Uma Pista Fria



- Decepcionada! Preocupada! Quase louca sem saber onde estavam – berrava a Srª Weasley depois que todos se instalaram na cozinha – Isso não foi o mesmo que fugir num carro voador para salvar Harry dos tios malucos...
A matriarca dos Weasley segurava uma colher de pau que insistia em apontar para cada um, como se fosse uma arma. E ela deixava bem claro que se fosse preciso, usaria a colher sem medir as conseqüências.
- Nós confiamos em vocês! Achávamos que teriam juízo! Mas não, mal nos deitamos e vocês saíram por aí para fazer sabe-se lá o quê! – gritava cada vez mais alto.
Até mesmo alguns gnomos que infestavam o jardim da Toca saíram de suas casas entre as cercas para ver o que estava acontecendo. Eles nunca presenciaram a dona da casa dar um escândalo daquele tamanho e achavam divertido ver o quanto ela se parecia com um balão arroxeado sempre que se zangava.
- E então? Não vão falar nada? – perguntou irritada.
- Eles vão falar se você deixar, Molly, querida! – falou o Sr° Weasley com um olhar que pedia calma.
- Está bem, então! Falem suas criaturinhas insensíveis! – bradou a mãe de Rony enquanto se lançava num banquinho com as mãos tremendo.
- Muito bem, quem vai me dizer o que aconteceu? – pediu o Sr° Weasley.
- Eu conto! – disse Harry – Afinal a idéia foi minha.
Ele contou tudo, exceto a parte em que encontraram Dumbledore. Se o diretor fazia questão de permanecer escondido, não seria ele a delatá-lo.
- Vocês atacaram nove comensais e ainda destruíram o bicho de estimação do Lorde das Trevas? – assustou-se a Srª Weasley com um pulo.
- Acho que isso significa que eles não são mais crianças, mamãe! – falou uma voz vinda das escadas.
- Carlinhos, eles são crianças sim! Todos vocês vão ser sempre crianças pra mim – resmungou a Srª Weasley.
O bruxo ruivo, parado às costas deles, seguiu para perto da mãe rindo da preocupação dela. Passou um braço pelos ombros da bruxa baixinha e gorducha e com um gesto de carinho falou:
- Está na hora de entender, mamãe! Eles não vão ficar trancados numa redoma enquanto o mundo está acabando. Vão lutar, e você vai ver que tem muitos motivos para se orgulhar deles.
- Eles não sabem lutar! – retrucou indignada com a idéia de ver qualquer um daqueles “bruxinhos” envolvido em batalhas.
- Eles estão sendo treinados para isso, Molly – falou Tonks que chegava naquele instante – Acho que é hora de você saber que esses jovens aí, junto com outros amigos passaram por um treinamento acirrado. E estão tão preparados para enfrentar qualquer coisa quanto você ou eu.
Tonks ainda explicou o que os jovens tinham treinado e quem os ensinou. Mas a mãe de Rony parecia disposta a não aceitar aquela idéia.
- Então fizeram isso às minhas costas, isso foi desleal!
- Não, mamãe, isso foi necessário! – falou Rony se levantando da mesa. – Se você soubesse não permitiria. Foi o jeito que encontramos de estarmos preparados. E se nos atacarem? Vocês não vão poder cuidar da gente 24 horas por dia.
- E pelo que Hagrid falou agora há pouco – disse Tonks – vocês aprenderam tudo muito bem!
- Você esteve com Hagrid? – perguntou Harry.
- Sim, fui checar o que Arthur me falou ontem a noite. Mas só pude ir até lá hoje de manhã.
- O que aconteceu que atrasou sua ida, Tonks? – perguntou Arthur Weasley.
- Mais um ataque, Arthur. E um ataque muito devastador...
- Onde?
- Ao Ministério!
- E ninguém me chamou?
- Lógico que não! Aliás, preferimos deixar a maioria dos bruxos fugir para suas casas. Deve sair no Profeta Diário de hoje. Perdemos um pessoal muito bom... – lamentou-se Tonks.
- O que aconteceu? Como o ataque começou?
- Bom, eu estava lá no departamento conversando com o Quim, quando ouvimos uma gritaria muito alta. Procuramos por toda a parte e descobrimos que vinha do átrio. Soamos o alarme e logo a maioria dos aurores aparatou no meio da confusão.
- E eles atacaram assim, sem mais nem menos? – perguntou Hermione.
- Não. Eles não desperdiçam forças a toa. Queriam, mais uma vez entrar no Departamento de Mistérios.
- E o que eles queriam lá? Será que existe outra profecia... – começou Gina.
- Eles nem se preocuparam com a Sala das Profecias. Mas perderem 5 homens tentando entrar na Sala da Luz.
Os quatro amigos ficaram sem entender, mas Molly, Arthur e Carlinhos pareceram chocados.
- Que sala é essa? – perguntou Harry.
- É uma sala que ninguém nunca conseguiu entrar – explicou Tonks – ela simplesmente queima quem tentar se aproximar demais.
Harry imediatamente se lembrou da vontade de entrar naquela sala, cuja maçaneta quase queimou sua mão há dois anos. Mas ele conseguiu se aproximar. Só não teve força suficiente para forçar a tranca da porta.
- A questão é que eu tive que ficar por lá a noite inteira para fazer os comensais recuarem e quando tudo terminou, tivemos que transportar os feridos para o St. Mungus.
- Quantas baixas? – perguntou o Sr° Weasley.
- Quatro – respondeu Tonks – todos inocentes que estavam no lugar errado e na hora errada.
- E o Screamgeour? Como reagiu? – perguntou o Sr° Weasley.
- Nem queira saber! Nunca vi aquele cara tão furioso! Parecia mesmo um leão encurralado. Nem mancava, você acredita? Lutou como todos os outros, bem diferente do Fudge que ficava dando ordens atrás da mesa. E quando tudo acabou ele conitnuou furioso. Nem o saldo positivo pro nosso lado o deixou feliz. Eu o vi se afastando pro gabinete enquanto resmungava que se Harry estivesse conosco eles não se atreveriam.
- É brincadeira? – indignou-se Harry – Se eu não consegui fazer nada quando eles invadiram o castelo, o que poderia fazer pelo ministério?
- Screamgeour ainda está obcecado com a idéia que você poderia mudar a visão das pessoas quanto a capacidade dele enquanto ministro – justificou Tonks.
- Eu não vou mentir pro mundo inteiro dizendo que aprovo Screamgeour – falou Harry.
- E o Percy? – perguntou muito abalada a Srª Weasley.
- Mais uma prova que nos leva a crer que ele é o informante. Ele deveria estar de plantão hoje, mas sumiu pouco antes da confusão começar – informou Tonks
- Agora – interrompeu Carlinhos – temos que nos preocupar com uma outra coisa.
- Qual? – perguntaram Gina e Hermione.
- Para onde vamos.
- Como assim? Não vamos a lugar nenhum! – afirmou a Srª Weasley.
- Precisamos sair daqui, mamãe! – insistiu o rapaz – Ou você acha que depois de Harry e os outros atacarem um grupo de comensais, impedindo que eles realizassem uma tarefa e ainda dando fim a uma cobra, que nós sabemos ser mais que um bicho de estimação, vamos ficar seguros aqui?
Aquela era uma verdade que Molly Weasley se esforçou para não encarar desde o momento que deu falta dos dois filhos e de seus hóspedes.
- É uma questão de tempo – falou Harry – já que um dos comensais conseguiu fugir. Eles vão procurar os outros e quando encontrarem a cobra morta, vão nos procurar até o fim do mundo.
Eles se propuseram a arrumar as coisas para a partida que deveria acontecer antes da hora do almoço. Tonks disse que o Ministério poderia conseguir alguma coisa se Harry fizesse uma ou duas fotos com o Ministro.
- De que lado você está? – perguntou Harry para a auror.
- Estou só pensando numa solução, Harry. Acho que não arrancaria pedaço se você fosse lá e tirasse umas fotos para o Profeta Diário.
- Mas eu não vou! Vamos para a minha casa no Largo Grimmauld! Lá pode não ser um lugar seguro para a Ordem, mas é seguro o suficiente para nos abrigar até que tenhamos outra idéia.
- Se Hogwarts ainda estivesse aberta, tenho certeza que McGonagal nos abrigaria – falou triste a mãe de Rony.
Todos estavam tristes com a partida da Toca. Em silêncio, arrumavam as coisas que levariam para o Largo Grimmauld. A Srª Weasley, depois de empacotar seus pertences, utensílios de cozinha, uma foto de cada membro da família e o relógio mágico, despachou Pitchitinho com uma carta para Fred e George e Harry emprestou Edwiges para que ela avisasse Gui e Fleur.
Os irmãos Weasley também estavam muito aborrecidos de abandonar a Toca. Era uma casa simples, bagunçada e motivo de chacota para muitos outros bruxos. Mas para eles era sinônimo de muita alegria, travessuras e desentendimentos típicos de uma família tão grande e tão unida!
Muita coisa ficou para trás. Eles não poderiam fazer uma mudança enorme para não chamar a atenção de ninguém. Assim, só removeram o estritamente necessário e alguns objetos de valor mais elevado como o rádio, as vassouras e algumas poucas jóias de família que a Srª Weasley estava guardando para quando Gina fizesse 17 anos.
Assim, as 11 da manhã Tonks entrou na casa n° 12 do Largo Grimmauld acompanhada por Harry, Rony e Hermione, com a primeira parte da mudança. Antes das duas da tarde tudo já estava amontoado na sala de estar do primeiro andar da casa.
O quadro da mãe de Sirius berrava horrores e insultava os presentes. Chamava Tonks de aberração, Hermione de sangue-ruim, Harry de mestiço e os Weasley de traidores do sangue.
Mas a Srª Weasley não estava para brincadeira aquele dia. Apontou a varinha para o meio dos olhos da bruxa no retrato, forçando-a a se afastar para não ficar momentaneamente vesga e mais feia que de costume.
- Vou lhe dar um aviso, minha cara! Não sei se você já se esqueceu, mas está morta há um bom tempo. A única coisa que faz as pessoas terem a sua detestável lembrança é esse quadro horroroso! Então, se quiser continuar nos incomodando com a sua presença, é bom calar a boca! Ou eu conheço um feitiço que lança cupins que é simplesmente maravilhoso. Você pode ter pregado o quadro com magia, mas duvido que ele continue onde está se a parede for devorada.
Ela deu as costas e saiu pisando duro. Harry teve vontade de aplaudir, mas sabia que aquele não era o momento. Depois elogiaria a mãe de sua namorada.
Eles passaram o resto da tarde com a arrumação da casa e ao fim do dia, toda aquela mansão triste e escura havia ganhado um colorido mais alegre, quase parecido com a Toca.
Quando a noite finalmente caiu, a casa se encheu com os aromas da culinária da Srª Weasley. Já que o almoço foi apenas um lanche rápido, ela procurou caprichar no jantar. E antes que todos os pratos estivessem postos, a campainha tocou e o Sr° Weasley foi atender. Eram Gui e Fleur, que entraram preocupados, querendo saber detalhes sobre a mudança.
Tudo muito bem explicado, agora eles contavam detalhes sobre a lua de mel. Passaram alguns dias viajando pelo norte da Europa, já que Fleur, assim como toda veela, adora o gelo.
Todos estavam cansados demais e foram dormir cedo. Mas o dia mal raiou e Harry foi surpreendido por um pulo em sua cama que o fez gritar e acordar Rony assustado.
Hermione estava ali, de pijama e meias e pulava na cama do rapaz para acordá-lo. Estava sozinha, mas logo Gina também entrou correndo, derrapando no assoalho que eles enceraram no dia anterior.
- O que é isso? – indignou-se Rony ficando vermelho e puxando as cobertas para cima.
Harry também estava atordoado e se enrolava o mais que podia nas cobertas com medo que alguém percebesse que os sonhos do rapaz aquela noite não tinham nada a ver com Voldemort. Eram muito mais interessantes e, por isso mesmo, muito mais constrangedores.
- Veja ! – exclamou Hermione satisfeita sacudindo um pergaminho como se fosse o objeto mais precioso do mundo.
- Isso se chama papel, Hermione! A gente usa para escrever – falou Rony mal humorado enquanto dava um longo bocejo.
- Vou fazer de conta que você é só um mofo na parede, Rony! – disse ríspida e virando-se para Harry explicou – Acho que vamos ter que ir para a Bulgária!
- Se você acha que nós vamos te acompanhar ao casamento do Vitinho – começou Rony mas foi interrompido.
- Mofos não falam! – retrucou Hermione.
- Não estou entendendo. – disse Harry que já recuperava seu estado normal.
Com Hermione em cima de sua cama, ele não poderia voltar a dormir. E se atrever a recuperar seu sonho naquele momento era, no mínimo, obsceno.
- Foi o Dino quem escreveu!
- E o que tem a Bulgária a ver com o Dino? – perguntou Harry impaciente.
Por que Hermione não falava tudo de uma vez? Pensou irritado.
- Olha só, ele conta que o Simas escreveu para ele. Ele teve que ir estudar em Beauxbatons. Diz que os pais dele queriam que ele estudasse em Durmstrang, mas eles não aceitam alunos mestiços nem nascidos trouxas. O que fez ele perder a vaga.
- E daí? Por que temos que ir para a Bulgária? – insistiu Harry.
- Porque só agora é que eu me lembrei de uma coisa que o Vitor me contou. Durmstrang é mais nova que Hogwarts quase 100 anos.
- Grande coisa – falou Rony que se levantara da cama.
Estava só de calça de pijama, descalço e sem camisa. O que fez Hermione esquecer por alguns segundos o que iria falar em seguida. Quando reparou no olhar que Harry lançava para ela, sacudiu a cabeça e recomeçou:
- Enfim, sei que correm boatos de que Slytherin não se contentou em fundar uma escola em que não tivesse poder de decisão. Há quem acredite que quando ele abandonou Hogwarts, procurou um lugar afastado e criou outra escola que seguisse os seus rígidos padrões de escolha.
- Então, você está dizendo que foi Slytherin que fundou a Durmstrang? É meio forçar a barra, não acha? – perguntou Harry.
- Olha, Harry, no livro Uma Análise da Educação Mágica na Europa só existem cinco escolas bruxas em todo continente. E a única que não aceita mestiços ou trouxas é a Drumstrang.
- Tudo bem! – falou Rony já de camiseta, se sentando ao lado de Harry – mas nós sabemos que Durmstrang não fica na Bulgária. Você mesmo nos falou que o uniforme deles inclui casacos pesados de pele. Então deve ficar bem mais ao norte, num lugar realmente frio.
- Bom saber que presta atenção nas coisas que eu falo – respondeu Hermione – mas o lugar onde Durmstrang está instalada é um verdadeiro enigma. E apenas alunos, professores e ex-alunos sabem a localização.
- Ta, mas e daí que Durmstrang tenha sido fundada por Slytherin! Qual a utilidade disso na nossa busca? – perguntou Harry.
- Ah é, esqueci de trazer! – respondeu Hermione saindo correndo do quarto.
- Ela também tem o dom de te deixar frustrado ou é só comigo que isso acontece quando ela sai assim? – perguntou Rony para Harry.
Hermione voltou instantes depois com o pesado livro que pegou da Borgin & Burkes.
- Aqui! - mostrou ofegante – Eu já disse para vocês que achava que Voldemort fosse o biógrafo dessa obra. Mas só depois que Dino me escreveu é que eu fui prestar atenção nesse pequeno detalhe.
Na contra capa do livro estava impresso o nome da editora que imprimiu a primeira e única cópia da biografia de Oliver Grindewald.

Eesti Vabariik – Official Press

- Isso aqui é a prova que precisávamos – falou a garota animada – Em qualquer parte do mundo, apenas pessoas importantes têm permissão para usar as editoras oficiais. Só precisamos traduzir essas palavras, mas aparentemente eu diria que tem um fundo báltico nessas palavras!
- Como você sabe? – indagou Gina.
- Eu estudei algumas línguas nos meus períodos de folga – respondeu displicente.
- Então, acho melhor esperarmos você ter certeza antes de fazer as malas e meter o pé na estrada – avisou Harry.
- Pode deixar, vou descobrir isso o mais rápido possível! Mas vou ter que ir a uma biblioteca pública já que aqui não tem muitos livros e estamos a milhares de quilômetros de Hogwarts.
- E você acha que na biblioteca pública trouxa vai ter algum livro que lhe diga onde é essa editora? – perguntou Rony incrédulo.
- Não, eu só preciso de uma gramática com idiomas bálticos e depois um dicionário de cada um desses lugares.
- Mas devem existir dezenas de países com idiomas bálticos! – exclamou Gina – Você pode demorar semanas nessa tentativa.
- E se procurássemos um professor? – sugeriu Harry.
- Não acho que seria confiável ir atrás de um dos nossos professores para isso – interpôs Hermione.
- Eu nunca disse “nossos professores” – retornou Harry – Eu quis dizer e se a gente procurasse um professor de línguas e pedisse que ele fizesse a tradução.
- Mas onde vamos encontrar? Londres é enorme – lembrou Rony.
Harry sorriu complacente para Hermione que retribui o sorriso com a mesma expressão quando entendeu o que Harry estava pensando. Rony era um bruxo e não conhecia nada do mundo dos trouxas.
- Páginas amarelas! – falaram os dois ao mesmo tempo.
Eles explicaram para Rony que a maioria dos profissionais anunciava seus números de telefone numa parte especial de um grande catálogo, identificado por páginas de papel amarelo. Assim, quando se precisasse de um médico, um jardineiro ou um professor, era só procurar na lista telefônica.
- Uau! Papai ia adorar ter uma dessas – falou animado.
Agora estava mais fácil. Só precisavam encontrar uma lista telefônica e localizar um professor de línguas.
As oito da manhã todos já estavam de roupa trocada e desciam as escadas devagar. Quando chegaram na sala, a mãe de Rony já estava de pé e limpava as cortinas.
- Já iam sair sem me avisar novamente? – perguntou antes mesmo de se virar de frente para eles.
- Não senhora, apenas íamos à padaria – responde Hermione imediatamente.
Os outros olharam a garota com o canto do olho imaginando o quanto ela não se preparou para dar essa desculpa.
- Padaria? – questionou a mãe de Rony e Gina.
- Sim! Harry e eu encontramos uma padaria que serve ótimos bolos recheados. Pensamos em comprar alguns para o café. Assim a senhora não se sobrecarrega tanto, já que temos tanta coisa para arrumar na casa.
A Srª Weasley ficou sem graça com a gentileza e aceitou de bom grado que os quatro fossem à padaria.
Quando saíram da casa, Harry se virou para Hermione e brincou:
- Você está mentindo cada vez melhor!
- Foi você quem me alertou para o fato de eu não saber mentir. Agora que eu estou ficando boa, não reclame!
Eles se dirigiram até a padaria, pois agora precisavam levar os bolos. Harry ainda tinha algumas libras no bolso e comprou uma dúzia de bolinhos de baunilha recheados com creme e algumas fichas telefônicas.
Da padaria eles procuraram uma cabine telefônica. Pegaram a lista que ficava numa bancada sob o aparelho e começaram a procurar. Acharam uns 15 nomes de professores que poderiam traduzir o nome no livro.
-Acho que este aqui é o melhor – indicou Gina – pelo menos o nome dele é tão esquisito quanto aquilo que está no livro.
- Deixa comigo – pediu Harry colocando umas duas fichas de uma vez no aparelho – Qual é o número?
O telefone chamou umas três vezes antes de ser atendido. Do outro lado uma voz masculina bastante forte, mas com um inconfundível sotaque alemão, perguntou quem estava falando e com gostaria de falar.
- Bom dia – disse Harry ansioso – meu nome é Harry Potter e eu estou procurando o professor Hübner. É a respeito de uma pequena tradução que eu preciso...
- Eu sou o professor Hübner. A tradução é de que exatemente?
- Ah, só a tradução de um nome num... num documento antigo que encontrei nas pertences do meu avô – mentiu Harry.
- Eu cobro 15 libras por pagina traduzida. Se puder me pagar, pode vir até minha casa e traga o documento. Bom dia!
Harry olhou para os amigos e comentou que o homem não fora muito simpático, mas se dispôs a ajudar mediante um pagamento.
O rapaz contou as notas que carregava no bolso e comentou:
- Ele cobra 15 libras por página. Será que duas palavras formam uma página?
- Bem, vamos arriscar. Agora é só irmos a casa dele. Onde será que fica? – disse Hermione enquanto consultava a lista novamente para saber onde ficava a casa do professor Hübern.
Eles anotaram o endereço e voltaram para casa. Disfarçaram bem, enquanto tomavam café e logo foram para cima pensar num jeito de descobrir como chegar até a casa do professor.
- A gente podia pegar um táxi – sugeriu Hermione.
- Mas nosso dinheiro está contado. Não dá para ir ao Beco Diagonal trocar mais – disse Harry – Gui falou que a demora no banco ainda continua.
- E se fôssemos de metrô?
- Acho que vai ser solução. Mas não dá para ir todo mundo. Não podemos dar bandeira na casa de um trouxa.
- Então está bem, já entendi – disse Gina – vai você e Hermione. O Rony e eu ficamos em casa para distrair a mamãe. Só mais uma coisa, acho que vocês não devem levar o livro. É melhor copiar o que está escrito na capa num pedaço de papel.
- Só esperem o almoço. Vamos dar um jeito de mamãe sentir um certo soninho a mais. E com papai no serviço, ninguém vai desconfiar – brincou Rony.
- O que você quer fazer? – assustou-se Harry.
- Não é só a Gina que tem algumas coisas das Gemialidades Weasley, está bem? Achei isso lá em casa antes de virmos. É Bocejo Instantâneo. É uma bolinha que você coloca na bebida e dá uma moleza daquelas. Aí você começa a bocejar sem parar até que pega no sono por três horas seguidas.
- Três horas são mais que suficientes. Devemos gastar uns quarenta minutos para ir e o mesmo tanto para voltar. Ele não deve gastar mais que 20 minutos para traduzir duas palavras, não é mesmo? – calculou Hermione.
Assim, eles procuraram se comportar da melhor maneira até a hora do almoço. Era estranho, pensou Harry, que mesmo depois de já ser considerado um bruxo adulto, ele ainda tivesse que prestar contas de todas as suas ações.
Rony colocou bolinha esverdeada no copo da mãe e antes de terminar de limpar as coisas, ela reclamou de sentir um sono esquisito.
- Deve ser a tensão da mudança – comentou com Gina quando aceitou que ela a ajudasse a subir e preparar a cama.
Cinco minutos depois a menina descias as escadas animada informando que a mãe estava roncando alto.
- Vamos logo! – chamou Hermione com todas as anotações necessárias no bolso.
Eles andavam apressados pelas ruas de Londres se orientando pelas placas e logo alcançaram uma estação de metrô. Mas tiveram que esperar quase 10 minutos para que passasse um trem compatível com o endereço que eles queriam alcançar.
Uma vez dentro do trem, era só prestar atenção para não descerem na estação errada. Viajaram por 30 minutos até que Harry identificou o local e eles desceram. Subiram para a calçada e conseguiram encontrar facilmente o endereço do professor.
Era uma casa simples, mas com aparência aristocrática. Ostentava janelas compridas de madeira pintada de branca. Uma pequena escada de cinco degraus levava a uma pequena varanda com vasos de plantas sem flores.
Harry parou ao lado da amiga e tocou a campainha. Um homem alto, de ombros largos, meio encurvado pela idade avançada atendeu a porta.
- Viemos procurar o professor Hübern. Ligamos hoje pela manhã – informou Hermione.
- Você é Harry Potter? – perguntou o homem.
- Sim, senhor! Sou eu! – adiantou-se Harry.
- Vamos entrar.
Ele deus as costas aos dois e eles o seguiram. A casa, por dentro, era ainda mais séria. As paredes forradas com papel imitando madeira, os móveis de madeira escura e bem trabalhados, sem nenhum quadro ou enfeite.
Na sala a qual foram conduzidos, as paredes estavam cobertas de livros. Os olhos de Hermione brilharam vendo tantos títulos que ela nunca teve acesso.
O professor deve ter percebido o encantamento da garota, pois seu modo de tratá-los melhorou um pouco e assim que eles sentaram, ele ofereceu um chá.
Os dois aceitaram por educação e quando tudo estava certo o professor falou:
- Qual é o documento que vocês querem que eu traduza?
- Ah, bem, na verdade o documento está em inglês. Só a identificação de origem é que está numa língua que não conhecemos – explicou Harry.
- E você o trouxe para eu examinar?
O rapaz olhou assustado para a amiga que cuidou da situação imediatamente:
- Estão com os advogados. Sabe como é, eles não confiam em dois jovens de 17 anos. Mas nós copiamos as palavras em questão. Eu suspeito que seja parente de alguma linguagem báltica. Já estudei um pouco sobre isso, mas não consegui fazer a tradução corretamente.
Ela entregou o papel ao professor que olhou incrédulo para os dois jovens sentados a sua frente.
- Vocês vieram aqui para que traduzisse duas palavras?
- Eu sei que parece burrice – comentou Hermione – mas estávamos tão curiosos para saber onde nosso avô...
- Você tem razão, tem uma familiaridade báltica. Isso está em estoniano. E para ir direto ao ponto, essas duas palavras significam apenas Estônia.
Os dois se olharam animados e o professor ficou sem entender o motivo de tanta animação. Ele se levantou, pegou um globo terrestre empoeirado que estava sobre uma escrivaninha e trouxe para perto dos garotos. Soprou a poeira no rosto de Harry e apontou exatamente para onde ficava a Estônia.
- É bastante longe e frio... – comentou como se os dois ainda estivessem no jardim de infância.
- O senhor conhece alguma coisa de lá? – perguntou Hermione.
- Não, não... mas se a senhorita quiser eu tenho um livro de geografia dos países bálticos. Posso deixá-la consultar.
- Quero sim! Com certeza eu quero!
Ele pegou um volume não muito grande de uma das prateleiras e emprestou à garota. Ela abriu o livro e começou a ler de um jeito ávido que deixou o professor impressionado.
- Sua irmã gosta mesmo de livros, hein? – comentou para Harry.
- O senhor não imagina o quanto!
Hermione lia interessada e logo achou um pedaço particularmente interessante. Chamou a atenção de Harry e começou a ler em vol alta.
- “Uma das lendas mais famosas do país é sobre a Montanha do Esquecimento. Uma grande montanha coberta de gelo, situada na divisa com a Rússia, em que todos que se atreverem a atravessar terão suas lembranças sugadas pelos espíritos da neve. Os habitantes locais se recusam a falar da montanha e não se aproximam dela por nada.”
Mas Hermione não teve tempo de continuar a narração, porque naquele momento, os olhos de Harry reviraram e ele ficou com um aspecto apavorante. Apertou os braços das cadeiras até que os nós dos dedos ficaram brancos. Começou a tremer incontrolavelmente e respirar com dificuldade.
Hermione saltou da cadeira alarmada e o professor correu para ajudar, assustado com o ataque do menino. A garota explicou que ele deveria segurar com força os ombros de Harry enquanto ela segurava as mãos.
- Temos que chamar um médico! – disse assustado.
- Não! – berrou a jovem – Ele está bem! Já está sendo medicado. Só precisamos segurá-lo, isso evita que ele se machuque.
Harry não ouvia nada o que se passava a sua volta. Sentia as costas gelarem e só então percebeu que estava deitado sobre um bloco de gelo e olhando uma parede coberta de estalactites transparentes que balançavam ameaçadoramente enquanto grandes estrondos ecoavam dentro do lugar. Pareciam estacas de cristal prontas para furá-lo.
Ele tentou se virar para ver de onde vinham os estrondos, mas não conseguiu. Diferente da vez em que ficou imóvel nas mãos de Voldemort, Harry não se sentiu rígido. Sabia que era maleável, leve, mas não seria capaz de se movimentar sozinho.
Um novo estrondo, bem mais perto, provocou o que ele mais temia. Uma chuva de pontas de gelo afiadas. Mas antes que ele sequer conseguisse fechar os olhos, a poucos centímetros de seu rosto, o gelo se desfez numa chuva fina. Derreteu misteriosamente antes de alcançar o garoto.
Aliviado, Harry respirou fundo e chacoalhando a cabeça deu com o rosto de Hermione entrando em foco à sua frente.
De um salto, ele se pôs de pé e olhava da amiga para o professor. Ele tivera outro ataque, na frente de um estranho. Estava envergonhado. Olhava para os lados inquieto, até que o professor falou.
- Tem certeza que ele não precisa de um médico?
- Não! – falou Harry apressado – Eu sempre tenho isso. Já estou melhor, obrigado!
Hermione entregou o livro para o professor e pegou uma das mãos de Harry. Estava suando frio e ela chamou para ir embora.
Harry tirou o dinheiro do bolso, mas o professor não quis receber.
- Imaginem. Duas palavras... Querem que eu chame um táxi?
- Não precisa! O metrô é aqui pertinho e a estação fica a uma quadra da nossa casa – respondeu Hermione – Mas mesmo assim, agradecemos muito!
Eles alcançaram a rua e a garota continuou segurando o amigo pelo braço. Harry não protestou e se deixou levar. Ainda sentia o frio do gelo em suas costas e quando ele se jogou numa das cadeiras do metrô, ficou feliz de estar indo para casa.
Hermione não falou nada no caminho de volta. Sabia que Harry precisava se recuperar e seria mais confortável para ele contar o que tinha visto para todos de uma vez.
Eles chegaram à casa do Largo Grimmauld faltando cinco minutos para o prazo do Bocejo Instantâneo terminar. O rapaz agradeceu que o frio já estivesse começando aquele ano, pois encontraram a lareira acesa e os outros dois sentados na sala.
Harry se aproximou o máximo que pôde do fogo, arrastando uma pesada poltrona, cujo veludo estava comido de traças e se jogando sobre ela. Eles contaram o que o professor traduziu.
- Até que nós tivemos um probleminha – disse Hermione olhando de esguelha para Harry.
- Que problema? – perguntaram Rony e Gina.
- Harry teve...
- Eu tive outro daqueles ataques, com visões... – interrompeu amuado.
Ele ia começar a contar sobra a visão quando escutaram a Srª Weasley descer as escadas apressadas, com os cabelos um poço atrapalhados e o rosto inchado de sono.
- Céus! Dormi demais! Onde estão todos? – berrava ela.
- Aqui na sala, mamãe! – chamou Gina.
Ela entrou na sala e vendo os quatro ali respirou aliviada.
- Pensei que tivessem saído!
- E deixar a senhora sozinha? – falou Rony fingindo preocupação – Nunca! No outro dia sabíamos que estava segura porque papai estava em casa.
- Menos mal, menos mal – falou a mãe do rapaz se retirando para cozinha.
Quando ela estava a uma distância segura, Gina encarou o namorado e insistiu para que ele contasse o sonho. E depois da narrativa ela pensava o mesmo que os outros.
- Harry, você novamente onde está uma das horcruxes. O que Dumbledore disse é verdade, sua ligação com Voldemort se ampliou a ponto de você conseguir visualizar as outras partes da alma dele.
- Isso me deixa confusa – começou Hermione – se ele consegue visualizar as horcruxes, então acredito que a consciência de Voldemort também possa se deslocar de um objeto para o outro.
- Acho que foi isso que Dumbledore quis dizer quando mencionou uma “outra utilidade” para as horcruxes – ajuntou Rony.
Eles ficaram um tempo em silêncio até que Harry o quebrou fazendo um pedido à Hermione:
- Escreva para Krum, por favor! E pergunte se ele está disposto a nos ajudar a chegar à Montanha do Esquecimento. Eu sinto que é lá que vou encontrar alguma coisa.

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