu com seus móveis velhos e logo a garota já se acomodava num sofá com o estofado corroído por traças. Ela conjurou um lençol, jogou por cima e sentou. Rony disfarçou um pouco e foi sentar ao lado da garota.
Se aqueles tempos fossem diferentes, pensou Harry, ali estariam três casais de amigos fugindo do Filch para namorar.
- Que sorriso é esse? – perguntou Gina.
- Nada – respondeu desconcertado – só estava pensando que as coisas começaram a se encaixar.
- Agora vamos parar de enrolação e contar logo o que vocês viram de tão estranho assim?
Rony narrou os fatos rapidamente, Mione ficou chocada, Neville parecia que ia desmaiar e Luna continuou brincando com uma mecha de cabelo.
- Entendeu a nossa preocupação agora? Digo, ele morreu, certo? E ao que tudo indica não virou fantasma. E mesmo que tivesse virado fantasma, por que viria para Hogwarts? – desabafou Gina.
- Bom, mas vocês têm certeza que ele morreu? – perguntou Mione.
- Foi Dumbledore quem disse – respondeu Harry.
Ela levantou da cadeira e começou a andar de um lado para o outro e por fim falou:
- Não sei o que podemos fazer. Acho que por enquanto, temos que verificar se ele realmente está morto.
- E se ele não estiver, temos que descobrir por que mentiu esse tempo todo e o que estava fazendo aqui no castelo – assomou Neville ainda arrepiado com as inúmeras possibilidades que aquela situação apresentava.
- Vou checar na biblioteca se tem algum registro sobre isso – informou Mione.
- Mas será que já tem algum livro com isso? – perguntou Harry.
- Livro eu duvido, mas com certeza a escola tem um acervo de jornais onde guarda todas as edições do Profeta Diário.
- Você vai precisar de muita paciência – falou Harry saindo da Sala – Afinal, são anos e anos de pesquisa.
- Tem razão! Acho que vou precisar de ajuda... – suspirou cansada.
- Se quiser – começou Rony – eu ajudo você.
- Seria ótimo! – respondeu a menina um pouco mais animada – Você não quer vir também, Harry?
Ele olhou para ela e depois para Ron.
- Não, vou cuidar de outras coisas – desculpou-se.
Os dois amigos foram direto para a biblioteca enquanto Harry foi com Gina e Neville para a torre da Grifinória, após deixarem Luna no Salão Comunal da Corvinal.
Eles discutiram algumas coisas, tomaram banho e quando desceram para jantar Mione e Rony voltavam da biblioteca com pilhas e pilhas de pastas amareladas.
- O que é tudo isso? – perguntou Neville.
- Dever de casa! A Madame Pince nos deixou trazer esses exemplares, já que Mione sempre cuidou tão bem dos livros e até restaurou alguns – explicou Rony. – A propósito, Harry, será que você me empresta sua capa de novo? A gente combinou de estudar na enfermaria...
- Não sei, Ron. Acho que vou precisar dela hoje. Tem uma coisa que eu quero fazer.
- Se você quer ir para a enfermaria, eu dou um jeito nisso – falou Gina levantando.
- Ei espere! O que vai fazer? – desesperou-se Rony que conhecia bem o temperamento da irmã.
- Pare de ser medroso e enfia essa bala na boca. Seu estômago vai doer um bocado, quando estiver lá é só comer essa outra aqui e pronto. Ganhei isso do Fred e do George antes de irmos para o trem.
Rony engoliu a balinha azulada rapidamente e logo estava gemendo de dor. Harry poderia ser capaz de jurar que os olhos do jovem até se encheram de lágrimas.
O importante é que dera certo e ele poderia passar a noite na enfermaria com a Mione. E Harry teria a capa para fazer uma loucura.
Quase todos já haviam deixado o salão Comunal da Grifinória, antes de subir para o dormitório Harry passou pela poltrona em que Gina estava sentada, lendo um livro, e jogou no colo da garota um pedaço de pergaminho amassado.

Me encontre a meia noite. Preciso que venha comigo! Não conte para ninguém!

H.P.

Ela não questionou nada. Quando deu meia noite e dez minutos, Harry achou que a menina não viria mais. Já se preparava para sair quando ouviu passos nas escadas. Gina chegava apressada, vestindo um blusão de lã tricotado pela Srª Weasley. Não tinha um G como era de se esperar. Tinha um grande P estampado. Além do blusão, ela vestia uma calça de ginástica e tênis.
Vendo a expressão de surpresa de Harry, ela explicou:
- Essa blusa era do Percy... Sempre peguei as blusas dele para dormir. Ele fingia se irritar com isso, mas quando ele brigou com o papai e foi embora... Bem, ele deixou essa blusa embrulhada sobre a minha cama. Minha mãe nem sonha que eu a tenho.
A revelação da garota a fazia parece frágil e desprotegida. Harry sentiu vontade de deixar de lado o que tinha em mente e correr a abraçá-la. Mas foi a própria garota que tirou o rapaz de seus devaneios.
- Aonde vamos? – perguntou interessada.
- Olha, não sei se vai topar. Mas eu queria dar uma checada lá na Sala Precisa e depois na Travessa do Tranco. Se não quiser ir, eu entendo. Mas achei que você seria mais corajosa que o Neville.
Ela riu do comentário, pegou a varinha, amarrou os cabelos e falou:
- Então, se eu sou tão corajosa assim, vamos nessa!
Eles correram pelos corredores e em menos de 15 minutos alcançaram o sétimo andar. A sala estava do jeito que eles deixaram e até o lençol que Mione conjurara a tarde continuava sobre o sofá.
Harry abriu a porta do armário, entrou e estendendo a mão para Gina, disse:
- Tem certeza?
- Absoluta – respondeu a garota pegando a mão do rapaz e entrando no armário em seguida.
A sensação era estranha. Não havia luz ali dentro e ambos temiam conjurar qualquer iluminação. O caminho que percorriam era escuro, úmido e frio. Vez ou outra um leve vento, vindo de não se sabe onde, batia no rosto dos dois.
Eles andaram muito até avistar uma fraca iluminação. Caminharam com cuidado, prontos para atacar o que aparecesse na frente.
Não foi preciso. Eles chegaram na loja de artefatos “suspeitos” da Travessa do Tranco. A mesma loja que vendera o colar amaldiçoado a Malfoy.
A loja estava trancada por fora não só com chaves, mas com feitiços. Um grand letreiro afixado pelo Ministério da Magia dizia em letras brilhantes e em várias línguas:

Território interditado a mando do Ministério da Magia
Lojas sob tutela dos aurores até que tudo esteja revistado.
Artefatos que remetam a Vocês-sabem-quem serão confiscados e devidamente destruídos.

- Vamos dar uma geral nessa loja – chamou Gina.
- Cuidado! – pediu Harry – Aqui tem umas coisas que não sabemos para que servem.
Eles checaram tudo o que havia por ali. Os objetos eram no mínimo assustadores. Cabeças encolhidas de elfos e outras criaturas, colares com pedras que pareciam vivas, caixas com etiquetas que aconselhavam a manter as mãos bem longe dali.
Numa estante afastada e escondida no porão da loja, eles encontraram vários livros de magia negra ou maldosa. Alguns continham feitiços simples, como “Faça a língua do professor cair durante a aula”. Mas outros eram bem elucidativos quanto a rituais macabros, que envolviam, inclusive, sacrifícios de animais e até mesmo de pessoas.
- Esse livro – disse Harry – fala sobre inferis.
- Você vai levá-lo para Hogwarts? – perguntou Gina preocupada.
- É melhor do que ficar vindo aqui toda hora para ler – respondeu decidido enquanto guardava o exemplar dentro do bolso do blusão de moletom.
Havia ainda, atrás da loja, uma grande sala com o chão de pedra bruta. As fases da lua estavam desenhadas no teto, assim como várias constelações.
- Que sala é essa? – perguntou a menina.
- Parece uma sala de duelos – comentou Harry.
- É um bom lugar para praticarmos feitiços – observou a jovem bruxa.
- Acho que encontramos nossa sede. Agora é bom voltarmos, antes que alguém repare que não estamos no castelo!
Eles se embrenharam novamente pelo corredor escuro e úmido que ligava um armário a outro. Andaram o mais rápido que conseguiram e mesmo assim, quando estavam quase no retrato da mulher gorda, foram pegos por Filch.
- Acho que vocês não têm aulas de astronomia até essa hora, Sr. Potter – falou o zelador com um sorriso malvado.
Filch adorava flagrar os alunos em situações que eram consideradas erradas dentro de Hogwarts. Para ele, a idéia de que cada aluno pudesse sofrer um castigo era como uma desforra. Se ele tivesse nascido com magia, se não fosse um aborto, se tivesse a oportunidade de ter estudado em Hogwarts teria respeitado aquilo ali como um santuário. Era incrível, pensava ele, como aquele bando de adolescentes não via a sorte que possuía.
Ele levou os dois garotos para baixo. Não sabia se deveria acordar a Professora McGonagal ou um dos conselheiros. Optou pela primeira, já que sabia que ela não se incomodava quando ele a procurava para deter algum aluno infrator.
Ele bateu na porta do quarto da professora e esta atendeu pouco depois, envolta num enorme roupão verde abacate. Os cabelos estavam presos numa trança e os olhos da professora indicavam que ela também não havia pregado os olhos até aquela hora.
- Filch, qual o... – ela parou de falar assim que viu Harry e Gina atrás do zelador.
- Potter, Srtª Weasley! O que fizeram desta vez?
- Eu os encontrei fora do dormitório, professora. Achei que gostaria de saber.
Ela olhou a cara de Filch. Seus olhinhos de aborto brilhavam esperando a punição.
- Eu cuido deles agora, Filch. Pode deixar que eles vão receber o que merecem!
O zelador saiu contente, imaginando qual castigo cruel a professora daria a eles. Enquanto eles sofriam, ele continuaria vigiando tudo.
- Muito bem, vocês dois, já para dentro – disse a professora entrando em seu quarto.
Eles nunca estiveram nos aposentos pessoais da diretora da Grifinória antes. Tudo era muito bem organizado. Os livros dispostos nas prateleiras, a cama com os cobertores dobrados, os travesseiros afofados. Uma mesa, com três cadeiras, exibia um lindo vaso de cristal com uma única rosa branca dentro.
Não havia quadros ou porta-retratos no aposento. A professora fez um gesto com a varinha e logo duas xícaras apareceram sobre a mesa.
- Estava tomando um chá, se quiserem me acompanhar, sirvam-se.
Eles não esperavam por aquela reação. Sem saber o que fazer, pegaram as xícaras, serviram o chá e sentaram nas cadeiras.
- Agora, onde vocês estiverem esta noite?
Gina olhou para Harry. Seria arriscado dizer que estiveram na Travessa do Tranco. Com certeza McGonagal faria de tudo para retirar um dos armários do lugar e impedir os garotos de usarem.
- Fomos ver Mione e Rony – respondeu Gina apressada.
A professora os olhou desconfiada. Levantou da mesa com calma e se aproximou de Harry. Antes que ele pudesse reagir ela enfiou a mão no blusão do garoto e retirou o livro de lá.
- Interessante... Você nunca apreciou os livros, Potter! – ela observou o título do livro e com cara de espanto completou – Ainda mais uma literatura dessa qualidade. Digam, onde conseguiram isso! Não faz parte do acervo da biblioteca da escola.
A professora parecia cada vez mais preocupada e nervosa, sacudia o livro na frente deles e Harry chegou a acreditar que ela iria perder o controle se ele não desse uma resposta convincente.
- Eu comprei! – disse tentando parecer firme – Comprei para tentar entender o que aconteceu com a Mione naquele lugar.
- Ah, então quer dizer que você comprou um livro de magia negra avançada na Floreios e Borrões? – o tom cínico na voz de McGonagal não era um bom sinal.
- Eu não comprei na Floreios!
- Então, você comprou de quem? Seria muito interessante saber que tipo de gente anda por aí vendendo material das trevas, já que todas as lojas desse tipo de artigo foram interditadas pelo Ministério...
Harry olhava desesperado para Gina. Precisava de uma boa desculpa ou McGonagal poria todos os planos deles por água abaixo.
- Vamos, Potter! Eu não tenho a noite inteira!
- Comprei do Mundungus – falou Harry.
McGonagal parou de agitar o livro na mesma hora.
- Encontrei com ele no Beco Diagonal, antes de virmos pro castelo. Estava comentando com Gina o que Mione nos contou e ele ouviu. Estava sentado na calçada e nós nem percebemos que ele estava por perto. Ele se intrometeu na conversa.
- É, professora – disse Gina entrando na mentira do rapaz – Harry quase bateu nele. A senhora sabe que Harry e Mundungus não se dão desde que Sirius, bem... Enfim, Mundungus disse quase implorando que poderia ajudar, que tinha “encontrado” um livro sobre isso.
- Eu não ia desperdiçar a chance de descobrir o que estavam fazendo com todos aqueles inferis, não é mesmo. Assim disse que queria o livro. Paguei dois galeões por ele. A gente saiu da sala para poder ler sem que ninguém interferisse, entende? Seria arriscado ler um livro desse perto de alunos que nada sabem da história.
McGonagal estava confusa. Aquela história parecia uma mentira deslavada, mas encontrar um livro daqueles era realmente necessário.
- Vou fingir que acredito em vocês desta vez. Mas só desta vez, está bem? E amanhã, vocês dois vão cumprir detenção. Já que estão tão interessados em livros assim, vão ajudar a Madame Pince a tirar o pó e organizar algumas seções na biblioteca. Agora tratem de ir para cama.
Os dois subiram correndo para a Torre da Grifinória. Disseram a senha e a mulher gorda, apesar do mau humor de ser acordada àquela hora os deixou entrar.
Harry se jogou no primeiro sofá que encontrou no salão Comunal. A correria, a grande quantidade de informações, a conversa com McGonagal... Tudo fez com que ele se sentisse exausto. Mal se sentou no sofá e sentiu a cabeça explodir. Ele deve ter feito uma careta muito feia, pois logo Gina se aproximou perguntando:
- Algum probelma?
- Uma dor de cabeça, só isso!
- Uma dor “daquelas”? – perguntou preocupada.
- Não, não! Uma dor comum... Acho que foi coisa demais para apenas três horas. – respondeu o rapaz enquanto tirava os óculos e massageava as têmporas.
- Deixa que eu faço isso – pediu Gina, segurando a cabeça de Harry e fazendo ele se deitar numa almofada que ela colocou sobre o colo.
O rapaz se deixou levar pela garota. Deitou na almofada de veludo mostarda, e respirou fundo. As mãos de Gina estavam frias e o contato delas com a testa fervendo de Harry proporcionaram um certo alívio ao rapaz.
Ele começou a relaxar e a dor foi suavizando aos poucos. Ficara ali uns 15 minutos, e quando finalmente conseguiu pensar em alguma coisa, não foi no livro sobre inferis, no intruso do castelo ou mesmo no nome absurdo escrito no pergaminho da Sala de Segurança.
Harry só conseguia pensar que estava ali sozinho com Gina. Com a cabeça na almofada, ele podia escutar o coração da garota batendo disparado.
Abriu os olhos devagar e sem pensar em mais nada se levantou do colo da garota e a beijou. Como há muito tempo não beijava.
A princípio Gina se entregou aquele beijo, mas alguns instantes depois ela se levantou irritada.
- Como se atreve?
- Desculpa – disse encabulado sem entender a raiva da garota.
- Olha, não é certo, ta? Nunca mais repita isso, não é justo com a Mione.
- Ah não! De novo essa história da Mione!
Harry levantou do sofá de uma vez, pegou as mãos da menina e a colocou sentada num banquinho perto da lareira.
- Presta atenção! Eu já disse isso pro Rony e é exatamente por isso que quem está com Mione na ala hospitalar é ele e não eu. Mione e eu somos só amigos! Não, mais que isso, somos IR-MÃOS!
As mãos de Gina tremiam e ela procurou desviar o olhar para o chão. Harry não falou mais nada. Soltou as mãos dela e saiu para o quarto.
Gina saltou do banquinho e antes que pudesse fazer alguma coisa, ele se virou e disse:
- Boa noite! Amanhã a gente conversa.
Harry não chegou a dormir nem três horas direito. Mal fechou os olhos e a claridade de um dia sem chuva o acordou. Levantou mal-humorado. Tentou lembrar de tudo o que acontecera no dia anterior.
Procurou o livro no bolso do blusão e o misturou aos outros materiais. Procuraria estudar sobre os inferis sempre que tivesse um tempo.
Não esperou por ninguém para descer para o café. Procurou um lugar mais afastado na mesa de sua casa e foi tomar seu mingau de aveia. Ele não esperava que o beijo em Gina terminasse daquela forma. Mas se a garota não acreditava que ele gostava dela, bem, paciência.
Rony e Mione chegaram logo depois. Tinham olheiras profundas, bocejavam toda hora, mas ainda assim pareciam bem contentes.
- Acho que você vai gostar de saber das novidades, Harry – disse Mione sentando para tomar seu café.
- Mas vamos esperar todos descerem para contar de uma vez só – sugeriu Rony – Enquanto isso, é bom que este café esteja forte porque, caso contrário, não vou conseguir ficar acordado nem nos 10 primeiros minutos de aula.
Gina se aproximou dos amigos um tanto sem graça. Tentou puxar conversa com Mione, mas não conseguia disfarçar o constrangimento.
- O que aconteceu? Vocês estão esquisitos – falou Ron com a boca cheia de bolo de caldeirão.
- Nada – apressou-se Harry – só pegamos uma detenção para hoje. Vamos cuidar dos livros da biblioteca.
Gina baixou a cabeça rapidamente, mas estava agradecida por Harry não falar nada sobre o beijo ou a discussão. Ela havia se portado como uma idiota e isso a irritava profundamente.
- O que vocês fizeram que rendeu mais uma detenção? – perguntou Neville que estava se aproximando quando Harry contava a “novidade” para os outros.
Harry narrou em poucas palavras tudo o que fizeram na noite anterior, tendo o cuidado de não contar sobre o beijo ou as desconfianças de Gina.
- Mas ela deixou vocês ficarem com o livro? – perguntou Mione interessada em ter mais alguma coisa para estudar.
- Deixou sim – respondeu Gina em tom mais enérgico – mas você não vai nem chegar perto desse livro, Mione. Nós vamos ler e só quando você estiver totalmente recuperada é que vamos tocar nesse assunto com você!
- Concordo! – falou Rony – Ontem a noite ela teve vários pesadelos e teve que tomar calmantes de novo.
- Se eu soubesse que você ia ficar me vigiando, não aceitaria que me ajudasse com os jornais – retrucou a garota.
- Se eu não tivesse te ajudado, você ainda estaria na metade dos exemplares! – respondeu ofendido.
- Ei, calma, Ron! Só estava brincando! É chato ficar lá na ala hospitalar. Este ano quase ninguém foi para lá. E os que foram tomavam um remedinho qualquer e logo saíam.
- O casalzinho pode parar de discutir aí e nos contar se vocês conseguiram descobrir alguma coisa? – falou Gina já mais desembaraçada.
Mione ficou sem graça e de cara bem emburrada respondeu:
- Descobrimos sim! Depois de umas três horas de pesquisa, lendo e relendo todas as porcarias que aquela Rita Skeeter escreveu esse tempo todo. Mostre para eles, Rony.
Rony tirou a edição do dia 30 de setembro de 1993 do Profeta Diário de dentro de um livro de feitiços e mostrou a matéria:

Morre o Maior Mestre da Alquimia

No último dia 29 o mundo mágico sofreu uma perda lastimável. A morte do maior mestre da Alquimia, famoso por ter desenvolvido a substância conhecida como Pedra Filosofal, Nicolas Flamel, emocionou a todos os bruxos e bruxas que com ele conviveram.
Flamel tinha mais de 600 anos segundo sua esposa, que não quis revelar a idade exata dele.
Ao contrário do que muitos esperavam o grande amigo de Flame, Alvo Dumbledore, não compareceu ao funeral, alegando à viúva sérios problemas em Hogwarts.

- Muito estranho tudo isso! Como não reparamos ou demos o devido valor a essa informação? – questionou Harry que já tivera a Pedra Filosofal em suas mãos, no primeiro ano em que estudou em Hogwarts.
- Acho que a nota foi bem superficial. Nessa época nós estávamos preocupados com Sirius, os dementadores e toda aquela confusão com o Bicuço e o Rabicho – sugeriu Mione.
- Além disso – completou Ron – a nota é bem pequenininha e saiu aqui no rodapé. Nós só achamos porque resolvemos ler tudo o que estava escrito em cada jornal.
- Então, o nome que nós vimos escrito no pergaminho era de um fantasma? – perguntou Gina – E o que o fantasma de Flamel ia querer no castelo?
Harry pensava quieto. Não falou mais nada. Levantou-se dizendo que se atrasariam para a aula e logo todos o seguiram.

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