O terceiro lado




- Pensei que você não viria.

- Porque?- perguntou Hermione.

- Você chegou duas horas e meia atrasada.- disse Draco enquanto observava Hermione se assentar.

- Estava conversando com o Harry.- disse Hermione.

- Eu devia ter imaginado.- disse Draco.

- Ele era meu amigo desde antes de você entrar na minha vida.- justificou Hermione.

- E porque você está me dando explicações?- perguntou Draco sorrindo.

Hermione corou.

- Às vezes eu penso nas diferenças entre nós dois.- disse Draco.- Essa é a principal.

- Qual?

- Eu nunca lhe justificaria algo dessa maneira.- disse Draco.

- Talvez por isso eu nunca namoraria contigo.- disse Hermione.

- O único motivo pelo qual você não namora comigo é o Harry.- disse Draco com veemência.

- Você tem certezas demais sobre as pessoas.- disse Hermione.

- Outra diferença entre nós.- disse Draco.

- Eu não disse que eu não tenho certeza sobre as pessoas.- disse Hermione.- Eu só disse que você tem mais.

- Considero isso um defeito.

- Eu uma qualidade.- retrucou Hermione.

- Ter certezas é correr o risco de se decepcionar.- disse Draco.

- Eu estive conversando com Luna.- disse Hermione.

- Vai me contar o que está tramando?- perguntou Draco.

- Um dia...- começou Hermione.- Um dia você me disse algumas coisas sobre os comensais...Sobre a guerra!

- E você se assustou quando eu falei sobre o lado ao qual pertenço.- disse Draco.- O terceiro lado.

- Sim.- disse Hermione.- Na verdade eu não me assustei. O que eu temia era acabar acreditando nisso também.

- Mudou de idéia?

- Sim.- disse Hermione.- Quero dizer, mais ou menos.

Draco sorriu e cruzou os braços para escuta-la.

- Eu não busco o poder.- disse Hermione.- Eu não quero comandar o mundo, dar as cartas.

- O que você quer então?

- Eu quero paz!- disse Hermione.- Eu quero me deitar pra dormir e ter a certeza de que não há ninguém tentando matar as pessoas que eu amo. Eu quero pensar no meu futuro e ter certezas sobre ele!

- Você quer que a guerra acabe.- disse Draco.

- Isso mesmo.

- Se mate!- disse Draco com certa aspereza.

- O que?

- Se mate!- disse Draco.- Suicide-se! É a única maneira de acabar com a guerra.

- Não estou falando nesse tipo de guerra!- disse Hermione.

- Não existem dois tipos de guerra!- disse Draco.- Isso é a guerra! Ter medos! Temer as coisas, as pessoas! A guerra está dentro de cada um de nós!

- Você não está entendendo o que eu quero dizer.- disse Hermione.- Quando eu falo em guerra eu falo de Lord Voldemort. De Dumbledore. Do bem e do mau!

- Não existe o bem ou o mau...- começou Draco.

- Só existe o poder e aqueles que são fracos demais para alcança-lo.- completou Hermione.- Você já me disse isso!

- E você compreende isso?

- Sim.- disse Hermione.- Quando eu vejo a guerra duma forma figurativa eu vejo Voldemort e Dumbledore intertidos num jogo de xadrez.

- Lutando pelo poder de um só rei.- disse Draco.

- É!- concordou Hermione.- A diferença é que Voldemort não tem um rei figurativo. Ele é o rei! E Dumbledore... Ele usa o Harry.

Draco sorriu.

- É bom saber que mais alguém no mundo enxerga as coisas dessa maneira.- disse Draco.

- E eu não quero sair por aí matando todo mundo!- disse Hermione.- Não quero ver as pessoas a quem eu amo, e que não enxergam as coisas da mesma maneira que eu, mortas.

- Enquanto o Lord das Trevas viver haverá A guerra, como você chama.- disse Draco.

- Eu sei.- disse Hermione simplesmente.

- A sua piedade não nos levará a lugar algum.- disse Draco com desprezo.

- Obviamente, nós dois nada podemos contra tudo isso, sozinhos.- disse Hermione.

- Nada é impossível!- garantiu Draco.

- Eu sei.- disse Hermione.- Principalmente quando você é capaz de pensar.

Silêncio.

- Eu estive tendo algumas idéias.- disse Hermione.- É lógico que eu terei que fazer o Harry pensar da mesma forma que nós antes, mas é uma idéia.

- Não podemos fazer sem ele?- perguntou Draco.

- Não!- disse Hermione. Talvez pudesse explicar o porque, mas obviamente não falaria da profecia para um Malfoy.

- E qual é a idéia?- perguntou Draco.

- Onde os comensais se concentram?- perguntou Hermione.

- Na casa do meu pai.- disse Draco.

- É a sua casa também.

- Não, não é!- afirmou Draco.

- Onde fica?- perguntou Hermione.

- Próximo ao País de Gales.- disse Draco.- Não pense que três adolescentes de dezesseis anos conseguiriam invadir a casa do meu pai.

- Você saberia chegar até lá por meios não convencionais, certo?- perguntou Hermione.

- Logicamente.- disse Draco.- Não estou entendendo aonde você quer chegar.

- Não posso contar ainda.- disse Hermione.

- E quando vai poder?- perguntou Draco.

- No dia que conseguir fazer Harry confiar e você.- disse Hermione.- E você nele.

- Acho que é mais fácil você se matar, já disse.- retrucou Draco.

- Como você mesmo disse: Nada é impossível!- disse Hermione se levantando.

- Já vai?

- Sim.- disse a garota e sem dizer mais nada seguiu de volta ao castelo.


****


Harry desceu veloz a escada até o salão comunal e agradeceu por ter vestido a capa da invisibilidade ainda no dormitório. Hermione acabara de entrar pelo buraco do retrato e fazia agora o caminho na direção dos dormitórios femininos.

Prendendo a respiração, Harry a esperou subir. Assim que ela o fez Harry deixou a torre da grifinória e rumou para a biblioteca. Não demorou muito e ele encontrou o que procurava. Os Bruxos Britânicos que fizeram história no último século. E lá estava ela. Sua mãe. Com seus vinte e poucos anos ao lado de duas outras mulheres, em uma sala cercada de portas que Harry já conhecia.

Porque ninguém nunca havia contado sobre aquilo pra ele? Porque ele nunca havia esbarrado com ela por algum livro? Porque ele não era igual a Hermione que lia tudo o que podia ler? Talvez assim ele a muito a teria conhecido. Lílian Evans, a inominável. Porque Sirius nunca falara sobre ela? Porque Lupin, que já falara sobre ela, nunca tocara naquela parte da vida de Lílian? Porque todos sempre escondiam as coisas dele?


****


Draco fitou a mão da glória por um longo tempo. Talvez ele devesse simplesmente joga-la fora. Talvez devesse comunicar sua tia Belatriz que ele não faria aquilo que ela ordenara. Talvez devesse comunicar a ela que sim, ele chegaria ao poder, mas não por meio das Trevas.

Não! Se negar a fazer aquilo colocaria em risco sua própria vida. Ele faria a mão da glória chegar à Rony Weasley, mas seria a última coisa que faria como um Comensal Jr. Não mais haveriam reuniões na Sonserina.

O que Hermione estaria planejando? No fim das contas ela não contara sobre porque procurara Luna Lovegood.

Draco sorriu. Um dia ouvira um velho dizer que os loucos são os verdadeiros sábios. Luna Lovegood!


****


Harry fitou a gárgula que levava até a sala de Dumbledore. Qual seria a senha? Se tivesse o mapa do maroto tudo seria mais fácil. Algo de comer, pense em algo de comer, disse Harry a si mesmo. Ele começou a pensar. Mal fizera isso e a estátua se mexeu.

Harry se espremeu contra a parede e logo Tonks e Snape surgiram pela escada que descia.

- Vocês acham que proibir resolverá?- dizia Snape.

Harry se estreitou, o mais silenciosamente que pôde, entre Tonks e a passagem. A bruxa aparentemente sentiu algo passando, pois se virou sobressaltada para a parte de dentro da escada, onde agora estava Harry.

- O que foi?- perguntou Snape fitando-a. Harry prendeu a respiração.

- Nada!- disse Tonks enquanto olhava à volta.

- Fecha!- disse Snape e Harry sentiu que a escada em caracol começara a subir.

Harry tirou a capa e entrou sala adentro. Tudo estava calmo e vazio. Os ex-diretores dormiam em seus quadros. A Fênix não estava por ali. O chapéu estava no lugar de sempre e parecia muito quieto. Tudo era iluminado pelo luar prateado. Não havia sinal de Dumbledore por ali.

Harry olhou à volta.

- Professor Dumbledore?- ele chamou enquanto atravessava a sala.

Silêncio. Ouvia-se apenas o som dos planetas girando em uma réplica do sistema solar que havia a um canto, próximo a uma janela. Só então Harry notou que a luz prateada que iluminava a sala não vinha da lua e sim de uma penseira.

Harry deu alguns passos até a janela e logo pode ver seu rosto refletido no líquido prateado da penseira. A penseira o chamava.

- Professor Dumbledore?- chamou Harry em um tom mais alto agora. Não houve resposta.

Todos nós temos um momento para descobrir algo que a muito, sem saber, procurávamos. O de Harry era aquele.

Sem pensar duas vezes ele espremeu os olhos e mergulhou a cabeça na penseira. Quando os abriu novamente ele se viu naquela mesma sala, era dia. Dumbledore se encontrava assentado por trás de sua mesa.

- Como se sente, Lílian?- perguntou ele fitando algo nas costas de Harry.

O garoto se virou e com uma sensação horrenda no estômago ele reconheceu sua mãe, parada a menos de dois metros dele.

Lílian não devia ter mais que a altura de seu filho. Seus cabelos avermelhados estavam presos em um coque frouxo, ela tinha a aparência levemente doentia e carregava um embrulhinho nos braços e Harry logo descobriu o que era. Era ele próprio.

Ela atravessou a sala, passando por Harry, e se assentou defronte a Dumbledore.

- Estou preocupada.- disse Lílian. Sua voz parecia temerosa, mas não deixava de ser suave como o canto de uma fênix.

- Você sabe que o seu destino será decidido em alguns minutos.- disse Dumbledore calmamente.

- Há um espião.- disse Lílian séria.- E ele está lá fora, com Tiago.

- Sim.

- Severo Snape disse, no dia em que se apresentou à ordem, que um dos marotos é um espião, certo?- perguntou Lílian.

- Sim.- repetiu Dumbledore.

- Ele pode estar mentindo.- considerou Lílian.

- Ele não está mentindo.- disse Dumbledore com estranha convicção.

- O que ele fez para que você depositar tamanha confiança nele, Dumbledore?- perguntou a mãe de Harry. O garoto analisava seu rosto. Como ela era bonita. Gostaria de poder toca-la.

- Isso é entre eu e ele, Lílian.- disse Dumbledore.

Silêncio. Harry viu que sua mãe fitava Dumbledore que olhava distraído para qualquer coisa. Havia angústia nos olhos verdes de Lílian.

- Você sabe qual deles é o espião?- perguntou ela.

Dumbledore não respondeu.

- Porque não o desmascara logo, Dumbledore?- perguntou Lílian.

- Quem você acha que é?- perguntou Dumbledore.

- Eu não consigo pensar que um dos três é um espião.- disse Lílian.- Remo não é. Tenho certeza! Sobram Pedro e Sirius, mas é tão difícil acreditar que um deles possa nos trair... Por que você não pode ser o fiel do segredo?

- Eu não tenho esse poder, Lílian.- disse Dumbledore.- O destino de vocês começa a se mostrar aqui, nesse momento, e eu não tenho o direito de interferir.

- Com licença.- disse uma voz conhecida.

Harry ergueu os olhos e viu Sirius entrar na sala. Logo atrás dele veio Rabicho, Lupin e então... Harry viu seu pai entrar na sala. Trazia um embrulho debaixo do braço.

Dumbledore se levantou e caminhou até eles.

- O que decidiram?- perguntou ele.

- Sirius fará o feitiço.- disse Tiago.

- Pois então.- disse Dumbledore.- Vocês sabem o que tem de ser feito.

- Adeus Dumbledore.- disse Lílian ao se levantar.

- Eu gostaria de dar uma palavra a sós com você, Dumbledore.- disse o pai de Harry.

Harry observou os demais irem deixando a sala. Dumbledore se assentou novamente. Tiago caminhou até a mesa e depositou o embrulho lá.

- O que é isso?- perguntou Dumbledore.

- É a capa da invisibilidade.- disse Tiago.- Quero que a guarde. Você saberá quando usa-la, creio eu.

Dumbledore deve ter dito qualquer coisa em seguida, mas Harry de repente viu tudo girar, se dissolver e finalmente escurecer. E quando clareou novamente ele se viu mais uma vez na sala de Dumbledore. Era outro dia. O tempo lá fora estava nublado. Dumbledore se encontrava, mais uma vez, por trás da mesa. Harry ouviu passos apressados e em seguida a porta se abriu com um estrondo dando passagem a Sirius.

- Sirius?- disse Dumbledore.- O que faz aqui?

- Eu estou preocupado.- disse o homem.- Estive tendo pesadelos!

- O que você andou fazendo, Sirius?- perguntou Dumbledore.

- Nós trocamos!- disse Sirius.

Harry viu os olhos de Dumbledore se arregalarem e no segundo seguinte voltarem ao normal.

- Você sabe o que isso significa, não sabe Sirius?- perguntou ele.

- Eu pensava que podia ser Remo...- disse Sirius angustiado.- Mas não o fracote do Pedro. Diga-me! É ele ou não é?

- Siga o seu coração, homem.- disse Dumbledore se levantando e caminhando pela sala.

- Petrigrew é um homem morto, Dumbledore!- sibilou Sirius.

- O que está fazendo ainda aqui, Sirius?- perguntou Dumbledore.- O destino de todos nós pode estar sendo resolvido agora. Você deveria correr contra o tempo.

Harry fitou Sirius por um momento. Ele estava molhado, aparentemente chegara debaixo de chuva. Suas vestes pareciam amassadas e seu rosto incrivelmente jovem. A vontade de tocar aquelas lembranças de Dumbledore cresceu ainda mais dentro de Harry, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa ele se sentiu sendo puxado para trás. Quando voltou a um lugar concreto viu Dumbledore de pijamas fitando-o severamente.

- O senhor!- fez Harry com cara de nojo.- O senhor sabia que Pedro era o traidor.

Dumbledore nada respondeu. Limitou-se a dar a volta em sua mesa e se assentar. Só então Harry percebeu que as luzes haviam sido acesas e que Tonks estava parada na outra extremidade da sala.

- Vi você pelo mapa.- disse ela severamente.

- Eu...- começou Harry. Queria explicar que ele não havia ido até ali xeretar, mas a sua indignação era tamanha que ele não conseguiu faze-lo.

- Sente-se Harry.- disse ele.

- EU NÃO QUERO ME ASSENTAR!- gritou Harry.

- Harry...- começou Tonks.

- Deixe-o Tonks.- disse Dumbledore.

- O SENHOR SABIA QUE SIRIUS E PEDRO HAVIAM TROCADO!- gritou Harry.- O SENHOR SABIA QUEM ERA O TRAIDOR!

- Harry, não grite!- disse Tonks.

Harry olhou pra ela por um longo minuto. Em seguida ele puxou uma cadeira e se assentou. Respirou fundo tentando se acalmar e quando ergueu os olhos novamente para Dumbledore, Harry sentiu tanto ódio quanto jamais havia sentido em seus dezesseis anos de vida. Não conseguia acreditar no que acabara de concluir, graças às lembranças de Dumbledore. E nem queria.


****


Hermione rolou pela cama sem conseguir dormir. Harry havia saído, onde ele estaria? Talvez se houvesse uma grande ligação entre os dois ela pudesse encontra-lo...Talvez!

Hermione de repente parou e começou a se lembrar do livro que estivera lendo mais cedo. Liberte a sua alma. Fortaleça a sua mente. Deixe o seu corpo e as limitações terrenas, viaje, cresça!

Hermione abriu os olhos e se assustou ao ver que estava flutuando há dois metros de seu corpo.

Concentre-se no que desejas. Encontre o que procuras.

“Você poderia tê-los salvo! Você sabia quem era o espião!”

Encontre o que procuras...

“Snape havia lhe contado! Você poderia tê-los salvo, mas não! Você precisava assistir à profecia se revelar! Precisa ter o salvador em seu poder!

Concentre-se...

“E o que vai fazer, Harry? Vai deixar Hogwarts? Se entregar para Voldemort?”

Liberte a sua alma...

“Você é um monstro!”

Fortaleça a sua mente...

“Você tem que entender que não chegará a lugar nenhum sem a minha ajuda, Harry.”

“Você...”

- Ahhhrg!- fez Hermione ao sentir-se cair em sua cama, novamente em seu corpo.

Harry estava com Dumbledore e logo chegaria ao salão comunal prestes a fazer alguma bobagem.

Hermione se levantou e vestiu o robe. Logo estava descendo as escadas que levavam ao salão comunal. Cinco minutos se passaram quando Harry surgiu pelo buraco, parecia desnorteado.

- Mione!- disse ele enquanto corria até a garota e a abraçava, como uma criança que descobre que papai Noel não existe.- Você não sabe o que aconteceu?!

- Sei sim!- disse ela quando Harry se afastou.- A vovozinha virou o Lobo Mau!

Harry a fitou com dúvida.

- Eu estive lá!- justificou Hermione com simplicidade.- Eu deixei meu corpo, mais uma vez.

- Eu não sei o que fazer!- disse Harry.

- É hora da chapeuzinho vermelho se juntar ao caçador!- disse Hermione levemente aérea.

- E quem ou o que exatamente seria o caçador?- indagou Harry.

- Eu...- começou Hermione.- E o Draco!

Harry a princípio riu como se aquilo fosse uma piada, mas ao ver que Hermione permanecera séria ele se quietou.

- Não vou me juntar ao inimigo!- disse Harry.

- Draco Malfoy não é um inimigo!- disse Hermione.- Nós, até o momento pertencemos à lados opostos, mas juntos podemos formar um terceiro lado!

- Que idéias malucas esse cara andou colocando na sua cabeça, Mione?- perguntou Harry seriamente.

- Ele não me disse mais do que verdades!- disse Hermione.- E as idéias na realidade foram todas minhas!

- Você é louca!- disse Harry.

- Todos nós somos um pouco loucos.- disse Hermione.- E eu ainda nem disse quais são as idéias, logo, você não tem motivos para me chamar de louca.

- Você me dá medo!- disse Harry ditando-a sério.

- Um dia você vai me entender.- disse Hermione.- Um dia todos vão me entender!


***Continua***

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