O último verão



- Ah! Olá Gina.- disse Harry ao entrar na cabine que estava vazia exceto pela garota ruiva, que por sua vez encontrava-se jogada, tristonha, ao fundo.

- Eu não a procuraria por todo o trem se fosse você.- murmurou Gina francamente.

Harry deu ombros e continuou a empurrar o malão. Ao alcançar a porta dos fundos da cabine deu meia volta e indicou com a cabeça o lugar ao lado de Gina.

- Esteja à vontade.- disse a garota.

Harry se assentou e acomodou o malão no bagageiro. Ainda trazia consigo a gaiola vazia de sua falecida coruja.

- Ela deve estar ocupada, não é mesmo?- indagou ele.- Com o Malfoy.

- Esse discurso já está cansando, Harry. Você devia trocar a fita, pra variar. O universo agradeceria.- disse Gina.- E antes que você me pergunte, eu não sei porque ela rompeu contigo! Só sei que depois da história da Cho...

- Eu fui enganado! Era tudo uma armação dela e daquele Malfoy!- despejou Harry.

- Armação ou não foi o pior que você poderia ter feito.- disse Gina.- Enfim, ela não quer te ver, Harry. Ela não quer se desgastar com você. Ela já tem problemas demais pra ter mais este.

- Problemas!- murmurou Harry olhando pela janela.

Seguiu algum tempo de silêncio em que Harry remoeu sua irritação e Gina buscou um assunto qualquer que os desviasse daquele foco de tensão.

- Não somos nada sem o Rony, não é mesmo?- indagou Gina.- Digo, ele era pateta e tudo mais, mas do jeito dele acabava sempre apaziguando esse tipo de situação. Nem que fosse desviando a atenção para os problemas dele ou outros, que ele julgava piores.

- Ele teria deixado o Zambini sem cabeça depois daquela história de quando voltamos.- riu Harry lembrando-se do amigo.- E iria comigo dar um jeito no Malfoy, se eu o propusesse.

- Não! Ele proporia essa solução antes.- riu Gina.

- Não tem medo de como as coisas podem estar?- indagou Harry.- Na ordem, na sua casa.

- Talvez. Mamãe ainda deve estar arrasada, mas eu sei que no fundo ela sabe que certas coisas, como a morte, são inevitáveis.- disse Gina.

- Talvez eu os visite depois do meu aniversário.- disse Harry com um sorriso tímido.

- Enfim livre?

- É.- concordou.- Enfim livre.

O trem seguia veloz, soltando enormes baforadas de vapor. Os alunos iam aos polvorosos, ansiosos em chegar em casa depois do fim da guerra. Em uma cabine mais ao fundo, Hermione ia solitária em um canto, Bichento adormecido em seu colo.

Escrevera aos pais na noite anterior. Em resposta obtivera um cartão com as palavras “Fomos recomendados a não falar sobre isso por correio, não é seguro. Mas saiba que te amamos muito.”.

Procurara a mãe de Tonks pelo Trem a fim de obter alguma explicação, mas ela não havia aparecido até então. Já passava da hora do almoço quando algum sinal de vida se manifestou na cabine. Era Draco.

- Um viva aos anti-sociais!- murmurou ele.

- Não estou disposta a ouvir o que você possa ter a dizer.- disse Hermione truncando a cara em resposta enquanto esfregava uma das orelhas peludas e alaranjadas de bichento.

- Ouça indisposta, então.- disse o garoto se assentando diante dela.- Eu...- começou ele hesitando sobre as palavras que deveriam ser usadas. Fitou Hermione, a garota olhava para baixo parecendo muito mal humorada.- Eu só queria lhe dizer que não vou desistir de você tão cedo.- disse rapidamente e se levantando, sem nem olhar Hermione, deixou a cabine.




****




O dia começava a se pôr quando o trem parou numa estação em que não costumava parar. Muitos estranharam, mas Hermione sabia que aquela era a sua descida. Deixou o trem. Quando este voltou a partir ainda pôde ver os rostos de Gina e Harry em uma das cabines. Gina acenou sorrindo. Era o sorriso de sempre, sincero, simplesmente. Harry tinha os olhos desolados e indevifráveis. Mas vamos ao que viemos, pensou a garota enquanto arrastava o malão à outra plataforma.

Uma locomotiva azul soltava uma fumaça escura enquanto soava seu assobio grave. Hermione respirou fundo e entrou no trem. Logo viu Tonks acenando para ela, caminhou até ali.

- Guardei um lugar para você.- disse a mulher com um sorriso tímido no rosto.

- Bem, obrigada.- disse Hermione enquanto se assentava.

As duas ficaram caladas por um bom tempo. Ouvia-se o ruído das vozes dos passageiros que iam aos poucos enchendo o trem.

Hermione viajava em pensamentos a princípio. Que tipo de pessoa conseguiria convencer os pais de uma garota de dezesseis anos de idade a cederem a guarda da mesma? E que tipo de pais aceitariam isso? Não parecia algo real, não se tratando dela, Hermione Granger e de sua tradicional família trouxa. Não conseguia simplesmente se conformar.

O trem já ganhava velocidade quando ela ergueu os olhos para Tonks. A mulher se distraía nas paisagens. Tinha um ar tímido e desajeitado. Trajava uma jaqueta jeans surrada por cima de uma camiseta das Esquisitonas em cor laranja, assim como os cabelos, hoje longos.

Ninguém que a visse ali diria que era uma aurora, uma competente aurora. Hermione sorriu, a mais de um ano não conseguia olhar para Tonks e enxergar nela a desengonçada Ninfadora de antes. Mas ela estava ali, ela ainda estava em algum lugar ali. Assim como a velha Hermione Certinha e Sabe-tudo. Talvez elas pudessem ajudar, uma à outra, a se reencontrar.

Algum tempo mais se passou, durante o qual Hermione esteve olhando, perdida, para Tonks. Até que a mulher, talvez notando isso, virou-se para a garota.

- Estive pensando.- disse ela.- Apesar dos pesares você é agora, de alguma forma, minha irmã.

- É.- concordou Hermione sorrindo francamente.

- Sempre quis ter uma irmã mais nova.- riu Tonks.

Hermione sorriu, simplesmente. Tonks, perdendo a graça, fitou-a pensativa por um momento.

- Parece querer fazer perguntas.- disse.

- Porque ninguém até agora me explicou o que, exatamente, está acontecendo?- indagou Hermione firmemente.

Tonks soltou um longo suspiro e deixou os ombros caírem. O trem sacudia um pouco.

- Eu não sei.- disse.

- Porque o Harry sempre reclamou sobre ausência de respostas à suas perguntas?- indagou Hermione ironicamente.

Tonks voltou a fitar a paisagem fora do trem, por pouco tempo. O trem tremia um pouco quando ela se curvou para fora do assento e olhou pela cabine, como se verificasse a presença de alguém mais.

Não havia ninguém, então ela curvou-se pra frente e fez sinal para que Hermione fizesse o mesmo.

- Eu não sou Dumbledore.- murmurou ela em um tom tão baixo que quase não podia ser ouvido.- Quem me dera, aliás, ser tão célebre quanto ele. Portanto não tenho porque e nem o que esconder de você.

- Isso quer dizer que você não faz a mínima idéia do porque dessa história toda de sua mãe?- indagou Hermione.

- Isso quer dizer que eu estou disposta a lhe ajudar a descobrir.- murmurou Tonks enquanto voltava a se assentar normalmente.

Hermione permaneceu curvada pra frente por algum tempo. Quando se é um Legilimente, geralmente se sabe quando a pessoa com quem se fala está dizendo a verdade. Porém, quando o interlocutor também é um Legilimente e, automaticamente um oclumente, a coisa se complica bastante.

- Ela é sua mãe.- disse se aprumando.

- Ela é uma inominável.- murmurou Tonks sem emoção.

Hermione deu ombros.

- Quando vocês fugiram da escola, pensei em chamá-la para nos ajudar nas buscas.- disse Tonks.- Ela, além de irmã da Comensal, tinha conseguido acha-la da última vez. Mas enquanto vínhamos com os tijolos ela já tinha o muro erguido. O que quero dizer é que qualquer seja o motivo pelo qual ela voltou ao ministério e convenceu seus pais a assinarem um documento cedendo a sua guarda, não é uma idéia recente.

- Mas e a Ordem?- indagou Hermione.- Ela deve satisfações, pois, afinal de contas, mesmo sem Dumbledore a Ordem ainda existe, não é mesmo?

- Shii.- fez Tonks olhando à volta novamente.- Sim. Mas um trem não é um lugar seguro.

Hermione concordou silenciosamente em deixar o assunto para depois.

- Ele a convocou antes de morrer.- murmurou Tonks em tom baixo.

Hermione associou ele à Dumbledore.

- Ele reabriu o seu departamento e lhe mostrou o caminho.- continuou Tonks.- Mas ninguém, além dela própria, sabe aonde ele vai levar.

- Porque ela ainda não voltou, seja lá onde ela esteja?- indagou Hermione se perguntando por quais terras, andaria, agora, Andrômeda Tonks.




****




- …Estive conversando com sua tia e decidimos que assim que fizer dezessete você vai embora.

- Tudo bem.- disse Harry sem sequer olhar para o tio.

- Não nos importamos para onde você irá, contando que nunca mais dê sinais de vida.- continuou o tio Valter.- Principalmente se for por problema financeiro.- Completou enquanto fazia o carro virar a esquina e logo parar defronte a casa número 4 da Rua dos Alfeneiros.

Harry desceu do carro e se assustou um pouco ao ver a tia Petúnia vir correndo lhes receber. Os olhos levemente arregalados e trêmulos.

- Eu tentei detê-la.- murmurou ela olhando temerosa para o marido.- Mas ela está no quarto do garoto. Esperando-o.

O tio Valter ficou púrpura ao ouvi-la e deu a volta no carro para tomar o malão de Harry.

- Suba e a despache.- disse ele.- E ai de você se voltar a receber visitas!

Confuso, Harry apanhou a gaiola vazia de sua coruja e entrou casa a dentro. Subiu as escadas sentindo-se curioso e ao entrar em seu quarto encarou confuso a mãe de Tonks, assentada em sua cama. Ao ver o rosto grande e curioso de Duda em um canto do corredor fechou a porta com um baque.

- O que faz aqui?- indagou o garoto.

- É um assunto particular.- disse a mulher sorrindo e se levantando.

- Pois então diga o que é, antes que meus tios me matem!- despejou Harry indo colocar a gaiola sobre a escrivaninha.

A mulher permanecia em pé e não parecia muito disposta a começar a falar. Harry atravessou o quarto e se assentou em sua cama.

- Sabemos que em alguns anos será o Auror Potter.- disse ela amavelmente.

Harry ergueu as sobrancelhas pedindo que prosseguisse. O assunto talvez fosse interessante e o fizesse esquecer a imagem de Hermione deixando o trem por um momento.

- Estive analisando suas fichas.- explicou ela.- Tem N.O.N.s aceitáveis e apesar de algumas inflações creio que tende a ser bem sucedido. Quero dizer, tendo que se comportar no próximo mês, mas isso não pode ser tão difícil assim.

- E?

- Severo, com toda sua sutileza de elefante, já deve ter lhe dito que com uma ocorrência de magia fora da escola aos doze anos; outra aos quinze, seguida de um processo; e ainda duas fugas da escola, o ministério nunca o contratará.- despejou a mulher.

- Antes dele, outros me disseram isso.- disse Harry soltando um suspiro.- Umbridge, por exemplo.- E apesar da ex-inquisidora não poder mais depor contra ele e ainda do nome que carregava, o novo ministério era famoso por sua integridade, o que significava que não se levava por influências.

- Exceto.- começou Andrômeda.- Que você tenha um bom histórico de trabalhos dentro de algum outro departamento.

- Está tentando me dizer que eu estou perdido?- indagou Harry compreendendo que departamento algum o contrataria.

- Estou tentando lhe dizer que tenho uma vaga para você na minha equipe.- disse Andrômeda.- Trabalho no departamento de mistérios durante todo o verão. Parece digno de um garoto que em um mês estará morando sozinho.




****




- É aqui.- disse Tonks.

Ela e Hermione haviam descido do trem trouxa em uma pequena estação e caminhado cerca de quinze minutos por um bairro suburbano até ali. A casa, ao menos por fora, parecia uma casa trouxa qualquer, exceto pela fumaça esverdeada que saía de sua chaminé de tijolinhos.

Tonks empurrou um portão de cerca de um metro de altura, feito de madeira grosseira, e começou a atravessar o gramado mal cuidado arrastando sua mala. Hermione seguiu atrás dela.

Estavam quase alcançando a porta da casa quando algo veio voando na direção delas. Hermione abaixou bem a tempo e uma gosma amarelada caiu logo atrás dela, sob um pedaço de grama que em poucos segundos estava corroído.

- Papai, sou eu!- gritou Tonks ainda agachada.

Hermione achou, por um momento, que novos montes de gosma corrosiva viria voando até elas, mas ao invés disso a porta mais a frente se abriu com estrondo.

- Vamos.- disse Tonks se levantando.

Hermione, ainda temerosa, seguiu Tonks casa adentro. Havia uma ampla sala abarrotada de móveis, livros e objetos estranhos e peculiares. Mas, ao contrário do que Hermione esperava, o Sr. Tonks não estava ali.

- Seu pai...?

- Ele viu que eu trazia visitas.- disse Tonks.- Deve ter ido se arrumar.

Hermione se perguntou o que viria a seguir. Mas Tonks indicou uma escada circular ao fundo e as duas subiram por ela até um escuro corredor.

- O seu é o segundo à esquerda.- informou Tonks enquanto abria a primeira porta à direita.- Faz mais de um ano que eu não venho em casa, mas deve haver algum espaço pra você lá.- completou antes de entrar no próprio quarto e fechar a porta.

Hermione continuou seu caminho até o quarto e ao abrir a porta entendeu o que Tonks quisera dizer. Era uma peça média, no canto uma cama de pés em X, sendo que esse era o único móvel vazio do quarto. Havia prateleiras pelas paredes, estas abarrotadas de livros. Sobre a escrivaninha do quarto havia pilhas de mais livros de pelo menos um metro de altura. Pelo chão havia ainda caldeirões, um dentro do outro, e baús.

Hermione colocou seu malão sobre a cama e abriu a gaiola com bichento. O gato saltou pra fora agradecido e começou a andar por entre os objetos do quarto. Hermione acabou por fazer o mesmo. Mais tarde acabaria descobrindo que havia mais naquelas coisas do que o simples fato de serem objetos esquecidos e empoeirados em um quarto de despejo.

Mas por enquanto, acabou se deitando na cama, sentia-se cansada. Não demorou muito e Tonks veio chamá-la. Desceram pela escada circular até a sala de entrada, onde tomaram uma porta que levou a uma cumprida cozinha, tão cheia de coisas desorganizadas e bizarras como o restante da casa.




****




Harry repassou mais uma vez, mentalmente, tudo que ficara decidido. Quando a proposta veio à tona ele decidira recusar, mas ter a chance de estar de volta ao Departamento de Mistérios acabara lhe levando a decidir o contrário.

Quando se aproximou da cozinha, para o jantar, não pode deixar de escutar a conversa que sucedia lá dentro.

- Idêntico à mãe.- era a voz da Tia Petúnia.- Estava prestes a se formar quando veio essa mulher e a levou de nós. Mamãe achou um máximo, mas eu desde o início soube o que aconteceria no final.

- É melhor que ele se vá logo, Petúnia.- disse o tio Valter.- Sempre quisemos nos livrar dele mesmo.

- Eu não posso.- disse a voz da tia Petúnia em um tom tão carregado quanto Harry jamais vira antes.- Aquelas pessoas são loucas, Valter. Ele vai acabar pirando também.

- Todos eles são loucos, não há como ficar pior.- disse o Tio Valter.

- Ele vai ficar.- disse, não, ordenou a tia Petúnia.

- Escutando atrás da porta, Harry?- era o Duda.

Harry virou-se pra ele irritado por não ter conseguido ouvir o restante do diálogo. Só então notou que Duda parecia ter crescido ao menos meio metro desde o último verão. Apalpou o bolso a procura da varinha, mas a voz de Andrômeda Tonks lhe veio à cabeça: “Pra isso você terá que esquecer essa varinha no fundo do malão durante o próximo mês.”

Acabou entrando na cozinha. O tio Valter e a tia Petúnia prontamente interromperam a conversa.

- Que bom que vocês chegaram.- sorriu a tia Petúnia estranhamente amável. Tanto que até o próprio Duda pareceu estranhar.

Desconfiado, Harry se assentou em seu lugar e assim que terminou de comer foi trancar-se em seu quarto. Um carro trouxa o apanharia às seis em ponto, na segunda.




****




Hermione escutou um baque à porta e em seguida Tonks entrou no quarto.

- Isso ta uma bagunça.- riu ela.

- Bichento parece ter gostado.- disse Hermione fechando o livro que lia.

- Ao menos você não está cercada por raízes e poções.- disse Tonks com simplicidade.- Papai transformou meu quarto em dispensa.- explicou em seguida.

- Ele parece não estar satisfeito com a minha presença.- disse Hermione sem jeito.- Não deu as caras desde que chegamos.

- Oh, isso é normal.- disse Tonks.- Vai ver ele saiu. Ou deve estar trancado no porão bancando o trouxa. Bem, de certa forma ele o é, mas acho que perdeu o jeito depois do passar dos anos.

- Sua mãe também não voltou.- disse Hermione.

- Não duvido nada que tenha tomado um trem trouxa para a França quando à mandei buscar a srta. Lovegood.- disse Tonks em tom de pouco caso.

- França?- indagou Hermione.

- É. Ela veio com uma história de que Belatriz Lestrange estaria por lá.- explicou Tonks observando bichento que tentava sair de dentro um caldeirão.- Mas garanto que ela já estará nos esperando no ministério na segunda de manhã.

- E enquanto isso?- indagou Hermione.

- Bom, é fim de semana.- disse Tonks com simplicidade.- Na pior das hipóteses acabaremos viajando pela tapeçaria guardada no porão.

E o fim de semana passou. O Sr. Tonks não deu as caras. Hermione supôs que ele estivesse no sótão, pois além dos ruídos ocasionais, a chaminé da casa passava por lá e insistia em soltar a mesma fumaça esverdeada do início.




****




Harry lia no Profeta Diário do dia uma reportagem sobre a nova estrutura ministerial quando alguém bateu a porta de seu quarto.

- Entre.

Era a tia Petúnia. A princípio ele não estranhou a visita.

- Então, amanhã você vai mesmo?- indagou ela.

- Sim.- disse Harry com pouco caso, sem sequer fechar o jornal.

- Eu estive conversando com Valter e...- começou a tia.- Estivemos pensando. Você pode continuar morando aqui depois do seu aniversário se quiser.

Harry ergueu os olhos, levemente arregalados para tia e largou o jornal.

- Eu esperei dezesseis anos para deixar esta casa, não vou desistir agora.- disse com certa secura.

- Tudo bem.- disse Petúnia tentando não olhar para Harry. O garoto notou que seus grandes olhos pareciam estranhamente úmidos.- Você vai trabalhar?

- Sim.- disse ele apanhando novamente o jornal.

- Não caia na daquela mulher.- murmurou a Tia Petúnia com a mesma convicção com que na noite anterior falara mal de uma atriz recém divorciada qualquer.

- Sra. Tonks?

- É. Ou você vai acabar morrendo também.

- E porque eu morreria?- indagou Harry meio pasmo pelo rumo que a conversa ia tomando.

- Porque todos que vão trabalhar no tal departamento dela acabam morrendo.- disse a Tia Petúnia.- Exceto ela própria, logicamente.

- E porque a senhora se importaria com isso?- indagou Harry novamente largando o jornal.

- Porque prometi a sua mãe que cuidaria de você.- disse a tia Petúnia com a voz embargada.

- Não acha que é tarde demais para faze-lo?- indagou Harry.- De toda forma como sabe que todos que trabalharam no departamento da Sra. Tonks morreram?

A tia Petúnia arregalou os olhos como costumava fazer quando descobria uma fofoca nova e o brilho maternal em seus olhos desapareceu. Ela fechou a cara.

- Pois vá, mas depois não diga que eu avisei.- e dizendo isso ela abriu a porta para deixar o quarto.- Só fique longe do véu.- E saiu.




****




- Vamos, já estamos atrasadas.- disse Tonks assim que elas saíram de uma das lareiras no Átrio.- Ande, ainda dá pra pegar aquele elevador.

Hermione teve praticamente que correr para acompanhar os largos passos de Tonks. Acabaram perdendo o elevador. Tonks parecia realmente atrasada.

Aquilo parecia bem diferente de quando Hermione estivera ali. Não havia mais uma fonte no centro do Átrio, no lugar dela estava uma enorme tocha onde o fogo verde, já tão bem conhecido, brilhava. Sem falar, é claro, que o lugar parecia bem mais cheio agora.

- Ninfadora!

Não só Tonks, mas Hermione também, se viraram. Era um homem corpulento de bigodão louro que acenava, não longe dali, com uma revista na mão. Hermione tinha a impressão de já tê-lo visto em algum lugar. Sua enorme barriga parecia familiar.

- Robert.- murmurou Tonks meio de má vontade. E virando-se para Hermione:- Tome o elevador e desça no... Você sabe o caminho melhor que eu.

Hermione concordou com um sorriso amarelo no rosto. Observou Tonks caminhar até o homem. Ouviu um apito, juntou-se ao grupo que adentrou o elevador. Um rapaz alto e magro veio correndo e entrou segundos antes de o elevador se fechar.

Espremida ao canto, a garota se distraiu com os memorandos no teto. O elevador ia se esvaziando. Até que finalmente sobraram ela e o rapaz e este se virou para ela tirando os cabelos suados da testa enquanto ajeitava seus óculos redondos.

- Harry?

A princípio a garota achou que Harry começaria o velho drama de sempre, já ouvia os porquês em sua cabeça. Ele próprio parecia lutar internamente contra isso. Mas então ele sorriu meio sem jeito.

- Hermione.- murmurou o garoto.

- Eu devia ter imaginado que o encontraria aqui.- disse ela.

- Pois é.- concordou o garoto.- Só me pergunto: O que estamos fazendo aqui?- completou.

- Nós estamos aqui, simplesmente.- disse Hermione.- A pergunta certa seria: Porque eles nos querem aqui.

- Foi o que eu quis dizer.- disse Harry.- A Srta. Sabe Tudo tem a resposta?- indagou em tom risonho.

- Como sempre.- sorriu Hermione modestamente.- Eles nos querem debaixo de seus narizes... e ocupados. Acho que ainda têm esperanças de que assim nós não iremos atrás de respostas, e assim não acabaremos as encontrando antes deles.

- Malfoy disse isso?- indagou Harry já sem rir.

- Eu estou dizendo.- disparou Hermione fechando a cara.

Seguiu-se algum tempo de silêncio. O elevador parou em algum andar onde praticamente se esvaziou. Hermione olhou Harry pelo canto dos olhos, o rapaz parecia pensar em algo para dizer, fitava o nada com expressão compenetrada.

- Eu não falo com ele desde o início do verão, se quer saber.- disse a garota.

- Também pudera, isso faz três dias.- riu Harry ironicamente.

- Eu não vou falar com ele, durante o verão.- disse Hermione rispidamente.- E se brincar não falo com você também!

- Departamento de Mistérios.- disse uma voz feminina.

Harry e Hermione se encararam e deixaram o elevador. Ouviu-se o som de passos pesados subindo escadas.

- EU POSSO AJUDAR A PEGÁ-LA!

Um grupo de bruxos surgiu no topo da escada à esquerda. Dois deles seguravam um homem que se debatia inutilmente. Logo atrás vinham um homem e uma mulher. A mulher Hermione, tampouco Harry, reconheciam. O homem era inconfundível em sua perna de pau e seu nariz pela metade. Ao passar por eles o prisioneiro virou seu rosto e Harry o reconheceu, era Rabastan Lestrange.

- Harry, Srta. Granger!- sorriu Moody.- Vejam nossa última presa.- sorriu indicando Lestrange.

- NÃO DIGAM QUE NÃO AVIZEI!- gritou o homem se debatendo ainda mais, praticamente engolindo Hermione e Harry com os olhos.- ELA VAI VOLTAR! ELA MATARÁ POTTER!

- Não diga tolices, homem!- brandiu Moody lançando ao comensal um olhar de desprezo.- Se nem o seu Lorde conseguiu, não será sua ex-cunhada que o fará!

- Ela virá busca-la, Srta.- murmurou já sem gritar fitando Hermione com olhos famintos.

- Chega!- disse Moody.- Vamos embora.

Harry e Hermione se entreolharam calados. Hermione então indicou a única porta que havia no corredor. Harry a empurrou e os dois entraram e logo estavam na já conhecida sala circular.

Hermione fechou a porta atrás de si com a sensação de que alguém esquecera de dar alguma instrução importante. Mas, ao contrário do que esperavam, as portas não começaram a girar como da última vez. No lugar disso uma única se escancarou, e dela veio uma luz cirúrgica.

Os dois seguiram até a porta e se esperavam mais uma sala surpreendente se decepcionaram. Era uma sala pequena, com algumas escrivaninhas e prateleiras de livros. Ao fundo cinco portas internas, na parede da esquerda um quadro negro e na oposta a esta um mural cheio de inúmeras fotografias.

- Três minutos e cinqüenta e cinco segundos atrasados.- sorriu a única pessoa presente ali. Andrômeda Tonks parecia cansada, apesar disso não transparecer em seu tom de voz.- Sentem-se.- completou indicando as duas únicas escrivaninhas não abarrotadas de papéis.

Harry e Hermione se entreolharam e assentaram-se cada qual em uma das escrivaninhas. Foram fitar uma Andrômeda pensativa nos minutos que se seguiram.

- Tenho alguns jornais, que trouxe da França.- sorriu ela e Hermione se lembrou sobre a história que Tonks contara.- E de outros países da Europa, o que vocês têm a fazer é simplesmente encontrar informações interessantes nele.

Andrômeda deu as costas e se encaminhou a uma escrivaninha mais ao fundo, onde se assentou e concentrou-se no profeta diário do dia. Hermione se curvou pra frente e fez sinal para que Harry fizesse o mesmo.

- Foi o que eu disse. Nada como serviço inútil para manter adolescentes ocupados.- murmurou ela antes de virar-se para sua pilha de revistas e jornais.

E nisso se resumiram as semanas que se seguiram. Algumas vezes Andrômeda não aparecia, ao invés dela apareciam bilhetes e pilhas de jornais e revistas, mas nunca havia nada de interessante publicado.

Eram poucos os dias nos quais havia trabalho para depois do almoço. Harry e Hermione acabavam esquecendo os problemas e se divertindo como podiam. As tardes de terça e quinta eram de Snape Explosivo, quartas xadrez bruxo e nas sextas eles acabavam sempre se afogando em enormes sorvetes servidos na lanchonete do ministério, alguns andares acima.




****




Hermione acordou assustada após sentir algo batendo em suas costas. Abriu os olhos e viu um Bichento ronronante que acabara de despencar uma pilha de livros. Assentou-se na cama esfregando os olhos e apanhou o livro que a acertara. Era um exemplar, muito velho, de Os demônios do oriente. Levantou-se.

- Se continuar desse jeito até o fim do verão terá virado o quarto de ponta cabeça.- ralhou enquanto apanhava o Criaturas das trevas e Humanos e demônios, a junção que estavam caídos ao lado da cama.

Bichento deu um salto na direção da janela e só então Hermione percebeu o porque de todo aquele estardalhaço. Havia uma coruja pousada do lado de fora.

Hermione abriu a janela e apanhou o que o pequeno pássaro, que pertencera a Rony, trazia. Era a última edição do Pasquim, junto vinha um bilhete de Gina.

Luna me enviou isso, achei que ia gostar.

Hermione passou os olhos rapidamente pela capa do pasquim. Havia um desenho grosseiro de um demônio em fundo escuro e sobre eles estavam letras em caixa alta com os dizeres: Lilith.

Com as costas ainda doendo pela pancada, Hermione jogou a revista sobre sua mochila, no canto do quarto e se levantou procurando o relógio de pulso. Foi encontra-lo debaixo da cama. O deixara ao pé da mesma enquanto lia antes de dormir na noite anterior, bichento devia ter se divertido com o mesmo.

Apanhou-o. Já passava das seis e meia. Mal colocou o relógio no pulso e Hermione ouviu batidas na porta, seguidas da voz de Tonks:

- Estamos atrasadas!

Rapidamente a garota apanhou a mochila que costumava levar para o trabalho e tacou a revista ali. Foi trocar-se e em quinze minutos estava entrando na lareira, seguida por Tonks.

- Sua mãe não dormiu em casa?- indagou Hermione quando as duas alcançaram o Átrio.

- Sim, mas saiu cedo.- disse Tonks olhando em frente.- Papai é que anda sumido demais pro meu gosto.- completou enquanto indicava o elevador que logo tomaram.

- Até hoje não tive o prazer de conhece-lo.- disse Hermione com simplicidade.

- Não se preocupe, garanto que ainda o terá.- sorriu Tonks. O elevador ia se enchendo.- Fui à Ordem ontem a noite.

- Eu desconfiei, já que não vi você em casa.- disse Hermione.

- Gina queria ir visitar os Lovegood, e Molly se recusa a deixa-la sozinha e desacompanhada de alguém maior por aí.- comentou Tonks, o elevador ia enchendo.- Disse a ela que você não se importaria em acompanha-la.

- Eu ainda não sou maior.- disse Hermione.

- Você não precisa lembra-la disso.- disse Tonks com um sorriso maroto quando o elevador finalmente se fechou.

- Tudo bem, mas eu trabalho o dia todo, quando iríamos? De noite?- indagou Hermione.

- Após o almoço.- disse Tonks e ao ver a expressão de desaprovação no rosto de Hermione ela gargalhou.- Ora, venhamos e convenhamos. Você e Harry passam as tardes morcegando, e mamãe não se importará em “liberá-la” por hoje.

- É, pode ser.- disse Hermione.

O elevador parou. Alguns memorando entraram ao passo que outros saíram.

- Eu fico aqui.- disse Tonks enquanto se retirava.

Hermione logo desceu em seu respectivo andar. Era estranho não encontrar Harry chegando por ali. Olhou no relógio, estava na hora. Logo adentrou o Departamento de Mistérios.

- Nada de muito novo hoje.- informou Andrômeda, assim que Hermione entrou, indicando os jornais, que eram muito menos numerosos hoje, sobre a mesa da garota.

- O Harry ainda não chegou?- indagou a garota largando sua mochila e indo se assentar.

- Eu o liberei hoje.- informou Andrômeda enquanto apanhava sua varinha.- Volto em minutos.- completou antes de sumir por uma das portas internas da sala.

O departamento de mistérios, durante aquele mês, tinha sido literalmente um mistério para ela. Fazia o mesmo caminho sempre de manhã, na hora do almoço, e à tarde. E apesar de Harry se mostrar interessado em errar de porta ela o havia impedido de faze-lo. Profissionalismo, como dissera.

A Sra. Tonks não ficava o tempo todo naquela sala. Sempre aparecia pela manhã para orienta-los e acabava sumindo por uma das portas internas com algum bruxo desconhecido que ela sequer se dava ao trabalho de apresentar.

O trabalho que realizavam era chato. Ler jornais, trouxa e bruxo, de manhã e à tarde um pouco de diversão e doces , sendo que raramente encontravam algo de realmente interessante nos jornais ou nos doces. Aliás, o único incidente estranho encontrado fora uma briga num pub francês, logo no início do verão: uma figura misteriosa se desentendera com um garçom e os dois chegaram a sacar as varinhas, mas a briga foi apaziguada e cada um seguiu seu caminho.

Andrômeda pareceu gostar da notícia e sumiu nos três dias que se seguiram. Hermione tinha a impressão de que ela migrara para a França para averiguar, mas Tonks insistia que não tinha lógica Belatriz Lestrange fugir novamente para França.

No fundo, Hermione acreditava que a Inominável tinha razões que não queria revelar para afirmar aquilo. Mas acabou por não se meter, não dessa vez, não até aquele dia.

Não passava ainda das dez quando terminou o seu serviço. Andrômeda Tonks ainda não havia voltado e Hermione encontrou-se fitando o nada. Já estava ali fazia um mês e não recebera notícias interessantes de seus país. Estavam bem, estavam otimamente bem, é o que sabia. Tocara algumas vezes no assunto com a mãe de Tonks, mas a mulher tinha enorme potencial para fugir de assuntos delicados ou que não lhe interessavam no momento.

Um mês. Só então lembrou-se de que dia era aquele e entendeu o porque de Harry estar de folga. E talvez o porque de Tonks sugerir que saísse com Gina. Era aniversário de Harry, ele provavelmente estava deixando a casa dos tios e sair com Gina, pra ela, seria ter que dar uma passada na ordem pela noite.

Não podia deixar de ir, de qualquer forma. Mas precisava de um preparo para ser fria com quase todos pelo resto do dia. Ser fria, isso fazia parte do regulamento de convivência com Harry fora do trabalho, como ela gostava de chamar. Por fim, acabou apanhando a revista que Gina lhe enviara para se distrair.




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Harry apanhou a última meia no fundo do armário e a jogou no malão. Olhou debaixo da cama, não havia mais nada ali. Levantou-se e se esforçou um pouco para fechar o malão, abarrotado. Olhou pra porta e assustou-se ao ver a tia Petúnia parada ali.

- De novo não!- murmurou impaciente enquanto empurrava o malão da cama para o chão.- Já disse que é tarde demais para me provar que posso continuar vivendo uma feliz vida na casa de meus tios queridos!

A tia Petúnia deu ombros. Não era a primeira vez que Harry a pegava observando-o desde o começo do verão. De toda forma já nem se incomodava mais. O tio Valter estava mais delicado e até o Duda vinha caçando menos encrenca.

Tentara levantar possibilidades para aquela mudança repentina de tratamento. Mas como a mais provável era que os Dursley tivesse sido abduzidos por alienígenas e sofrido uma lavagem cerebral, ele simplesmente desistiu de entender.

- Pense bem, garoto.- murmurou a tia Petúnia em tom quase choroso.- Vai acabar morrendo, como os que vieram antes.

Esse era outro ponto curioso da coisa. Tia Petúnia simplesmente tinha conhecimento de histórias do passado de Lílian Potter que até pouco tempo o próprio Harry desconhecia. Natural, pelo fato de serem irmãs, mas sendo uma trouxa e a outra bruxa o garoto insistia em tentar descobrir quais eram as reais fontes daquilo. Inutilmente, é claro. A tia Petúnia sempre arregalava os olhos, dava uma má resposta e se retirava.

Harry olhou pra ela cansado e indicou o corredor, ela estava tapando a porta, em um pedido silencioso de licença. A tia Petúnia olhou para o malão do garoto e para a gaiola vazia e truncou a cara.

- Não posso deixar você ir.- murmurou decidida.

A princípio Harry considerou a possibilidade de empurra-la e prosseguir, mas agora ele tinha dezessete anos. O que lhe dava meios de fazer algo que sempre quisera.

- Eu sairia do meu caminho se fosse você.- murmurou enquanto, calmamente, sacava a varinha.

Ouviu-se o som de algo pesado atravessando o corredor e o rosto vermelho do Duda apareceu.

- Quebro seus ossos se você tentar algo.- rosnou ele para Harry, o garoto deu ombros. Duda então agarrou a mãe pelos ombros e a tirou do caminho.

Harry, com um toque de varinha, lançou o malão escada a baixo e logo havia ganhado a rua. A varinha já guardada no cós do Jeans, pronta para ser usada em quaisquer circunstâncias.




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- Oh! Querida, ainda aqui?- era Andrômeda que acabara de surgir por uma das portas.

- Estava só esperando a senhora voltar.- disse Hermione fechando seu volume do Pasquim sobre a mesa e virando-se para apanhar a mochila.

- Pode ir, se quiser.- disse Andrômeda.

- Tonks me mandou um memorando avisando que Gina está me esperando.- informou Hermione em tom moderado.

- Pode ir.- disse Andrômeda.- Pode ir.

Hermione se levantou e apanhou o Pasquim, mas a capa da revista pareceu estranhamente despertar o interesse da mãe de Tonks.

- Revista interessante.- murmurou.

- Gina me mandou. Meio viajada, se quer saber.- disse Hermione e estendendo a revista para a mãe de Tonks completou.- Pode ficar com essa se quiser.

A mulher aceitou a revista e abriu no meio exato, na reportagem principal daquela edição. Hermione a observou passear os olhos pelas páginas sem sequer se prender à alguma frase ou figura. Alguns minutos se passaram, Hermione esperava um tchau, ou alguma reação ao que ela própria julgava um monte de baboseiras publicadas na revista.

- Eu vou matar aquele homem barrigudo com aquele enorme bigode!- murmurou Andrômeda se assustando ao erguer os olhos e dar com o rosto atencioso de Hermione.- Pode ir querida, pode ir. Também tenho que sair.

Hermione a fitou por alguns segundos, ainda, mas a mulher parecia pretender não deixar escapar mais nada. Deixou o departamento.




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Harry seguiu para estação do metrô onde tomou o primeiro que o levasse à Londres. Iria ao caldeirão furado, onde encontraria Mundungo que o levaria até a Ordem.

Era bom sentir-se livre pra variar. Não mais andaria até tarde por aí para evitar a casa dos tios, mesmo por que não mais teria que aturar os Dursley. Não tinha mais que se preocupar em não fazer magia fora da escola, não tanto quanto antes. E o melhor, nenhum louco psicopata estava tentando caçá-lo, ou protege-lo.

Pensava em todas as pessoas que de alguma forma lutavam pela tal liberdade. Pensava em Sirius. Se ele não tivesse atravessado aquele maldito véu, talvez hoje Harry rumasse para algo que realmente fosse um novo “lar”.

E a imagem de Sirius atravessando, lentamente, o bendito véu lhe veio à mente novamente. E tão impertinente como a lembrança veio a idéia, sem poder ser controlada. Não era nova, a propósito, desde de sempre tinha em mente aquela idéia. Idéia fixa: Voltar à sala do véu. Pra que? Não podia ao certo dizer, talvez simplesmente por voltar à sala do véu.

Tentara fazer, mas ter Hermione por perto, vigiando-o atrapalhara tudo. Só que hoje era diferente, a garota provavelmente estava no departamento de mistérios, trabalhando. Achando que Harry estava ocupado dando o fora da casa dos tios.

E enquanto o metrô parava e Harry descia empurrando seu malão, vozes tão impertinentes quanto à idéia lhe vinham à cabeça. “Você também ouviu, as vozes por trás do véu. Estavam todos lá.”

Ele deixou a estação do metrô, estava no centro de Londres, sozinho. Nunca estivera ali, sozinho, antes. Só tinha que tomar o caminho até o beco diagonal. “Só fique longe do véu.” Mas não o tomou.

Tomou outro, um que o levou à uma rua sem saída em uma cabine de telefone. E provavelmente já não se dava conta do que fazia quando largou o malão a um canto do Átrio e seguiu veloz até os elevadores, sem nem se importar com as pessoas que trombou pelo caminho.




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Hermione saltou do elevador e logo avistou uma Gina empolgadíssima no centro do Átrio.

- E o Harry?- indagou a garota fingindo-se surpresa.

- Não venha.- disse Hermione de mau-humor.- Eu sei o que pretendem.

- Não fizemos de propósito, só juntamos o útil ao agradável.- disse Gina sorrindo.

- Agradável não sei pra quem.- respondeu Hermione secamente.

- Tudo bem se você não quiser ir à ordem, eu vou entender, mas acho que ele não. Então pense bem antes de decidir isso e...

- Iremos visitar Luna.- disse Hermione.- Deixamos o resto do dia para o resto dia.- completou indicando as lareiras com os olhos.

- É, ok.- murmurou Gina.- Vamos lá. AI! Ei olhe por onde anda!- murmurou secamente virando-se para alguém que acabara de passar quase deslocando seu ombro.

Hermione virou-se para ver quem era o culpado por aquilo e sentiu algo estranho ao reconhecer os cabelos negros espetados da nuca de um rapaz que tomava um elevador.

- Harry?- murmurou Gina também o reconhecendo.- O que está fazendo aqui?

- Eu não sei.- murmurou Hermione pensativa.- Escuta, porque não vai na frente? Eu pego uma lareira em quinze minutos e lhe encontro na casa de Luna.

E antes que Gina pudesse responder ela correu até os elevadores e tomou o primeiro que lhe coube para descer até o já familiar corredor que levava ao departamento de mistérios.




****Continua****

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