Fora do Corpo



- Diga.- insistiu Hermione.

Harry olhou à volta em busca de uma desculpa para desistir, não encontrou nada mais do que o fogo crepitando na lareira. Por fim assentou-se defronte a Hermione e baixou o rosto.

- Não vai dizer?

- Eu queria falar sobre...- Começou Harry sem olha-la.- ...sobre a conversa que deveríamos ter tido a muito tempo.

Foi a vez de Hermione ficar em silêncio.

- Eu preciso... Eu vou te contar o que estive tentando esconder faz algum tempo.- disse Harry.

- Você pensa que é tudo muito fácil, não é mesmo?- perguntou Hermione.- Acha que é só se arrepender e vir se explicar que eu vou entender. Lógico, eu sou Hermione, a amiguinha. A que sempre compreende.

Harry ergueu o rosto pra ela que não parecia muito contente.

- Não sei se o que você fez tem volta, Harry.- prosseguiu Hermione.- Sabe, somos amigos a tanto tempo, e eu realmente pensava que você confiava em mim. A nossa amizade... ela era tão bacana! Tão legal! Por um momento eu cheguei a acreditar que houvesse mais do que amizade, mas aí vem uma velha charlatona e faz uma profecia falando de um amigo que vai lhe trair e você pensa logo em mim!

- Não foi por isso que eu não lhe contei a verdade.- disse Harry.

Hermione deu ombros.

- Sabe, eu estive me debatendo sobre isso muitas vezes durante o último mês.- começou Harry.- Não sei o que acontece comigo. Talvez seja uma maldição, ou uma profecia qualquer. Mas eu tenho uma tendência a perder as pessoas que amo. Acho até que eu já lhe falei sobre isso: Foi assim com meus pais. Depois veio o Sirius, Edwiges. Voldemort armou tudo, Hermione, ele sabia que Sirius era um misto de pai e amigo para mim. Por isso ele o usou para me atrair ao ministério. Foi por eu amar Sirius que ele teve que morrer tão cedo.

Hermione escutava, agora calada e fitando o chão.

- Dumbledore sabia que isso poderia acontecer: Que Voldemort poderia invadir meus pensamentos e descobrir coisas em mim que até eu mesmo desconhecia.- prosseguiu Harry.- Por isso ele quis que eu praticasse oclumência. Mas eu não o fiz.

- Isso não tem muita relação com o assunto pendente entre nós.- disse Hermione.

- Tem sim.- insistiu Harry.- Quando voltamos do ministério, assim que Dumbledore acomodou todos vocês na enfermaria ele veio conversar comigo. A profecia estava quebrada, mas quando ela foi proferida havia mais alguém lá. Alguém que escutou o que dizia a profecia. Era o próprio Dumbledore. E ele me contou o que dizia essa profecia.

- E você não me achou confiável o suficiente para se abrir sobre a profecia comigo.- disse Hermione.

- Não foi isso.- interrompeu Harry.- Eu passei o meu verão retardando o momento de reencontrar a realidade. Mas eu havia programado na minha cabeça, que quando a encontrasse eu falaria de tudo com você. Só que quando e te vi, quando você entrou na cabine do trem uma coisa havia mudado. A princípio eu não entendi porque não conseguia lhe contar tudo. Foi só depois de um tempo. Só depois do Rony e você, só depois que o Malfoy atravessou as nossas vidas foi que eu percebi.

- Percebeu o que?- perguntou Hermione.- Que eu não passaria o resto da minha vida ao seu lado?

- Eu já não lhe via somente como a amiga acolhedora.- disse Harry ignorando o comentário de Hermione.- Eu a amava e eu não queria lhe envolver nisso tudo. Eu não queria ter que acorrentar você a mim por causa da maldita da profecia. Não queria expor você ao perigo. Eu não queria me expor ao perigo de perder você como perdi o Sirius.

- E porque você iria me expor a algum tipo de perigo me falando sobre a tal profecia?- perguntou Hermione.

- Porque você passaria a se preocupar ainda mais comigo.- disse Harry.- Porque passaria a querer me proteger e estaria disposta a dar a sua vida por mim se fosse preciso.

Hermione olhou novamente o chão, de certa forma aquilo era verdade.

- Aquele com o poder de vencer o Lord das Trevas se aproxima... Nascido daqueles que por três vezes o desafiaram, nascido ao fim do sétimo mês... E o Lorde das Trevas vai marcá-lo como seu igual mas ele terá um poder desconhecido pelo Lord das Trevas... E um deve morrer pelas mãos do outro porquanto nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... Aquele com o poder de vencer o Lord das Trevas se aproxima...- sibilou Harry.

Hermione sentiu-se arrepiar.

- Isso significa que um dos dois tem de morrer?!- exclamou Hermione.

- Sim. E isso explica também o porque de eu ter sobrevivido àquele feitiço da morte.- disse Harry.

- E ele sabe?- perguntou Hermione.

- Talvez.- disse Harry.- Esse é mais um dos motivos por eu ter de praticar oclumência.

- Isso é grave, Harry.- disse Hermione em um tom amedrontado. Sentia pena de Harry agora.- E perigoso.

- Eu sei.- disse Harry.- Quando Dumbledore me contou sobre a profecia ele me explicou outras coisas também. Sobre o porque de eu viver com meus tios.

- E qual seria o porquê?- perguntou Hermione.

- Um feitiço antigo.- disse Harry.- Minha mãe se sacrificou por mim. Deixando assim a proteção de seu sangue. Ao me aceitarem, os Dursley selaram uma espécie de contrato dessa proteção. E então, enquanto eu puder chamar aquela casa de minha casa eu estarei protegido contra Voldemort.

- Foi por isso, então, que os membros da Ordem não se importaram muito quando você anunciou que ficaria por lá.- concluiu Hermione.

- Foi sim.- disse Harry.- Só que eu logo irei me tornar maior de idade. E assim selarei o fim da proteção. È o que anuncia a outra profecia: Quando a proteção acabar. Quando a paz se esgotar. Quando a primavera findar. Um bom amigo que te trai por desejo e ambição. Um destino que finalmente se mostra e inimigos que se unem. Tudo ao mesmo tempo, agora.

“Eu não acredito que seja você.- continuou Harry.- Uma nascida trouxa nunca passaria para o lado de Voldemort e se tem uma pessoa nesse mundo que eu tenho certeza que jamais me trairia essa pessoa é você!”

Houve um prolongado silêncio.

Hermione recapitulou rapidamente tudo o que acontecera desde que ela voltara a Hogwarts. As palavras de Tonks. As palavras de Draco.

Você sabe que a única pessoa que permanecerá ao lado de Harry até o fim é você. Ele precisa praticar oclumência até o fim.

Era isso. Absolutamente isso. Hermione de repente entendeu porque Harry não quis contar aquilo tudo para ela antes. Mas mesmo ele tendo retardado ao máximo que pôde aconteceu: Ele acabara de acorrentá-la a ele. Ela sabia que não o deixaria só depois de saber de tudo aquilo.

E compreendeu também sobre algo que Rony dissera a ela certa vez. Você é Hermione Granger, a heroína dessa história toda, pela lógica você deveria gostar do Harry.

E sobre o que Draco dissera fazia algumas horas - “Todos nós temos um e descobrir qual é esse destino não é uma tarefa fácil. Mas um dia, quando você menos espera, ele se mostra.” - o dela acabara de se mostrar.

- O que vai mudar em você depois disso eu não sei.- disse Harry rompendo a linha de pensamento de Hermione.- Mas se você não quiser mais nada comigo, Mione, se eu realmente tiver pisado na bola contigo e não tiver mais volta...

Hermione o fitou de um modo que não fazia a mais de um mês, com doçura.

- Faça o que quiser, mas não fique com o Malfoy.- disse Harry.- Eu não suportaria.

- Não me peça o impossível, Harry.- disse Hermione com certa sinceridade.

Harry abriu e fechou a boca rapidamente. Tinha que dizer algo, mas não conseguia pensar em nada para dizer.

- Se você tivesse me dito isso antes.- disse Hermione.- Se tivesse me contado tudo isso antes, eu não estaria tão dividia hoje.

- Você gosta dele?

- Sim.- disse a garota fitando o chão.

Harry soltou um suspiro desanimado e baixou o rosto.

- Já você eu amo.- completou a garota.

Harry sentiu uma dolorosa fincada no estômago. Por um milésimo de segundo ele considerara a possibilidade de se matar, mas agora, um milésimo de segundo depois, ele tinha vontade de sair cantando e pulando de felicidade.

- Isso não significa que nós ficaremos juntos a partir de então.- disse Hermione e o sorriso de Harry desapareceu.

- O que significa então?- perguntou o garoto confuso.

- Que eu vou ter que me decidir entre o meu amor bandido e o meu amor sofrido.- disse Hermione.

- Garotas geralmente preferem o amor sofrido.- disse Harry.

- Não necessariamente.- disse Hermione.- Veja a Gina, ela busca intensamente o bandido.

- A Gina o que?

Hermione se levantou.

- Vejo você amanhã.

- Até lá você vai ter decidido?- perguntou Harry.

- Eu não sei.- ela disse.- Eu não tenho muitas certezas sobre nada desde que você tirou a minha razão.

Ela se curvou e beijou a testa de Harry.

- Uma boa noite, Harry.

Harry a observou subir as escadas. Aquilo fora um sim ou um não? Não conseguia concluir, só sabia que seu coração estava acelerado. Tinha que praticar oclumência ou Voldemort logo seria atraído pelas “fortes emoções” que ele sentira.


****


Harry e Draco possuíam exatamente a mesma altura e o mesmo porte físico, talvez por jogarem na mesma posição no time de quadribol de suas respectivas casas, ou talvez fosse uma simples ironia do destino.

Harry tinha o rosto fino, o nariz nem longo e nem curto. A boca fina e muito vermelha. Os cabelos muito negros e despenteados. Os olhos verdes e doces, por trás dos óculos redondos, que estavam sempre como duas portas abertas de modo que ela sempre sabia o que ele estava pensando ou sentindo. E ainda aquela cicatriz em forma de raio na testa. As unhas de Harry eram ruídas.

Draco também tinha o rosto fino, porém muito mais bem desenhado. Tinha o nariz mais longo do que o de Harry e a boca um pouco mais carnuda. Sobretudo tinha o rosto pálido. Os olhos de Draco eram cinza e não havia doçura alguma neles. Pelo contrário, eram frios, cruéis e misteriosos, e ao contrário dos de Harry, ela nunca conseguia traduzi-los totalmente. Seus cabelos eram claros de um tom louro platinado e estavam sempre caprichosamente penteados. Draco não possua cicatrizes e as suas unhas eram extremamente bem-feitas e seus dedos era longos.

Harry a conquistara pois era nobre, corajoso e educado. Um perfeito cavalheiro. Não tinha muitos preconceitos. A tratava sempre bem. Era ótimo em quadribol e incapaz de lhe fazer algum mal. Já Draco a conquistara pelo exato contrário.

Ela havia gostado do primeiro beijo entre ela e Harry pois por muito tempo o aguardara. Já o de Draco, ela gostara pois quando aconteceu ela foi pega de surpresa.

O afeto por Harry veio aumentando com o tempo, amizade que se transforma em amor. O de Draco surgiu de repente, ódio que se transforma em paixão.

Antes, ela e Harry eram amigos. Ela e Draco, inimigos.

A respeito da guerra Harry era do lado da Ordem. Lado do bem, como ela, Hermione. Na verdade ele era um dos motivos da guerra. Draco não estava a favor dos comensais. Mas era a favor da purificação da raça bruxa, exclusão de mestiços e nascidos trouxa. Ela havia nascido trouxa. Apesar disso ele dizia amá-la. Ele queria o poder.

Ela se sentia presa a Harry pela a amizade de anos e pela ânsia de protege-lo que agora se encontrava maior que nunca. Já a Draco, se sentia presa pelo desejo.

- Hermione, o jogo acabou.

Hermione piscou e fitou Parvati que estava assentada a seu lado.

- Harry apanhou o pomo!

Hermione levantou-se e olhou lá em baixo, através da chuva podia identificar alguns borrões verdes e vermelhos. Desceu rapidamente até o campo.


****


- Lá vem ela, Potter.- disse Draco fitando Harry.

- Felicidade de pobre dura pouco, Malfoy.- disse Harry ensopado e com a Firebolt no ombro.- Principalmente de pessoas Pobres de Espírito como você!

- Hermione não acha isso.- disse Draco sorrindo.

- Isso até onde você sabe.- retrucou Harry, Hermione estava a menos de dez metros deles agora.

- Vamos ver qual dos dois ela vai cumprimentar primeiro, então.- disse Draco enquanto se virava pra ela.

Hermione parou defronte aos dois. Mordeu o lábio inferior e olhou do rosto de um para o rosto de outro. Por último ela passou por entre os dois e foi cumprimentar Rony.


- Achei que você viria até mim.- disse Harry enquanto ele, Hermione, Rony e Gina faziam o caminho de volta para a torre da Grifinória.

- Porque vocês não nos contaram que haviam feito as pazes?- perguntou Rony.

- Porque não houve tempo?- arriscou Hermione.- E sobre você e o Draco eu não me dei o direito de magoar um dos dois.

- Achou melhor magoar os dois então.- disse Harry.

- Não acho que eu ter cumprimentado o Rony primeiro seja motivo para algum dos dois ficar chateado.- despejou Hermione.

- E porque não chatear o Malfoy, Mione?- perguntou Rony de repente.

- Ah!- disse Hermione com uma estranha sombra de triunfo nos olhos.- Ele nos será útil, muito útil por sinal!

- Ele daria um ótimo elfo doméstico.- disse Rony sorrindo de forma demente.

- Temos muito o que conversar.- disse Hermione quando eles pararam defronte a mulher gorda.

- Pêndulo de ouro.- disse Gina para a mulher gorda que imediatamente fez seu quadro girar.

Hermione logo tomou o lugar mais próximo à lareira. Podia ver a chuva molhando a tarde de sábado, final de outubro, lá fora.

- Troquem-se e voltem aqui.- disse Hermione.- Temos muito sobre o que falar, como já disse.


****


- O que você tem garoto?

Draco encarou o rosto da tia pelo espelho.

- Dor de cotovelo?- arriscou Draco.

- Quem é a garotinha idiota que não cedeu aos seus encantos, Draquinho?- perguntou Belatriz em tom de divertimento.

- Você não quer, realmente, saber.- respondeu Draco com absoluta veemência.

- Hunft.- fez a comensal.- Continuando: você provavelmente conhece esse anel, Draco.

- A Mão Da Glória!- murmurou Draco observando o anel que Belatriz mostrava através do espelho.- “Ponha-lhe uma vela e ela dá luz apenas a quem a segura!”

- É isso mesmo.- disse Belatriz guardando o anel.- Quero vê-lo na mão de Ronald Weasley.

Draco engasgou.

- Como?- perguntou Draco.

- Você entendeu bem, Draquinho.- disse a mulher sorrindo de forma cruel.- Pense em uma forma, você tem até uma semana antes do natal para fazer isso.

- Pra...Para quê?- perguntou Draco.

- Potter sabe muito bem que Ronald Weasley não o trairia.- disse Belatriz.- Mas isso é até ele ter a chance de abocanhar mais do que jamais sonhou.

- Mas...

- Adeus, Draco.- disse a mulher antes de desaparecer como a imagem de uma Tv que de repente sai do ar.

- Hermione vai me matar!- foi o que Draco conseguiu dizer a si mesmo.


****


- Quero que cada um de vocês pense em algo.- começou Hermione.- De preferência algo de que eu não saiba.

Harry, Rony e Gina se entreolharam, mas acabaram se concentrando para pensar em algo.

- Quando estiverem prontos me avisem.- completou Hermione.

Cinco minutos se passaram.

- Eu estou pronto.- disse Rony erguendo a cabeça.

- Olhe para mim, Rony.- ordenou Hermione. O garoto obedeceu.

No primeiro momento Hermione fitou apenas os olhos azulados do garoto até que ela pode ver além. E viu Lilá Brown. Hermione sorriu, o que fez sua concentração se esvair totalmente. Logo ela pôde focar Rony novamente.

- Você está cortejando Lilá Brown, Rony?- perguntou ela.

Rony ruborizou violentamente.

- Como você viu isso?- perguntou Rony.

- Estou pronta.- interrompeu Gina.

Hermione, depois de lançar um olhar divertido para Rony, se virou.

- Vamos lá.- disse antes de olhar nos olhos castanhos de Gina.

A operação se repetiu, dessa vez mais rápida do que nunca.

Ela via Gina e um rapaz, e ela achou conhecer estranhamente aquele rapaz.

- E o seu namorado Grifinoriano?- perguntou o rapaz.

- Não posso me livrar dele assim, tão rapidamente.- disse a própria Gina.- Isso despertaria a curiosidade do meu irmão.

- E você nunca vai me assumir perante ele?- perguntou o rapaz.

- Não ainda.- disse Gina.- Você não conhece o Rony, Blás.

Hermione engasgou, quando recuperou o fôlego já estava novamente no salão comunal.

- O que você viu?- perguntou Rony fitando-a com curiosidade.

Hermione fitou Gina, esta estava vermelha e parecia nervosa.

- Gina!- disse Hermione.- Nunca poderia imaginar que você um dia chutou o Bichento!

Gina soltou um suspiro mais notável do que deveria ter sido.

- Acho que é a minha vez.- disse Harry.

- É.- concordou Hermione aliviada pela interrupção.

Ela e Harry estavam um defronte ao outro. Ele tinha a cabeça baixa e quando ela o fitou ele ergueu o rosto e tirou os óculos.

E ali estavam. Ela e os olhos incrivelmente verdes da pessoa que ela mais amava no mundo. Era estranho, ela sentia que não queria realmente penetrar a mente dele, mas antes que pudesse desistir ela sentiu um tranco como quando se está em uma montanha russa que começa a andar.

Hermione se viu viajar. Encontrava-se em um lugar intensamente escuro. Porque não estava dando certo? Ela não ouvia nada além do som do vento e nem ela nem Harry perceberam que aquela insistência de Hermione em penetrar na mente dele, e a dele de impedi-la de fazer isso, estava afastando as poltronas dos dois para longe uma da outra.

E então começou a doer. Tudo começou a doer. Era como se alguém estivesse tentando arrancar sua alma, pensou Hermione. Nunca havia sido beijada por um Dementador, mas não devia ser muito diferente daquilo.

Quando a dor cessou, com um pequeno choque ela percebeu que havia deixado seu corpo. Tudo parecia suspenso. Ela flutuava um metro acima de seu próprio corpo que continuava a encarar Harry, as poltronas ainda se distanciando. Gina e Rony tinham os olhos levemente arregalados enquanto observavam a cena.

Hermione olhou em frente. Harry também havia deixado seu corpo e estava parado defronte a ela. Os braços cruzados e uma estranha cara séria. Mas o mais estranho de tudo era que não havia som algum ali. Parecia que alguém tinha abaixado bruscamente o volume do amplificador, mesmo não havendo amplificadores por ali. Talvez ela pudesse se aproximar de Harry. Tentou. Ele se afastou. Tentou novamente. Dessa vez ele sumiu.

Hermione sentiu um violento tranco pra trás seguido da sensação de que o carrinho da montanha russa acabara de iniciar uma descida em alta velocidade. Teve que segurar na poltrona ao lado para que a sua própria não tombasse. Sua respiração estava falha.

- Minha cicatriz!- disse Harry levando as mãos à testa tão desesperadamente que seus óculos caíram com um estrondo no chão.

Hermione olhou para Gina, ela estava de pé à esquerda da poltrona de Harry. Tinha a varinha em punho. Havia uma poça de água no chão. Havia um intruso dentro dela.

- O que aconteceu?- perguntou Rony que também estava de pé e fitava, curioso, Hermione. A voz dele soava de forma estranha, como se eles estivessem em dimensões diferentes. Hermione, ao olhar Rony, sentiu sua boca sorrir sem que ela própria o fizesse. Em seguida houve outro tranco dentro dela e o intruso se foi.

Ainda respirando de forma anormal, Hermione se precipitou até Harry e deixou-se cair de joelhos defronte a ele.

- Vamos até Tonks.- disse ela.

- O que?- perguntou o garoto tentando foca-la, mas a dor da cicatriz e ausências dos óculos não deixaram que isso ocorresse.

- Ande, Harry!- disse Hermione ficando de pé e puxando-o pelo braço.- Levante-se! Temos que ver Tonks.

Harry estava de pé, mas acabou pisoteando ainda mais seus próprios óculos.

- Accio óculos!- murmurou Hermione.- Reparo!- completou antes de colocar os óculos em Harry.

- E nós?- perguntou Rony.

Hermione se virou pra ele e o encarou. A cadeira de Harry havia tocado o fogo e sido incendiada. Gina apagou o fogo com um jato de água, temendo que ele alcançasse Harry. O que ela não sabia é que aquele fogo nunca conseguiria queimar Harry.

- Fiquem aqui.- disse Hermione.- Sumam com a água e voltem as poltronas pro lugar.- completou antes de atravessar o buraco do retrato.

Harry foi atrás. Não entendia o que estava acontecendo. Hermione tentara penetrar na mente dele e ele impedira. Só que ao fazer isso eles estranhamente deixaram seus corpos.

- Ande Harry!- disse a voz da garota.

Harry andava o mais rápido que era capaz, a cicatriz doía loucamente. Doía tanto que fazia surgir pontos coloridos em todos os cantos.

- Hermione?- era a voz de Tonks. Harry adentrou a sala logo atrás de Hermione, Lupin estava por ali.- O que aconteceu?

- Eu também gostaria de saber.- disse a garota enquanto fechava a porta.

Tonks e Lupin olharam de Hermione para Harry e em seguida se entreolharam. Lupin se levantou.

- Sente-se.- disse ele para Hermione. Ela obedeceu.

Harry, ainda desorientado pela dor na testa, puxou uma cadeira e se assentou também.

- O que aconteceu?- perguntou Tonks.

Hermione fitou Tonks por algum tempo e então tirou das vestes um livreto preto.

- O que é isso?- perguntou Harry observando-a aparentemente procurando dada página no livro.

Hermione olhou para Harry com cara de “faça silêncio e apenas escute” e depositou o livreto aberto sobre a mesa.

- Quantas pessoas conseguem fazer isso?- perguntou ela.

Harry forçou a vista ao máximo para tentar ver o que havia no livro, seu esforço foi em vão.

Tonks permaneceu calada por um longo tempo.

- Dumbledore.- disse Lupin de repente.

- Voldemort também.- afirmou Tonks.

- Tem que ser uma mulher!- disse Hermione.

- Dá pra me explicar o que aconteceu?- perguntou Tonks.

- É!- concordou Harry.- Eu também não estou entendendo nada.

Tonks lançou a Harry o mesmo olhar de Hermione e ele sentiu-se encolher em sua cadeira.

- Eu estava no salão comunal mostrando a Harry, Gina e Rony o que já consigo fazer.- disse Hermione.

- O que você consegue fazer a respeito de quê?- perguntou Lupin.

- Legilimencia, Remo.- disse Tonks.- Eu disse a você que ela possuía o dom.

- Com Rony e Gina tudo correu bem.- disse Hermione.- Mas com Harry não.

- Eu não sabia que era você!- disse o garoto levemente sem graça.- Eu percebi que tinha alguém tentando penetrar na minha mente. Na mesma hora eu pensei em Voldemort, até que nós deixamos os nossos corpos e eu notei que talvez alguém a tivesse possuído.

- Vocês o que?- perguntou Tonks.

- Deixamos os nossos corpos.- repetiu Harry.

- Você tem noção do que poderia ter acontecido, Hermione?- perguntou Tonks ficando de pé.- Eu disse a você que voltasse aqui quando tivesse alguma prática, todo Legilimente precisa de acompanhamento.

- Nem eu sabia que já estava tão boa.- disse Hermione francamente.- Mas eu a consegui expulsar antes de mais nada.

- Quem?

- Eu não sei quem era!- disse Hermione.- Só sei que senti a presença dela e rompi a ligação entre mim e o Harry.

- Ela chegou a entrar?- perguntou Lupin.

Hermione olhou pra trás e o encarou.

- Se ela não tivesse entrado eu não teria sentido a presença dela.- respondeu secamente.- No primeiro momento ela permaneceu, mas quando eu forcei um pouco ela rapidamente se foi.

- Como sabe que era uma mulher?- perguntou Tonks.

- Ela sorriu ao ver o Rony.

- Deixe-me ver se entendi o que está acontecendo.- disse Harry.- Hermione é uma Legilimente e alguém tentou possuí-la enquanto ela fazia contato comigo, é isso?

- Sim, Harry.- disse Tonks.

- Existe, sim, uma Legilimente capaz de fazer isso.- disse Lupin de repente.

- De quem você está falando, Remo?- perguntou Tonks.

- Dela.- disse ele indicando o pôster logo atrás de Hermione.

- Ela não teria tanta audácia.- disse Tonks.

- Ela é sempre pior do que imaginamos.- afirmou Lupin.

- E como ela poderia estar por aqui?- perguntou Tonks.

- Lareiras.- disse Lupin.- Espelhos...

- Draco Malfoy!- disse Harry com certo triunfo.

Hermione olhou pra ele com censura.

- Ele não está ajudando os Comensais.- Afirmou Hermione.- Não voluntariamente.

- Ela pode estar dentro do castelo?- perguntou Harry com os olhos levemente arregalados.

- Ela provavelmente está longe daqui, Harry.- disse Tonks fitando-o com certa calma.- Estamos falando de um feitiço poderosíssimo no qual o bruxo é capaz de deixar o próprio corpo e viajar por até quilômetros.

- Como foi que eu e Hermione fizemos isso?- perguntou Harry.

- Algum tipo de ligação.- disse Tonks.

- Hermione deixou o corpo.- disse Lupin.- Involuntariamente ela lhe levou junto, Harry.

- Foi onde surgiu o perigo.- disse Tonks se assentando novamente.- Belatriz Lestrange está de olho em você Harry, provavelmente em você também, Hermione. Ela deve ter aproveitado o tipo de comunicação que estava usando para poder dar um geral no castelo e ao encontra-los como estavam acabou se aproveitando.

- Existe alguma forma de fechar o corpo contra isso?- perguntou Hermione.

- Oclumência.- disse Lupin.

- Mas se houver algum tipo de ligação não há oclumência que funcione.- retrucou Tonks.

- Você não está pretendendo repetir isso, Hermione.- disse Lupin.- Ou está?

- N-não.- disse Hermione.

- De qualquer forma, não tente fazer isso com o Harry novamente.- disse Tonks.

- Tudo bem.

- Agora sigam para o salão comunal.- disse Tonks.- Creio que teremos que tomar algumas providências.

- Proibir espelhos?- arriscou Lupin.

- Talvez.- disse Tonks pensativa.- O que estão esperando?


**continua**

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