A Sala da Segurança



A recuperação de Mione foi rápida a princípio, mas ela precisaria ainda fazer um longo tratamento. Os medibruxos do St Mungus só deram alta para ela com a condição de que todas as recomendações seriam seguidas inteiramente.
Ela saiu do hospital na véspera da ida para Hogwarts, mas ao invés de ir para a Toca, ficou hospedada com os amigos no Caldeirão Furado, para que não precisasse viajar muito ou se cansar à toa.
- Teremos que procurar uma varinha nova – comentou ela – A minha foi estilhaçada quando ataquei Lucius.
- Foi Lucius que prendeu você? – perguntou Rony.
- Sim, ele e mais quatro comensais. Mas eu só o reconheci porque fiz a máscara dele se partir com um feitiço. Ele ficou tão zangado com o machucado que provoquei que quando conseguiram me deter, a primeira coisa que fez foi estraçalhar a minha varinha.
- Então teremos um problema! Onde vamos encontrar outra loja de varinhas?
O Sr° Weasley que acabara de entrar no quarto e ouvira parte da conversa respondeu:
- Não se preocupem, a Olivaras está aberta esta semana inteira. O Ministério colocou a loja sob tutela do Gringotes, certificando-se de que todo bruxo que necessite, esteja devidamente preparado para se defender. Se quiser Hermione, eu a acompanho até lá agora mesmo.
Eles saíram em seguida e foram até a loja. Tudo estava muito diferente. Os duendes eram seres extremamente detalhistas e organizados, gostavam de cada coisa no seu devido lugar e trataram de arrumar aquela loja de um jeito bem mais prático.
Para serem atendidos, eles tiveram que ficar numa fila. Apenas uma pessoa por vez poderia entrar, ser revistado, fazer a escolha da varinha e sair com o pagamento efetuado no caixa. Foi preciso esperar uns cinco bruxinhos, que deveriam ingressar em Hogwarts no dia seguinte, escolherem suas varinhas para que ela pudesse pegar uma varinha nova.
- Você já deveria ter uma varinha – disse desconfiado o duende que revistava a garota.
- Eu tinha, mas ela foi destruída – respondeu um tanto constrangida a garota.
- Mal uso? – retrucou a criatura.
- Não, ela foi destruída por um comensal que me atacou – respondeu irritada.
O duende olhou a garota um tanto admirado. Ela parecia ser muito jovem para chamar a atenção de um comensal. Passou o dedo num pergaminho e entregou a garota.
- Siga em frente, entregue esse papel a Aldroch e espere que ele procure a sua varinha.
Ela foi até as fileiras enormes de varinhas amontoadas e entregou o papel para o duende indicado. Este abriu o papel, leu e pareceu bem interessado.
Sem falar nada, entrou nos corredores mais escondidos da loja e voltou com quatro varinhas diferentes, colocando-as na mesa e indicando a jovem bruxa que ela deveria testá-las.
A primeira varinha, feita de mogno, 23 centímetros, com um fio de cauda de unicórnio não mostrou reação nenhuma ao ser tocada pela garota. A segunda, de cerejeira, 17 centímetros e fio de cabelo de veela também não quis pertencer a Mione.
A terceira varinha resolveu a questão. A única de toda loja que era feita de marfim. Tinha 21 centímetros e sua essência mágica provinha de um fio de coração de dragão. Assim que a garota segurou o objeto, o mesmo respondeu emanando uma intensa luz branca.
- Perfeito! – comentou o duende.
- O que disse?
- Disse perfeito, foi a escolha perfeita para alguém como você. Agora é só pagar no caixa e pode ir.
Mione não entendeu muito bem o que o duende quis dizer com “alguém como você”, mas não se preocupou com isso. Fez o pagamento e saiu da loja.
O Sr° Weasley a levou de volta ao Caldeirão e disse que descansasse. A viagem até Hogwarts seria no dia seguinte, às 11 horas, como sempre.
A jovem mostrou sua nova varinha aos amigos. Testou alguns feitiços e ficou satisfeita com os resultados. Eles passaram o dia no Caldeirão Furado. Ninguém queria correr riscos desnecessários e eles aproveitaram para colocar Mione a par de toda a história e ouvir o que aconteceu com ela no dia do seqüestro.
- Foi tudo muito confuso! – começou a garota – Eu me despedi do Harry e saí arrastando meu malão. O lugar que deveria encontrar o pai de Rony não era muito distante então resolvi ir a pé mesmo. Mas eu nem cheguei a andar 3 blocos quando alguém puxou minha bagagem. Quando me virei estavam seis comensais com as varinhas apontadas para mim.
Harry, Rony e Gina prestavam o máximo de atenção. Nem respiravam direito para não atrapalhar o ritmo da narrativa.
- Não dava exatamente para perceber quem eram, mas eu sabia que não poderia enfrentar a todos daquele jeito. Lembrei das aulas de conjurar feitiços silenciosamente e provoquei um deles, já com o feitiço de bloqueio preparado. Isso foi suficiente para dar tempo de pegar minha varinha e começar a enfrentá-los. Eu os bloqueava sem parar e não tinha tempo de atacar ninguém. O único que consegui atacar, e aí pude ver o rosto, foi o pai de Draco. Acertei-o com um feitiço bem na máscara que se partiu e acabei o deixando com uma bela queimadura de terceiro grau próximo ao olho.
- Uau! Essa eu queria ter visto – disse Rony admirado com a coragem da garota.
- De todo jeito, eles eram em maior número e acabaram me prendendo. Malfoy fez questão de destruir minha varinha e juntos, eles aparataram comigo presa. Nós chegamos àquele lugar sinistro e logo me colocaram na ilha. Todos pareciam bem desconfortáveis ali. Trataram logo de sair de perto. Eu tentei aparatar novamente, mas não consegui. Só mais tarde é que entendi que ali era uma zona de neutralidade mágica.
- Por isso as nossas varinhas não funcionavam, Harry! – exclamou Ron.
- Como assim? – questionou Mione.
- Ah, depois a gente explica! – falou Harry – Agora continue contando.
- Não tem muito mais o que contar. Até agora eu não sei o que queriam comigo. Eles me deixavam cada vez mais aterrorizada. Penduravam carniça por toda a cerca e soltaram abutres para comê-las. Vez ou outra, um deles acabava me atacando. Eles eram bem agressivos e eu fui ficando machucada. O clima também não ajudava, quando a noite caía eu não conseguia enxergar nada. Nem uma luz ou mesmo uma estrela no céu. Só algumas coisas brilhavam no fundo da água.
- Inferis – comentaram Harry e Rony ao mesmo tempo.
- Exato! Parecia que eles adoravam me ver desesperada. A cada ataque que eu sofria daquelas aves horrorosas, eles se aproximavam da ilha e eu sentia minhas forças se esgotarem. Desmaiei várias vezes, gritei por socorro e tive diversos sonhos com vocês. Quero dizer, mais com o Rony. O Harry só apareceu nos meus sonhos uma vez.
- Nós também sonhamos com você, Mione! Aliás, foi só por esses sonhos que conseguimos te encontrar – explicou Rony meio encabulado.
- Eu nem imaginava... Acho que só posso agradecer a vocês por não esquecerem de mim.
- Eu nunca iria esquecer de você! – afirmou Rony sem perceber que suas palavras fizeram os outros ficarem constrangidos.
- Vou arrumar minhas coisas – disse Harry se levantando.
- Boa idéia! – falou o rapaz finalmente percebendo o que falara.
O expresso de Hogwarts partira exatamente às 11 horas como sempre fizera. Os quatro amigos, Harry, Mione, Gina e Harry dividiram uma cabine e seguiram para a escola. As aulas, aquele ano, estavam começando com uma semana de atraso.
- Vai ser complicado acompanhar toda a matéria com esse tempo todo perdido – falou Mione assumindo novamente seu lado de garota intelectual.
- Que nada – retrucou Gina – acabei de dar uma volta pelo trem e percebi que o número de alunos diminuiu muito. Especialmente alunos da Sonserina. Parecem que eles não são mais bem vistos por aqui.
- E alguma vez eles foram bem vistos nessa escola? – brincou Rony.
A viagem seguia tranqüila e Harry pode se reencontrar com outros amigos. Neville parecia ainda mais alto, enquanto Luna se mostrava bem mais excêntrica que antes. Dino Thomas estava empolgado com a retomada das reuniões da Armada de Dumbledore.
Assim que chegaram eles puderam perceber que o castelo estava diferente. Uma densa neblina cobria todas as divisas da escola. A Floresta Proibida fora separada com um muro de pedras que brilhavam e davam choques em quem tentasse se aproximar.
Outra mudança foi quanto à direção da escola. Ao contrário do que todos esperavam, a direção não foi concedida à professora Minerva McGonagal. O Ministério designou que os bruxos membros do Conselho Educacional supervisionassem o castelo até que tudo estivesse de acordo com as novas medidas de segurança exigidas.
A casa de Sonserina ficou sob a responsabilidade do professor Slughorn que foi aluno dessa casa quando estudou em Hogwarts.
Era estranho, pensou Harry, recomeçar as aulas sem a presença de Dumbledore ali, sentado ao centro da mesa dos professores dando conselhos, recados e fazendo discursos malucos.
Os alunos participaram do primeiro banquete e foram rapidamente conduzidos até os quartos para que arrumassem suas coisas. A primeira aula seria as oito da manhã do dia seguinte.
No salão comunal da Grifinória, Harry e Rony discutiam sobre quando seria a primeira reunião da Armada e da Ordem da Fênix. Os colegas que já haviam deixado a escola, como Angelina Johnson e os gêmeos Weasley, agiriam do lado de fora, repassando a eles todas as informações que conseguissem apurar.
Mione ficou na ala hospitalar, já que precisava e cuidados especiais, principalmente a noite quando ainda tinha uma grande dificuldade para dormir provocada por pesadelos em que se via novamente na ilha.
- E se fecharam as passagens secretas, Harry? – perguntou Rony.
- Isso é fácil de descobrir. Vou buscar aquele mapa e a gente confere todas as partes do castelo.
Harry correu até o quarto, abriu o malão e logo estava de volta com o Mapa do Maroto. Ele encostou a varinha no mapa enquanto dizia:
- Juro solenemente que não farei nada de bom!
Uma grande mancha avermelhada apareceu no mapa e foi tomando forma de corredores, escadas, salas e escrevendo o nome de pessoas.
Os dois rapazes procuraram conferir cada pedaço do mapa, para se certificar de que nenhuma das novas medidas os atrapalharia de seguir com o plano de participar das reuniões da Ordem.
- Olha isso que interessante! – chamou Rony.
- O que?
- A Sala Precisa. Ela não está mais no mapa.
- Deixa eu ver. Nossa, é verdade. Provavelmente ela só apareça quando alguém a esta utilizando. Aquela vez, Draco estava usando a sala para criar uma outra passagem secreta para dentro do castelo – disse Harry se levantando e se aproximando da lareira acesa.
- Tem outra coisa aqui – disse Rony numa voz bem séria.
- Acho que esse mapa sempre vai revelar alguma surpresa. O que é agora?
- A Sala de Dumbledore. Tem alguém nela.
- Quem? – perguntou Harry sem se preocupar, pois com certeza a sala do Diretor seria ocupada pelos membros do Conselho.
- Isso é que é estranho. Não tem nome. Eu só vejo os passos.
Harry correu para o mapa. Realmente havia alguém não identificado na sala do diretor.
- Não serão os membros do Conselho? – perguntou a Rony.
O rapaz deu uma rápida olhada no mapa e retrucou:
- Não! Todos os 12 conselheiros estão na sala da McGonagal.
Sem esperar mais nenhuma explicação, Harry saiu decidido enquanto dizia para o amigo:
- Se arruma que eu vou buscar a capa.
Eles saíram agachados sob a capa da invisibilidade. Desde que Harry ganhara o presente no primeiro Natal que passou em Hogwarts, eles haviam crescido muito e já não cabiam bem embaixo dela.
Por esse motivo, eles combinaram que levariam o mapa e só usariam a capa se vissem alguém no caminho.
Filch apareceu apenas uma vez, mas estava tão preocupado em fazer bonito na presença dos conselheiros que nem ouviu o barulho dos passos dos garotos.
Assim que eles chegaram em frente à gárgula de pedra é que se lembraram de um detalhe peculiar: precisariam de uma senha para passar.
- E agora? – quis saber Rony.
O mapa indicava que a pessoa ainda estava na sala.
- Não sei, deixe-me pensar um pouco. As senhas costumavam ser coisas que ele gostava muito. Coisas simples...
- Como, Gota de Limão?
- Essa ele já usou muito.
- Que tal, Pingo de Chuva? Cor de Arco Íris? Feijõezinhos de Todos os Sabores?
- Que você está fazendo? – perguntou Harry andando de um lado para o outro.
- Sei lá. Chutando um monte de frases. Por que você não tenta isso também?
- Ah, mas eu vou falar o quê? Não faço a menor idéia do que...
Antes que Harry terminasse a frase, a gárgula saltou para o lado abrindo passagem para os dois.
- Legal! “Não faço a menor idéia”! Isso é bem típico de Dumbledore – comentou Rony que aprendera muito sobre o diretor através da convivência e dos relatos de Harry.
Eles subiram os degraus vagarosamente para não fazer barulho.
- Harry, o mapa – sussurrou Rony – Ele está indo em direção à parede. Espere, ele sumiu! Será que era um fantasma?
- Vamos entrar e descobrir – respondeu Harry abrindo a porta.
Não havia ninguém mais lá.
Eles se aproximaram do local onde a pessoa misteriosa estivera segundos antes, mas não acharam nada. Nenhum vestígio de absolutamente nada.
- Será que ele pegou alguma coisa daqui? – falou Rony.
- Acho difícil! Apesar de não saber exatamente tudo o que Dumbledore guardava, sei que é impossível atravessar uma parede carregando um objeto. E aparatar aqui em Hogwarts todos nós sabemos que é impossível.
Rony se jogou numa cadeira desanimado. Pensara que teria mais ação dessa vez. Aço de verdade, não só sonhos. Mas fora inútil.
- Acho que ninguém mais veio aqui desde... o funeral, sabe?
- Como sabe?
- As coisas estão todas do mesmo jeito. A bacia com a poção que ele estava usando para curar as mãos, as anotações que fez sobre as horcruxes, a penseira no mesmo lugar... Quem quer que estivesse aqui tratou de não levantar suspeitas!
Eles voltaram para o dormitório. Combinaram de só contar o fato para Gina e Mione, por enquanto. Assim que marcassem a reunião da Armada, colocariam todos a par de tudo.
De manhã Mione ficou chateada de não poder estar com eles. Ela ainda precisaria dormir na ala hospitalar pelo resto da semana. Gina também se chateou por eles não a terem avisado. Mas se interessou muito em saber que existia alguém que o mapa não identificava.
- Não pode ser um fantasma, pois até os fantasmas são vistos aqui – comentou Mione enquanto se dirigiam para as aulas.
- Isso é suspeito. A princípio eu pensei que fosse alguém que o mapa não conhecia. Mas ele reconhece imediatamente o nome de todo mundo, até os 12 conselheiros do ministério ou os alunos do primeiro ano.
- E o lance da Sala Precisa? – lembrou Gina.
- Acho que seria bom a gente testar no intervalo após o almoço – sugeriu Mione. – Só para ter certeza que ela aparece quando está sendo usada. Pois não podemos esquecer que o castelo foi modificado. E se trancaram a Sala?
As aulas da manhã passaram lentas e as horas arrastadas tamanha era a ansiedade de cada um para checar o funcionamento da sala do corredor do sétimo andar. Eles mal tocaram na comida quando chegou a hora do almoço.
Estavam fazendo um pouco do hora no Grande Salão para disfarçar quando a aluna da Corvinal, Susana Bonnes, se aproximou.
- Oi Mione, fiquei sabendo o que aconteceu com você. Sinto muito! Minha tia me contou tudo.
- Sua tia? – perguntou Mione acreditando que o trato com o Ministério era de que a história não se espalhasse.
- Sim, foi minha tia que tirou você de lá. Tia Rox é ótima, mas fazia muito tempo que não a via.
- Nossa, na hora nem percebemos que os sobrenomes de vocês são os mesmos – falou Rony entrando na conversa.
- Ah, mas a gente nem repara nos detalhes quando a situação é complicada. O importante é que tudo deu certo. Vejo você mais tarde na aula de Runas.
Susana saiu e deixou os rapazes mais uma vez às voltas com o problema do Mapa.
- E então? Vamos lá? - chamou Gina, impaciente por um pouco de ação.
Eles correram para o sétimo andar e pararam de frente para a parede que mostraria o local da sala.
- Que sala vamos procurar? Quer dizer, o que nós precisamos mentalizar dessa vez? – perguntou Mione.
- Que tal uma sala nova para as reuniões da Armada? - sugeriu Rony.
- Boa... deixa comigo! – falou Harry – enquanto eu passo as três vezes, vocês observam o mapa.
Eles abriram o mapa no chão e sentaram em volta dele. Harry passou as três vezes mentalizando uma nova sede para a Armada e pode ver a porta surgir na parede, enquanto os outros a viam aparecendo no mapa.
- Ufa, é isso mesmo Harry! A Sala só aparece quando é usada! – disse Rony aliviado.
- Vamos entrar? – perguntou Mione.
- Claro! Por que não? Assim temos a oportunidade de ver qual local a Sala acha que é apropriado para as reuniões da Armada.
Eles abriram a porta e entraram numa sala ampla e muito empoeirada. Vários móveis estavam espalhados e a um canto Harry reconheceu o velho armário que havia usado para esconder o livro de poções que fora de Snape.
Era o mesmo armário trazido por Draco que fazia par com um armário velho numa loja da Travessa do Tranco especializada em artefatos malignos.
Harry se aproximou do armário, pegou o livro e ficou olhando em volta, tentando entender por que aquele seria o melhor lugar.
- Essa sala deve estar maluca - disse Gina olhando a quantidade de móveis velhos corroídos por cupins.
- É, mas agora não temos mais tempo para pensar nisso. A próxima aula é em 10 minutos e temos que correr para não nos atrasarmos. Além disso, ninguém pode desconfiar da gente! Antes de dormir, nós podemos voltar aqui ou mesmo ir para a Sala de Dumbledore, já que ela está desocupada – falou Mione.
As aulas daquele dia foram mais corridas que de costume. O medo dos ataques se repetirem fez com que o Conselho Educacional modificasse o conteúdo de cada disciplina. Basicamente, os alunos tinham matérias que fossem práticas e importantes para o dia a dia.
As aulas de vôo foram modificadas para ensinar técnicas básicas de fuga. As aulas de Poções, ministradas pelo professor Slughorn, foram direcionadas para ensinar a cada aluno poções de cura, contra dor, contra envenenamentos. O objetivo era que cada aluno pudesse desenvolver seu próprio kit de primeiros socorros.
E assim, cada matéria era ensinada com rigor, pressa e um pouco de estresse por parte dos professores que se viam sob a supervisão dos maiores nomes em educação bruxa de toda Europa.
O fim da tarde chegou e com ela uma grande tempestade. O céu se cobriu por completo de densas nuvens negras. O vento balançava cada árvore fazendo com que algumas fossem arrancadas pelas raízes. Os relâmpagos cortavam os céus e o barulho dos trovões ficava cada vez mais ensurdecedor.
A cada brilho provocado pelos raios, Mione olhava para os lados como se esperasse ver um dos inferis ali mesmo.
- Você está bem, Mione? Quer ir para a enfermaria? – perguntou Rony todo preocupado.
- Não! Por favor, não me deixem lá sozinha! Eu preciso enfrentar isso, está bem? Mas preciso de vocês por perto!
- Tudo bem! Então vamos sair daqui antes que alguém chame a Madame Pomfrey para cuidar de você.
Rony abraçou a amiga e correu com ela pelos corredores. Harry, Gina, Neville e Luna, que estavam com os dois, correram atrás até chegarem diante da Gárgula que protegia a entrada da sala que fora de Dumbledore.
- Não faço a menor idéia! – disse Rony convicto.
A Gárgula saiu da frente e ele entrou com a garota, seguido de perto pelos demais.
O barulho ali era menor, e a existência de janelas só no alto da torre impedia a claridade dos relâmpagos de chegar até eles.
O quadro do ex-diretor continuava ali, dormindo, assim como os demais.
Rony fez Mione se sentar numa cadeira, enquanto Gina conjurava almofadas para todos e acendia a lareira.
- E agora? Vamos fazer o que? – perguntou Luna enquanto ajeitava as cinco penas de pavão que enfeitavam seu cabelo.
- Acho que a gente podia decidir quando vamos nos reunir, e o que exatamente vamos fazer. Afinal, as aulas estão bem intensas e temos o treinamento adequado para nos defender – comentou Neville.
- O objetivo da Armada este ano vai ser diferente – começou Harry – porque nós não precisamos apenas saber lutar, temos que saber pensar, reunir informações e trabalhar num projeto que Dumbledore deixou inacabado.
- Qual? – perguntaram todos ao mesmo tempo.
- Temos que reconstituir a vida de Voledmort. – o garoto prosseguiu não dando a mínima para a cara de espanto de Neville – Esse é o único jeito de descobrirmos os pontos fracos dele.
- Tudo bem, Harry. Mas como faremos isso? – perguntou Mione evidentemente mais calma, mas ainda procurando a mão de Rony sempre que um rumor de trovão chegava até eles.
- Simples, cada um de nós tem contatos lá fora. O pai da Luna tem uma revista, deve conhecer muita gente. O Sr° Weasley além de trabalhar no Ministério, é membro da Ordem da Fênix. E todos nós poderemos escrever para amigos e conhecidos.
- Meu pai conhece muita gente estranha, vocês nem acreditariam se vissem – comentou Luna.
- Mais estranhas que você? – comentou um quadro de um diretor muito arrogante.
- Nossa, você nem faz idéia. Eu sou absolutamente normal perto daquela gente – respondeu a jovem com a naturalidade de quem está acostumada a ouvir aquele tipo de comentário.
O assunto morreu naquele comentário. Eles ficaram ali em silêncio, sentindo o calor que emanava da lareira acesa. A tempestade trouxe um frio fora do comum para o mês de setembro.
- Essa sala é muito legal – comentou Neville que só estivera na sala de Dumbledore uma única vez.
- Tem tanta tralha que acho que nem mesmo Dumbledore sabia para que existia – falou Gina.
- Ah, isso costuma acontecer com o meu pai muitas vezes. Ele coleciona objetos trouxas – falou Rony para Neville e Luna que ainda não conheciam os hábitos do Sr° Weasley – e a maioria deles fica num galpão sem que ele saiba para que servem. Gosta apenas de observá-los.
- Aposto que a Mione consegue saber para que serve cada uma dessas coisas – brincou Gina em tom desafiador.
- Até posso descobrir, mas não vou sair por aí mexendo nas coisas que foram de Dumbeldore. Seria um desrespeito.
- Deixa disso,Mione. - icentivou Rony.
- O que você acha, Harry? – perguntou a jovem bruxa ao rapaz que até então não participara da discussão.
Ele olhou toda a sala. Viu o poleiro vazio de Fawkes, a bacia com um resto de poção, o armário que guardava a penseira.
- Eu acho – respondeu com um suspiro – que é isso que devemos fazer. Descobrir o que temos aqui na sala de Dumbledore. Se ele realmente queria que eu continuasse a busca, deveria saber que ia começar por aqui.
Todos os outros ficaram de pé na mesma hora. Ia ser muito emocionante revirar a sala de Dumbledore e descobrir os segredos guardados pelo bruxo que todos ali consideravam como o maior e mais brilhante daquela época.
- Quanto tempo ainda temos antes da hora de recolher? – perguntou Rony.
- Fica tranqüilo – respondeu Gina – ainda temos quase duas horas.
Eles começaram a busca na sala pelos aparelhos espalhados. Alguns provocavam certo medo pois eram feitos de metal, tinham partes pontudas e até com lâminas afiadas. Outros serviam para tarefas simples, como selar pergaminhos, amplificar a voz para mandar berradores, identificador de sabor de chá etc.
O que realmente começou a mudar o rumo das coisas foram os pergaminhos amontoados sobre a mesa e amassados pelo chão.
- São rascunhos, idéias que ele teve antes de ir com você Harry – disse Neville.
- Mas a letra está tão faia – comentou Luna.
- Ele estava com a mão machucada – explicou Rony.
- Então isso explica a poção de Somutafora - comentou Neville mais uma vez – é um ótimo cicatrizante e impede os machucado de infeccionarem.
Harry pegou alguns dos pergaminhos e começou a ler. Não havia nada de diferente do que ele sabia. Todas as informações que ele acompanhou nas lembranças de Dumbledore, os assassinatos cometidos por Voldemort quando ainda era aluno de Hogwarts, 55 anos atrás.
- Então, ele começou a matar assim, tão cedo? – espantou-se Neville, que não tinha coragem sequer de matar uma formiga.
- Ele fez coisa muito pior. Em outra hora eu explico melhor o que é, mas agora precisamos ir embora – chamou Harry.
Quando estavam todos saindo, Mione viu uma coisa que lhe chamou a atenção.
- Esperem um pouco – disse indo até uma estante atrás da mesa e pegando um livro grosso e antigo – Nunca vi esse livro aqui. Não é da biblioteca.
- Como é possível saber todos os livros que tem na biblioteca? – perguntou Rony admirado.
- Eu não sei de todos os livros. Só disse isso porque este aqui está etiquetado.
A etiqueta, na contracapa do livro dizia:

Propriedade de Abeforth Dumbledore
Hogsmeade, Inglaterra, 1930

- Uau! É um livro bem antigo! Fala sobre o quê? – quis saber Gina.
- Vou ver dentro, porque a capa está completamente desbotada – respondeu Mione enquanto folheava o livro.
A capa de couro preto estava realmente muito velha. Não havia nenhum sinal sequer de que em algum momento um nome tivesse figurado ali. As paginas eram de pergaminho velho e amarelado, escrito com uma tinta escuro e um tanto borrado.
- Parece escrito à mão – observou Harry.
- E é – respondeu Mione – É um livro de 1275, com rituais da mais avançada magia druídica. Isso não se ensina na escola há pelo menos 350 anos.
- E como esse livro veio parar aqui? Ou melhor, como o irmão de Dumbledore conseguiu esse livro em 1930? – questionou Rony.
- Não dá para saber! Bom, pelo menos eu vou ter alguma coisa para fazer esta noite.
- Mione, você vai levar esse livro com você? – perguntou Neville.
- Olha, acho que os quadros não vão querer lê-lo, não acha?
Eles saíram da sala, deixaram Mione na ala hospitalar e voltaram para os dormitórios. Harry, Rony e Gina continuaram no salão comunal conversando enquanto Neville se preparava para dormir. Ele prometera ajudar a professora Sprout antes da primeira aula do dia seguinte com as mudas de uma planta nova que ela trouxera da sua viagem de férias.
Harry observava os dois irmãos discutindo tudo o que viram na sala do ex-diretor e pensava qual seria a melhor coisa a se fazer dali para frente. No salão comunal a tempestade voltava a aterrorizar. Ela não espaçara nem um pouco. Ao contrário, o barulho, o vento e o volume de água pareciam aumentar cada vez mais.
Ele se lembrou que o mapa do maroto ainda estava em seu bolso e ele esquecera completamente de apagá-lo quando saiu da Sala Precisa aquela tarde. Tirou-o com cuidado para que outros alunos não fossem bisbilhotar e abriu dentro de um exemplar do Profeta Diário que estava jogado num dos sofás.
Observou Mione na ala hospitalar, a professora Minerva conversava com um bruxo de nome George Trembrant. Slughorn dormia em sua sala enquanto alguém não identificado revistava sua reserva de ingredientes.
- De novo! – exclamou Harry.
- De novo o que? – perguntou Gina.
- A pessoa misteriosa, lembram? Ela está de novo no castelo, mas agora está na sala do Slughorn roubando ingredientes!
- É a nossa chance de pegá-la! – animou-se Gina.
- Vocês dois estão loucos? A sala do Slughorn fica do outro lado do castelo. Quando chegarmos lá, o estranho já terá saído – argumentou Rony.
- E se checarmos para que lado ele vai? Assim, vamos sair com o mapa e tentamos encurralá-lo assim que for possível – sugeriu a irmã do garoto.
- Eu topo – disse Harry se levantando.
- Mas a capa não é suficiente para nós três – falou Rony tentando impedir a irmã de participar daquela loucura que, na opinião dele, era muito perigosa.
- A gente faz o mesmo esquema de ontem. Levamos a capa e se alguém vier, nos escondemos agachados debaixo dela – resolveu Harry.
Assim, os três amigos deixaram a torre da Grifinória em direção ao estranho que invadira o castelo pela segunda vez.
A todo instante eles checavam no mapa se a pessoa em questão estava se movimentando.
- Ele saiu! – disse Harry baixinho.
- E está indo para onde? – falou Gina.
- Está correndo para a sala de Dumbledore mais uma vez.
- Que pilantra, ele ainda vai conseguir chegar lá antes de nós. Se tivéssemos esperado um pouco mais e não dado essa volta enorme conseguiríamos alcançá-lo.
- Fale menos e corra mais, Ron – pediu a irmã disparando atrás de Harry.
Eles correram o mais rápido que puderam. Alcançaram a gárgula ainda em tempo de ouvir a porta se fechar. Harry deu a senha, mas a gárgula parecia dormir.
- Será que está enfeitiçada? – disse Ron.
- Vamos ver! Enervate! – disse Gina apontando a varinha para o monstro de pedra.
A gárgula estremeceu e olhou para os rapazes ali. Eles deram a senha novamente e subiram apressados.
Conseguiram entrar na sala a tempo de ver um resto de capa esverdeada passar pela parede.
- Não acredito! – gritou Harry dando um murro na parede. – Chegamos tão perto. E como pode ser alguém passar pela parede? Vocês viram, não é mesmo? A capa dele, ou dela, tinha cor, não tinha?
- Tinha, sim, pelo menos eu vi – afirmou Rony.
- Então não era um fantasma. Como pode ser isso? – disse o rapaz enquanto andava de um lado para o outro, como o diretor costumava fazer quando não conseguia raciocinar.
- Ninguém consegue passar pela parede se não for um fantasma, Harry. – informou Gina.
- Disso eu sei!
- Não, você não está entendendo. Raciocine comigo: só fantasmas podem atravessar paredes, certo? E fantasmas não têm cor, são apenas impressões levemente pálidas, de acordo?
Harry balançava a cabeça enquanto se jogava sentado num degrau de uma das escadas da sala.
- Mas nós vimos essa pessoa, vimos a cor de sua veste. Isso descarta a possibilidade dela ser um fantasma. O que descarta a possibilidade dela ter simplesmente atravessado a parede.
- Brilhante, Gina! – falou Rony irônico. - E o que ela fez? Simplesmente aparatou daqui de Hogwarts? Ou ainda, ela usou uma espécie de pó de flu que só funciona em paredes e muralhas centenárias?
- Deixa de ser irritante, Ron! – berrou a menina. – Usa essa sua cabeça para pensar em alguma coisa que não seja quadribol ou Hermione! Não tem parede nenhuma ali. Como na plataforma 9 ¾ que a gente atravessa para pegar o expresso de Hogwarts.
Os dois olharam abismados para a menina. Era uma idéia simples demais para ser verdade. Simples como as coisas que Dumbledore apreciava.
- Não custa tentar – falou Harry levantando-se mais uma vez e indo em direção à parede.
- Harry – chamou Gina – é melhor deixar a varinha preparada caso precise se defender do intruso.
Ele fez um aceno afirmativo, enquanto pegava a varinha e encostava o nariz na parede. Rapidamente sentiu seu rosto afundar. Logo todo seu corpo atravessou a suposta parede do fundo da sala do diretor e ele se viu numa sala bem mais ampla, sem quadros ou um monte de tralhas e objetos estranhos desconhecidos. Fez o caminho inverso e vendo que dava certo chamou Gina e Rony para entrarem com ele.
Os três amigos notaram que o intruso não se encontrava mais ali. E o Mapa do Maroto agora apontava mais uma sala.
- Com certeza seu pai e os amigos dele não conheciam essa sala. Por isso ela não estava no mapa – justificou Gina.
- Mas que sala é essa?
Harry olhou o mapa e nele apareceu escrito: Sala da Segurança.
- Aqui é que é feito todo controle da segurança de Hogwarts – explicou Harry observando mais de perto os poucos instrumentos que tinha ali.
Um enorme rolo de pergaminho desenrolava uma ponta enquanto uma pena flutuante escrevia nomes e fatos, e enrolava a ponta do outro lado. Harry observou escritos ali os nomes de todos os alunos que saíam e voltavam do colégio. Tudo era anotado ali, naquele pergaminho, os nomes, a data e a hora.
Ainda dava para ler os nomes das pessoas que transitaram por Hogwarts nas últimas semanas do ano letivo anterior.
- Vejam, aqui tem o nome de todos os comensais. E aqui para baixo o número de vezes que eles vieram ao castelo antes do ataque. Provavelmente para preparar as coisas – ia dizendo Harry enquanto desenrolava o pergaminho.
- Sabe o que é estranho? – perguntou Rony já com a resposta formulada – É que Eu lembro de Dumbledore ter se ausentado do castelo várias vezes, mas aqui quase não registra o nome dele.
Harry desenrolou mais um pouco o pergaminho e respondeu:
- Tem outro ponto bem mais estranho que o nome de Dumbledore aparecer poucas vezes aqui. Olhem esse nome – disse apontando para uma das anotações feitas pela pena mágica.
Gina e Rony olhavam do rosto de Harry para o pergaminho. Procuravam entender como aquilo poderia acontecer.
- Vamos falar com Mione amanhã. Talvez ela consiga nos dar uma luz, apesar de eu já começar a entender certas coisas – falou Harry saindo da sala e voltando imediatamente para o dormitório.
Ele ia demorar muito para pegar no sono, mas precisava ir para sua cama. Para colocar os pensamentos em ordem!

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