De volta ao enigma da caverna



Harry pensou que Hermione estava certa, mais uma vez. Eles esperaram tempo demais para destruir a horcrux encontrada na Câmara de Gelo, abaixo do Instituto Durmstrang.
No entanto, essa demora tinha um motivo. Harry queria fazer isso no Jardim dos Mortos, junto de Dumbledore, para mostrar ao ex-diretor de Hogwarts que eles estavam conseguindo dar seguimento ao plano de trazer Voldemort de volta à humanidade para poder por um fim ao seu reinado de terror.
- Eu concordo, mas não podemos destruir isso aqui – falou aos amigos – Gostaria de levá-la até o jardim, sabe?
- Eu também pensei nisso – falou Hermione – Acredito que lá seja o lugar ideal. Não só pela presença “dele”, mas porque tem uma mágica diferente no ar. Dava para sentir!
- Quando nós vamos? – perguntou Rony.
- Assim que você conseguir aparatar – respondeu Harry.
- Se quiserem ir hoje mesmo, eu aparato com o Rony. Afinal, você já aparatou com a Gina inúmeras vezes.
- E como vamos fazer para distrair a atenção do pessoal? – quis saber Rony.
- Sinceramente, agora eu já não me importo! – falou Hermione de um modo diferente do habitual – E sabe por quê? Porque eu cansei de ter que dar satisfação de tudo o que eu faço ou deixo de fazer. Não faz diferença, se no fim das contas somos sempre nós três que enfrentamos as piores partes. Até quando vão agir como se fossemos três crianças indefesas?
Os dois rapazes se olharam num misto de choque e admiração. A amiga falara em poucas palavras tudo o que eles estavam remoendo intimamente há meses.
- Vou chamar a Gina e quando voltar, nós vamos para o Jardim e de lá, vamos atrás do que for preciso para terminar com isso de uma vez por todas!
Hermione desceu as escadas em passos rápidos procurando pela amiga. Harry e Rony foram ao quarto buscar as capas e varinhas.
Como a jovem demorou a voltar, a conversa dos amigos recaiu sobre um assunto que Harry não queria deixar para depois: a declaração de Hermione.
- E depois de ouvir aquilo você vai continuar fingindo?
- Não sei, Harry! Acho que não é hora de pensar nisso... Ela está nervosa e eu não quero ser inconveniente e por tudo a perder. Além do mais, eu não sei o que acontece entre ela e meu irmão.
- Não acontece nada – respondeu a própria Hermione entrando acompanhada de Gina no quarto.
- Ei! Vocês não sabem bater? – indignou-se Rony.
- Eu bateria se a porta estivesse fechada – zombou Gina.
- Se isso vai servir para lhe deixar menos constrangido comigo, eu e Carlinhos não temos nada e isso está bem claro entre a gente. Agora, sem querer parecer insensível, acho que precisamos ir – falou Hermione.
Sem dar tempo de nenhum outro comentário, ela se aproximou de Rony, pegou a mão do garoto, colocou sobre seu braço e mandou que segurasse firme. Um segundo depois um estalo seco indicou que eles já tinham aparatado.
Quando os quatro se viram na Floresta, perceberam o quanto seria mais difícil se locomover ali. A neve chegava até seus tornozelos com facilidade. Eles lutavam contra o frio e tentavam chegar até o Jardim, onde poderiam descer e secar os sapatos e calças.
O Jardim dos Mortos ficou ainda mais bonito e melancólico com a neve que se acumulou sobre os monumentos. A Lápide Lisa não podia mais ser vista, e o livro de mármore no centro do altar parecia de verdade, já que suas páginas estavam brancas.
As estátuas dos fundadores continuavam soberanas e imponentes, deixando a entender que nem mesmo o inverno mais rigoroso seria capaz de apagar a sua presença dos terrenos de Hogwarts.
Mas em todo esplendor do Jardim, o que realmente chamou a atenção dos jovens foi o fato do elmo de Godric estar aberto. Não havia pegadas na neve, mas sem dúvida, alguém havia passado há pouco e eles sabiam que não se tratava de Hagrid. O meio-gigante não seria descuidado assim. Não quando um descuido pudesse implicar em prejudicar a segurança de Dumbledore e o sucesso dos planos do ex-diretor.
Alarmados com a cena que encontraram, eles sacaram as varinhas e desceram fazendo o mínimo de barulho possível. A luz na catacumba estava mais fraca e isso deixava o local mais frio.
Harry apurou os ouvidos, mas o único som era de uma respiração fraca e cansada.
- Professor? – chamou baixinho Hermione.
Nenhuma resposta. Eles foram até o meio da sala e chamaram novamente.
- Sim?
A resposta veio da saleta ao fundo da sala e eles foram até lá. Dumbledore estava deitado numa cama cheia de travesseiros, coberto por uma colcha fina, feita com retalhos de panos cujas estampas se movimentavam e brilhavam.
- Podem entrar. O local é pequeno, mas se vocês não se importarem em ficarem espremidos, vão me poupar um trabalho difícil de me locomover até lá fora.
- Onde está Hagrid, professor? – perguntou Gina.
- Hagrid aproveitou que teria que procurar o irmão e mais dois amigos e se ofereceu para acompanhar o jovem Malfoy até a saída da floresta há dois dias.
- O Draco ficou aqui esse tempo todo? – perguntou Harry.
- Sim, Harry. Draco estava realmente muito doente quando você o encontrou. Ele vagou alguns dias no frio da floresta, sem alimento e sem agasalhos adequados. Mas o que realmente o deixou deveras debilitado foi o fato de ter sido submetido à Maldiçoa Imperius constantemente durante meses.
- Ele estava amaldiçoado? – indagou Rony.
- Por isso eu o encontrei chorando no banheiro – raciocinou Harry – porque ele realmente não queria ter assumido a missão e quando a maldição acabava, ele se sentia mal.
- Exatamente, Harry – concordou Dumbledore.
- E para onde ele foi? – quis saber Hermione.
- Ele teve que voltar para sua família, senhorita Granger.
Dumbledore teve um arrepio de frio e se afundou mais nos travesseiros. A pele havia escurecido mais nos últimos dias, e embora não desse para ver o resto do corpo do ex-diretor, todos sabiam que a maldição do anel havia se alastrado mais.
- Professor, está tão frio aqui! O senhor não quer...- começou Gina.
- Não, obrigado, senhorita Weasley! Só agora nós descobrimos que o frio retém a maldição impedindo que ela se alastre com a velocidade normal. – explicou Dumbledore – Agora, eu gostaria de saber: vocês conseguiram? Encontraram mais uma horcrux?
Harry enfiou a mão no bolso e tirou de lá o pedaço de papel velho e amarelado e o entregou ao diretor.
Dumbledore pegou o papel com a mão sadia e olhou curioso. Um brilho de felicidade perpassou pelo semblante do velho bruxo. E foi com grande alívio que ele falou:
- Parabéns! Agora eu sinto que deixei a tarefa nas mãos das pessoas certas.
- Nós ainda não a destruímos, professor! – explicou Harry.
- Eu sei. É possível sentir um peso extra neste documento. Agora, se me disserem como ela estava protegida, acho que podemos encontrar o melhor jeito de destruí-la.
Harry se apressou a contar todas as aventuras vividas antes do Natal. Dumbledore ouvia atento e vez ou outra agitava a varinha no ar criando símbolos de luz que se desfaziam logo em seguida.
- Fabuloso! – disse por fim – Vocês entendem o que isso implica?
Todos sacudiram a cabeça negativamente.
- Vou explicar da forma mais clara possível! Voldemort é prepotente, considera a si mesmo como o maior bruxo de todos os tempos. E nessa prepotência ele se esqueceu que o excesso de confiança é irmão gêmeo da imprudência. Assim, como ele acreditava que ninguém seria capaz de encontrar suas horcruxes, ele as protegeu de maneias distintas, porém incompletas.
“Quando eu encontrei o Anel de Perverel, não havia nenhum monstro, feitiço ou armadilha escondendo-o. A maldição viria apenas se alguém tentasse destruir o anel. Assim, ele cuidou de dar um fim a quem quer que tivesse a audácia de destruir não só uma parte de sua alma, mas também uma relíquia de sua família.”
“Desse modo, ele fez o inverso com essa horcrux. Protegeu-a externamente e não cuidou de nenhuma proteção magia interna. Em outras palavras, este papel só possui um feitiço, o que encerrou uma das seis partes da alma de Voldemort. Assim, podemos destruí-la sem medo. E tendo em vista o local em que vocês a encontraram, só posso supor que o melhor que temos a fazer é queimar esse documento.”
- Que documento é esse? – perguntou Gina que ainda não tinha lido o papel.
- É o testamento dos Riddle – respondeu Dumbledore – O que muda completamente tudo o que eu imaginei a respeito das horcruxes.
- Como assim, professor? – quis saber Harry.
- Eu pensei que o diário fosse a primeira horcrux. Mas recentemente descobri que é preciso que o bruxo realize o assassinato com as próprias mãos para fazer o ritual. Então, a morte provocada pelo basilisco, há 55 anos não foi uma morte válida. O primeiro assassinato real que Voldemort cometeu foi o de seus parentes trouxas. Agora, imagino que ele tenha roubado o testamento do cofre da família e tenha feito a horcrux.
- Então, quando ele fez o diário?
- Acho que isso não é tão relevante agora, visto que o diário já foi destruído – respondeu Dumbledore – A nossa preocupação agora é em relação a segunda horcrux.
- A segunda? O senhor suspeita... – começou Rony.
- Já mostrei a minha suspeita a Harry e acredito que ele a contou aos senhores.
- A Taça de Helga? – indagou Harry.
- Correto mais uma vez.
- A taça está com Voldemort. Ele não a escondeu como os outros, preferiu protegê-la pessoalmente – disse Harry.
- Foi o que pensei mesmo. E é isso o que o jovem Malfoy está checando para nós.
- O senhor acha mesmo que pode confiar no Draco? – perguntou Gina.
- Acredito sim! E por uma boa razão. Existe uma magia bem mais profunda que um voto perpétuo unindo Draco Malfoy, Harry Potter e eu. A mesma magia que uni Harry a Pedro Pettigrew. Uma Dívida de Vida! Agora, vamos destruir este papel. Quanto antes o fizermos, melhor.
Com um gesto preciso, Dumbledore conjurou uma pequena fogueira no canto mais afastado da sala. Entregou o papel a Harry e perguntou:
- Você poderia ter a honra?
Harry pegou o papel e levou até as chamas crepitantes. Depositou com cuidado, evitando que o papel voasse ou se afastasse do fogo. A princípio nada aconteceu. O papel começou a soltar uma leve fumaça, como se estivesse se secando. Depois, as beiradas assumiram um tom marrom, depois avermelhado e, então, todo o papel pegou fogo.
Uma luz branco-esverdeada jorrou do papel quando ele se desfez e Harry sentiu a cicatriz doer como nunca. Encostou as costas à parede e foi escorregando lentamente. A dor era tanta que não lhe sobravam forças para se debater.
Os amigos queriam ajudá-lo, mas Dumbledore sinalizou a eles para que não se aproximassem e esperassem a crise passar. Quando o testamento acabou de se incendiar, Harry abriu os olhos lacrimosos e respirou aliviado.
- O que você viu desta vez, Harry? – perguntou Dumbledore.
O garoto respirou fundo, levou às mãos a testa e coçou a cicatriz. Olhou para o ex-diretor e respondeu:
- Um monte de imagens repetidas...
- Você pode me descrevê-las?
- Eu vi a casa do Largo Grimmauld, estava caindo pelas escadas novamente. Depois, eu estava... estava mais uma vez...
Harry balançava a cabeça contrariado.
- Vamos, meu rapaz, coragem! – incentivou Dumbledore.
Os outros apenas olhavam o amigo, que parecia muito relutante em dizer o que havia visto.
- Estava no corpo de Voldemort. E estava nervoso demais! Eu, quero dizer, ele queria alguma coisa do Ministério, e mandou usarem Florean para consegui-la.
- Como você vê essas coisas? – perguntou Rony preocupado.
- Não sei... Mas agora é assim, toda vez que a cicatriz dói eu vejo alguma coisa...
- Isso é a confirmação do laço que Voldemort criou ao usar o seu sangue para ressurgir – explicou Dumbledore – Sinto dizer, Harry, mas vocês agora são como irmãos de sangue. O mesmo sangue que corre em suas veias, corre nas veias de Voldemort e por isso você tem acesso às lembranças e sentimentos dele.
- Então era isso que a profecia queria dizer, quando falou sobre me “marcar como igual”?
- Acredito que sim, Harry. Você vê a sutileza das profecias? Algumas partes só ficam claras anos depois que elas são feitas. Muitas vezes, uma profecia demora décadas para se concretizar.
- Mas eu não sou exatamente igual a ele. O senhor mesmo me disse, no primeiro ano...
- Eu me lembro! – disse Dumbledore com um sorriso – E agora entendo a razão dos seus sonhos. Vocês dois são como irmãos, já disse, mas estão divididos na essência. Enquanto em você o amor domina as ações, em Voldemort o que domina é o ódio e o desprezo pela vida humana.
- Você está bem? – perguntou Gina se sentando ao lado de Harry no chão.
- Estou... Só um pouco cansado.
- Infelizmente – cortou Dumbledore – não poderei dar tempo a vocês para descansarem. A visão de Harry é um alerta!
- E o que temos que fazer agora? – perguntou Hermione.
- Vocês têm que se apressar para encontrar as outras horcruxes. Harry, hoje você trouxe aqui a primeira horcrux. Mas e o medalhão de Slytherin? Onde está?
Harry sentiu uma bola se formar em seu estômago. Ele esqueceu completamente do medalhão falso e Dumbledore não teve tempo de saber que passou por todo aquele aperto a toa.
- Professor, - começou o rapaz – não havia nenhuma hocrux na caverna.
- Como não? Todas as pistas indicavam o lugar...
- Quero dizer, houve uma horcrux lá. Mas a que nós pegamos era falsa. Outra pessoa chegou antes.
Dumbledore fechou os olhos para esconder um profundo desgosto. Todo o sacrifício para chegar até o objeto fora inútil. E agora, eles precisavam encontrar o verdadeiro medalhão para terem certeza de que estava destruído.
- Alguma pista de quem possa ter pegado?
- Sim, um bilhete. Dizia que a pessoa provavelmente estaria morta, mas que faria isso para ter certeza de que ele voltaria a ser mortal. E tinha uma assinatura estranha.
- Qual?
- R.A.B. Mais nada. Só essas três letras.
O ex-diretor fez força para se lembrar de quem poderia ter aquela assinatura. Deixando de lado esses pensamentos, perguntou:
- Você se lembra de tudo o que aconteceu na caverna, Harry?
- Sim, senhor!
- Então, se não for pedir muito, gostaria que refrescasse a minha memória!
Apesar de achar o pedido estranho, Harry relatou com uma riqueza de detalhes tudo o que aconteceu na caverna quando foram buscar o medalhão.
- Eu suspeito – disse Dumbledore – que não estamos lidando com um bruxo de talentos excepcionais.
- Mas ele passou por todos os encantamentos... – começou Harry.
- Sim, ele passou pelos encantamentos, mas não os desfez. Toda a magia utilizada na caverna continuava lá, intacta. Quem quer que tenha sido esse RAB, encontrou uma maneira de passar pela caverna sem precisar desfazer o feitiço.
- Senhor? – chamou Hermione.
- Sim, srta Granger?
- Animais conseguem atravessar barreiras mágicas como se elas não existissem, certo?
- Sim, animais atravessam as barreiras porque suas auras possuem uma energia relativamente inferior que não entra em conflito com a energia emprega nas magias de proteção.
- E um bruxo quando assume a forma de um animal também reduz drasticamente seu campo energético.
- O que nos leva a pensar em algum animago. – concluiu Dumbledore com um sorriso satisfeito – Brilhante, srta Granger!
- Então o que temos a fazer é verificar a lista de animagos registrados no Ministério da Magia e checar se algum deles tem nomes compatíveis com essa sigla.
- Bom, mas também existem animagos ilegais. Meu pai era um deles. – lembrou Harry.
- Tornar-se um anima requer muito esforço, Harry. Esforço, dedicação e estudo. E tenho certeza que a Professora Minerva poderá fazer uma lista de todos os alunos com o mínimo de aptidão para conseguir se tornar um. – ajuntou Dumbledore.
- É melhor nós irmos – chamou Gina – Se quisermos encontrar esse medalhão logo, é bom escrever para a Jones hoje mesmo.
Eles se despediram após se certificarem que Dumbledore não precisaria de nada. Saíram do Jardim e quando alcançaram a área aparatável da floresta, foram direto para o Largo Grimmauld.
Ninguém na casa deu falta dos jovens, acreditando que eles estavam junto de Hermione, consolando a amiga.
A primeira coisa que fizeram foi pegar Edwiges e a mandar até a professora Minerva solicitando os nomes dos alunos que se destacaram em Transfiguração nos últimos 40 anos. Enquanto isso, Rony usaria Pítchi para escrever a Héstia Jones, solicitando a lista de animagos registrados no Ministério da Magia.
Eles sabiam que a resposta não viria tão cedo, e precisariam ocupar o tempo de alguma maneira.
- O que acham da gente retomar os treinamentos? – sugeriu Rony.
- Eu gosto da idéia. Só precisamos avisar o resto do pessoal. Será que a Tonks pode fazer isso? – falou Hermione, de pé olhando da janela as duas corujas se perderem no horizonte.
- Acho que ela ainda está lá embaixo. Vou descer e falo com ela – disse Gina saindo apressada do quarto.
Os três amigos continuaram traçando estratégias de batalha. O que realmente preocupava Harry não era encontrar o medalhão verdadeiro, mas como chegar até a horcrux que estava sendo guardada pelo próprio Voldemort.
- Eu nem imagino onde ele esteja escondido – reclamou frustrado.
- Isso deve nos atrasar um bocado – comentou Rony.
- A gente ainda pode contar com a ajuda do Draco – lembrou Hermione.
- E você acha que aquele arrogante vai querer nos ajudar? – falou Rony.
- Ele não tem escolha – retrucou Hermione – Dumbledore disse que ele tem uma dívida com Harry.
- Eu me sentiria melhor fazendo isso sem a ajuda dele – disse Harry.
- Mas esse é um luxo que provavelmente você não vai ter – rebateu a garota – Onde está a Gina? Ela está demorando muito...
Eles ainda tiveram que aguardar mais uns 10 minutos antes que Gina voltasse com a resposta de Tonks. Ela conversaria com a Ordem e marcariam as novas sessões de treinamento para o dia seguinte.
Quando a noite chegou, um dia após o enterro dos pais de Hermione, todos se preparavam para as aulas da noite. A Srª Weasley se esforçou para aceitar a situação, entendendo que uma mudança e atividade e de ares poderia servir para distrair a jovem.
Ao chegarem a Borgin & Burkes, o grupo dos quatro jovens teve uma agradável surpresa. Todos os amigos, sem exceção estavam lá. A Armada de Dumbledore não desistiu de combater as forças de Voldemort.
A aula aquela noite seria com Lupin, mas ele não apareceu deixando os jovens preocupados. A auror, namorada de Lupin, estava na loja e foi bombardeada de perguntas. Todos os membros da Armada foram alunos de Lupin e o consideravam de longe o melhor professor e o mais amigo dos estudantes.
- Não precisam se preocupar – explicou ela – Acontece que a força da Lua Cheia ainda não cessou. Normalmente, as crises dele duram apenas nas horas que a lua atinge sua plenitude. Mas nos dois últimos meses, essas crises duraram bem mais.
- O que pode ser? – perguntou Neville.
- Ah... bem, nós suspeitamos que os comensais estão influenciando as energias cósmicas. Não sei bem como conseguem, mas eles condensam a força que a lua cheia exerce e a dissipam de alguma forma por mais alguns dias.
- Isso é horrível! – falou Dino – Assim os lobisomens terão mais dias para atacar!
- Com certeza esse é o objetivo de tal ação – ajuntou Tonks.
- Mas quem vai substituir o Lupin? Você? – perguntou Luna.
- Não, hoje quem vem é a Jones. Aliás, ela já está atrasada...
A auror mal acabar de falar o som familiar de alguém aparatando ecoou na rua vazia e logo uma bruxa baixinha, de aspecto sério, entrou na loja.
- Que noite fria! Só vocês mesmo para me tirarem de casa. – falou Héstia Jones – vamos começar logo com isso.
Héstia Jones era a funcionária do Ministério da Magia que iria instruí-los sobre tudo o que acontecia lá dentro. Começou a aula com uma planta detalhada do prédio, explicando os departamentos que funcionavam em cada andar e quais departamentos já estavam sendo controlados por Voldemort
Ela deixou bem claro que a influencia do Lorde das Trevas estava crescendo e contaminando o Ministério. De todas as seções, apenas a comandada por Arthur Weasley e o Departamento de Mistérios continuavam intactos. Os Inomináveis tinham feitiços de fidelidade que os impedia de falar o que faziam e o que protegiam.
- Não podemos descartar a possibilidade de um novo confronto no Ministério e eu gostaria que vocês memorizassem todas as saídas de emergência escondidas nas paredes. As invasões e tentativas de se infiltrarem no Departamento de Mistérios são cada vez mais óbvias.
A aula seguiu com os garotos fazendo inúmeras anotações, estudando cada uma das salas e fazendo uma lista de possíveis itens em que Voldemort estaria interessado. Ao final, quando estavam se despedindo, Jones se aproximou de Harry e lhe entregou um grande rolo de pergaminho.
- Aqui está o que você me pediu. São todos os animagos registrados desde 1950. Espero ter ajudado.
- Obrigado, Jones – disse Harry com o papel na mão imaginando quanto trabalho teriam aquela noite.
- Disponha... Se encontrar aí o que está procurando e precisar de endereços e paradeiros, eu posso conseguir. É só escrever no verso do pergaminho. Assim poupamos tempo e não levantamos suspeitas.
Os quatro voltaram para casa satisfeitos com as informações e ansiosos para começar a estudar o pergaminho. A Srª Weasley os esperava com uma sopa quente e as camas arrumadas. Rony já voltara a dividir o quarto com Harry e isso facilitava para que eles estudassem o pergaminho a noite, quando todos estivessem dormindo.
Assim que a casa caiu no silêncio noturno, pontuado pelas batidas do relógio e parede e pelo ressonar dos outros membros da família Weasley, Gina e Hermione correram para o quarto dos rapazes que já as esperavam.
Dividiram as folhas de pergaminhos entre eles e começaram a procurar. Os nomes estavam ordenados por data de registro, o que dificultava, e muito, as pesquisas.
- Desse jeito não vamos acabar antes da semana que vem – reclamou Rony depois de verificar uma lista atentamente.
O combinado era que cada um lesse os nomes de suas folhas e marcasse os que tivessem as iniciais R, A e B. Não era uma tarefa fácil, principalmente porque a maioria dos bruxos tinha no mínimo cinco nomes.
- Quanta estupidez! – exclamou Hermione de repente – Dêem as folhas aqui para mim, rápido!
Ela reuniu os pergaminhos e com uma batida suave de varinha murmurou:
- Ordenus!
As palavras começaram a se rearranjar e logo todas as folhas estavam em perfeita ordem alfabética.
- Assim é mais fácil, não acham? – perguntou a garota com um sorriso.
- Você é incrível, sabia? – disse Rony.
No final da pesquisa, eles conseguiram listar apenas três bruxos.
- Vamos anotar esses nomes – sugeriu Gina – Você pode repeti-los para mim, Hermione?
- Claro! O primeiro é Romeu Astolpho Brimingan. Registrado em 1952, sob a forma de um... Ah, eu não acredito!
- O que foi, Hermione? – perguntou Harry estranhando a reação da amiga que parecia mais animada.
- Não acredito... isso vai ser fantástico! A lista também traz a forma que os bruxos se transfiguram. Assim podemos eliminar os menos prováveis, como esse tal Romeu.
- Por quê? No que ele se transforma? – perguntou Rony.
- Num boi – disse com uma sonora gargalhada – E pelo que Harry nos contou da caverna, um boi não alcançaria o medalhão nunca!
- E quem é a segunda pessoa da lista? – disse Gina interessada.
- Deixa ver... É Roger Avendich Blair. Registrou-se em 1971 e se transforma em um perdigueiro.
- Bom, pelo menos é mais fácil para ele alcançar o lugar do que o boi Romeu – brincou Rony.
- E o último? Quem é? – falou Harry.
- Não é último. É última – respondeu Hermione enigmática.
Aquele nome estava na lista dela e ela não permitiu que ninguém o visse até então.
- Registrada em 1978, assume a forma de uma águia-imperial e o nome dela é Roxanne Audrey Bones. A terceira opção é a sua madrinha, Harry!
Harry sentiu os olhares dos amigos pousarem sobre ele. Havia se esquecido completamente que sua madrinha era uma animaga. Esquecera-se que o nome dela formava as iniciais deixadas no bilhete.
Seria possível que sua madrinha descobrira as horcruxes? E se assim fosse, porque não lhe disse nada, se esteve presente na reunião da Ordem em que havia explicado a importância desses objetos?
No entanto, Harry sabia que ela passou grande parte da vida completamente afastada e escondida até da própria família. Nem mesmo a morte da mãe, no ano passado, fez a ex-auror sair de seu esconderijo.
- Ainda temos que esperar a lista da McGonagal – disse Harry tentando não pensar na madrinha – Pode ser que encontremos alguma coisa nova por lá. Outra pessoa, talvez!
- Com certeza, mas não vamos descartar o nome dela da lista. E vamos escrever para a Jones e perguntar sobre o Roger – concluiu Hermione de um jeito prático – Mas agora eu vou pra cama. Preciso dormir direito!
Ela saiu do quarto dando boa noite para os meninos. Gina ainda continuou sentada na cama de Harry e o rapaz sentiu, de repente, que preferia que Rony ainda estivesse dormindo na sala.
Gina também pensou a mesma coisa e corou ao retribuir o sorriso que Harry lhe dava. Mas não fez nenhum feitiço para resolver o problema. Apenas deu um beijo no namorado e foi atrás de Hermione.
Quando Edwiges voltou com a resposta e McGonagal dois dias depois, as suspeitas de Hermione se confirmaram. Os nomes eram basicamente os mesmos. E Harry teve que aceitar a hipótese de sua madrinha ser a responsável pelo sumiço do medalhão de Slytherin.
- Você vai ter que falar com ela – sentenciou Hermione.
Eles estavam discutindo o assunto na sala, enquanto se preparavam para a aula daquela noite. Lupin finalmente se recuperara e poderia ensiná-los as verdadeiras armas de combate a lobisomens e vampiros.
- Ta, o Lupin deve saber onde ela está. Depois da aula eu peço para ele falar com ela. Aí a gente marca um encontro lá na Travessa mesmo – respondeu contrariado.
A primeira aula sobre lobisomens e vampiros foi muito mais produtiva do que eles imaginavam. Lupin tratou de explicar quais são as únicas armas capazes de destruir esses seres.
- As informações sobre lobisomens que existem nos livros de vocês estão corretas. Um lupino só atende ao chamado de outro e a única forma de detê-lo é usar alguma arma de prata que perfure o seu corpo. Isso inclui adagas, pontas de flechas, espadas e balas.
- Garras de prata também – murmurou Harry pensativo.
- Como disse? – falou Lupin se virando para o garoto.
- Garras de prata... Foi o que Voldemort deu de presente para Rabicho na noite que nos encontramos no cemitério. Na verdade, foi uma mão inteira de prata.
Harry notou um brilho oscilante nos olhos de Lupin. Ele se virou para os alunos e continuou:
- Sim, garras de prata também! Agora, vocês precisam se lembrar que um Lupino não fica parado à espera que alguém o ataque. Por isso, vamos para a parte prática. Vocês vão treinar esquiva e mira. Todos de pé.
Os alunos passaram quase duas horas treinando para esquivar de mordidas e patadas. Lupin conjurou criaturas de fumaça que imitavam perfeitamente lobisomens tão cruéis quanto Greyback.
No meio do treinamento, Neville, que já suava muito e tinha as bochechas bem vermelhas, perguntou:
- Professor, por que estamos treinando nossa mira se não temos armas?
- Isso, Longbottom, é um assunto para nossa próxima aula. Mas eu prometo que não vou deixar você sem resposta, está bem? Agora, voltem todos aqui, vamos falar sobre vampiros.
A turma se reuniu perto de Lupin novamente e esperou ansiosa pelas explicações sobre vampiros.
- Os vampiros são as criaturas mais enigmáticas que existem. Eles não são como lobisomens que perdem a consciência humana quando se transformam. Um vampiro mantém a sua consciência e é capaz de reconhecer amigos e parentes.
- O Nestor, um vampiro que morava lá em casa, foi embora para não nos atacar – falou Rony.
- Muito justo! Na hora da batalha, o cheiro de sangue pode turvar os sentidos do vampiro e ele acabar atacando alguém que não quer.
- E o que realmente acaba com vampiros? Crucifixos e água benta? – perguntou Dino.
- Sim e não! Isso depende muito. O que afasta um vampiro é a crença em alguma coisa superior e benéfica. Se você acredita em crucifixos, isso vai manter um vampiro afastado de você tempo suficiente para você fugir. Mas se você é um budista, por exemplo, que tem suas crenças em outros símbolos, poderá utilizá-los para isso.
- Mas isso só afasta? Não destrói? – perguntou Gina.
- Não! Para destruir um vampiro é preciso muito sangue frio. Existem três maneiras: expô-lo aos raios do sol, enfiar uma estaca em seu coração ou cortar-lhe a cabeça e enterrá-la.
- Ui, isso deve ser nojento – falou Luna.
- É por isso que a maioria das pessoas prefere apenas fugir – esclareceu o professor.
- E nós vamos treinar algumas dessas coisas? – perguntou Harry – Usar espadas, estacas e coisas assim?
- Lógico! Já disse que a teoria em si não resolve muito.
O professor se dirigiu para a porta da sala circular e chamou pelo velho Borgin, que apareceu carregando uma caixa que lembrava o misterioso baú do Moody. Depositou a caixa no chão e a abriu.
A luz dos archotes que iluminavam a sala circular dentro da loja fiz brilhar o conteúdo da caixa. Dezenas de espadas de metal polido e bem cuidado, sem adornos, mas devidamente afiadas.
Cuidadosamente, Lupin pegou uma das espadas e mostrou aos alunos.
- Um bruxo nem sempre pode contar com a mágica para se defender e acho que vocês já estão bem conscientes disso. Agora, eu vou passar uma espada para cada um e vou cuidar de criar um campo de proteção para que não atinjam seus colegas mesmo que as espadas escapem de suas mãos.
Nas horas seguintes, eles treinaram como segurar as armas, como sacá-las e o melhor modo de fazer uma investida parada ou em movimento.
Quando todos se despediam, com bolhas nas mãos de tanto manusear as pesadas armas de metal, Harry se aproximou de Lupin.
- Gostei de ver, Harry. Você foi muito bem no treinamento. Até parecia um dom natural.
Harry sorriu. Ele já havia usado uma espada antes, quando tinha apenas 12 anos e teve que enfrentar o basilisco. Mas não pensou, na época, que a tinha usado corretamente. O basilisco conseguiu atingi-lo e se não fosse por Fawkes, ele estaria morto.
- Lupin – começou o rapaz um pouco indeciso – a minha madrinha ainda está por aqui?
- Pensei que não tinham se dado bem – respondeu o professor estranhando a pergunta do rapaz.
- Não nos demos... Mas eu preciso tirar uma dúvida com ela. Uma dúvida realmente importante!
- Eu falo com ela, Harry. Rox ainda está hospedada na minha casa.
- Ah... Obrigado!
Ele saiu sem se despedir do professor. Cada vez gostava menos da madrinha pensando no que ela poderia estar fazendo na casa de Lupin enquanto Tonks passava o dia se arriscando em combates com comensais.
Voltaram para o Largo Grimmauld n° 12 e discutiram como abordar a madrinha de Harry sem que ela se sentisse ameaçada. Se ela realmente encontrou o medalhão antes de Dumbledore e não o entregou ou destruiu é porque tinha medo. E eles não queriam assustá-la, apesar da vontade de colocar a animaga no seu devido lugar e fazer Lupin voltar a dar valor à namorada que tinha.

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