A escolhida





- Sr. Tonks?- arriscou Hermione sem abaixar a varinha.

- Desculpe se eu a assustei, Srta. Granger.- disse a voz já conhecida do Sr. Tonks.- Previ que ao acordar e me ver por aqui a Srta. pudesse vir a me atacar com uma Maldição Cruciatus ou outra qualquer e resolvi me esconder.

- Tolice a sua. Eu só me assustei... - disse Hermione. - Não sei nem lançar maldições e além do mais, não sou uma comensal ou uma bruxa das trevas para fazer isso.

- Você pode não ser uma Comensal aí. - disse o Sr. Tonks apontando para o peito de Hermione. - Mas o ser comensal está bem ali, mesmo que você desconheça isso. - completou apontando para a cabeça de Hermione.

- Não há lógica no que o Senhor está falando Sr. Tonks. - disse Hermione.

- Nem tudo é o que a razão diz, Srta. Granger.- disse o Sr. Tonks.- Existe mais no mundo além de um mais um ser dois ou de que as palavras mágicas corretas e os movimentos de punho também corretos levarão ao feitiço que se pretende. E se a Srta. não tivesse os pensamentos de um Comensal, não teria mudado a cor do fogo do inferno e o levado até Lorde Voldemort.

- Porque não teria?- indagou Hermione.

- Porque sempre foi a Srta. razão. E só uma mente louca e alucinada, como a de um Comensal, pensaria em algo como aquilo. - despejou o Sr. Tonks sem perder a calma.

- Eu não passei para o lado de lá!- disse Hermione ainda incrédula.

- Eu não estou dizendo isso.- disse o Sr. Tonks.- Tudo, até agora, esteve além do seu poder.- Ele indicou a varinha de Hermione com os olhos, a garota imediatamente a baixou. O Sr. Tonks então deu dois paços pra frente e abriu o baú recém colocado ali. Hermione levou os olhos a ele, estava repleto de pergaminhos.- Até agora...

- O que é isso?- indagou Hermione.

- Um relato de sua vida desde praticamente um ano.- disse o Sr. Tonks.- Até ontem.

Hermione olhou novamente para os pergaminhos. Sentia que acabara de atingir o ápice da incredulidade, caso contrário aquilo tudo era um sonho.

- Você esteve me espionando?- indagou.

- Eu estive espionando sim, o que alias é a minha especialidade desde a Primeira Guerra, mas não a você.- disse o Sr. Tonks.- E também não serei eu quem o dirá.- Completou fechando o baú e dando dois tapinhas sobre o mesmo com um sorriso maníaco nos lábios.- Tenha uma boa noite.




****




- Gina?- murmurou Harry ao abrir os olhos e dar com os atentos e castanhos da irmã mais nova de Rony.

- Shiii!- fez a garota.

- O que está fazendo aqui?- indagou Harry consultando seu relógio.- São três da manhã. O que vão dizer se pegarem você aqui no meu quarto?- e imaginando:- O que seus irmãos vão pensar de mim?

- Eles não vão ter tempo para pensar que estamos transando, pois antes disso alguém dirá que estamos tramando.- disse Gina sem um pingo de vergonha ou algo da família.- Temos que escrever à Hermione.

- O que? Escrever sobre o que? Eu não vou escrever a ela dizendo que descobrimos quem é Wulfric.- disse Harry colocando os óculos.- Isso à instigaria a conseguir ainda mais encrenca, não pra ela, mas pra nós.

- Então este é o momento em que o famoso Harry Potter se acovarda?- indagou Gina com um sarcasmo que Harry até então não conhecia.- Não vamos instiga-la a nada, só precisamos informar que algo está acontecendo.

- Informar o que? Que esquecemos de contar algo importante e que por isso, mesmo depois de sair da casa de meus tios, eu continuo eternamente de castigo?- indagou Harry.

Gina abriu a boca para falar, mas se calou em seguida. Parecia hesitar. Harry, percebendo que tinha falado alto demais, prendeu a respiração a fim de escutar. Tudo continuava em pleno silêncio.

- Conheci Hermione aos onze anos e desde então ela se tornou tudo o que eu sempre quis ser. - sussurrou Gina. - Passei três anos às sombras dela e outros dois à direita. Aprendi o suficiente para saber que devo desconfiar de qualquer ação sem razão, seja de quem for.

- Mandar as informações de que ela precisa para que ela saia por aí, sozinha?- indagou Harry.- É melhor esperarmos que ela esteja segura, aqui, conosco!

- Eu sei que é o melhor.- disse Gina.- Mas sei também que Draco Malfoy desapareceu por um dia inteiro e reapareceu com a memória alterada e um buraco na barriga...

- Fã Clube do Malfoy em ação!- atravessou Harry.

- E eu entendo porque Gui e Tonks estão desorientados.- disse Gina ignorando o comentário de Harry.- Draco levou as armas para Lestrange, e se ele apareceu ferido por uma delas, quer dizer que a Comensal o atacou.

- Então ela não está na França e Hermione estava errada o tempo todo?- arriscou Harry.

- Meu palpite é que ela esteve na França enquanto foi seguro, e que voltou.- disse Gina.- Mas, além disso, ou Malfoy fez algo realmente grave para merecer uma facada ou ele a está ajudando a despistar a todos...

- Ele pode ter dado uma facada para incriminá-la e voltar a atenção dos Aurores novamente para cá.- concluiu Harry.

- Exato.- disse Gina.- Hermione provavelmente escutou algo sobre Malfoy por aqui e percebeu algo por trás.

- E o que o irmão de Alvo Dumbledore teria com tudo isso?- ponderou Harry.

- Sei lá, talvez seja uma testemunha.- disse Gina.

- Certo, mas porque Draco Malfoy estaria no mesmo lugar que Aberforth Wulfric Brian Dumbledore quando levou a tal facada?- indagou Harry no momento em que se ouviram passos pelo corredor.

- Acho melhor eu voltar pra cama.- disse Gina arregalando os olhos.

- É.- concordou Harry.- Tenho que madrugar amanhã. Teste para aparatar.

Gina levantou-se da cama que pertencera a Rony, onde estivera assentada, e caminhou até a porta onde foi colar o ouvido. Tudo estava silencioso. Tomando cuidado para não fazer barulho, deixou o quarto de Harry e subiu um andar até o seu, que geralmente dividia com Hermione.

Respirou aliviada ao entrar e fechar a porta. Assentou-se diante da penteadeira e apanhou a escova de cabelo com a qual alisou suas madeixas ruivas enquanto pensava.




Tac




- Gina, Ginerva, Gina, Gininha!- era Fred, Gina pôde ver através do espelho.- Estava eu caminhando até a cozinha quando escutei vozes vindas do quarto de certo rapaz de cabelos rebeldes e cicatriz peculiar e fui identificar a voz da minha queridinha irmã mais nova.

Gina sentiu as orelhas enrubescerem e virou-se para o rapaz. Nem teve tempo de dizer nada, porém.

- Fiquei me perguntando o que uma garota de dezesseis anos estaria fazendo no quarto de um rapaz, que dorme sozinho, à essa hora quando no fundo da minha pura e casta mente lembrei dos meus dezesseis anos de idade e...- ele ergueu as sobrancelhas.- encontrei a resposta que eu temia encontrar!

- Não é nada disso Fred...- começou Gina.

- Tsc, tsc, tsc. A negação é o primeiro indício de que a recíproca é verdadeira.- sorriu Fred de forma divertida.- Não contarei a ninguém.- disse se levantando.- Mas se o Rony estivesse vivo ele não gostaria nada de saber que o melhor amigo dele e a nossa querida Ginazinha estão...- ele fez um sinal com as mãos e desaparatou.

Gina voltou a mirar-se no espelho. Estava muito vermelha, mas não tinha tempo de se preocupar com aquilo. Tinha que dormir, afinal de contas o dia seguinte prometia.




****




O sol há muito tinha raiado quando Hermione leu o ultimo pergaminho com a bela caligrafia de Belatriz Lestrange. Estava atônita. Nunca imaginara qual seria a sensação de ser um robô, mas sabia que não era longe do que estava sentindo.

Estava tão atordoada com aquela quantidade de informação que nem se sentiu feliz ao ver uma coruja de Hogwarts entrar voando pela janela trazendo a ela, além da lista de materiais, um distintivo de Monitora Chefe. Largou-o logo a um canto e passou minutos e minutos cogitando possibilidades e pela primeira vez em sua vida ela se perguntou “E agora?”.

Cogitou de um, tudo. Até chegar ao estremo, era um perigo constante a todos, tinha que morrer. Foi então que ela parou e riu. Suicídio naquele momento seria completamente ilógico, não que exista algum suicídio lógico no mundo, mas a realidade é que não ajudaria em nada.

A atitude sensata a fazer era se livrar da parte Lestrange que havia dentro dela tentando não perder a cabeça. Afinal, ao ler os relatos da estadia da Comensal na França ela entendera que aquele era o nome do jogo: manter a razão.

Levantou-se disposta a procurar Tonks e pedir que a ajudasse a fechar sua mente. Desceu as escadas e foi dar de cara com o Sr. Tonks que lia, calmamente, o Profeta Diário, assentado sobre a mesa da cozinha.

Hermione fitou-o por um prolongado tempo esperando algum comentário ou sugestão, mas o homem parecia ignorá-la. Atravessou então a cozinha, pronta para usar a lareira. Mas lembrou-se de quando começara a desenvolver o poder de sua mente. Ela treinara Oclumência por várias noites e pelo que lera, de nada adiantou todo o esforço.

Ao lembrar-se do peculiar detalhe, Hermione já tinha a mão cheia de pó-de-flu. Devolveu-o a seu pote e limpou o restante nas vestes enquanto se virava e fitava novamente o Sr. Tonks.

- O Wulfric de Aberforth é o mesmo de Alvo Dumbledore, não é?- indagou a garota.

O pai de Tonks fez que sim com a cabeça sem desviar sua atenção do jornal. Hermione indagou sobre como não lembrara que aquele era o nome do meio do falecido Bruxo Supremo, que por muito tempo ela admirara.

- Sua esposa não teve medo?- indagou Hermione.- Ela provavelmente também desconfiava disso tudo, como o senhor.

- O lugar mais seguro numa guerra é estar o mais próximo possível de seu inimigo, Srta. Granger.- disse o Sr. Tonks.- E não se preocupe. Belatriz Black não era tão célebre a ponto de ser a primeira a fazer tudo isso.

- Outros já fizeram?- surpreendeu-se Hermione.

- Basicamente sim. Magia antiga, coisa de que você não tem conhecimento.- O Sr. Tonks riu enquanto baixava o jornal.- Aliás, nesse caso, o melhor contra-feitiço é o próprio conhecimento. Conhecimento que você passou a madrugada adquirindo.

- Então ela não está mais aqui?

- Acredito que não.- disse o sr. Tonks erguendo novamente o jornal.- A menos que eu esteja muito enganado quanto ao nível de genialidade dela.

- E como vocês desconfiaram?

- Muitos bruxos aposentaram-se após a primeira guerra.- cantarolou o pai de Tonks.- E por aposentar eu digo sair de circulação. E quando Voldemort ressurgiu e Dumbledore reuniu a velha turma, ela manteve parte de sua velha tropa de elite aparentemente à paisana. Nós, os mais geniais, ficamos esquecidos.

- O Sr. é um tanto quanto modesto.- ironizou Hermione.

- E a srta. também não o é?- retrucou o senhor Tonks lançando-lhe um rápido olhar por sobre o jornal. - Não existe um bruxo perfeito, exceto Dumbledore logicamente. Ou se é muito poderoso, ou se é muito inteligente. Infelizmente os que correspondem à segunda característica geralmente são tidos como loucos e não costumam ser reconhecidos. E como sempre existe atrito entre os extremos, era por isso que o velho Moody odiava Wulfric.

- O irmão de Dumbledore?- indagou Hermione.

- Sim senhorita. - disse o Sr. Tonks. - E a antipatia acabou sendo lucrativa. Nunca se sabe quem está prestes a trair um grupo, portanto há informações que não devem sair do núcleo. Eu, Andrômeda, Dumbledores e, sim, Fletcher. Nós éramos a cabeça da Fênix, obviamente escondidos atrás da imagem do Bruxo Supremo.

- Por todos acreditarem que Dumbledore era o cérebro da ordem é que Lestrange se empenhou em matá-lo. - concluiu Hermione.

- Sim. Ela acreditava que cortando a cabeça, o corpo cairia. - o Sr. Tonks levou uma das mãos à cabeleira branca e a achatou. - O que ela queria é que tudo virasse uma baderna, dando-lhe tempo para terminar com você e conseguir atraí-la para o lado dela.

- Se pensarmos bem tudo virou uma baderna.- disse Hermione francamente.

- Pelo contrário.- contradisse o Sr. Tonks.- Ao matar Dumbledore ela finalmente caiu nas nossas previsões, coisa que nunca antes tinha ocorrido. Então tínhamos todas as peças bem colocadas, praticamente pontas para o xeque-mate. Andrômeda apareceu em Hogwarts e de seu jeito controlou as coisas sem dar a elas a aparência de sob controle; Fletcher finalmente conseguiu um acordo com Lovegood a respeito dos diários da esposa do jornalista, o que me deu o que ler por meses; Wulfric, por sua vez, estava no centro do submundo e perfeitamente camuflado como um trambiqueiro dono de pub. Faltava apenas salvar a pele de nossa futura sucessora para podermos dar a tacada final.

- Parece perfeito.- admitiu Hermione.- Mas não consigo entender porque sacrificar a cabeça da cabeça.

- Chega uma hora em que o bom jogador tem que sacrificar alguma peça importante para poder seguir em frente com chances de triunfar.- disse o Sr. Tonks.

E Hermione se lembrou. Ela estava em seu primeiro ano. Ela, Harry e Rony haviam adormecido Fofo, passado por uma planta maluca que temia à luz, escapado de chaves voadoras e agora se encontravam no meio de um jogo de xadrez gigante. Rony era o comandante e a certo momento sacrificou a si mesmo, um cavalo, para que ela e Harry pudessem seguir em frente. Eles o fizeram e no fim das contas Harry impediu Lorde Voldemort de ressurgir. Às vezes temos que abrir mão de algumas coisas...

Era incrível como às vezes tudo ficava claro. Hermione sorriu ao terminar de tecer o raciocínio a que o pai de Tonks a induzira. E como agora ela sabia que não dividia mais seu cérebro com a Comensal, sentia-se bem por saber que estava pensando por si só.

- E o que vai ser agora?- indagou Hermione finalmente, o Sr. Tonks já havia voltado ao jornal.

- Porque não pergunta a si mesma?- perguntou ele em resposta.

- Não acha que eu vá acabar indo atrás dela pra resolver isso tudo de uma vez?- arriscou a garota.

- É o que qualquer um normal faria.- disse o Sr. Tonks baixando o jornal e encarando Hermione com firmeza.- Mas você não é normal. Você é especial, Srta. Granger. Você tem o intelecto muito avançado para a sua idade, a esperteza de uma raposa e o poderio de um puro sangue! Você parece perfeita e foi por isso que ela a escolheu!

- Como posso ser isso tudo se nem ao menos sei o que pensar ou por onde começar?- perguntou ela. - Poderia seguir meus impulsos e instintos, mas todos eles me levariam à situações arriscadas das quais não sei prever o fim.

- Aprender a conter seus impulsos e desconfiar de seus instintos, pra muitos é um desafio. - disse o Sr. Tonks. - Pra você é uma forma de provar à Comensal que pode ser grande sem a ajuda dela. Agora, Srta. Granger, porque não vá refletir sobre tudo isso?

Hermione concordou com a cabeça e se encaminhou para deixar a cozinha. O Sr. Tonks ainda disse mais.

- E no seu lugar eu não sairia de casa pelo restante do verão. Não há porque dar a ela uma chance de criar nova ligação.

Ligação. A última palavra entrou pelos ouvidos de Hermione e cruzou o caminho até seu cérebro fazendo-a se lembrar de algo preocupante.

- E se a ligação que ela própria criou não fosse a única?- indagou Hermione. - E se houvesse outra?

- Outra...?

- Ela salvou minha vida.- Lembrou a garota.- É uma ligação suficiente não é?

- Sim.- disse o Sr. Tonks sem um pingo de preocupação.- A menos que também tenha sido rompida.

Hermione não entendeu.

- Quando fui levar o baú ao seu quarto e a vi adormecida entendi que havia escutado a minha conversa com Wulfric e Fletcher. - explicou o Sr. Tonks.- Salvou a vida da comensal, Srta. Granger. Caso contrário ela não saberia que algo tinha dado errado e rumaria para a França dentro de quinze dias.

Hermione ruborizou um pouco, mas se conformou e subiu para seu quarto.

Assentou-se em sua cama e acolheu Bichento em seu colo. Tinha, talvez, uma mínima idéia dos dias que se seguiriam àquele fatídico.




****




Gina dobrou a carta que recebera de Luna com um sorriso bobo nos lábios. Não recebia notícias da amigas desde duas semanas antes, quando a visitara.

- Uma cartinha do Harry combinando o próximo encontro no meio da noite?- indagou Fred que acabara de entrar na cozinha.

- Eu já disse que não há nada entre mim e o Harry. - Respondeu Gina fechando a cara.

- Sei!- disse Fred irônico, mas sorrindo.- Só a carta de um namorado lhe faria sorrir desse jeito, Gina. De quem é então?

- Não lhe interessa.- disse Gina com as orelhas muito vermelhas.

- Ah! Deixa eu ver!- disse Fred se debruçando sobre a mesa para tentar pega-la.

- Não Fred, pára!- disse Gina aumentando o tom de voz.

Fred riu e aparatou do lado da garota puxando o pergaminho e o erguendo-o a uma altura em que ela não alcançava.

- Que droga Fred! Me devolva!- disse Gina pulando para tentar pegar.- Não te interessa o que há aí. Me devolva AGORA!

Gina parou de pular, bufando, quando alguém pigarreou.

- Cuidado Sr. Weasley.- era o Professor Snape.- Da última vez que o Sr. “pentelhou” um de seus irmãos acabou levando uma Maldição imperdoável.- O professor sorriu se vangloriando pela piada.

Gina e Fred se entreolharam prestes a atacar o recém chegado pela piada de mau gosto.

- Desculpa, acho que era pra termos rido.- disse Gina seriamente.

- O que faz aqui, Snape?- indagou Fred igualmente sério.

- Trabalho.- murmurou Snape crispando a boca.- Coisas que não são para o bico de vocês.- completou antes de dar as costas e deixar a cozinha.

Gina aproveitou a distração de Fred para tomar a carta de Luna de volta. Ela sorriu de triunfo ao fazer isso esperando que o irmão, como sempre, a gozasse ou algo parecido. Mas as pessoas parecem mesmo mudar com o tempo e a idade. Fred permaneceu sério por alguns segundos, parecia entretido em um conflito interno. Até que tirou algo do bolso, sacou a varinha e correu até a porta e sumiu por ali.

Gina ouviu o som de algo cortar o ar e bater contra a parede no final do corredor produzindo o ruído de algo molengo que se choca em uma parede.

- O que pensa estar fazendo, Weasley?- indagou a voz irritada de Snape.

- FRED WEASLEY! VOCÊ VAI LIMPAR ISSO JÀ!- gritou a Sra. Weasley de algum lugar.

Gina sorriu. As pessoas mudam um pouco, mas nunca deixam de ser o que sempre foram. Ela observou, muito quieta, Fred voltar para a cozinha e fitá-la como se esperasse algum comentário.

- Nunca achei que o veria perder a esportiva.- disse Gina com um sorriso carinhoso nos lábios.

- Ele acaba de achar o ponto fraco que passou sete anos procurando sem sucesso.- disse Fred guardando a varinha.- Se vir Jorge diga que estou na loja.- e desaparatou.

Gina fitou o nada com um sorriso aéreo por algum tempo. A lógica da vida parece um pouco difusa. Algumas pessoas morrem e se gastam anos debatendo as causas e as conseqüências da perda. Já outras também morrem e com o raiar de um novo dia ninguém mais parece se lembrar ou se importar.

A verdade é que elas apenas fingem não se importarem para ocultar as feridas. Mas existem feridas que nunca se cicatrizam e ficam por ali, esperando até serem cutucadas. E é quando isso ocorre que o homem se torna o lobo dele próprio.




****




No primeiro dia que se seguiu, Hermione odiou Draco. A única coisa que conseguia pensar é que o rapaz sabia de tudo e ajudara a Comensal a conseguir fazê-la cair naquela. Mas acabou aprendendo a fazer o que o Sr. Tonks dissera: O desafio é conter os impulsos e desconfiar dos instintos.

No dia seguinte amanheceu com a idéia fixa de que Draco nada tivera com aquilo tudo. Esquecendo-se por algumas horas de que ele era aquele garoto Sonserino, descendente de Blacks e Malfoys.

No terceiro dia ela se encontrou dividida entre as duas possíveis realidades. Talvez pudesse ir à Hogwarts atrás dele. Será que o rapaz já estava melhor? O pior é que ela nem tivera tempo de descobrir direito o que acontecera.

Pensou então em escrever a alguém contando tudo. Mas quem? Harry? Gina? A história chegaria à Ordem. Luna? Opção mais provável. Hermione levantou-se da cama e apanhou pergaminho e pena quando se lembrou que o correio coruja não era muito seguro.

Tentava achar uma saída para qualquer coisa que fosse quando alguém bateu à porta e entrou. Era Andrômeda Tonks que vinha entulhada de sacolas.

- Material escolar.- informou ela com um sorriso maternal ao depositar tudo sobre a cama.- Como tem se sentido.

- Bem.- disse Hermione mecanicamente.

- Estou em casa, hoje, se precisar de algo.- informou a Inominável.

- Tudo bem.- disse Hermione.

- Tem certeza que está tudo bem?- insistiu Andrômeda fitando a garota com seriedade.

- Sim.

A mãe de Tonks encarou Hermione por alguns segundos até dar as costas e ir à direção da porta.

- Sra. Tonks.- chamou Hermione finalmente achando a saída.- Eu poderia regressar para Hogwarts antes do fim do verão?




****




- Fred e Jorge, que história é essa?- indagou a Sra. Weasley severamente ao fim do jantar.

- Bom mamãe, já somos homens.-disse Jorge.

- Logo nos casaremos.- Disse Fred.

- E seremos pais.- disse Jorge.

- E filhos devem se espelhar em seus pais.

- Por isso estivemos conversando com a Professora McGonagall sobre terminar os nossos estudos.

- Ela concordou.

- E como acabamos de comprar a Zonko´s...

- Parece perfeito!- findaram os dois em uníssono.

Harry recebeu satisfeito a notícia. Dividiria salas de aulas com os gêmeos. Ele e Gina terminaram o almoço e subiram para a sala de estar, onde geralmente passavam as tardes. Não demorou muito e os gêmeos apareceram por lá. Pareciam alegres. Fred, particularmente, lançou olhares divertidos aos dois. Depois de alguma conversa jogada fora, Jorge caminhou até a porta e olhou o corredor lá fora, em seguida fechou a porta.

- Eu não acreditei naquela história.- disparou Gina assim que Jorge voltou a se juntar aos dois.

- Sabe, Gina, acho que se fôssemos os trigêmeos Weasley você seria o terceiro de nós.- disse Fred.

- Eu não gostaria de ser o terceiro.- reclamou Gina.

- Tudo bem, a terceira!- fez Fred.

- O que está acontecendo?- indagou Harry sem entender.

- Não acha que nos importamos em terminar ou não os estudos, Harry, ou acha?- indagou Jorge rindo.

- Não sei, mas...

- Professor Snape.- informou Fred.- Achamos que ele voltou pro lado de lá.

- Se é que um dia ele o deixou.- completou Jorge.

- A verdade é que achamos que ele ajudou a Comensal a pegar Rony.- disse Fred.

- Achamos que eles são uma dupla.- disse Jorge.

- Só não mais dinâmica que nós.- completou Fred.

- E queremos ficar de olho nele.




****




- Você não está acima de todos Srta. Granger.

- É só que eu me sentiria mais segura lá.

- Você está segura o suficiente aqui.

Hermione esfregava a cabeça de bichento com certa violência enquanto remoia sua frustração por não achar uma saída realizável. Por fim Bichento saltou dali meio ofendido. Hermione se levantou e começou a andar de um lado para outro, impaciente.

Tinha que falar com Luna, mas não podia escrever a ela. Podia ir visitá-la, mas também não queria se arriscar. E quando a noite caiu, ela estava afundada em seus novos livros do sétimo ano. Tão compenetrada em absorver algo, passou as três semanas que se seguiram.

Quando terminou de ler o último livro escolar faltavam ainda sete dias para o retorno à Hogwarts. Foi quando começou a se aproximar do ápice da impaciência. Não tinha muita fome e dormia mal. Às vezes tinha sonhos inquietos como o que ocorria agora.

Hermione assistia quase sempre a uma flor. A mesma flor que vira em outro sonho, estampada em um túmulo. A mesma flor das capas dos diários da mãe de Luna. Ela brotava de um terroso chão negro, crescia, florescia, morria e tornava a brotar. A cena não seria tão cansativa se não estivesse entre três espelhos que a multiplicava infinitamente. Dessa vez, porém, algo fora de normal aconteceu. A flor brotou, cresceu, floresceu e então pegou fogo até que restaram só as cinzas e um espasmo horrendo de pânico.

Uma das pilhas de livros no canto do quarto se ergueu ao passo que Hermione abriu os olhos e se assentou na cama, enxugando o suor do rosto. A pilha de livros rodopiou no ar e em seguida se lançou contra a parede provocando um estrondoso baque.

Hermione olhou aquilo meio incrédula. Levantou-se e pôs-se a catar os livros enquanto olhava pra todas as direções esperando ver alguém por ali, mas não havia ninguém. Acabou se deitando e voltando a dormir. Acordou assim que o dia raiou com o som de uma coruja de olhos arregalados trombando na janela de seu quarto.

Apanhou a carta que a ave trazia, era de Luna. Provavelmente escrita a muito tempo. Hermione estranhou um pouco por ter demorado a chegar. Abriu-a, era curta e grossa.

Porque Andrômeda Tonks advertiu papai que eu deva manter distância de você para a minha segurança? Você por acaso se tornou tão perigosa assim durante o verão?

- Temer o inimigo do seu inimigo...- murmurou Hermione pensativa. Provavelmente era isso o que Dumbledore tinha em mente. – Lestrange não obteve sucesso ao matá-lo: Ele sobrevive em seus ideais.

E Hermione sorriu, se sentindo aliviada por conseguir novamente admirar a grandiosidade do ex Diretor de Hogwarts.

A Monitora Chefe de Hogwarts se levantou cheia de ânimo por algo fora da rotina estar ocorrendo. Caminhou até seu malão, já muito organizado, e apanhou uma pena. Ia começar a dissertar uma resposta que parecesse convincente à Luna quando aquela coisa que às vezes lhe provocava um frio no estômago começar.

A carta de Luna não fora uma carta qualquer contendo uma pergunta. Fora um chamado, um convite a ela. Um convite para deixar aquela monotonia e ir fazer o que melhor fazia na vida, buscar respostas.

Largou imediatamente a pena em qualquer canto e voltou ao malão à procura de vestes que lhe parecessem apropriadas ao dia. Trinta minutos depois ela estava deixando, definitivamente, a casa do Sr. e da Sra. Tonks pela lareira.




****




- Como se sente, Sr. Malfoy?- indagou Gui fitando o rapaz seriamente.

- Bem.- disse Draco sem emoção.- Digo, bem melhor.

- E sobre a cabeça?- indagou Gui.

- Nada.- disse Draco já cansado daquela pergunta.

Gui encarou desconfiado o rapaz.

- Quando terei alta?- indagou Draco cansado de estar de repouso.

- Quando o ano letivo começar.- informou Gui dando-lhe as costas e distraindo-se por um momento com uma aranha que atravessava a parede de pedra da enfermaria.

- Mas já estou bom...- disse Draco irritado.- ...não agüento mais ficar deitado!

- Escute, rapaz.- disse Gui virando-se novamente pra ele.- Você já está encrencado o suficiente para...

- Eu não vou fugir!- atravessou Draco.

- Não confio no funcionamento da mente de pessoas da sua laia. - disse Gui sobrepondo sua voz. - Posso, e acredito em sua boa vontade. Por isso pedi à Madame Pronfey que o mantenha “sedado” até o fim do verão. Você não cairá em tentação se esta não existir.

Draco preferiu não retrucar. Sabia aquilo era verdade, mesmo vindo de um Weasley. Ele não sentiria vontade de fugir, se não houvesse como.

- E enquanto isso, tente-se lembrar. - completou Gui antes de dar novamente as costas ao rapaz, dessa vez para deixar a enfermaria.




****




- Hermione?

Hermione se virou e finalmente viu Luna descendo as escadas. Trazia a aparência de sempre e a expressão de não estar nem um pouco surpresa no rosto. Trajava um robe azul claro e tinha os cabelos soltos. Aparentemente acabara de acordar.

- Você está trajando negro.- sorriu Luna ao alcançar a sala, ao pé da escada.

- E...?- indagou Hermione sem entender a graça.

- É muito elegante. Quer dizer, grandes bruxos usam negro por dar imponência, mas não combina com você. - disparou Luna. Isso não pareceu esclarecer nada. - Vestes negras parecem adequadas para a namorada de Draco Malfoy, não para uma nascida trouxa.

- Quer dizer que pareço uma comensal?- indagou Hermione ainda confusa.

- Você não está bem.- conclui Luna fitando-a.- Porque não vamos ao meu quarto?

- Tudo bem.- disse Hermione.

As duas subiram as escadas. O caminho não era novo para Luna, tampouco para Hermione, apesar de que a casa parecia muito mais clara e arejada aquele dia. Elas entraram no quarto de Luna, a qual fechou a porta ao passar.

Hermione mirou seu reflexo no espelho da penteadeira do outro lado do quarto. Entendia porque Luna de certa forma estranhara sua aparência. Além das vestes totalmente negras, tinha os cabelos presos em um coque e o rosto extremamente pálido.

- E então?- indagou Luna findando o silêncio. - É o final do verão e você aparece na minha casa cedo da manhã, manda me acordar e agora fica aí com essa cara de enterro, e figurino também. Algo de grave tem que ter acontecido.

- Eu não sei.- murmurou Hermione simplesmente enquanto se assentava na cama de Luna.

Luna encarou-a por algum tempo. Então atravessou o quarto e se assentou defronte à Hermione.

- Aconteceu alguma coisa com a Gina? Com o Harry? Veio trazer notícias ruins?

- Aconteceu algo...- disse Hermione pensativa.- Tem acontecido. Não consigo saber quando começou. Eu simplesmente sei. Eu... Eu...

Hermione se levantou e deu alguns passos em frente. Levou as mãos ao rosto e respirou fundo tentando esclarecer as idéias em sua cabeça. Finalmente virou-se novamente para Luna e percebeu que as duas tinha trocado de papel. Luna agora era a garota serena que após escutar a narração que viria a seguir diria calmamente o que deveria ser feito e ela... ela era simplesmente a garota insana e desesperada. Mas tinha que começar a falar, antes que perdesse o controle novamente.

- Quando eu tinha dez anos sofri um acidente durante uma brincadeira.- começou Hermione apressadamente.- Já lhe contei sobre isso. Mas tudo não começou aqui.

Tudo começou quando Belatriz Lestrange invadiu Hogwarts no início do ano letivo passado.

- Você estava no caminho dela e ela a deixou inconsciente.- completou Luna enquanto Hermione balançava a cabeça negativamente.

- Eu tinha uma outra coisa na cabeça aquele dia. Eu estava confusa, gostava do

Rony e do Harry e mais cedo, bem antes de seguir à sala de Tonks eu estava no banheiro feminino tomando banho. Encarei a cicatriz... - ela indicou a própria cintura. -... e me lembrei de que era estéril. E eu nunca me importei com isso. Eu nunca quis ter filhos! Até que eu topei com ela. Foi preciso um olhar para que ela estivesse dentro de mim e visse tudo aquilo. Sobre Rony, Harry, a cicatriz.

“Até então ela estivera perdida. Ela sempre soubera do poder que tinha nas mãos. Desde pequena, quando se descobrira com o peculiar dom de manipular as pessoas, ela planejava que seria grande. Ela sempre teve certeza disso. Mesmo quando se tornou uma serva de Voldemort. Ele era apenas uma das muitas pedras em seu caminho, e por ser a maior delas, o melhor a fazer era deixa-lo por último, para ser usado como degrau. E quando ele sumiu ela achou que finalmente estava em seu apogeu. Até que sua mãe a desprezou e ela descobriu que o mundo não girava em torno de seu umbigo. Então ela foi pra Azkaban e se sentiu derrotada.”

Hermione voltou a se assentar.

- Quando Voldemort ressurgiu e a tirou de lá, ela teve sua segunda chance. Ela se reerguer às sombras do bruxo mais temido do mundo até que voltou no ponto aonde parara: Tinha que se livrar dele. Então ela achou que invadindo Hogwarts e ameaçando o Harry, os aurores intensificariam as caçadas aos comensais e talvez conseguissem derrubar o Lorde das Trevas. Mas quando ela invadiu a escola ela me encontrou e eu era tudo o que ela precisava.

- Inteligente, boazinha, amiga do Harry e com o mesmo dom que ela?- indagou Luna pensativo.

- Não.- disse Hermione seriamente.- Boazinha, amiga do Harry e com muita facilidade de aprender qualquer coisa que fosse.- ela girou os olhos.- E é lógico, eu era estéril e ela sempre o quis ser. Ela podia me tornar a pessoa perfeita para se juntar a ela, para agir por ela. Para isso ela só deveria fazer o que ela faz de melhor: manipular.

“E então ela fez despertar sinais de um legilimente em mim, e como ela própria não poderia me ajudar a trabalhar isso fez o suficiente para que Tonks notasse e me auxiliasse. Como os avanços foram muito rápidos ela temeu que tudo fugisse de seu controle, então precisava de alguma forma de me manter no lugar. Algo que me atingisse.”

- Rony.

- Sim.- disse Hermione calmamente.- Eu amava o Rony tanto quanto o Harry, Luna.

Eu teria passado todo o ano passado dividida entre os dois, mas ela estava aqui.- disse apontando para sua própria cabeça.- E precisava manipular uma outra pessoa através de mim...

- Harry. - murmurou Luna.

- Então ela roubou a minha parte apaixonada pelo Rony... – depois de concordar com a cabeça. -... E me deixou compenetrada no Harry.

“Ela tinha um principio de plano para nos fazer ir até Voldemort e acabar com ele. Faltava um guia. E então seu único parente próximo resolveu me agarra no meio de um corredor e ela encontrou quem nos levaria até o covil.”

- Sempre achei que Draco não fizesse seu tipo. - comentou Luna entendendo, finalmente, algum sentido na coisa.

Hermione riu e se calou por algum tempo. Voltou a fitar seu rosto no espelho e recomeçou a falar.

- Talvez até mesmo você ache loucura toda essa história.- disse Hermione.- Mas como você acha que eu saberia sobre o fogo inominável e sobre a maneira de você entrar lá e pegar as amostras?

- Ela tinha ciência de todo o trabalho de mamãe dentro do ministério.- disse Luna como se isso fosse claro.

- Sim.- concordou Hermione.

- E porque ela matou o Rony?

- Ninguém é poderoso o suficiente para conseguir não ser alterado pelo seu próprio poder. Exceto Dumbledore, é claro.- disse Hermione.- Acho que talvez ela funcione como uma penseira. Ela confunde as pessoas roubando seus pensamentos para si e colocando outros no lugar. Ela me roubou o Rony para que eu me preocupasse apenas com o Harry. Ao fazer isso ela passou a querer o Rony e deu um jeito de levá-lo até ela. E quando o que eu sentia pelo Harry finalmente foi forte o suficiente e o Rony passou a ser só o amigo, ela cansou dele e o mandou de volta.

“Voldemort ainda estava vivo, por isso ela ainda vivia às sombras. Mas logo ele cairia e ela já tinha que ter algum território marcado. Então ela matou Rony e nos aterrorizou mostrando do que era capaz e que devíamos temê-la. E então nós fizemos o que tinha que ser feito saindo quase ilesos, exceto por mim.”

- Você sabe quem feriu sua perna antes de cair...

- Não.- disse Hermione.- Eu cortei minha mão usando uma das armas da família de Draco, quando fui criar uma ligação com Narcisa Malfoy.

- Algum metal mágico?- arriscou Luna.

- Creio que sim. Por isso fiquei tão mal. Quando Draco percebeu o que me fazia estar inconsciente, chamou a Comensal. Para não estragar seus planos ela foi obrigada a criar uma ligação a mais entre nós, salvando minha vida.- explicou Hermione.- E no momento em que ela descobriu quem era você, se alterou tanto que eu acabei achando a ligação, que a partir de então me fornecia uma forma de atingi-la.

”Nós passamos meses em uma guerra interna, Luna. Ao mexer em meus pensamentos mais dolorosos ela me levou à romper com o Harry e a quase pirar enquanto eu a fiz mergulhar em seu passado. E esse sempre foi o ponto fraco da Comensal, ela sempre pira quando é induzida a mergulhar em seu passado.

“Ambas conseguimos superar, ela antes. Por isso ela estava de volta, para ajeitar tudo e para me fazer descobrir todo seu genial plano e me impressionar com isso. Impressionar-me tanto que resolvesse me juntar a ela. Mas parece que Draco apareceu e eu não sei o que aconteceu, mas ele mudou um pouco os planos da tia.”

- Ele pode ter descoberto tudo.- supôs Luna.

- Talvez.- disse Hermione baixando a cabeça pensativa.- Só sei que quando eu descobri tudo, rompi todas as ligações que me prendiam à ela. E que agora eu vago sozinha.

- É uma questão de tempo até ela vir atrás de você.- conclui Luna serenamente.

- Sim.- disse Hermione reerguendo o rosto.

- Você a apoiaria?- indagou Luna.- Digo, se uniria a ela?

- Em hipótese alguma a apoiaria.- disse Hermione com mais veemência do que costumava ter normalmente, se é que isso era possível.- Acho que se Lestrange invadisse o inferno, eu apoiaria o demônio!*¹

- E se ela fosse o demônio?- interpôs Luna seriamente.

- Não venha insinuar que a história publicada por seu pai era verídica.- Cortou Hermione se irritando.- Estamos falando de coisas sérias, Luna.

- Não vou dizer que isso foi uma metáfora, pois não faz o meu tipo.- disse Luna sem se importar com a reação da outra.- Apenas responda a minha pergunta.

- Tem de haver uma saída. Sempre há.- disse Hermione pensativa.

- Você não respondeu à minha pergunta!- cantarolou Luna.

- Eu...- fez Hermione, seus pensamentos dispararam. Geralmente, quando isso acontecia, sentia uma espécie de frio nas têmporas, como agora. Viajava, ia longe enquanto analisava todas as suas possibilidades. Até que uma aceitável surgiu.- Eu preciso do Draco.

Luna riu. Uma inversão de papéis acabara de ocorrer. Geralmente era ela quem deixava um vácuo no lugar de respostas às perguntas.

- Pelo que sabemos ele está na enfermaria de Hogwarts, após ter sido quase assassinado pela própria tia.- disse Luna.

- Eu vou até lá.- disse Hermione.- Eu sei que parece loucura... não é mesmo?

- Não sei. Acho que a nossa concepção de loucura é um pouco diferente demais para que eu concorde... - começou Luna.

- Se temos que aprender uma coisa com essa história toda é que Lestrange não faz nada sem segundas intenções. - disse Hermione ignorando o comentário de Luna. - E ela nunca tentaria matar Draco... - completou se levantando.

- Aonde vai?- perguntou Luna ao observar Hermione caminhar na direção da porta.

- Para Hogwarts.- disse Hermione.

- Não seja tola. As aulas começam em menos de uma semana.- disse Luna.

- Por isso mesmo. Preciso ver Draco antes que a rotina escolar me afaste dos fatos.- Hermione respirou fundo e sorriu.- Posso usar sua lareira?

- Claro!- disse Luna cortesmente.

Ela observou Hermione deixar o quarto. Havia uma coisa a que o desenvolvimento de toda a saga de Belatriz Lestrange não explicara. Onde ela, Luna, se encaixava naquilo tudo? Pensaria sobre aquilo quando conseguisse acordar de mais aquela que se iniciava.




****




Harry lia calmamente o profeta Diário do dia, assentado na sala de estar da casa dos Black. Gina, no outro canto da sala, polia o cabo de sua vassoura. O almoço terminara fazia pouco e por semanas tudo parecia calmo por ali.

Talvez pela calmaria, quando Carlinhos aparatou na sala de estar Harry sentiu certo frio na boca do estômago, como se pressentisse que algo não estava no devido lugar.

- Qual dos dois vai me dizer onde ela está?- perguntou o irmão de Gina muito sério.

- Ela...?

- ...Quem?

- Sua namorada Potter.- informou Carlinhos.

- Se está se referindo à Hermione, ela não é mais minha namorada.- disse Harry meio sem jeito.

- Hermione sumiu?- interrompeu Gina.

- Num passe de mágica.- disse Carlinhos.

- E-ela...

- ...pode ter ido à casa de Luna, não pode?- arriscou Gina.

- Já verifiquei.- disse Carlinhos.- Os Lovegood saíram antes do almoço...

Conseguindo superar o susto inicial, Harry pensou. Muito tempo passara desde que conhecera Hermione e ela vivia em constante transformação. Em seu último estágio, porém, ela só sumia pra ir ao encontro de duas pessoas. Luna ou Malfoy.

- Ela deve ter ido atrás do Sr. Veela.- disse Harry sem ânimo.

- Malfoy?- indagou Carlinhos com um sorriso no canto da boca ao ouvir o apelido dado ao outro. Harry concordou com a cabeça.- Mas ele está em Hogwarts...

- O que é perfeito.- disse Gina sorrindo por gostar da desculpa dada por Harry.- Porque ela não deixaria um lugar seguro e se arriscaria por aí... a menos que tivesse um lugar ainda mais seguro para ir.




****Continua****




:Nota da autora: Hum... ficou até grandinho, mas vocês estão preparados para capítulos realmente grandes? Porque logo seguem quatro assim.

*¹: A frase original é de Winston Churchill. “Se Hitler invadisse o inferno eu apoiaria o demônio!”



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Comentários (1)

  • Iasmim Costa

    Agora sim, esse capítulo realmente esclareceu muitas coisas! Tô adoraando!

    2012-02-13
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