Escritos e Pena



Harry saltou da árvore com uma sensação horrível. Aquilo que lhe brotava da testa escorria-lhe pelo rosto e ele mal precisou sentir o gosto para saber o que era. Luna sacou um lenço do bolso e apertou-o contra a testa de Harry como que a fim de barrar o sangue, mas em segundos o lenço, antes branco, estava vermelho.

- Não para!- murmurou Luna enquanto levantava rapidamente o lenço para tentar ver a origem do sangue que de uma forma ou de outra era bem clara para ambos.

- Tem que parar!- disse Harry.

- Dói?- perguntou Luna enquanto apertava o local.

- Não mais que antes.- respondeu Harry fitando uma Luna compenetrada.

- Precisamos de água.- disse Luna finalmente tirando o lenço dali.- Vamos entrar.- completou dando as costas.

- Não.- disse Harry segurando-a pelo braço.- Escute, as coisas estão se complicando para nós. Alguém precisa buscar ajuda.

- Vamos entrar e cuidar disso.- disse a garota indicando a testa de Harry de onde o sangue ainda minava.

- Não! Luna, você tem que entender.- disse ele.- Não podemos perder tempo. Hermione...

- Harry!- interrompeu Luna soltando um suspiro.- Você confia em mim?

Harry parou e fitou-a demoradamente. Ela era Luna Lovegood, ou Di-Lua para os pejorativos. Era a garota que vivia nas nuvens, que inventava histórias. Era a Corvinal excêntrica que usava chapéus estranhos e os cabelos tão longos que seria possível enforcar-se em uma trança feita dos mesmos*¹. Ela era a filha do dono da revista O Pasquim e acreditava em coisas nas quais ninguém mais acreditava.

Harry lembrou-se de quando conhecera Luna. Uma época na qual poucos acreditavam nele e ela estava lá, pronta para ouvir seus ensinamentos. O fato de ela ter acreditado nele talvez mostrasse que nada é tão impossível quanto pareça. E então ele lembrou-se de Hermione e das palavras sábias que Luna muitas vezes dissera a respeito do relacionamento dela e de Harry.

- Sim.- disse ele finalmente.

- Vamos entrar.- disse ela.- Vamos ver o que podemos fazer para estancar o sangue e então você vai se acalmar enquanto eu ajeitarei as coisas para deixarmos este lugar.

- Como?- perguntou Harry.

- Não disse que confia em mim?- indagou Luna.- Venha, vamos entrar.

Harry acabou seguindo atrás dela. Gina e Blás comiam qualquer coisa e Draco estava adormecido a um canto enquanto Belatriz examinava as armas que ele trouxera.

- Harry!?- disparou Gina se levantando da poltrona onde estava assentada.- O que aconteceu?

- Não sabemos ainda.- disse Luna antes de sumir pela porta que levava ao banheiro.

Belatriz se deixou cair assentada na cama sobre a qual estava Hermione e observou com certa excitação um Harry Potter com o rosto e camisa manchados de sangue atravessar o aposento. Logo o garoto também sumiu banheiro à dentro. Gina foi atrás. Draco havia acordado e observava a cena com expressão grave no rosto.

Belatriz se levantou e lentamente guardou as espadas e adagas dentro do baú ao pé da cama. Em seguida ela caminhou até Hermione e verificou-lhe a pulsação. Por último seguiu até a porta do banheiro e observou Luna torcer o lenço na pia e voltar com o mesmo à testa de Harry.

- Mergulhe na banheira.- ela limitou-se a murmurar.

Luna, Gina e o próprio Harry olharam para ela.

- Cheia de água?- indagou Gina.

- Se o bebê Potter preferir ele pode esperar até seu próprio sangue enchê-la.- respondeu Belatriz secamente enquanto com um toque da varinha fazia a dita cuja começar a encher-se. Em seguida ela deu as costas e deixou o banheiro.

- Faça o que ela disse.- disse Luna enquanto deixava o banheiro puxando Gina pelo braço.

Harry observou a porta sendo fechada e então se olhou no espelho circular que havia ali. Metade de sua camisa já estava tingida de sangue, a banheira já estava cheia. Ele se despiu e mergulhou ali. Quando voltou à superfície deixou-se estar ali por alguns minutos que foram suficientes para tingir a água em um tom rosado.




****




- A senhora estudou medicina bruxa?- indagou Luna observando a comensal que compenetrada observava a clareira lá fora.

Belatriz se virou. “Senhora”. Não estava acostumada ao jeito como aquela palavra soava. Pouquíssimas vezes fora chamada daquilo.

- Não.- respondeu fitando aquela curiosa garota.

- Então nem deve saber sobre sangramento incorpóreo, certo?- indagou Luna distraidamente.

Belatriz a fuzilou com os olhos tentando vasculhar-lhe a mente. Não descobriu nada mais que a filiação daquela desconhecida.

- Minha mãe foi uma excelente medibruxa.- disse ela.- E todo bom Comensal da Morte sabe o suficiente de primeiros socorros para...

- Para...?- prosseguiu Luna.

- Para salvar a vida de alguém.- interrompeu Draco de seu canto.

Luna calou-se e concentrou-se em ignorar Draco. Blás cochilava em sua poltrona e Gina acariciava os cabelos de Hermione. Belatriz ainda media Luna com as sobrancelhas franzidas e a boca crispada enquanto considerava algumas possibilidades.

- Estudei com sua mãe, moleca.- disse ela pensativa e em tom sério.- Ela era uma das poucas Corvinais sociáveis.

- Se interessava por magia obscura.- disse Luna como quem responde à um estranho que horas são.- Como o fogo.

- Como a Legilimência.- murmurou a Comensal antes de deixar a cabana com um farfalhar de vestes.

Luna permaneceu imóvel por algum tempo. Um filete de sol entrava pela janela e ia direto no rosto de Draco. Este se levantou e foi assentar-se no chão, ao lado da cama de Hermione. Luna finalmente se mexeu e aproximou-se da cama.

- Ela não acordará tão cedo.- murmurou.- Temos que voltar à Hogwarts, Draco.

- Vamos esperar Hermione melhorar.- respondeu o outro de olhos fechados, a cabeça apoiada à parede.

- Ela já obteve os primeiros socorros.- disse Luna.- Já é o suficiente para seguirmos viagem.

- Como você pode garantir que eles serão suficientes?- perguntou Draco.

- Sua tia sabe das coisas.- disparou Luna.

- Não sabia que você seria capaz de confiar em uma Comensal.- disse Draco.

- Há muitas coisas mais em mim que você desconhece, Malfoy.- disse Luna.- E ao que sei sou Luna Lovegood e as minhas verdades, apesar de duvidosas, geralmente são verdades.- completou antes de deixar, também, a cabana.




****




Harry mais uma vez mergulhou na banheira. Dessa vez de olhos abertos. A água estava turva, densa e aquilo lhe causava certa fobia. Ele sentiu certa ânsia de voltar à superfície e ao faze-lo deixou imediatamente a banheira. Alguns minutos se passaram até que ele conseguiu regularizar sua respiração. Sentia uma estranha sensação de já ter visto aquela cena antes.




****




Luna deu a volta na cabana e logo avistou Belatriz Lestrange assentada sobre um tronco caído. Era uma figura estranha àquela hora do dia. As vestes tão negras como os cabelos; a pele pálida que lhe causava certa morbidez; os lábios vermelhos e os olhos, profundos, graves e com aquele brilho tão atraente e tão cruel... Tudo isso traduzia a definição que há muitos anos, naquele mesmo lugar, ela recebera. Ela era muito diferente das irmãs, era muito diferente de quase tudo que havia nesse mundo, mas apesar disso destacava-se nela certa beleza. Era bela como uma a flor torta que nasceu por acidente à sombra de um necrotério.

- Bela como uma rosa negra...- murmurou Luna distraidamente.

Belatriz ergueu os olhos que cintilaram ao examinarem a garota.

- O que disse?

- Foi por isso, não foi?- indagou a garota quase que em um sussurro arregalando os olhos.

Belatriz sorriu com certa malícia.

- Por isso...?!- indagou ela com sua voz rouca.

- Mamãe viu algo diferente em você e em suas irmãs no momento em que ela conheceu a primeira de vocês.- disparou Luna.- Era por isso que você gostava dela.

Belatriz parou de sorrir, uma sombra cobriu seu rosto, mas a crueldade e a malícia não sumiram de seus olhos.

- Eis a sina de uma comensal da morte.- disse Belatriz.- Creio que nunca saberei o que é “gostar” de alguém.

- É lógico que você gostava!- disse Luna.- Todos sabemos que você tem um coração de pedra, mas ninguém é tão insensível assim.

- Garanto que está enganada.- retrucou Belatriz serenamente.

- Se não gostava dela, porque a deixou ilesa após o ataque aos Longbottom?! Porque você sequer tocou nela, me diga?!

- Muito me admira que saiba desse tipo de coisa.- disse Belatriz.- Pensei que seu desprezível pai as esconderia de você.

- Eu mal tinha nove anos quando mamãe se foi.- disse Luna.- Lembro que cheguei do funeral e me tranquei no sótão, onde mamãe costumava passar horas trabalhando, fui ter com um baú de fundo falso dentro do qual encontrei escritos que me renderam boas leituras por longos anos.

Belatriz fitou a garota em silêncio por alguns minutos. Era estranho ver coisas do passado voltando à tona daquela maneira. A visão da garota em seus quinze anos à luz da floresta lhe lembrava a amiga do passado. Luana McKinnon, uma garota de poucas palavras que andava sempre com uma pena atrás da orelha. Uma poeta, uma profeta, talvez. Saber que alguém no mundo tivera acesso incondicional à seus escritos chegava a ser desconcertante, afinal de contas, saber que alguém teve acesso tão fundo à fatos de seu passado era algo realmente com o que se preocupar.

- Deve saber então que foi sua mãe quem confirmou minha culpa no caso dos Longbottom.- disse Belatriz secamente.

- Você não pode culpa-la por isso!- disse Luna sem perder o tom aéreo.- E a propósito eu não imaginaria que você tentara esconder isso.

- E não tentei.- disse Belatriz se erguendo.- Mas foi por culpa de Luana que fui para Azkaban.

- Ela não fez mais do que deveria ao dar informações sobre você.- disse Luna.

- A culpa foi dela.- insistiu Belatriz, Luna viu que os olhos da mulher estavam levemente arregalados agora.

- Ela não tinha culpa por você ser quem era.- disse Luna.- Ela não tinha culpa por você ter se tornado uma comensal.

- As coisas só acontecem por culpa dela.- sussurrou Belatriz.- As coisas que aconteceram e... e as que acontecerão! Tudo, absolutamente tudo será por ela.

- Pensei que tivesse fibra suficiente para assumir suas culpas e feitos.- disse Luna e fazendo algo que ela nunca fazia, estreitando os olhos, ela encarou a comensal.

- Posso culpa-la por ter profetizado esse momento, garota!- disparou Belatriz.- Rosa Negra. És bela como uma Rosa Negra, Bela.

Luna calou-se por um momento. Sentiu um gosto estranho na garganta, tentou arregalar os olhos novamente, mas parecia ter inexplicavelmente perdido o controle sobre o seu próprio corpo.

- “O mundo irá mudar. Não será uma mudança simples. Mas algo me diz que as mudanças partirão de você, Bela. Você será a responsável pelo futuro, oh, Rosa Negra!”

Luna olhou a mulher, mexer os olhos era o único movimento que lhe restava. De alguma forma ela compreendera que aquelas palavras foram, outrora, ditas por sua mãe. Iria comentar algo se pudesse abrir a boca, mas sentiu então tranco na nuca. Seus olhos finalmente se arregalaram, Belatriz olhou-a um pouco surpresa. Aqueles olhos lunáticos pareciam prestes a saltar das órbitas.

- Chegou a hora de você nos levar de volta a Hogwarts, Belatriz Lestrange.- Luna disse.

Mas aquela não era a voz da garota. Era uma outra voz. Era a voz de uma outra garota, aquela que, deitada na cama dentro da cabana, tinha os cabelos acariciados por Gina Weasley.

- Vejo que está aprendendo a possuir inocentes, Hermione Granger.- murmurou Belatriz sorrindo.

- Você salvou a minha vida.- disse Luna com a voz de Hermione.- Você está salvando a minha vida. E eu tenho ciência do que isso significa.

- Estou acorrentando-a a mim.- sorriu Belatriz.- Não que eu queira laços virtuosos com uma sangue-ruim. Mas és inteligente a ponto de saber o que isso significa.

- Não agüentaria passar muito tempo em divida com você, Belatriz.- disse a outra com certo desprezo.- Por isso nossos laços findam aqui.

- Não tão facilmente...- começou Belatriz.

- Sua irmã, Andrômeda Tonks, chega à Hogwarts dentro de algumas horas.- disse Hermione.- E os Aurores têm informações suficientes para trazê-la aqui.

- Não a temo.- disse Belatriz.

- Você pode ser poderosa.- disse Hermione.- Pode ser inteligente também, mas ainda não conquistou a imortalidade. Leve-me daqui. Voltarei a meu corpo e prometo só acordar quando você estiver segura.

Belatriz fitou a Luna possuída por algum tempo e então gargalhou.

- E se isso for um golpe?- indagou a comensal.- Se me deixasse penetrar sua mente...

- Eu não daria um golpe em uma bruxa estando em dívida com ela.

Belatriz franziu as sobrancelhas e fuzilou Luna Lovegood com o olhar. Alguns segundos depois a garota simplesmente desabou.




****




Harry deixou a banheira e se enxugou em toalhas grossas que haviam por ali. Vestiu as calças e se olhou no espelho. A cicatriz estava intacta e não havia marcas de um lugar de onde o sangue poderia ter saído. Precisava de uma camisa limpa, deixou o banheiro.

- O sangue parou.- disse ele.- Preciso de uma camisa limpa.

- Estou com cara de guarda roupas por acaso?- perguntou Draco mau-humorado.

- Bom, você é o mais próximo de dono da casa por aqui.- disse Harry.

- Espere minha tia voltar.- disse ele.

- Onde ela foi?

- Não sei.- disparou Draco.- Saiu com Luna.

Harry sentiu um calafrio e então olhou pela janela como se procurasse Belatriz Lestrange lá fora. Em seguida ele foi se assentar na cama, ao lado de Hermione. Ficou acariciando os cabelos da garota que ainda suava muito e resmungava baixinho.

Alguns minutos se passaram. Gina dormia apoiando a cabeça ao ombro de Zambini. Um vento morno entrava pela janela larga. A hora do almoço deveria estar próxima e a barriga de Harry roncava. Ouviram-se passos e então Belatriz Lestrange e Luna entraram na barraca.

A comensal girou a varinha no ar, Harry levantou sacando a sua, pronto para ataca-la caso ela fizesse algo de errado, mas nada mais que o surgimento de uma maca aconteceu.

- Vamos embora daqui.- disse a comensal enquanto erguia Hermione no ar e a colocava na maca.

- Já?- indagou Draco se levantando.- Mas Hermione ainda nem acordou...

- Vou levar vocês até uma trilha segura.- disse a Comensal.- Depois vocês se virem.

Gina olhou aflita para Harry, acordara com as vozes. Blás encontrava-se sério. Draco passou a mão pelos cabelos louros e então olhou para Harry, este se virou para Luna que parecia, como sempre, calma e aérea.

- O que estão esperando?- indagou Belatriz.- Ou vão me dizer que perderam o medo da fera?!

- Existem Centauros na floresta proibida.- disse Blás quando Gina se levantou.

- Está com medo de um bando de cavalos idiotas que se julgam homens?!- disparou Belatriz.

- Ouve-se contar por aí casos de centauros, irados com seres humanos, que aprisionam os mesmos que encontram por seu caminho.- disse Blás.

- Vocês são um bando de crianças que mal saíram das fraldas.- disse Belatriz com uma gargalhada fria.- Centauros gostam de carne adulta.




****




- Os pais de Mione estão aí.- informou Rúbeo Hagrid ao adentrar a sala de Minerva McGonagall.

A Professora Minerva e Tonks se entreolharam.

- Quem os mandou vir?- indagou Tonks se levantando e andando de um lado para o outro.

- Eles disseram que foi uma tal de Andrômeda Tonks.- informou Hagrid.

- Vou recebe-los.- disse Minerva se levantando com certa dificuldade.

Tonks observou os dois saírem da sala. Assentou-se em seguida. Queria poder tentar fazer contato com Hermione, mas tinha ciência de que isso era por demais arriscada. A sala da professora de transfiguração era agora iluminada pelo forte sol de início de tarde. Havia uma cortina na única janela do aposento e apesar de não haver vento àquela hora, esta começou simplesmente a balançar.

Tonks se levantou e foi até a janela. Olhou lá fora, mas não havia nada nem ninguém.

Um grupo de alunos de segundo ano atravessavam os jardins em direção às estufas, acompanhados pela Professor Sprout e por um auror. Ouviu-se um novo som de coisas se movendo, dessa vez foi uma pena, sobre a mesa da professora de transfiguração.

Tonks, receosa, se aproximou. A pena flutuava no ar.

- Saia daqui, Pirraça!- disparou ela encarando o nada como se houvesse alguém por ali.

A pena se ergueu no ar e foi afundar-se em um tinteiro.

- Pirraça, eu estou avisando...- começou Tonks se aproximando ainda mais, mas a visão da pena escrevendo em um pergaminho a fez parar.




Centauros




Talvez numa escola como aquela não fosse estranho uma pena escrever, sozinha, o nome de uma criatura mágica. Mas é que aquela letra parecia estranhamente familiar. A pena recomeçou a escrever.




Floresta proibida




Comensal




Ajuda




Tonks fitou o pergaminho e a pena com a respiração suspensa. Escreva mais, pediu silenciosamente, só mais um pouco. Mas a pena não escreveu, no lugar disso ela simplesmente tombou na escrivaninha.

Desajeitadamente, de forma que um pouco de tinta foi entornada manchando o pergaminho, Tonks o apanhou e deixou a sala. Caminhou até a sua própria, onde abriu a primeira gaveta da escrivaninha e tirou de lá um bolo de rolos de pergaminhos.

- Neville Longbottom...- murmurava enquanto consultava os nomes dos alunos.- Dino Thomas... Lilá Brown....

E então, finalmente, ela encontrou o que encontrava: Hermione Granger. Nem foi preciso analisar muito para concluir que a letra caprichada que escrevera aquelas palavras no pergaminho a poucos minutos era a da garota. Com o coração disparado Tonks se levantou, mal fizera isso quando a porta de sua sala se abriu.

- Sua mãe chegou.- disse Gui entrando.

Tonks fitou-o por um momento. Encontrava-se inexplicavelmente sem fala.

- Está conversando com os pais de Hermione Granger.- disse o rapaz de rabo de cavalo ruivo.

Tonks continuou calada. Ele encarou-a com um misto de curiosidade e preocupação.

- Aconteceu alguma coisa?- perguntou ele.

- Precisamos entrar na floresta.- disse Tonks.




****




- Você!?- disse o Sr. Granger ao ver Andrômeda Tonks.- Onde está minha filha? O que vocês fizeram com ela?!

- Quanto tempo, Dr. Granger.- murmurou Andrômeda, uma mulher alta de cabelos curtos em um tom próximo ao prateado.- Sempre ansiei em revê-lo.

- Quero apenas saber de minha filha...- prosseguiu o Sr. Granger.

- Vamos seguir até a sala da Professora McGonagall.- disse a mulher.- Lá conversaremos melhor.

- Por aqui.- disse a própria professora no momento em que Gui Weasley e Tonks surgiram no alto da escada do saguão principal.

- Mamãe.- disse Tonks ao alcançá-los.- Posso trocar uma palavrinha com a senhora?

- Sigam comigo, por favor.- pediu Minerva.

Tonks os observou subindo as escadas e então se virou para a mãe.

- Aconteceu algo de grave?- perguntou Tonks, então.

- Mais do que tem acontecido?!- indagou Andrômeda que por algum motivo não desgrudava os olhos de Gui.

- Algo com Hermione?- perguntou Tonks.

- Hermione?- perguntou Andrômeda franzindo as sobrancelhas prateadas.- A tal amiga de Harry Potter?

Tonks fez que sim com a cabeça.

- Acabo de encontrar as respostas que Luana Longbottom não me deixou ao morrer.- disse Andrômeda.- Apenas isto.

- Onde está Moody?- perguntou Gui sentindo-se incomodado com os olhares da outra.

- Na cabana do guarda-caças, com alguns homens do Ministério.- disse Andrômeda.- Algum problema?

- Precisamos de um grupo fazendo buscas na Floresta Proibida.- disse Tonks.

Andrômeda continuou examinando Gui durante algum tempo. Então, finalmente, ela desviou os olhos e sorriu.

- Procurem Moody.- disse ela apenas.- A partir de agora eu sou apenas uma inominável fazendo seu trabalho normal de pesquisa.- e dizendo isso ela deu as costas e subiu as escadas, levemente saltitante.

- Sua mãe continua tão biruta como antes.- disse Gui seriamente.

- Uma vez louco, sempre louco.- disse Tonks enquanto indicava o caminho a Gui.

- Porque ela me olhou tanto?- perguntou o rapaz enquanto eles desciam até os jardins.

- Esteve avaliando o genro que perdeu.- disse Tonks sem olhar para ele.

- O genro que a filha dela dispensou, você quer dizer.- retrucou ele.

- Você sabe que eu nunca o dispensei.- disse Tonks.

- Simplesmente achou que não era a mulher pra mim.- disse Gui.- Seria uma Aurora e não uma mãe.

- E continuo pensando assim.- disse Tonks.

- Eu sei... eu sempre quis ter filhos e tudo o mais...- começou Gui parando.

- Creio que a pirralha francesa poderá realizar seus planos de vida.- disse Tonks sem parar.

- Você fala de mais!- disse Gui impaciente recomeçando a andar.- Sempre falou!

- Eu estou dizendo a verdade.- disse Tonks secamente tropeçando em uma raiz e quase esborrachando no chão. Ela olhou rapidamente para trás e corou.

- Você não sabe qual é a verdade!- disse Gui.- Você nunca me deixou dize-la!

Tonks se calou. Estavam quase chegando à cabana de Hagrid agora.

- Você nunca me deu tempo suficiente para dizer que estava disposto a abrir mão dos meus planos de adolescente para o futuro.

Dessa vez foi Tonks quem parou e se virou para o rapaz.

- Porque não me disse isso antes?- indagou ela tentando esconder um sorriso que insistia em lhe encher os lábios.

- Porque antes eu pensava que um dia poderia viver em paz.- disse Gui.- Mas depois que meu irmão se foi eu descobri que meu destino era morrer lutando contra essa coisa que chamam de mau. Morrer lutando a seu lado.

- E a francesinha?- indagou Tonks.

- Ela vai voltar para a França.- disse Gui.- Conseguiu um bom cargo no ministério de lá.

Seguiu-se um minuto de silêncio no qual os dois limitaram-se a se olhar. O sol do início de tarde refletia nos cabelos ruivos de Gui deixando o rapaz ainda mais atraente.

- Vamos reunir alguns Aurores.- disse Tonks.- Vamos entrar na floresta.




***Continua***




Notas da autora: Cansados de casais “diferentes”? Preocupem não que ainda têm mais.

*¹: O Manuel Bandeira que me perdoe, mas eu mudei a frase dele. Sei lá, ficou um sentido meio contrário ao da original, mas se encaixou bem.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.