Dos delírios de Hermione



- O que lhe aconteceu à perna?- indagou Blás ao ver Hermione se jogar na cama de Draco.

- Foi uma queimadura.- explicou ela.

- Porque você pegou minha adaga?- perguntou Draco um pouco alterado.

- Eu...- começou Hermione olhando pra ele.- Eu li seus pensamentos e você parecia prestes a nos trair.

- Parecia prestes a lhes trair?!- indagou Draco.- Eu poderia ter precisado dela!

- Garanto que nós precisamos mais!- interrompeu Harry.- Se não fosse por essa coisa.- continuou arrancando a adaga da cintura e atirando-a a Draco.- Voldemort teria me matado.

- Então ele se foi?- perguntou Blás.

- Ele sim.- disse Hermione.- Mas temos que sair logo daqui.

- Tem que cuidar dessa queimadura antes.- disse Luna enquanto examinava a mesma.- Você tem alguma espécie de maleta de primeiros socorros por aí, Draco?

- Você está achando que moro em uma casa de trouxas, Luna?- perguntou Draco.

- Então providencie algo para cuidar da queimadura de Hermione.- disse Luna calmamente.

- Como vamos sair daqui?- perguntou Hermione tentando esquecer a dor na perna.

- O certo seria sair pela frente da mansão, já que pela Vila não dá.- disse Draco.- Mas não sairíamos vivos por lá também.

- Então estamos encurralados?- perguntou Harry pensativo.

- Talvez.- disse Draco andando de um lado para o outro.- Temos que pensar.

Seguiu-se um minuto de silêncio no qual Luna sumiu pra dentro de um banheiro que havia ao canto do aposento.

- A essa altura...- começou Blás.- A marca negra tatuada no braço dos comensais deve ter desaparecido!

- Mais um motivo para sairmos depressa daqui!- disse Draco.- Provavelmente todos retornarão para cá. E pessoas suficientes nos viram aqui para poderem nos culpar.

- Snape...- continuou Hermione.- Ele está em Hogwarts! Provavelmente também vai notar!

- E vai procurar Dumbledore!- disse Harry precipitadamente.

Draco pigarreou. Hermione olhou para ele a fim de fazer uma leitura visual, mas ele desviou dos olhos dela.

- Teríamos que sair voando.- disse ele.

Luna estava de volta. Trazia consigo uma bacia prateada, com cobras em alto relevo, cheia de água.

- Teremos que chegar à sala de vassouras.- disse Draco pensativo.

Lun

a caminhou até o armário de Draco e o abriu.

- O que pensa que está fazendo?- indagou Draco olhando-a impaciente.

- Cuidando do ferimento de Hermione.- disse a garota enquanto tirava uma camisa branca do armário e a rasgava em espécies de faixas.

- Essa camisa!- disse Draco.- Ela é caríssima!

- Quem se importa?- perguntou Luna enquanto mergulhava uma das faixas na água.- Queimaduras podem provocar infecções, pernas amputadas e até mesmo a morte.

Harry arregalou os olhos, mas Hermione pareceu não se importar.

- Vamos eu, você e Blás.- continuou Draco para Harry.

Hermione, Gina e Harry se entreolharam.

- Apanharemos as vassouras e voltaremos.- continuou Draco.- Enquanto isso você cuida dessa maldita queimadura!

Luna tirou a faixa molhada de dentro da bacia e Hermione se ajeitou na cama, de forma que a perna ficou reta.

- E se alguém tentar entrar no quarto?- perguntou Gina.

- Vou trancar o quarto.- disse Draco.- E deixar a luz apagada. De toda forma fiquem atentas a passos no corredor.

Gina consentiu com a cabeça. Draco se encaminhou para o banheiro, Blás foi atrás. Harry se aproximou de Hermione que agora fazia caretas à medida que Luna limpava a queimadura.

- Eu voltarei.- disse ele antes de beijar a namorada na testa.

- Tome cuidado.- disse Hermione com a voz fraca.

Harry seguiu até o banheiro que devia ser duas vezes maior que o seu quarto na casa dos Dursley. Draco havia levantado um alçapão no forro de madeira do mesmo e Blás aparentemente já tinha subido.

- Vamos pelo forro.- disse ele.

- Não sabia que Mansões bruxas tinham forro.- disse Harry enquanto subia pelo alçapão.

- Não nela toda.- disse Draco.- Este liga os banheiros e a cozinha. O restante do percurso faremos pelo caminho tradicional.




****




Já devia ser mais de três da manhã quando um grupo de doze bruxos chegou à Hogwarts. Moody vinha à frente deles.

- Ninfadora já acordou?- perguntou ele a Minerva.

- Creio que não.- disse a professora.

- E Alvo Dumbledore?- indagou um bruxo alto e negro à direita de Moody.

- Ele não vai mais acordar, Quim.- murmurou Minerva.

Os demais bruxos, aurores do ministério, cochicharam entre si. Minerva fez um sinal com a cabeça.

- Melhor entrarmos.- disse ela.

- Quero este castelo revistado em duas horas.- Ordenou Quim assim que eles alcançaram a entrada para o salão principal.

Os Aurores rapidamente se dispersaram sobrando apenas Quim, Moody e a Professora Minerva no saguão de entrada. Quim sacou um bloco de notas.

- Quero saber a que horas ela chegou, quem a avistou, por onde entrou e qual era a posição de cada um dos responsáveis pela segurança do castelo no horário.- disse ele.- E quero Ninfadora de pé o mais rápido possível.

- Vamos caminhando até a enfermaria.- disse Minerva.- Eram pouco mais de nove horas da noite. Ela provavelmente entrou pela estrada à Hogsmead e dominou Rúbeo, que fazia a vigília daquela noite, com uma Maldição Imperius.

Quim anotava rapidamente.

- Tonks e os demais professores estavam no salão principal, para o jantar.- continuou Minerva.- Creio que os Aurores estavam disperso por um outro problema.

- E qual seria?- indagou Quim.

- Harry Potter e mais cinco estudantes estão desaparecidos desde a última sexta feira.- disse Minerva com a voz rouca.

- E por que motivo não contataram o Ministério?- perguntou Quim.

- Alvo não queria escarcéus.- disse Minerva assim que eles alcançaram a porta da enfermaria. Madame Pronfey veio correndo ao encontro deles.

- Talvez o Professor Snape precise ser mandado à St. Mungus.- disse ela.

- Conte-me sobre o duelo.- ordenou Quim.




****




Draco de repente parou e encostou o ouvido no chão.

- Temos que descer aqui.- disse ele.- Mas há alguém aí em baixo.

Harry apertou a parte da frente das vestes, onde estava a capa da invisibilidade.

- Ela não é suficiente para cobrir nós três.- disse Draco com secura.

- Cubra-se com o capuz.- disse Blás.- Você será confundido com um deles e eu e Potter seguiremos logo atrás.

- Continuamos sem ter como descer.- disse Draco secamente.

- Ah! Venhamos e convenhamos...- disse Harry.- Pra que você trouxe esta adaga?

Draco olhou-o divertidamente.

- Achei que esse tipo de coisa fosse contra a sua índole, Potter.- murmurou ele.

- Você realmente acha que chegaremos a algum lugar sem isso?- indagou Harry.

Draco, de certa forma, sorriu e apanhou a adaga. Em seguida ele abriu com cuidado o alçapão e olhou a cozinha lá em baixo. Gelou. Talvez devesse mudar de planos.

- Quem está aí?- perguntou Zambini.

Draco se ergueu e olhou de Harry para o outro.

- Têm certeza que devo fazer isso?- perguntou ele.

Harry e Zambini concordaram com a cabeça. Draco se curvou novamente pela abertura. Ouviu-se um som de algo cortando o ar e então um “oh!”. Draco saltou do alçapão em seguida.

Zambini saltou e quando Harry alcançou o chão pôde vê-lo agachado ao lado de um corpo do qual Draco acabara de arrancar a adaga.

- Eu sinto muito.- murmurou Draco.

Harry se aproximou e pôde ver o rosto do homem. Notava-se claramente que ele era algum parente de Blás. Um irmão, quem sabe.

- Não lhe culpo.- disse Blás se levantando.- Prometi ser leal até o fim. Haja o que houver.

Por um momento Harry fitou um Blás cabisbaixo. No momento seguinte seus olhos se recaíram sobre Draco abaixado defronte a Harry, do outro lado do corpo. Em seus olhos cinzas estava refletida a poça de sangue que havia ali.




****




-...O metal do lustre deve ter se aquecido graças ao fogo nas paredes.- dizia Hermione.- Logo ele queimou a minha perna.

- Não entendo muito bem dessas coisas.- disse Gina.- Mas parece ser grave.

- Não se aflija.- disse Hermione.- A parte mais difícil já foi feita. Logo os garotos voltarão com as vassouras e nós partiremos daqui.

- Tomara!- murmurou Gina.

Ouviu-se passos no corredor. Gina e Luna se levantaram e, de varinhas em punho, se aproximaram da porta. Hermione segurou a varinha de Narcisa, da qual vinha uma fraca luz. E então, novamente, Hermione sentiu um impulso a fazer deixar seu corpo.

Ela caminhou pelo quarto. A perna não mais doía. Alcançou a porta e a atravessou sem relutância. No corredor estavam dois homens. Um era alto, louro e pálido. O outro tinha o rosto vermelho e os cabelos ralos.

- As informações que chegaram é que todos os aurores do ministério estão reunidos em Hogwarts.- disse o homem louro. Lúcio Malfoy.- Severo Snape foi mandado a St. Mungus depois de uma falha na segurança. Enquanto todos faziam uma minuciosa busca a seis estudantes foragidos nossa querida Bela entrou no castelo.

Lúcio parou à porta do quarto de Draco e, colocando o ouvido junto à madeira, escutou.

- Há, resumidamente, uma boa notícia e uma ruim.- prosseguiu Lúcio.- A ruim é que provavelmente eles rumarão para cá.

- E a boa?- perguntou o outro homem.

- Alvo Dumbledore foi morto.

Hermione sentiu-se engasgar. Sentiu-se sugada de volta para seu corpo. Gina e Luna se viraram assustadas para trás.

- Shiii.- fez Hermione fazendo uma careta de dor.

Ouviu-se uma gargalhada do lado de fora. As garotas colaram os rostos ali novamente.

- Minha querida cunhada...- dizia uma das vozes.- Como sempre mostrando que é boa de serviço.

Ouviu-se ainda os dois homens se distanciando. Seguiu-se um silêncio fúnebre. A perna de Hermione latejava, mas ela nem se importou. Gina estava encostada de costas na porta e respirava com certa dificuldade.

- Alvo Dumbledore morto!- murmurou Luna se virando também.- Nunca pensei que viveria para ouvir esta notícia.

- Pode ser mentira!- disse Gina.

- Tenho um trato.- disse Draco.- Minha tia não será queimada e o Rony ficará bem.

Hermione sentiu seu estômago cair e engoliu em seco.

- Eu devia ter imaginado...- murmurou.

- O que?- indagou Gina.

- Draco a queria ilesa.- disse Hermione.- Belatriz Lestrange. Enquanto ele nos ajudasse a exterminar Voldemort, ela cuidaria de Dumbledore.

- E se tiverem um plano para nos matarem também?- perguntou Gina.

- Não seja tola!- disparou Luna.- Draco não deixará que nada aconteça a Hermione.

- Eu não duvido que ele deixe.- disse Gina.

- Ele a ama.- disse Luna virando-se para Hermione que se ajeitou na cama.




****




- É aqui.- disse Draco.

Os três garotos entraram no aposento e Harry estranhou ao se ver em uma espécie de escritório.

- Pensei que buscaríamos as vassouras.- comentou enquanto tirava a capa da invisibilidade.

- Tive uma idéia melhor.- disse Draco enquanto contava livros e prateleiras e batia a varinha em um livro de capa verde musgo.

Ouviu-se o ruído de livros e tijolos se mexendo e uma passagem se abriu por entre as prateleiras. Draco entrou, Harry e Blás foram atrás e puderam contemplar um verdadeiro arsenal de armas.

- Minha família participou de guerras trouxas por várias gerações.- explicou Draco enquanto apanhava uma espada e girava-a no ar.

Harry observou tudo aquilo por algum tempo. Seria um patrimônio tentador se não fossem os vários detalhes em forma de serpentes em todas as armas.

- Vai fazer as espadas criarem azas e escapar nelas?- perguntou Harry.

- Acho que transfigura-lo em um cavalo alado seria mais prático.- disse Draco sem se virar.

Harry cruzou os braços e observou o outro juntar várias espadas e adagas a um canto. Em seguida o garoto louro caminhou até uma espécie de calça de couro com vários bolsos para embainhar as armas.

- Virem-se.- disse Draco. Harry viu Blás obedecer, mas ele não se viraria. Ele não daria as costas ao inimigo numa sala repleta de espadas.- Vire-se, Potter.- insistiu Draco. Harry não se moveu.

Draco gargalhou com desdém segundos antes de baixar as calças e começar a vestir a calça de couro. Harry, constrangido, se virou e pôde ver o próprio Blás gargalhando em silêncio.

Três minutos depois os três deixaram o aposento secreto. Um tintinar de metal vinha da direção de Draco enquanto ele se locomovia.

- Aonde vamos agora?- indagou Harry mais desconfiado do que estivera antes.

- Tente adivinhar.- disse Draco se divertindo com o rosto compenetrado do outro parado junto à porta fechada.

- À sala de esgrima?- indagou Harry ironicamente.

- Vamos ao quarto de minha tia Belatriz.- disse Draco.- Deve haver alguma chave de portal que nos leve à floresta proibida.- completou antes de abrir uma greta na porta e observar o corredor lá fora.- Vamos.

Harry hesitou por um momento. Belatriz por muitas vezes fora vista nas proximidades de Hogwarts, parecia fazer sentido o uso de Chaves de Portal para isso.




****




Eram quatro e meia da manhã quando Tonks deu sinal de vida e, finalmente, acordou. Logo ela foi levada à sua sala, onde Quim e Moody a esperavam. Rapidamente ela foi informada dos últimos acontecimentos.

- Já mandaram aurores à Casa de Lúcio?- indagou ela.

- Mandei um grupo de seis deles.- disse Quim.- A essa hora eles devem estar adentrando o lugar.

- E Belatriz?- perguntou Tonks.- Alguém a seguiu?

- Minerva disse que ela fugiu à cavalo.- disse Moody.- Carlinhos acabou descobrindo que a carruagem foi alugada por ela em um pub chamado Cabeça de Javali.

- Interrogaram os empregados do pub?- perguntou Tonks tomando uma golada de seu chocolate quente.

- Mandei que o fizessem.- disse Quim.

- Não vai ser tão simples assim.- murmurou Moody pensativo. O olho normal fechado, o outro circulava pela sala.- Sabe quem é o dono do pub?

Quim fez um sinal negativo com a cabeça.

- Abeforth Dumbledore.- murmurou Moody.- Carlinhos está de volta.

Tonks fitou o cartaz de Belatriz Lestrange, segundos depois Carlinhos Weasley entrou na sala acompanhado pelo irmão mais velho que trajava uma capa negra de viagem e tinha o cabelo preso em uma trança que lhe descia pelas costas.

- Houve mais um problema.- informou Gui Weasley sem cerimônia alguma.- Remo está morto.

A xícara que Tonks segurava escorregou de suas mãos e foi espatifar-se ao chão. Ela olhou para o mapa na parede e viu que ele havia se apagado. Moody se apoiou na mesa como se estivesse prestes a desmaiar, mas quando ele se curvou para frente foi para apanhar a enorme pena cor-de-rosa de Tonks.

- Como e quando foi isso?- perguntou Quim enquanto rodava a argola dourada na orelha.

- Uma maldição da morte.- informou Gui.- A única testemunha disse ter visto uma figura negra chegar à cavalo.

- Belatriz Lestrange.- murmurou Moody se virando com certa violência e atirando a pena no ar. Esta atravessou a sala e foi se enterrar no peito da Belatriz do pôster.- Vou mata-la!- rosnou.- Nem que ela seja o último bruxo das trevas que eu mande para o inferno!

E então ele pareceu que iria realmente desmaiar. Carlinhos se adiantou e obrigou-o a assentar-se.

- Precisamos agir.- disse Gui enquanto começava a tirar a capa. Tonks se adiantou e ajudou-o. Os olhos dos dois se encontraram e ela desviou corando de leve.- Mamãe pediu que eu viesse assim que soube que um grupo de Aurores se dirigia ao País de Gales.

Quim fechou a porta e imediatamente informou ao jovem o que estava acontecendo.

- Quero que me autorize a ir me juntar a eles, Sr. Quim.- disse Gui.- Já perdi um irmão. Não quero perder uma irmã também.

Quim hesitou por um momento.

- Não.- disse ele.- Não mesmo.

Gui crispou a boca e Tonks viu seus olhos claros se encherem de água.

- Queres vingar a morte de seu irmão.- disse Quim.- Pois ordeno que você e Carlinhos voltem ao Cabeça de Javali.

- O barman se recusa a falar!- disse Carlinhos.

- Precisamos de uma poção da Verdade.- disse Quim olhando para Tonks que imediatamente abriu um pequeno baú em uma das prateleiras e tirou um frasco.- Quero datas, quero a rotina de Belatriz Lestrange em Hogsmead!

- Deixe que eu cuide disso.- disse Moody se levantando.- Deixe que eu cuide de Abeforth Dumbledore!

- Não adianta querer se precipitar, Alastor.- disse Quim.

- Eu quero vingança!- disse Moody, ambos os olhos parados e incrivelmente úmidos.- Não é qualquer ralé que invadirá está escola, assassinará o maior bruxo do mundo e sairá ileso!

- Você não está em condições de sair nessa caçada, Alastor.- disse Quim.

- Está me chamando de velho?- indagou o outro dando um passo em frente.- Esquece-se de tudo o que eu...

Moody teria terminado a frase caso a Professora Minerva não tivesse adentrado a sala às pressas.

- Acabo de receber uma coruja de um dos aurores que foi ao Covil dos Comensais.- disse ela que tremia quase que convulsivamente.- Há fogo inominável por metade da vila.

Os aurores se entreolharam. Carlinhos olhou para Tonks que se apoiara em Gui.

- Malditos...- dizia Moody.- Vão todos pagar... ralé das trevas!

- Vamos parar com essa baboseira aqui.- disse Quim.- Alastor, quero que vá atrás de Andrômeda Tonks e siga com ela ao País de Gales o mais rápido possível.

Moody parou de murmurar e virou apenas o olho mágico para ele.

- Está tentando se livrar de mim?- rosnou.

- Estou tentando evitar uma catástrofe.- retrucou Quim.

Moody recomeçou a resmungar e deixou a sala. Minerva ainda tremia quando Quim recomeçou a falar.

- Você sabe que na ausência de Dumbledore a escola é sua.- disse ele à Professora.- E a Ordem da Fênix fica sob meu comando.

Minerva concordou com a cabeça.

- Quero todos os alunos quietos em suas torres.- disse ele.- Irei à Londres, tenho que contatar os inomináveis. Quero vocês dois na cola de Belatriz Lestrange e sob o poder do maior número de informações possíveis quando eu voltar.- completou virando-se para os dois Weasleys.

Ambos concordaram com a cabeça.

- Onde está seu pai?- indagou Quim.

- Foi para o ministério assim que soube dos últimos incidentes.- disse Gui.

- Melhor assim.- disse Quim.- Quero Snape de volta antes que o dia raie totalmente.- continuou fitando Tonks.- E quero todos os professores de guarda.




****


Harry mal acreditou quando depois de cinco minutos de caminhada sem interrupção eles adentraram um quarto. Enquanto ele se distraia no veludo negro que forrava a cama e as cortinas, Draco revirava um largo armário.

- Achei!- disse ele erguendo um pequeno cachimbo no ar.- Vamos! Temos que voltar.

- O que é isso?- perguntou Blás.

- A chave de Portal que nos levará até a Floresta Proibida.- disse Draco.




****


- Fechem a janela.- pediu Hermione olhando à volta. Sentia um anormal frio enquanto observava a noite começar a clarear deixando um tom aveludado no céu.

Gina e Luna se entreolharam e em seguida a garota ruiva atendeu ao pedido de Hermione. Luna por sua vez assentou-se ao lado de Hermione e encostou as costas da mão na testa da garota.

- Você está com febre.- disse ela.

Hermione sentiu um calafrio e sua vista embaçou. Queria dizer que Luna estava enganada, mas sentia suas forças irem-se indo.

- Precisamos sair deste lugar.- disse Luna se levantando.- Há tanta energia negativa aqui que chega a acelerar os males da queimadura.

Gina olhou para ela com censura enquanto obrigava Hermione a se deitar. Luna atravessou o quarto e colou o ouvido à porta.

- O que foi?- perguntou Gina.

- Ouvi barulho de metal.- disse a garota loura.- Mas definitivamente não veio daqui.

Gina prendeu a respiração e procurou ouvir. É, havia realmente um som de metal que aumentava com o estender dos segundos. Ouviu-se então um estalo e o baque de alguém caindo no chão. Luna correu até o banheiro e viu Blás de pé ao lado do vaso, Harry descia pelo alçapão no forro.

- Onde estão as vassouras?- perguntou ela assim que viu Draco descer e fechar a passagem.

- Temos coisa melhor.- disse Draco deixando o banheiro.- O que aconteceu com ela?- perguntou ao ver uma Hermione muito pálida estendida na cama.

- É a perna.- disse Luna.

Ao identificar vozes Hermione abriu os olhos e viu Harry correr até ela.

- Que bom que você voltou.- murmurou a garota.

Draco tentou não olhar para Hermione. No momento em que a vira entrar no quarto junto a Harry ele jurara que a esqueceria, mas vê-la daquela forma lhe doía. O garoto tocou com a varinha no cachimbo e esperou até que uma luz azulada começou a emanar do mesmo.

- Andem.- disse ele.

Harry ajudou uma Hermione muito mole a se levantar. Não demorou muito e tudo começou a girar. O quarto de Draco ia ficando para trás. Hermione logo sentiu seus pés tocarem um novo chão. Desmaiou. Harry se apressou em segura-la.

- Onde estamos?- perguntou Gina olhando à volta. Era uma mata fechada onde pouco se enxergava. O dia ia nascendo lentamente.

- Floresta proibida.- disse Draco.

- Que bom.- murmurou Gina se assentando no chão.- Resta agora rezar para que Hagrid nos encontre aqui.

- Temos que andar e procurar uma trilha.- disse Draco.

- Olhe para Hermione!- disse Gina.- Não chegaremos a lugar nenhum com ela nesse estado.

- Podemos atrair Trestálios, como da última vez.- Sugeriu Harry.

- Podemos assassina-lo e deixa-lo sangrar até atrair os bichanos.- despejou Draco.- Temos que procurar uma trilha!- insistiu.

- Vamos ficar parados aqui.- disse Luna olhando à volta.- Acenderemos fogo e esperaremos que alguém apareça...

- Ou que Hermione morra.- murmurou Harry olhando o rosto cansado da garota que suava tanto quanto uma chaleira, porém frio.

- O que estão esperando?- perguntou Luna.- Vão arrumar lenha! Eu vou dar um jeito nela.

Draco quis retrucar, mas ao olhar mais uma vez para Hermione ele se conteve. Logo ele seguiu para um lado. Gina e Blás para outro. Começou a apanhar alguns gravetos pelo chão. Ouvia-se o urrar de alguma criatura distante.




****




- Uma cerveja amanteigada, por favor.- pediu Gui ao balcão.

- Você!- disse o barman apontando para Carlinhos.- Um dos soldadozinhos de Alvo! Já disse que não quero conversa.

- Uma cerveja amanteigada!- repetiu Gui antes que Carlinhos retrucasse.

O barman, ainda olhando atravessado para Carlinhos, buscou a bebida e foi limpar as mesas já vazias do pub. Gui fingiu tomar um gole e em seguida virou a Poção da Verdade no copo.

- Que lixo é esse?- disse ele em voz alta enquanto se levantava.

O barman encarou-o mau-humorado.

- Se queres bebida de almofadinhas vá ao Três Vassouras.- murmurou.

- Prove isso, meu senhor!- disse Gui.- Veja o quão podre está!

O barman deu as costas e continuou limpando as mesas.

Gui fez um sinal de sobrancelhas para Carlinhos que agilmente virou o velho dando-lhe uma gravata. Gui forçou o copo ao velho que se debatia e então ele se quietou. Uma Cadeira veio voando no ar e o velho se assentou nela.

Gui limpou a mão suja de cerveja amanteigada nas vestes e em seguida tirou um panfleto de Procura-se com o rosto de Belatriz estampado.

- Já viu essa mulher?- perguntou ele.

- Sim.- respondeu o barman como um demente.

- Como ela se chama?- perguntou Carlinhos.

- Bela.

- Bela do que?

- Bela, apenas.

- Ela costuma, ou costumava, freqüentar este estabelecimento?

- Quando está nas redondezas... Sim!




****




Belatriz se deliciava com um cálice de vinho enquanto contemplava o profeta diário do dia.

BRUXO SUPREMO ASSASSINADO.

O FOGO INOMINÁVEL CONSOME O VILAREJO MALFOY.

Tomou um novo gole do vinho quando ouviu o som de algo tremer. Preguiçosamente ela usou um feitiço convocatório para atrair o espelho até ela. Logo pôde ver o rosto de Draco.

- Onde você está?- perguntou ela calmamente.

- No meio da floresta proibida.- disse o garoto.- Não posso me demorar, preciso de sua ajuda.

- Não está querendo que depois de minha espetacular fuga eu volte à escola como a heroína que acaba de salvar as criancinhas, ou está?- perguntou ela.

- Hermione se queimou.- disse Draco.

- A sangue-ruim?- perguntou Belatriz.

- Sim.

- Não deveria estar feliz?- perguntou Belatriz com desprezo.

- Precisa de cuidados médicos.- disse Draco.- Nunca acharemos a saída da floresta a tempo.

- É impressão minha ou está querendo que eu vá socorre-la?- perguntou Belatriz fingindo-se incrédula.

- É isso mesmo.- disse Draco.

Belatriz gargalhou com vontade.

- O dia em que eu salvarei a vida de uma sangue-ruim ainda não chegou, Draco.

- Se não fosse por essa Sangue ruim o Lorde das Trevas não teria caído definitivamente.- disse Draco seriamente.




****




Harry observou Draco reaparecer. Já havia fogo aceso e Luna conjurava copos d’água que eram usados para fazer compressas em Hermione.

- Por onde esteve?- perguntou Harry.

- Chamando ajuda.- disse Draco.

Harry se virou pra ele numa espécie de susto.

- Que tipo de ajuda você chamou?- foi Gina quem perguntou.

- A única que não está atarantada no meio de toda a confusão que provocamos.- disse Draco.

- Vamos sair daqui, Harry, oh! Harry...- murmurou Hermione.

- Você não está querendo nos dizer que chamou sua tia comensal, ou está?- perguntou Harry.

- Agora cabe a você, Potter...- disse Draco.- Aceitar ou não o socorro.

- Eu não acredito que você fez isso!- disse Gina.

- Ela não vai chegar aqui e matar todo mundo!- disse Draco com certa simplicidade.- Ela me fará um favor, apenas isto!

- Não vou deixar a Mione sozinha com ela!- disse Harry.

- Iremos todos nós então.- disse Draco.- Mas, por favor, não me deixem ver Hermione morrer.




****




- Quer que comece pelas conclusões ou pelo depoimento em detalhe?- perguntou Gui.

- Conclua.- ordenou Quim se assentado.

- Ela está agindo em Hogsmead há quase um ano.- disse Gui.- Buscava comida, dia sim e dia não, naquele pub. Vinha do leste sempre trajando negro, era facilmente confundida com um viajante qualquer.

- Ela está por perto, Quim.- disse Carlinhos.- E é por isso que tem agido com essa facilidade dentro da escola.

Silêncio. Quim parecia considerar as últimas informações, Tonks tinha os olhos perdidos no nada.

- Mamãe saberia encontra-la.- disse a mulher finalmente.

- Acho difícil.- disse Quim.- O fato de a Comensal estar tão perto mostra que ela é mais esperta do que esperávamos.

- Mamãe é a irmã mais velha da comensal.- disse Tonks.- Elas dividiram a mesma casa por dezessete anos e não se esqueça que da última vez foi mamãe quem conseguiu encontra-la.




****




Hermione sentia-se afogando em uma espécie de lago de águas densas e obscuras. Se olhasse para cima poderia ver os vestígios de luz na superfície. Queria subir até lá e poder respirar, mas isso parecia impossível. Talvez se mexesse um pouco os braços...




Harry seguia logo atrás de Belatriz Lestrange e da maca conjurada. Mantinha a varinha em punho para o caso de qualquer passo em falso da Comensal. Gina e Blás vinham logo atrás dele, seguidos por Draco e finalmente por Luna. Hermione resmungava de quando em quando e tinha uma palidez mórbida no rosto.




E Hermione começava a subir. Balançava braços e pernas e apesar de a roupa ensopada a puxar para baixo ela lentamente ia alcançando a superfície. Ouvia vozes ao longe e o som de coisas metálicas sendo jogados em algum canto.

“O que é isso?”

“Não dê palpites, garoto! Eu sei o que faço!”

Hermione agora via a superfície cada vez mais nítida. Ao contrário do que ela imaginara aquele não era um lago no meio de uma floresta ou coisa parecida. Havia um teto de madeira e o rosto de uma mulher que, compenetrada, se encontrava curvada sobre ela.

Não podia ser! Era Belatriz Lestrange. Ela vai me matar! Pensou Hermione.




- Ela acordou.- murmurou Gina se levantando de repente.

Harry correu até o leito e viu os olhos da namorada se abrindo lentamente. Belatriz Lestrange ainda untava a queimadura de Hermione com qualquer coisa à base de ervas. Hermione resmungava um pouco enquanto parecia ir lentamente voltando a si. Belatriz se levantou e caminhou até a escrivaninha, sobre a qual apanhou um vidro amarronzado e umedeceu com seu conteúdo um lenço com o brasão dos Black bordado.

- O que é isso?- perguntou Harry ao vê-la aproximar o lenço do rosto de Hermione que agora se revirava na cama.

Belatriz o ignorou. Hermione pareceu finalmente despertar e se assentou em um impulso que fez borrar todo o lençol com restos verdes da solução. Belatriz firmou os ombros da garota com certa violência, tentando faze-la deitar-se novamente.

- Pare!- disse Harry puxando Belatriz para trás.- O que pensa que está fazendo?

Draco, que estava assentado a um canto, se levantou veloz. Harry tentava arrancar o lenço da mão de Belatriz, que havia se assentado sobre a perna ilesa de Hermione e segurava um de seus ombros com a mão desocupada para impedi-la de se levantar, quando Draco o imobilizou com uma chave de braço. Belatriz se virou novamente e voltou-se para uma Hermione semi-inconsciente que se debatia contra ela.

Gina olhou para Harry que tentava se soltar de Draco e então para Belatriz que agora tapava a respiração de Hermione com o lenço. Deu um passo em frente, mas Luna a barrou.

- Ela realmente sabe o que está fazendo.- disse a última enquanto Hermione tombava inconsciente na cama.

Draco, agora com as marcas da mão de Harry no próprio pescoço, soltou o garoto que caiu assentado no chão, arfando.

- O que você fez com ela?- ele perguntou.

- Acha que a sua amiga deixaria que eu cuidasse dela?- indagou Belatriz enquanto se levantava e dava as costas ao grupo.- Ela só dormirá por mais algumas horas.

Harry fitou a nuca da comensal demoradamente. Em seguida ele se levantou e deixou a casa. Gina fez que ia atrás, mas Luna novamente a segurou.

- Fique aqui, de olho aberto.- disse a garota loura.

- Não foi você quem disse que Draco não colocaria Hermione em riscos?- sussurrou Gina.

- Antes prevenir que remediar.- completou a garota antes de deixar a casa e ir atrás de Harry.

O céu já estava firme e dava ao verde da floresta certo brilho em especial. Luna olhou à volta e foi encontrar o vulto de Harry no alto de uma árvore. Caminhou até o pé da mesma.

- Desça daí.- disse ela.

- Preciso me acalmar.- respondeu o garoto seriamente.- Mas essa maldita cicatriz não deixa.

Luna olhou em meio aos ramos da árvore buscando os olhos de Harry, mas este olhava para cima.

- Pense em Hermione.- cantarolou Luna.

- Mais um motivo para não me acalmar.- disse Harry com certa secura.

- Ela ficará bem.- disse Luna.- Tenho certa noção de medicina bruxa, Lestrange sabe o que está fazendo.

- Quem garante que isso não é um plano para nos enganar?- perguntou Harry.- Quem garante que no fim tudo não dará errado?

- Ninguém garante.- disse Luna olhando para baixo.- E é por isso que vai dar certo.

Silêncio. Luna cantarolava baixo. Harry olhou para a garota lá em baixo e sentiu uma fisgada ainda maior na cicatriz. Algo líquido caiu-lhe à testa, ou teria brotado dali?

Luna ouviu o som de algo gotejar sobre as folhas secas ao chão e olhou para cima.

- Que diabos está fazendo aí, Harry?- perguntou ela tentando foca-lo em meio aos ramos.

- Eu não sei.- disse o garoto sentindo agora algo escorrendo fluentemente de sua testa.

Luna se agachou e passou um dedo sobre o líquido grosso que respingava as folhas e ergueu-o diante dos olhos. Não era um líquido qualquer. Tinha uma coloração forte, grave e letal. Era algo como... como sangue.

- Desça, agora, Harry!- murmurou ela em tom grave e sereno.- E traga-me um motivo de real preocupação.




***Continue***

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