O Outro Sócio de Borgin



Rony não falara com ninguém durante todo o final de semana. Mione ainda preferia ficar sozinha com seus livros do que encarar os amigos. Sua raiva era tanta que ela tinha medo de explodir com a pessoa errada.
Gina e Harry tentaram falar com Hermione e com Rony, mas ambos estavam muito mais envolvidos com seus pensamentos. O casal resolveu que não os incomodaria até que eles sentissem que poderiam ficar na mesma sala sem constrangimento.
- Isso vai demorar – falou Harry.
- Eu sei, mas é melhor que agüentar os dois se azarando com os olhos – retornou Gina.
- Quando Mione estiver melhor, acho que vai nos procurar. Quem sabe até fazer as pazes com o Rony. Eles já brigaram tanto e sempre voltaram a se falar – comentou Harry esperançoso.
Ele já viver a experiência de ver os amigos brigados e não gostava nada disso.
- Mas eu acho que desta vez vai ser diferente! – disse Gina enquanto explicava o estado em que encontrou a amiga – Nunca a vi com tanta raiva de alguém. Acho que nem do Malfoy.
A situação era complicada, mas Harry preferiu continuar pensando que uma hora eles teriam que se acertar.
Há muitos quilômetros dali Rony trabalhava escondido nos arquivos da Borgin & Burkes. E trabalhava duro. Levantou cedo no sábado e desceu antes mesmo de Harry ter acordado. Tomou um café rápido e roubou alguns bolinhos e foi para o corredor do sétimo andar.
Entrou decidido no armário sumidouro e foi até a Borgin & Burkes, enfrentando o medo de ficar sozinho naquele lugar estranho.
Passou a revirar todos os papéis e documentos que encontrava. Reviu os livros de contabilidade, checou o preço das coisas, até a margem de lucro que aquela espécie de artigo proporcionava aos donos da loja.
Anotava tudo o que achava importante. E passou a manhã inteira nesse serviço. Assim, acabou se esquecendo de ir almoçar.
Quase no final da tarde é que o rapaz encontrou uma informação realmente útil. Voldemort trabalhara para a loja durante três anos, de 1944 a 1947. Mas o nome dele continuou aparecendo em anotações dos anos seguintes. Ele não era mais um funcionário da loja, mas continuava enviando objetos suspeitos aos donos e sempre era muito bem remunerado por isso.
- Ótimo! – disse para si mesmo – Então, é só verificar a procedência desses objetos e temos como rastrear a vida de Tom por pelo menos mais uns 10 anos.
Rony começou a sentir os braços e pernas doerem e resolveu dar uma volta pela loja para alongar os músculos. Foi até o armário dos livros e começou a ler os nomes das grandes obras da magia negra que se encontravam naquela estante.
Havia livros sobre lobisomens, vampiros, demônios e outras criaturas malignas. O que chamou a atenção do garoto em particular foram dois volumes sobre a natureza e a vida dos dementadores. Eram livros grossos, cheios de ilustrações. Mas não ficou satisfeito. Sentia que aquela prateleira deveria esconder mais informações do que aparentava.
Ficou quase uns 20 minutos examinando livro por livro. Alguns tão velhos que davam a impressão de que desmanchariam se fossem tocados. E só então encontrou alguma coisa que realmente lhe despertou a atenção.
Um enorme livro, encadernado em couro, com letras douradas na capa que informavam o título da obra: Guia Universal de Objetos Mágicos Lendários. Ali estavam todos os tipos de objetos famosos no mundo bruxo por terem pertencido a algum bruxo importante ou por terem uma habilidade mágica especial.
Colocou o livro junto com as anotações e começou a arrumar os arquivos da loja. Não queria deixar nenhum vestígio de que estivera ali.
Guardou os pergaminhos, os cadernos e abriu a última gaveta do arquivo para colocar tudo o que não coube nas outras.
- O que é isso? – sussurrou enquanto pegava um último caderninho que lembrava muito o diário de Voldemort.
Ele abriu o caderno e para seu alívio, a letra do Sr Borgin estava em todas as páginas. Era uma espécie de arquivo confidencial. Ele passou os olhos pelas páginas amareladas, observando a quantidade de objetos incríveis anotados ali. Pelo menos alguns daqueles objetos faziam parte do Guia que Rony tirou da prateleira.
No fim da 5ª página do caderno é que ele notou um nome, ou melhor, um sobrenome muito conhecido seu.
- Não pode ser... – falou ainda com os olhos grudados naquele sobrenome.
Guardou o caderno no bolso, reuniu todo o material que tinha trabalhado e voltou para o castelo. Já estava escuro quando ele chegou.
Encontrou o amigo e a irmã conversando animados e jogando uma partida de bexigas. Deu boa noite, foi para o quarto e dormiu sem ao menos tomar banho, tamanho era o seu cansaço.
O domingo passou quase da mesma maneira, sem que eles tivessem notícias de Rony ou sem que Mione saísse da biblioteca a não ser para comer.
A única diferença do dia anterior foi que Rony não voltou a Travessa do Tranco. Na verdade o rapaz foi até a sala de troféus. Procurou um nome especial em cada um das centenas de troféus, medalhas e placas espalhadas em armários de vidro, devidamente limpos e polidos por Filch.
Mas não conseguiu encontrar nenhuma menção àquele nome. Resolveu procurar na biblioteca, e não teve sorte também.
Voltava para a Torre da Grifinória resmungando sozinho quando deu de encontrão com uma bruxa de vestido de veludo roxo, usando um enorme chapéu pontudo azul marinho.
- Desculpe, professora!
- Está distraído demais, Weasley – disse a professora Minerva em tom de censura.
- Foi mal, eu estava pensando em umas... – ele parou ante de completar a frase. Se havia alguém que poderia lhe dizer o que queria era a professora Minerva McGonagal.
- Pensando em quê? – insistiu a professora.
- Pensando justamente se a senhora poderia me tirar umas dúvidas.
McGonagal olhou desconfiada para o rapaz na sua frente. Weasley nunca fora o tipo de aluno que tinha dúvidas após as aulas para solucioná-la com os professores.
- Está bem, vamos até a minha sala e conversamos melhor lá.
Ele seguiu a professora com passos rápidos e quase uma hora depois, teve suas suspeitas confirmadas.
- Só não entendi ainda o seu interesse com essa história, Weasley – comentou a professora.
- Me desculpe mais uma vez, professora. Mas isso é uma coisa minha, pelo menos por enquanto. Não são informações confidenciais, são? Nem tampouco perigosas. É só um favor para um amigo, a senhora sabe como é...
Ele saiu da sala da McGonagal ansioso e assustado com o que tinha descoberto. Precisava fazer alguma coisa.
Ele andou sem rumo pelos corredores tentando organizar os pensamentos, quando por fim se decidiu.
Correu pelo castelo e encontrou Hermione sentada à mesa da Grifinória, tomando um chá antes de voltar para a biblioteca.
- Aqui, sei que você me odeia e que prefere a companhia de um trasgo mal humorado, mas o que eu tenho para lhe falar é importante – disse rápido sentando ao lado da garota.
- Olha aqui, Rony, se veio me pedir desculpas – começou Hermione.
- Não, eu não vim me desculpar. Sei que o que eu fiz não tem desculpas e te dou toda razão de não querer nem mesmo ser minha amiga. Vim lhe falar sobre Voldemort.
Hermione olhou assustada para Rony e se endireitou na cadeira. Se aquilo fosse mentira, seria um truque muito sujo.
- Está bem! Eu estou ouvindo.
Rony tirou todas as anotações da mochila e mostrou para a garota. Ela olhou tudo com os olhos brilhando de interesse.
- Isso está ótimo! Como conseguiu?
- Bem, eu passei o dia inteiro lá ontem.
- O dia inteiro? Mas Harry e Gina estiveram...
- Eu fui sozinho – interrompeu – não quis ficar aqui no castelo.
Eles ficaram em silêncio. Um silêncio muito constrangedor, que fez Hermione voltar os olhos para as anotações que já havia lido duas vezes.
- Ah, tem mais uma coisa – disse o rapaz enquanto mostrava o livro escondido na mochila – Estavam na mesma prateleira que você encontrou a biografia de Grindewald.
- Eu, eu estive trabalhando na biografia dele o fim de semana inteiro – revelou. – Faltam só alguns detalhes para eu entender o mais importante do livro. Mas não vou contar até ter tudo pronto.
Hermione era assim mesmo. Não gostava de revelar as coisas pela metade.
- É só isso? – perguntou ao rapaz?
Ele reparou que ela tentava fazer a voz ficar fria, mas não conseguia disfarçar que estava emocionada.
- Não, tem mais uma coisa. Olha isso aqui! – respondeu mostrando o caderno confidencial do Sr. Borgin
- O que tem de mais aqui?
- Isto – respondeu apontando um nome no rodapé da 5ª página.
- Orwen Potter – falou Hermione tentando se lembrar se conhecia aquele nome. - Não conheço ninguém que se chame...
Ela estancou de repente.
- Entendeu agora? – perguntou Rony.
- Mas será que ele tem alguma coisa a ver com o Harry? Afinal, Potter é um sobrenome comum, não é?
- Pensei nisso e fui confirmar. McGonagal me deu certeza. Esse Orwen Potter, que teve negócios com o sr Borgin, é o avô de Harry.
- Meu o quê? – perguntou alto uma voz atrás deles.
Rony e Hermione estavam tão entretidos na conversa que não viram Harry e Gina se aproximarem.
- Vamos, Rony, fala aí? Que história é esse do meu avô? – perguntou Harry.
O jovem Weasley não teve outra alternativa a não ser contar a Harry o que fizera e o que descobrira. Harry ouvia a tudo atento e quando descobriu que seu avô, aparentemente havia mantido negócios com o Sr. Borgin, ficou em estado de choque.
- Isso não faz sentido, quero dizer, como meu avô pode ter esse tipo de negócio? Aliás, o que ele e o Borgin faziam juntos mesmo?
- Pelo que está aqui no livro, seu avô fornecia uma grande quantidade de material para a loja – explicou Hermione.
- Ninguém nunca me falou nada sobre isso.
- E o que seu pai fazia? – perguntou Gina.
Harry olhou para a namorada com cara de quem tinha levado um soco no estômago. Nunca perguntara a ninguém a profissão de seu pai. Lembrava-se de ouvir Tia Petúnia chamando Tiago de desempregado, mas sabia que tudo o que ela dizia sobre seus pais era mentira.
- N-não sei – respondeu aturdido – nunca perguntei sobre isso a ninguém...
- Você nunca teve curiosidade? – perguntou Hermione.
- Não é isso, é que eu nunca tive muito tempo para pensar neles como pessoas comuns com emprego e tudo o mais. Sempre pensei neles fugindo de Voldemort e duelando com comensais da morte – respondeu Harry com um profundo suspiro.
Ele se levantou da cadeira e foi em direção á porta.
- Aonde você vai? – quis saber Rony
- Escrever ao Lupin... Acho que ele vai ser o único capaz de me explicar alguma coisa sobre isso.
Os três ficaram ali vendo Harry se distanciar e Rony comentou, assim que ele saiu:
- Não queria que ele pegasse essa conversa pela metade. Queria dar todas as respostas antes de falar que descobrira o nome do avô dele.
- Parece que a cada ano a vida do Harry tem mais problemas para resolver – disse Mione.
Gina ficou calada. Não tinha muito o que falar do namorado. Passara menos tempo com ele do que os outros dois e sabia que não havia nada que pudesse fazer. Ela levantou, deu tchau aos dois e foi para a Torre terminar alguns deveres de Transfiguração.
Rony e Hermione tornaram a ficar sozinhos. Ficaram ali olhando os livros, sem dizer uma única palavra até que Rony disse:
- Vou deixar você terminar seu trabalho com a biografia. Se eu descobrir mais alguma coisa, mando um bilhete.
Ele deu as costas e saiu. Mione acompanhou o rapaz com o olhar e jogou os braços sobre a mesa pensando como era difícil se esforçar para odiar o amigo.
Na manhã seguinte ela se reuniu aos amigos para tomar café da manhã. O clima entre a garota e Rony ainda não estava dos melhores, mas para alívio dos amigos, eles ao menos se permitiam dividir a mesa e caminharem juntos para as aulas.
Hermione contou tudo o que estivera fazendo na biblioteca no fim de semana, mas não pode contar a parte mais importante porque acabaram de entrar na aula de McGonagal.
Quando finalmente se reuniram no salão principal para o almoço, eles procuraram um canto da mesa que estivesse mais vazio para poderem conversar. Neville se juntou a eles e, depois que colocou o garoto a par do que descobrira na biografia de Grindewald, ela contou o que havia descoberto.
- O mais interessante não é nenhuma das informações que o livro traz. Basicamente ele conta tudo do mesmo jeito que os outros livros de História da Magia. O que esse livro tem de especial é o autor e não o conteúdo.
- Agora só falta você me dizer que foi Voldemort que escreveu essa joça? – brincou Rony
A garota ficou séria e olhou firme para o rapaz ali na sua frente.
- Exatamente, era isso que eu ia dizer.
- Mas como? Quero dizer, se ele tivesse escrito um livro, assim, nós saberíamos não é? Dumbledore saberia – ajuntou Rony apressado.
- Não se o livro não tivesse sido publicado – retrucou a garota.
Ela explicou que Voldemort escreveu o livro, mas não conseguiu publicá-lo, então encadernou o original e, por algum motivo, acabou deixando o livro na loja.
- Tem o nome dele mesmo no livro? – perguntou Neville.
- Não. Ele assinou como todo autor britânico faz. As iniciais seguidas do último nome. T. M. Riddle.
- Como no diário – falou Gina em voz baixa.
- Mas não pode ser só coincidência? – questionou Harry.
- Eu pensei nisso também, mas pesquisei todos os livros de árvores genealógicas das famílias bruxas da Inglaterra e não existe nenhum Riddle. Só ele.
Mais uma informação. Voldemort sabia tudo o que acontecera com Grindewald e se interessou tanto por isso que escreveu um livro.
Eles seguiram para as aulas da tarde. Harry, Mione, Rony e Neville, assim como os outros alunos do sétimo ano da Grifinória e da Corvinal, entraram para sua aula de defesa Contra as Artes das Trevas, que até aquele momento estava sendo ministrada em conjunto. Os acontecimentos do ano letivo anterior fizeram todos os bruxos temerem se candidatar para a vaga.
Assim, o conselho estipulou um programa de ensino e dividiu a disciplina entre os professores que continuaram na casa. Naquele dia, o professor em questão era Slughorn.
- Bom dia – disse o professor com seu ar afetado de sempre – hoje vocês terão a oportunidade de estudar um pouco mais sobre as artes das trevas através da parte que eu mais entendo de magia.
Todo mundo olhava o professor se deslocar entre as carteiras, com sua jaqueta de veludo amarelo-limão e um colete roxo com botões de esmeralda que ele ganhou de um antigo aluno.
- Como vocês já devem ter percebido, no mundo das trevas, a criatura que mais temos que temer são outros bruxos. Isso mesmo, nada de vampiros, lobisomens ou espíritos agourentos. Na guerra contra as trevas, os seres humanos sempre foram os mais cruéis e, me perdoem o trocadilho, desumanos.
Os alunos não copiavam nada. Sequer piscavam. Era a primeira vez, em sete anos, que um professor realmente falara aquilo que todos pensavam. E eles não queriam perder uma só palavra ou expressão de Slughorn durante aquela aula.
- Entre todas as atrocidades que os bruxos e bruxas podem fazer uns com os outros estão os feitiços, as transfigurações e, é claro, as poções maléficas. E é exatamente sobre essas poções que eu vou falar hoje.
Com um gesto rápido de varinha um enorme caldeirão apareceu na frente do professor. Ele acendeu um pequeno, porém potente, fogareiro embaixo e começou a adicionar água no interior do recipiente.
- Atenção, porque o que eu vou ensinar aqui só pode ser feito uma vez. É uma poção oposta ao Felix Felicis que eu ensinei, mas ao invés de ser bebida, basta que você a espirre sobre o adversário. Nada do que ele fizer dará certo. E foi exatamente isto que fez com que muitos dos mais brilhantes aurores falhassem nas batalhas travadas contra comensais vistos até como medíocres.
Slughorn continuou explicando aos alunos qual era a poção, chamada Gota de Breu e como se livrar dela com um antídoto particularmente fácil. Os alunos anotaram todos os ingredientes e discutiram com o professor alguns detalhes como tempo de preparo, melhor lugar de armazenamento e prazo de validade.
Todos saíram da aula dupla e foram para o salão principal almoçar. Comentavam animados sobre a aula, pensando em fazer um estoque da Gota de Breu para poderem escapar caso um ataque acontecesse.
Era estranho que toda aquela expectativa de ataques iminentes ao invés de deixar os alunos preocupados os fazia mais atentos as aulas e ansiosos por encararem alguma batalha real.
Eles não tinham ânimo de voltar para a torre. Não com tanta coisa na cabeça e com uma tarde incrível, com o céu azul e faltando ainda umas duas horas para o anoitecer.
- O que vamos fazer? – perguntou Mione.
- Visitar Hagrid! – respondeu decidido.
Desde o começo das aulas, eles não viram Hagrid direito. O avistaram vez ou outra fazendo gestos estranhos a um canto do muro que cercava a Floresta Proibida e em seguida passando por ele sem receber nenhum choque.
Hagrid abandonara o cargo de Professor de Trato das Criaturas Mágicas, que fora assumido por um dos bruxos do conselho. Ao que parecia, as aulas eram mais divertidas e menos “perigosas” que as aulas do guarda-caças.
Os três jovens correram até a cabana de Hagrid e bateram animados. Escutaram alguns barulhos dentro da casa e logo a voz de Hagrid ecoava:
- Quem é?
- Somos nós – respondeu Rony.
Hagrid ainda fez muito barulho dentro da casa antes abrir a porta. E logo que viu os garotos parados ali puxou os três e deu um longo e apertado abraço. Um abraço que todos teriam detestado, já que o gigante estava suado e parecia ter bebido um pouco além da conta.
Mas Rony gostou muito do que Hagrid fizera. Assim, ele acabou colando o corpo do rapaz ao de Hermione e eles não tinham como sair dali.
Quando Hagrid finalmente soltou os três ninguém poderia dizer que Hermione ficara vermelha por causa do aperto dado pelo meio-gigante ou pela proximidade com Rony.
- Saudades de vocês – disse o guarda-caça.
- Também sentimos sua falta! – respondeu Harry – O que andou fazendo todos esse dias? E por que não está mais dando aulas?
- Ah, assuntos de Hogwarts como sempre. Mas desta vez são coisas que Dumbledore me pediu para fazer antes de... – os olhos dele começaram a se encher de lágrimas e ele fez de abraçar os três mais uma vez, mas ao invés disso se levantou e foi preparar um chá.
Quando repararam que ele tirava uma garrafinha do bolso para acrescentar algumas gotas ao seu chá, Hermione falou com certa autoridade na voz:
- Hagrid, o que é isso? Não está muito... cedo?
- Não, não! – respondeu dando um riso forçado – isso aqui é só uma poção que o professor Slughorn fez para mim. É para me manter acordado, afinal eu vou patrulhar a Floresta de novo, sabe? E preciso ficar acordado...
- Você tem patrulhado a Floresta todas as noites? – perguntou Harry.
- Não, eu patrulho uma noite sim outra não. Tenho outros serviços para fazer por lá, sabe? Agora, sem querer ser grosseiro, bem vocês sabem o quanto eu gosto de vocês e quanto a companhia de vocês me faz bem, mas eu preciso descansar um pouco agora. Senão não vou dar conta hoje a noite.
Os três deixaram a cabana de Hagrid e voltaram para o castelo. A visita ao meio gigante colocou mais uma dúvida na cabeça de Harry. O que Hagrid tanto fazia na Floresta? Afinal,o que Dumbledore deixara para ele fazer lá?
Ele ia comentar com os amigos, mas acabou deixando para depois. O que acontecera ele não sabia, mas sentia que o clima entre Rony e Hermione começava a voltar ao normal. E não seria ele que estragaria a situação com uma preocupação a mais.
Quando chegaram ao castelo, subiram até a Torre da Grifinória. Chegando lá, Harry avistou a enorme coruja branca que trazia um grosso envelope amarrado a uma das patas.
- Edwiges! – exclamou ansioso – Você trouxe a resposta do Lupin!
Ele correu, pegou a carta da pata da ave e fez um carinho nela em agradecimento. Edwiges, por sua vez, estalou o bico satisfeita consigo mesma e voou para o corujal para descansar e comer.
Harry olhou ansioso para a carta e depois para os amigos.
- Vai lá, cara! Eu vou ficar por aqui...
- É, Harry, temos deveres do Slughorn para fazer.
O rapaz subiu as escadas para o dormitório, se jogou na cama, abriu o envelope selado, tirou as folhas de pergaminho amarelado e começou a ler.

Caro Harry,

Devo dizer que sua carta foi uma surpresa e tanto para mim. Não que não esperasse receber correspondência sua. Mas nunca imaginei que fosse um assunto assim, tão leve. Digo isso porque sempre pensei que só me procuraria se estivesse em perigo.
Falar dos seus pais é sempre um assunto agradável para mim. Nós sempre nos demos bem e eu nunca os esquecerei.
Quanto a sua pergunta, Harry, a resposta é sim. Sim, seu avô trabalhou com o Borgin. Veja bem, eu disse COM e não PARA.
Seu avô trabalhou junto com o Borgin antes dele entrar em sociedade com o Burkes naquela loja assustadora da Travessa do Tranco. Eles tinham uma empresa que prestava serviço para o Ministério.
E foi nessa empresa que seu pai trabalhou. Ele, assim como seu avô, era um Acheiro. Os Acheiros são pessoas que trabalham para o Ministério, buscando pistas e encontrando objetos importantes. Basicamente, saem atrás de todos os objetos lendários que mereçam a devida atenção do Ministério.
Talvez não tenha ouvido falar disso, mas foi graças ao talento para quadribol dele que seu avô o admitiu. Seu pai enxergava um pomo mais rápido do que qualquer outro apanhador.
Pode parecer loucura, mas seu avô acreditava que se seu pai era capaz de avistar um “insetinho dourado” , como ele costumava chamar o pomo, há mais de 30 metros de distância, poderia muito bem encontrar objetos escondidos ou pistas secretas.
A cada objeto achado eles recebiam uma recompensa interessante. Seu pai nunca me falou quanto era, mas devia ser bastante, afinal, ele sempre andava com ótimas roupas e sempre presenteou sua mãe com lindos acessórios, jóias e perfumes.
Não que ela desse importância a isso. Muito pelo contrário. Ela gostava de trabalhar e ter seu próprio dinheiro. Ela trabalhava como intérprete no Gringotes, lá mesmo no beco Diagonal.
Ela chegou a receber alguns convites para integrar o Departamento de Cooperação Internacional em Magia. Mas se recusou, dizendo que teria que viajar muito e não teria tempo para os amigos e para o seu pai.
Acho que essa foi a primeira vez que eu vi um duende sorrir. Eles comemoraram discretamente sempre que ela recusava uma proposta.
Era uma ótima funcionária. Todos os bruxos estrangeiros conseguiam negociar com ela, pois ela falava pelo menos umas 12 línguas. Nem sei como aprendeu tanto assim, mas algo me diz que aí tem um dedinho do Dumbledore e da McGonagal, que adoravam sua mãe.
Quando estávamos no terceiro ano em Hogwarts, seu pai jurava que ia ser apanhador de algum time de quadribol, que ia se casar com Emília Wattson (uma aluna da Corvinal) e que ia ter uns quatro filhos.
Sua mãe entrou na vida dele quase de pára-quedas. Foi muito engraçado! A gente estudava junto, mas não éramos tão amigos assim, sabe?
Sua mãe não curtia muito voar, mas foi desafiada por uma garota esquisita da Sonserina, que não aceitava o fato de sua mãe ter mais destaque na escola que ela. Aquela velha história de sangue-ruim que você sabe muito bem como é.
Ela aceitou o desafio, montou na vassoura e saiu voando. Voava praticamente bem para quem não tinha muita prática. Mas a tal aluna da Sonserina acabou azarando a vassoura e sua mãe literalmente despencou em cima do seu pai.
Ah, você não imagina como eu ri dos dois, embolados no jardim. Passaram um bom tempo na ala hospitalar consertando os ossos. Depois disso, eles passaram a conversar e todos nós viramos amigos.
Não foi surpresa para ninguém quando os planos de Tiago mudaram completamente. Ele aceitou o emprego que seu avô ofereceu, comprou a casa em Hogsmeade e ficou por aqui trabalhando e feliz com a vida simples e discreta ao lado de Lílian.
E quando você chegou, a felicidade deles se completou. Eles chamaram Sirius para ser seu padrinho e no dia do batizado ainda arrumaram um jeito de brincar comigo, dizendo para que eu não ficasse chateado. Tiago dizia que só havia chamado Sirius porque assim economizaria com bichos de estimação. Afinal, sempre que você quisesse, ele poderia virar um cão e passear com você.
Mas eu sabia que não havia motivos para ficar chateado. Sempre fomos grandes amigos e seus pais viviam dizendo que eu seria o padrinho do segundo filho deles.
E se você ainda não desconfiou, é bom saber que tem uma madrinha. Ela teve seus motivos, que nem eu mesmo sei, para se manter afastada assim tanto tempo. Não sei se tenho o direito de lhe contar quem é, mas vou procurá-la para você. É justo que conheça toda a história da sua família.
E peço desculpas se contei mais do que você me perguntou. É que falar dos seus pais sempre me deixa mais alegre. É como seu eu voltasse no tempo e revivesse cada momento.

Com carinho,
Remus Lupin

Harry releu a carta umas 10 vezes antes de sair do quarto. Ficou aliviado por saber que o que seu avô tivera com o Borgin foi uma empresa honesta e a serviço do Ministério. Mas não conseguiu sentir um certo ciúme por seu pai ter preferido uma aluna da Corvinal antes de olhar para sua mãe.
E o que mais gostou de saber, ele tinha uma madrinha. Era meio óbvio, mas como tudo em sua vida, até aquele momento não foi nada convencional, ele nem se tocou para aquele detalhe. Quem seria ela? E o que a teria feito se ausentar tanto tempo assim?
Ele guardou a carta com carinho, no meio do álbum que tinha as fotos dos pais que havia ganhado de Hagrid e que agora também guardavam as fotos que sua tia lhe entregara. Depois desceu para contar aos amigos o quanto seus pais eram normais.
Esse pensamento fez Harry muito feliz. Enquanto a maioria dos jovens gostaria de ter pais que fizessem coisas excepcionais, que vivessem grandes aventuras, Harry, que já tinha passado por tudo aquilo, se alegrava de pensar nos dois como pessoas comuns.

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