Noite na Torre



- A Torre Leste virou o ponto de encontro dos malfeitores agora é?!- indagou Draco ao ver Luna surgir. O sol se encaminhava para o oeste, deviam ser já mais de seis.

- Daqui a pouco vão nos proibir de acessa-la.- completou Harry de mau-humor.

- Gina, será que posso dar uma palavrinha contigo?- indagou Luna fitando a garota de forma aérea.

- Não.- disse Gina erguendo as sobrancelhas ruivas.

- Vocês andaram brigando?- indagou Zambini.

- Sim.

- Não.

As duas se entreolharam, sendo que o “Sim” foi de Gina e o “não” soou com pouco caso.

- Dá pra não serem contraditórias?- interrompeu Harry.

- Aconteceu alguma coisa, Luna?- perguntou Draco.- Por acaso foi até a enfermaria?

- Eu só preciso dar uma palavrinha com a Gina.- disse Luna ignorando-os.

Gina sentiu-se levemente confusa. O Sim saíra sozinho, como que por vontade própria. Queria pirraçar Luna, mas ela pedir pra trocar uma palavra talvez significasse que ela mudara de idéia, o que era consideravelmente improvável, pois Luna não costumava mudar de idéia. Deixou um beijo no ar, para Zambini, e foi até Luna.

- O que foi?- indagou ela fingindo não estar curiosa.

Luna olhou para trás, Harry, Draco e Blás estavam prontos a escutar.

- Não aqui.- disse ela indicando os dois.

As duas desceram a escada circular da torre e seguiram por um corredor cumprido e deserto. Seguiam em silêncio e foi Gina, impaciente, quem começou a falar.

- Você foi ver a Mione não foi? E ela provavelmente te recebeu para falar sobre a cicatriz.

Luna continuou calada.

- Fale alguma coisa!- disse Gina irritada.- Às vezes acho que sente prazer em me deixar falando sozinha.

- Geralmente é você quem fala de mais.- disse Luna.

- Não veio aqui continuar a discussão que eu comecei, ou veio?- perguntou Gina.- Porque se veio está perdendo o seu tempo, eu vou...- então percebeu que ela realmente não costumava deixar espaço para respostas.

- Se Tonks lhe perguntar sobre o que ocorreu enquanto estivemos com Lestrange, finja que o episódio da floresta proibida não aconteceu.- disse Luna sem olhar pra outra.

- Hermione mandou o recado?- pergunto Gina.

Luna deu ombros.

- E não deixe que Tonks penetre sua mente.- completou.

- Porque Hermione chamou você e não quer ver os demais?- indagou Gina.

- E não faça perguntas.- completou Luna mais entrando no jogo de frases irritantes do que por necessidade.

- Então apenas concorde!- disse Gina.- Você foi ver Hermione, você sabe o que é aquela cicatriz. Aliás, se não sabia antes agora sabe porque ela própria lhe contou.

- Não.- disse Luna.- Se eu sei sobre a cicatriz de Hermione isso interessa a mim e a ela.

- É você quem tem que concordar com as suposições!- disse Gina.- E não venha me tirar.

- Não estou te tirando.- disse Luna.

- Você sempre nega as tiradas que dá.- disse Luna.

- Se sabe disso porque se irrita até hoje?!

A varinha de Gina, presa junto à manga, soltou um jato de faíscas multicor.

- Uou!- fez Luna com um discreto sorriso nos lábios.- Parece potente!

- Caracas! Você tirou o dia pra me encher ou o que?- indagou Gina ficando muito vermelha.

- Eu diria que temos alguém na TPM.- disse Luna calmamente.

Haviam alcançado o estremo oposto do corredor, a escada circular que levava à torre leste.

- Vamos subir e assistir ao pôr do sol ou você vai continuar brincando de garotinha mimada de 11 anos de idade?- perguntou Luna.

Gina a fuzilou com os olhos, mas então, enfiando a varinha no bolso, começou a subir as escadas.

- Eu não guardaria isso aí.- disse Luna subindo logo atrás.- É propício à acidentes.

- Aah! Cala a boca, Luna!- disse Gina.- O espírito Fred e Jorge baixou em você é?

- Que nada, eu só gosto da sua cara de irritada.- disse Luna.

Gina deu ombros, havia chegado no alto do corujal. Foram se debruçar ao parapeito, olharam o nada por algum tempo.

- Harry, Draco e Zambini têm um plano para entrar na enfermaria.- informou Gina.

- E porque está me dizendo isso?- indagou Luna.

- Sei lá.- disse Gina.- A informação pode vir a ser importante para a nova dupla imbatível: Granger e Lovegood! Ou não?

- Gina.- começou Luna rindo.- Você está com ciúmes de minha amizade com Hermione?

- Que?- fez Gina ficando muito vermelha.- Claro que não!

- Sei.- disse Luna ainda sorrindo.

- Mas você vai avisa-la?- indagou Gina ainda vermelha.

- Avisar quem?

- Hermione!

- Acho que não.- disse Luna dando ombros.- Deixe que as coisas sejam como têm que ser.

O sol se punha em um tom de vermelho muito anormal. Diriam os centauros que aquilo era culpa da carnificina das últimas 48 horas. Talvez o mundo tivesse saído dos eixos, ou quem sabe voltado. Mas Gina apenas sentia o vento lhe lambendo o rosto, os pensamentos vazios, ao passo que Luna remoia algumas das informações recentes sem perder a expressão calma que carregava quase sempre no rosto.




****




- Mas quem vai ser o enfermo?- indagou Blás finalmente, estavam a alguns metros da enfermaria.

- Eu!- disseram Draco e Harry em uníssono.

- O namorado dela sou eu.- disparou Harry.

- Mas se, além de namorado, você for o motivo pelo qual ela está nos isolando aqui fora; ela provavelmente vai preferir a mim.- disse Draco sorrindo com certo sadismo.

Harry respirou fundo e após cerrar os punhos acertou um soco certeiro no nariz de Draco.

- O que é isso?- indagou Blás antes que Draco pudesse pensar em revidar o soco

- Acabo de dar ao Malfoy um motivo para entrar na enfermaria.- disse Harry antes de dar as costas, e massageando os dedos doloridos, rumar para a Torre da Grifinória.




- Garoto, o que aconteceu?- indagou a enfermeira ao ver o nariz ensangüentado de Draco.

- Parece um soco no nariz, não?- fez Draco.

- Ande, entre!- disse ela.- Vamos cuidar disso!

Draco obedeceu, sorrindo de leve. Blás tentou ir atrás, mas foi barrado.

- Você não.- completou a enfermeira antes de bater a porta na cara dele.

Draco, olhando pelo canto dos olhos à volta, soltou um gemido como que dar ênfase à seu estado enfermo.

- Espere só um minuto que já volto para fazer seu curativo, Sr. Malfoy.- disse a enfermeira.

Draco consentiu com a cabeça e a viu sumir. Rapidamente se aproximou do único cortinado fechado, ou quase fechado, pois ao dar a volta no leito foi encontrar os olhos cansados de Hermione, antes presos em um livro, sobre ele.

- O que aconteceu?- indagou ela indicando o nariz.

- O que aconteceu à você?- retrucou Draco.- Se trancou aqui, todos estávamos preocupados, perguntando se você estaria mal. Mas você está, otimamente, bem!

Silêncio. Hermione fechou o livro e suspirou.

- Sua tia deu notícias?- indagou Hermione.

- Não.- disse Draco.- Mas a essa altura ela já está muito longe daqui, tenha certeza. O que está acontecendo Hermione?

- Nada.- mentiu Hermione desviando os olhos.- Ainda não me disse o que aconteceu ao nariz.

- Harry me deu um soco.- disse Draco dando ombros.

- Ele o que?

- Era a única maneira de um de nós conseguirmos entrar aqui.- explicou Draco.

- Porque não foi ele quem veio?- perguntou Hermione com certa imparcialidade.

- Porque eu consegui um motivo para levar um soco antes.- disse Draco.- Porque? Preferia que ele tivesse vindo?

- Na verdade não.- disse a garota francamente.

Draco sorriu de satisfação por ouvir aquilo. A enfermeira estava voltando.

- Agora, por favor, vá embora e não tente mais entrar aqui.- disse Hermione.- Eu realmente preciso ficar só.

E dizendo isso fechou a cortina.




****




Durante o caminho de volta à Hogwarts, ao pensar como seriam os dias que viriam, Harry se imaginara mergulhado sob jornais e revistas. Vendo o próprio rosto e vários artigos. Mas no primeiro dia em que isso deveria ter acontecido, ele simplesmente passara o dia na companhia de Draco Malfoy e nem se importara com o que os jornais do dia estavam dizendo.

Porém a noite já havia caído, e ele se viu obrigado a voltar à torre da Grifinória. Nunca havia gostado muito da fama, mas de certa forma sabia que seria recebido com festa e isso talvez o confortasse. O que não esperava é que tudo o que ele pudesse esperar não fosse ocorrer exatamente.

- Harry, por onde esteve?- era Neville.- Procuramos você a tarde inteira.

- Estava por aí.- respondeu Harry.

- Tonks está atrás de você, parece que os aurores querem lhe falar.- disse Neville.

Os aurores. O que viria a seguir? Mais torras? Mais ponderações?

- Tonks pediu que você fosse à sala dela assim que aparecesse.- continuou Neville.

- Hum. Obrigado pelo recado.- disse Harry então.

- De nada, e a propósito, parabéns...- começou Neville.- Ou algo parecido, pela vitória sobre Você- Sabe- Quem.

Harry sorriu em agradecimento e deixou o salão comunal. Gina vinha pelo corredor, parecia transtornada.

- Harry, ainda bem que eu o achei.- disse ela engolindo em seco.- Tonks esteve nos procurando a tarde inteira, e só me encontrou agora. Ela tinha algumas notícias para nos dar e...

Harry começou a sentir que algo de errado acontecera. Recados e recados. E se Tonks queria tanto encontra-los, porque não usara o Mapa do Maroto? Como se lesse os pensamentos de Harry, Gina respondeu a dúvida a seguir.

- O mapa do maroto parou de funcionar.- disse ela depois de algo que Harry não havia prestado atenção.- Desde ontem ou antes de ontem à noite. Quando... quando... Belatriz Lestrange liquidou o Professor Lupin com... com um Avada Kedrava!

A notícia provavelmente doeu em Harry mais do que qualquer outra notícia de morte. Ao descobrir os marotos Harry pudera se sentir mais próximo do pai. Quando Sirius morrera, ele perdera o padrinho. Mas saber da morte de Remo Lupin, antecedida pela de Dumbledore, significava pra ele um pouco mais. Parte de seu passado, parte do passado de seus pais que ele a muito procurava descobrir e entender havia simplesmente se perdido.

- ... Talvez você devesse visitar Tonks, todos ainda estamos eufóricos com os acontecimentos dos últimos dias, mas talvez você precise conversar com alguém.- parecia Hermione falando, e ele não sabia, mas era a própria.

Ao receber a notícia da morte de Lupin, ainda na enfermaria, ela se sentia ainda pior e ainda mais preocupada com o que seria de Harry dali pra frente.

Gina ainda falava, mas Harry não conseguia prestar atenção. Sua cabeça estava vazia, simplesmente. Por fim ele se despediu de Gina.

- Vou procurar Tonks.- disse, mas não foi.

Desceu alguns andares e foi deparar com a porta da enfermaria, fechada. Bateu, ninguém atendeu. Sabia que Hermione ainda estava lá, porque a isolavam? Desceu mais um andar e deixou o castelo. A noite era clara, ventava um pouco, um vento fresco, confortante. As luzes da cabana de Hagrid estavam acesas.

Harry bateu, mas ninguém atendeu. Será que todas as portas estariam fechadas para ele essa noite? Bateu de novo, a porta deu um estalo e se abriu. Canino latiu para ele. Hagrid dormia assentado em sua enorme poltrona, um copo de vinho estava caído aos seus pés. Roncava.

Deixou a cabana e caminhou até o campo de Quadribol. Foi largar-se nas arquibancadas. Alguém que treinava sozinho o avistou e começou a descer. Logo reconheceu quem era. Era Cho Chang. A garota foi na direção dele.

- Soube do que aconteceu.- disse ela depois de algum silêncio.- Falo sobre você- sabe- quem e tudo o mais.

Harry deu ombros.

- Deve estar chateado com a morte de Dumbledore.- insistiu Cho.

Harry deu ombros novamente, não sabia o que sentir quanto a isso.

- E a sua nova namorada?- recomeçou Cho.- Hermione Granger, como está?

- Deve estar bem.- disse Harry simplesmente.

- Deve?

- É. Não posso vê-la.- disse Harry.- Tonks e McGonagall proibiram visitas.

- E porque fizeram isso?- indagou Cho meio injuriada. Harry estranhou o interesse dela.

- Eu não sei.

Silêncio.

- Não acha estranho?- disse Cho depois de hesitar um pouco.- Não há por que proibirem você de vê-la. Ela nem está tão mal assim, ou está?

- Não. Ela já está acordada, só precisa de repouso.- explicou Harry tentando entender aonde Cho queria chegar.

- Então.- disse Cho como se fosse algo extremamente óbvio.- Parece bem claro que não foram as Professoras Tonks e McGonagall quem fizeram a opção pelo isolamento.

Harry raciocinou por um minuto, parecia fazer sentido.

- Mas porque Hermione faria essa escolha?- indagou então.

Cho se levantou. Havia um quê de triunfo em seus olhos puxados. Ela colocou a vassoura no ombro, pronta para seguir rumo ao vestiário.

- Isso eu já não tenho como responder.- disse então.- Até outro dia, Harry.- completou antes de se distanciar.

Harry permaneceu ali por algum tempo. Por um momento esqueceu até a morte de Lupin. Mas porque Hermione estaria fugindo dele? O que haveria acontecido dessa vez? Será que Malfoy conseguira falar com ela?




****




Draco virava e revirava em sua cama sem conseguir dormir. Podia ver o vulto do pássaro vermelho do lado de fora da cortina. Pensava em sua Tia e sobre onde ela estaria agora. Temia que ela fosse pega, apesar de acha-la muito esperta para isso.

Mal sabia ele que Belatriz já estava longe. Que, voando, cruzava agora o canal da mancha, indo na direção da França, onde ficaria por uns tempos.




****




Enquanto tomava uma rala sopa de café da manhã, Hermione escutou baterem na porta. Alguns segundos se passaram quando Madame Pronfey surgiu de sua sala indo receber a visita. Sorriu maternalmente ao passar por Hermione.

Um minuto se passou quando a enfermeira deixou alguém entrar e se retirou. Hermione tomou mais uma colher de sopa se perguntando quem era dessa vez. Era Luna.

- Dia.- disse a garota se assentando no leito ao lado.

- Bom dia.- disse Hermione já não irritada com a visita. Desde o ocorrido na lareira Luna, além de confiança, vinha lhe inspirando simpatia também.- Aconteceu alguma coisa?

- Ah! Não.- disse Luna aérea.- O enterro do Professor Lupin será esta manhã, mas Minerva não deixou ninguém ir. Harry e Gina estão indignados.

- Eles devem estar péssimos.- disse Hermione monotonamente.

- E estão.- concluiu Luna.

- Tem visto o Draco?- indagou Hermione hesitante.

- Ele e o Harry têm passado boas horas na torre leste.- disse Luna.

- Nunca pensei que ficariam amigos.- disse Hermione com um sorriso discreto no rosto.

- Só vai durar até você terminar com o Harry.- disse Luna seriamente fitando Hermione, que desviou o olhar. Por algum motivo qualquer não queria contar que Draco viera vê-la.

Silêncio. Ouvia o som de uma vassoura ao chão vindo de qualquer lugar perto dali.

- E quanto mais cedo for, melhor.- disse Luna.- Draco logo sumirá no mundo e não poderá lhe defender.

- Porque ele teria que me defender?- indagou Hermione pensativa.

- Porque da última vez que terminou, o motivo foi por uma recaída.- disse Luna.- e...

- Como sabe disso?- atravessou Hermione.

- Isso não importa.- disse Luna.

- Não acho que o Draco fugirá tão cedo assim.- disse Hermione.

- Eu lhe garanto que sim.- disse Luna olhando distraidamente para o teto.

- Eu não consigo pensar nas palavras.- explicou Hermione.- Em como dizer o que quero, e porque.

Silêncio. Luna parecia pensar em outra coisa.

- Tonks me chamou à sala dela, esta manhã.- disse finalmente sem perder o ar aéreo.- Pediu que contasse sobre o período junto à Comensal. Não falei sobre a cicatriz, como você pediu, mas dei bastante informações valiosas.

- Obrigada.- disse Hermione simplesmente.

- Mas tem algo que sobre o que não te contei.

- Diga.

- Belatriz Lestrange está grávida.- disse Luna calmamente.

- O que?- foi o que Hermione conseguiu dizer.

- Pois é.- disse Luna como se contasse que o sol nasceu hoje de novo.- E segundo os diários de mamãe ela nunca quis ter filhos...

- Diários?- indagou Hermione ainda chocada pela informação.

- É. E tem uma coisa que talvez você queira saber também.- continuou Luna.- A doença da loucura não foi a única coisa que herdei de mamãe, além da aparência física, é claro.

- Mas...- disse Hermione atônita.- ...grávida? Como? De quem?

- E você ainda pergunta?- disse Luna sem emoção.

- Está querendo me dizer que Gina vai ser tia?- indagou Hermione temendo processar aquelas informações.

- Exatamente.

- E quem mais sabe disso?- perguntou Hermione.

- Talvez o Draco. Acha que devo contar à Tonks sobre isso, também?- indagou Luna estranhamente lúcida.

- Não!- disparou Hermione.- Não por enquanto.

- E o Harry?- indagou Luna depois de algum silêncio.

- Ele me procurará.- disse Hermione séria.- E eu acabarei com tudo.

- As férias de verão estão se aproximando.- disse Luna desviando completamente o assunto.- O que pretende fazer, então?

- Não sei.- disse Hermione se lembrando de algo.- Luna, será que poderia enviar levar uma carta ao corujal pra mim?




****




- Vocês o quê?- indagou Minerva ficando de pé por trás de sua escrivaninha.

- Desculpe não termos dado sinal de vida nas últimas quarenta e oito horas e nem termos avisado sobre o que faríamos, mas é que simplesmente não deu tempo!- disse Gui Weasley afoito. Parecia incrivelmente descabelado e aparentemente a muito não dormia.

- Abeforth Dumbledore continua o velho encantador de sempre.- disse Andrômeda Tonks que parecia ser a única ainda normal do grupo, apesar de toda a sua excentricidade.

- Mamãe, você está nos dizendo que usando a capacidade Metamorfa você fingiu ser Belatriz Lestrange e teve “uma conversa séria” com o barman do Cabeça de Javali?- despejou Tonks.

- Exatamente!- disse a Sra. Tonks com um sorriso quase altista nos lábios.

- Foi simplesmente a melhor idéia que poderíamos ter tido!- disse Carlinhos como que fascinado.

- E também a mais louca, a mais ilógica!- despejou Minerva.- Ao menos chegaram à algum lugar?

- À Cabana de viagem da família Black.- disse Gui.

- E a Comensal estava lá?- indagou Minerva olhando-o severamente por cima dos óculos quadrados.

- Não.- disse Andrômeda Tonks.- Fugiu, provavelmente pela manhã. Mas encontramos coisas fascinantes por lá.

Gui então abriu um pergaminho enxovalhado sobre a mesa da Professora McGonagall. Parecia uma espécie de calendário escrito em letra simples e ríspida, porém muito bonita.

- O que exatamente significa isso?- indagou Minerva passeando os olhos pelos escritos.

- Significa que Tonks ganhará um primo.- disse Andrômeda sorrindo.- Eu vou ser tia, Minerva!

- Não pode ser!- murmurou Minerva atônita debruçando sobre os escritos. Realmente estava clara a utilidade daquele calendário. Pela ausência de riscos sobre as datas podia-se concluir que o pequeno Lestrange já estava no ventre da Comensal há pelo menos dois meses. Mas se Rodolfo Lestrange havia sido preso e morto muito antes disso...- E de quem seria o filho?

Gui e Carlinhos se entreolharam ficando extremamente sérios e desconcertados. Tonks arregalou os olhos ao entender quem era o pai, mas foi Andrômeda quem deu a informação verbal.

- Ronald Weasley.




****




Harry sentiu toda a insegurança dentro de si triplicar ao avistar, ao longe, Luna deixando a enfermaria. Correu até ela.

- As visitas foram liberadas?

Luna olhou para ela com expressão ilegível no rosto, e franzindo a sobrancelha loura respondeu.

- Não!- e sem mais nem menos continuou andando.

Harry a viu sumir pelo corredor. Isso tornava bem claro o que Cho insinuara na noite anterior, e talvez o que Malfoy dissera também. Ninguém havia proibido visitas à Hermione senão ela própria. E se Luna podia vê-la e ele não, isso queria significar alguma coisa.

Falando-se em Draco Malfoy, Harry foi avistar o próprio mais a frente. Já tendo, o garoto louro, o visto. Parou e esperou, com ansiosa malícia, Harry se aproximar. Sorria.

- E então?- indagou Harry.

- Quer saber da parte em que nosso plano foi bem sucedido e eu consegui entrar na enfermaria ou da em que Hermione disse que não quer vê-lo?- indagou o garoto em um regozijo mudo ao ver a expressão no rosto de Harry.

- Ela disse isso?- indagou Harry sentindo um peso horrível no estômago.

- Resumidamente sim.- disse Draco sorrindo.

- E porque você não estaria mentindo?- indagou Harry hesitante.

- Porque eu não preciso disso, Potter.- murmurou ele.

Harry cerrou os punhos.

- Aceite, você a perdeu.- disse Draco.- E dessa vez definitivamente.- e então, temendo ter o nariz novamente acertado, Draco tratou de bater em retirada.

Harry apertou os punhos com tal força que as unhas enterraram na palma da mão e lhe doeram talvez tão profundamente quanto às palavras de Draco Malfoy. Mas tratou de se acalmar. Já era quase hora do jantar.

Enquanto fazia o caminho até o salão Principal, para o jantar, Harry ia se lembrando de tudo o que acontecera no último ano. Lembrou-se então de sua última crise com Hermione, parecia similar. Lembrou-se do quão se sentira péssimo na época e simplesmente decidiu que dessa vez seria diferente. Não ficaria correndo atrás da garota, procurando entender onde estava o problema, pelo resto de sua vida. Uma hora teria que dar um basta, e ver Cho parada no saguão de entrada parecendo estar, de algum forma, esperando por ele, o fez concluir que a hora do basta era agora!

- Boa noite.- disse ele sorrindo pra garota.

- Vai fazer algo depois do jantar?- indagou Cho sorrindo de volta.

- Acho que não.- disse Harry ficando meio sem jeito.

- Estive pensando, já que não teremos mais torneio de quadribol esse ano, o que acha de treinarmos um pouco?- indagou Cho.

- É.- disse Harry.- Pode ser.

- Encontro você no campo de quadribol depois do jantar, então.- completou a garota antes de seguir para a mesa da Corvinal.

Harry seguiu até sua respective mesa e foi assentar-se ao lado de Gina que parecia incrivelmente distraída, até que Dino Thomas apareceu.

- E aí, Weasley, ainda lembrando da lua de mel precoce?- indagou o rapaz de forma extremamente seca.

Harry arregalou os olhos, corando de leve, e olhou para o companheiro de quarto. Gina havia se virado para lê estupefata.

- O que foi que você disse?- indagou a garota de uma forma que lembrava extremamente Hermione.

- Apenas o que o seu namoradinho anda espalhando por aí!- disse Dino.

- Blás anda dizendo isso por aí?- indagou Gina, incrédula, se levantando.- Eu não acredito!?

Neville, que estava assentado mais à frente fez que sim com a cabeça. Gina olhou um olhar psicótico em direção à mesa Sonserina, Blás acenou pra ela de lá. E então, fazendo um sinal de ordem para o rapaz, Gina deixou o salão comunal.

Dino Thomas parecia muito perto de estar ofendido. Harry achou melhor dizer alguma coisa em defesa.

- Não aconteceu nada, sério.- disse simplesmente. Alguns rostos curiosos os olhavam.

- Isso não parece convincente vindo de um cúmplice, Harry Potter.- disse Dino.

- Em memória ao Rony, eu não deixaria nada acontecer entre a Gina e... e aquele Sonserino!- disse Harry com a voz fraca.

- E isso sim parece convincente!- disparou Neville de seu lugar.




****




- Eu nem vou me dar ao trabalho de dizer poucas e boas à você!- trovejou Gina.- Mas por favor, mantenha-se longe da minha vista, não quero vê-lo novamente tão cedo!

E dizendo o último ela ganhou o corredor. Perdera a vontade de jantar e não queria voltar à torre. Quantas pessoas mais estariam à par do boato? Onde estaria Luna?




****




- Molly já sabe?- indagou Minerva. Gui e Carlinhos tinham acabado de deixar o castelo, logo após o jantar.

- Gui contará.- disse Andrômeda enquanto soprava seu chá.

- A notícia soa no mínimo como uma capa d’O Pasquim!- exclamou Tonks ainda entorpecida com a notícia.

- Creio que é melhor que ela não seja notícia em lugar nenhum.- disse Minerva seriamente.

- Logicamente.- concordou Andrômeda.- Mas se me permitir, Minerva, devo escrever à alguns contatos meus.

- A ordem confia em você, Andrômeda.- disse Minerva fitando a outra que depositava a xícara de xá sobre a mesa e se levantava.

Ela foi até a lareira e apanhou uma bolsa de pano laranja que havia ali. A abriu e tirou de lá algumas cartas prontas para serem enviadas.

- Irei imediatamente ao corujal.- disse antes de deixar a sala.




****




Luna soltou a coruja que levaria a carta de Hermione aos pais e ficou observando a noite. Havia, ao fundo de sua mente, um assobio agudo e inexplicável. Ouviu passos de alguém que chegava ao corujal, mas não se virou. O recém chegado apanhou uma coruja parda e algum tempo se posicionou ao lado de Luna para despacha-la, e a garota nem se moveu, olhava além da floresta proibida, sentia-se como que entorpecida, como se seu cérebro de repente tivesse travado.

- Às vezes, quando o verão se aproxima, os Testrálios de Hogwarts passam as noites sobrevoando a floresta proibida.- murmurou sem tirar os olhos do horizonte.




Andrômeda olhou aquela garota loura e solitária, olhando a noite. Ela deveria parecer triste, mas de certa forma parecia simplesmente com uma peça fora de seu lugar.

- Quando era pequena sempre sonhei em ver um Testrálio.- disse Andrômeda observando o perfil da garota.- Minha irmã, abaixo de mim, os via desde a primeira vez que veio à Hogwarts e eu morria de inveja dela por isso. Mas então eu conheci uma garota que havia perdido o pai, vítima de uma doença genética, e por isso ela também via os Trestálios. Comecei a achar que a condição para vê-los não era tão favorável assim.

- Perdi minha mãe muito cedo, também.- disse Luna limitando-se a suspirar e continuar olhando o nada.- Por isso também os vejo desde que estive, pela primeira vez, em Hogwarts.

- Mas o que uma garota com você faz fora da cama a essa hora?- indagou Andrômeda tentando ser simpática.

- Vim despachar umas cartas.- disse evasiva e formalmente.- A meu pai, e aos pais de uma colega.

- Os pais devem estar todos preocupados...- comentou Andrômeda.- Com o caos no mundo bruxo, os filhos longe de casa... Sempre achei essas preocupações tolas. Minha filha sempre esteve longe de mim em períodos como este, e nada de ruim nunca lhe aconteceu.

- Ela provavelmente não esteve se aventurando com alguns colegas por aí, ou você teria ficado preocupado.- murmurou Luna.

- Ah não! Na primeira guerra eu estava trabalhando e ela na escola. E dessa vez eu estive a maior parte do tempo em minha casa, junto a meu marido.- disse Andrômeda.- E minha filha correndo atrás de comensais, ela é uma aurora, sabe.

- Como se chama a sua filha?- ia dando continuidade ao diálogo como que mecanicamente.

- Ninfadora.

- Ela não deve gostar muito deste nome.- concluiu sentindo sua cabeça começar a girar, a vista embaçava em períodos regulares.

- É.- riu Andrômeda.- Acho que não. Mas eu sempre gostei do nome, sabe.

Tudo girava agora. Luna cambaleou pra trás, completamente zonza e voltou à posição inicial se apoiando ao parapeito do corujal. A mulher, notando que algo estava errado, correu para socorre-la.

Ao ver o rosto da garota loura Andrômeda sentiu algo estranho lhe subir à cabeça. Aquele rosto lunático parecia-lhe estranhamente familiar.

- Você me lembra alguém.- disse Andrômeda.- Qual o seu nome?

Mas a garota havia simplesmente desfalecido. Andrômeda imediatamente a levou à enfermaria. A enfermeira logo veio acudir e mandou que colocasse a garota sobre um dos leitos.

Após faze-lo Andrômeda se virou e pôde ver o rosto curioso de Hermione Granger em seu leito. Considerando a garotinha super dotada e aparência certinha que fora um dia, havia se tornado uma linda mulher.

- Desculpe.- disse a garota ao ver os olhos da mulher sob seu próprio rosto.- Mas o que aconteceu à Luna Lovegood?

- Ela teve um desmaio.- explicou Andrômeda sorrindo ao entender, exatamente, quem era aquela curiosa garota.- Você disse Luna Lovegood?

- Sim.- respondeu Hermione sem entender, mas a mulher, que ela não conhecia, já rumava na direção da saída da enfermaria.

- Se algum Auror aparecer por aqui diga que estarei na sala de minha Ninfa.- disse Andrômeda à enfermeira antes de deixar a enfermaria.

- Essa daí é louca.- murmurou a enfermeira aparentemente se esquecendo da presença de Hermione ali.

***Continua***

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