Sobre os Bons e os Maus



Hermione se deitada em um galho largo de uma enorme árvore. Estava bem mais nova, ao menos uns seis anos.

- Não se preocupe, Mione.- disse uma voz acima dela.- Logo a nossa casa estará pronta.

Olhou pra cima. Peter, seu primo cortava um pedaço de corda que serviria para uma escada até a casa na árvore.

- Não quero que seja a nossa casa.- disse Hermione.- Não penso em me casar. Quero estudar até a morte.

- Não pensa em ter filhos?- perguntou Peter antes de segurar seu afiado canivete entre os dentes.

- Talvez.

- Peter, cuidado com esse canivete!- Era seu pai.

Hermione olhou pra cima, o primo sorriu, ainda com o canivete na boca. Se o canivete caísse poderia machuca-la. Se ele caísse. Então ela fixou os olhos na pequena arma de cabo vermelho e como uma bala este começou a cair.




****




Hermione ia ficando cada vez mais pálida, a respiração alta e ruidosa, Harry segurava uma de suas mãos, angustiado. Gina tentava não olhar a amiga, aquela visão lhe dava calafrios. Andaram por bastante tempo. Harry tinha a impressão que Belatriz estava dando voltas para confundi-los e eliminar qualquer possibilidade de conseguirem voltar até a cabana com um grupo de Aurores.

A certo ponto a comensal parou como se acabasse de ter uma espécie de pressentimento. Deu meia volta e foi até a maca onde pôs a mão na testa de Hermione como se verificasse a temperatura, estava fervendo.

- Vamos parar.- informou ela.- Vão procurar água, é melhor tentar baixar a temperatura da sangue-ruim.

Harry encarou Belatriz muito desconfiado.

- Vão vocês três.- disse Gina.- Eu e Luna ficamos aqui, por segurança.

Draco e Zambini se entreolharam enquanto Harry beijava a testa da namorada e fazia sinal para que seguissem juntos. Alguns minutos de silêncio se passaram desde que os três sumiram por entre as árvores. Belatriz se encostou a uma grande árvore e continuou olhando Hermione. Luna se distraía com as próprias unhas e Gina vigiava Belatriz.

Os olhos da Comensal eram obsessivos, como os de um lobo que admira a presa que lhe servirá de banquete. Enquanto isso os minutos iam se passando arrastadamente. Havia uma umidade sufocante no ar. Gina desabotoou o primeiro botão da gola das vestes quando viu os olhos de Belatris brilharem ainda mais.

Luna pareceu esquecer as unhas e foi assistir a comensal sacar um punhal de algum lugar das vestes e se encaminhar a Hermione. Exatamente no mesmo minuto que Gina, ela sacou a varinha pronta para lançar o primeiro feitiço que lhe viesse à cabeça, mas quando deu por si estava sendo lançada pelo ar.

Belatriz juntou um pedaço das vestes de Hermione e abriu ali um buraco deixando aparecer uma fina cicatriz.

Caída embolada à Gina, em meio a terra, folhas secas e raízes, Luna tratou de se erguer para ver o que esperava ser o olhar assassino de Belatriz antes do segundo final, mas que era algo como deslumbramento. Ela e Gina se entreolharam sem entender. Gina foi tateando à esquerda a fim de apanhar sua varinha, mas Belatriz guardou o punhal e olhou pra elas gargalhando.

Ouviu-se então o som de cascos e com um estalo Belatriz Lestrange, a Comensal, simplesmente desapareceu.

Gina finalmente alcançou sua varinha e se ergueu indo correr até a maca com Hermione. Luna fez o mesmo, porém calmamente. Os cascos se aproximavam. As duas então viram o rasgo nas vestes de Hermione e a cicatriz.

- Será que ela a matou?- indagou Gina tomando o pulso de Hermione.

- Não.- disse Luna calmamente.- A marca já estava aí.

- Porque ela ficou tão feliz ao ver isso?- perguntou Gina.

- Eu não sei.- disse Luna quando os cascos de repente cessaram.- Mas parece que nos encontraram.

Estavam cercadas de Centauros aparentemente furiosos e prontos para atacar. Mas o que parecia o chefe deles tomou a frente e gritou para os demais.

- Achamos os que faltavam.




****




- Precisa de um doador!

- Conseguimos uma voluntária.

As vozes eram desconhecidas.

- Aquela senhora estranha da recepção?

- Foi a única compatível!

Ainda sentia a agulha picando-lhe pulso.

- Seqüelas? Coitadinha, tão nova.

- Obrigada, senhora...?

- O pessoal do trabalho me chama de Drô.

- O que faz da vida, Drô?

- Pesquisa científica.

- Temos uma filha um pouco mais velha que você, Srta. Granger. Talvez um dia vocês se conheçam.

- Até breve!

Quinze dias depois uma estranha carta vinda de uma escola sabe-se lá aonde chegou Às mãos da família Granger.




****




- Os pais de Hermione estiveram aqui, não sei porque.- disse Tonks.

Gina e Harry olharam para ela incrédulos.

- Não! Não foi por isso que foram chamados.- explicou a bruxa.- Coisas de mamãe, o setor dela no departamento dela foi reaberto... Sua mãe também está aqui, Gina, Gui está tentando convence-la de que a Ordem precisa dela...

- Gina!- disse a Sra. Weasley atravessando o gramado até a filha e quase a sufocando em um apertado abraço.

Logo depois surgiram a Profª McGonagall e Tonks.

- Por favor, Minerva.- disse a Sra. Weasley.- Deixe-me levar a minha Gina pra casa.

- Desculpe Molly.- disse Minerva muito séria a ponto de Harry sentir que acabara de fazer algo extremamente fora dos regulamentos e que seria expulso.- Mas ninguém sai e ninguém entra até segunda ordem.

- Andem!- disse Tonks em igual seriedade.- Todos para a enfermaria! Você não, Molly, precisamos de um tempo a sós com seus garotos.

O grupo seguiu até a enfermaria. Madame Pronfey parecia em Pânico.

- Fogo inominável!- repetia ela.- Aonde vamos parar?

E após receber a ordem de acordar Hermione o mais rápido possível o humor dela só fez piorar.

- Ela sofreu uma queimadura com fogo inominável!- disse Madame Pronfey.- Não deve acordar tão cedo!

Mas pelo contrário, dez minutos depois ela acordou. Harry quis correr até a namorada e abraça-la, mas o ameaçador olhar que Minerva lançou a ele o fez desistir.

- Onde eu estou?- indagou Hermione ao se sentar e puxar as cobertas para discretamente encobrir um rasgo nas vestes.

- De onde vocês não deveriam ter saído.- disse Minerva severamente.

- Eu não acredito que vocês começaram um discurso de que tudo teria acabado melhor se não tivéssemos nos metido!- disparou Harry de repente.

- Você está certo, Harry.- disse Tonks.- Talvez sem vocês ainda estaríamos sob a ameaça de Você- Sabe- quem agora. Mas as conseqüências da excursão à Casa de Lúcio Malfoy vão muito além do que possam imaginar.

- Achava que a única coisa que importaria quando chegássemos é que tudo acabou.- disse Blás com a voz rouca.

- Tudo acabou de começar, Sr. Zambini.- disse Minerva.- Virão inquéritos: Como Hogwarts deixa escapar um grupo de seis adolescentes? Como o departamento de Mistérios deixou escapar amostras do fogo inominável?

- A que nível a nomeclatura e a legilimência chegaram?- continuou Tonks.- Vão haver congressos, todos vão querer ter você, Hermione. Por onde anda Belatriz Lestrange? O que será de Hogwarts sem Dumbledore?

- Não somos culpados por tudo isso!- despejou Hermione.

- Não, não são culpados.- disse Minerva.- Mas são parte fundamental do contexto de tudo isso. As aulas estão chegando ao fim, não haverão testes por conta de toda essa confusão. Mas quero todos aqui, debaixo das minhas asas! Quero todos seguros e ai daquele que ousar enganar a minha guarda de Aurores e se meter pelo mundo!

O final do discurso soou tão ameaçador que todos se calaram.

- E você, garoto!- prosseguiu Minerva virando-se para Draco.- Trate de ficar bem debaixo dos meus olhos, ou pode acabar se encrencando ainda mais nessa história toda.

Draco gelou. Tinha que sobrar pra ele. Sempre acabava sobrando pra ele. Tinha sido assim com seu pai, e não poderia ser diferente agora, sem ele.

- O que quer dizer com isso?- perguntou Gina fitando a professora.

- O Sr. Malfoy fará dezessete em breve, e como atual representante legal dos Malfoy, e também como manipulador do grupo, terá que responder perante à Corte Suprema dos Bruxos por seus atos.

Pela segunda vez Draco gelou e fez uma coisa que nunca tinha feito antes, engoliu em seco. Sentindo os olhos de Harry sob ele, fitou o chão, esperando o que fosse talvez uma intervenção divina. E ela veio muito antes do que ele podia esperar.

- Não é justo que Draco responda por atos de um grupo...- começou Hermione se assentando bruscamente em sue leito.

- Isso não foi uma decisão minha.- interrompeu Minerva fazendo uma cara de pouco caso que em outra situação teria deprimido Hermione por um mês.- Os Aurores quiseram assim.- Harry abriu a boca para contestar, sua cicatriz doeu um pouco.- Não adianta argumentar, Sr. Potter, todos nós sabemos que não há nada mais justo do que o julgamento dos Aurores.

- De tempos em tempos aqueles que se julgam justos têm destruído reinos...- começou Harry temendo se arrepender pelo que estava dizendo.- E aqueles que admitem ser maus, têm salvo esses mesmos reinos.

Todos se calaram e fitaram Harry.

- O que quer dizer com isso, Sr. Potter?- indagou Minerva atônita.

- Que muitos que visavam o bem fracassaram em seu intuito e acabaram pior que os maus.- disse Harry. E com a voz mais fraca:- Como Dumbledore.

Minerva muito provavelmente ficou verde e depois azul. Às vezes quando se é grande e culto, ou inteligente; passa-se a subestimar os mais jovens, aos ditos menos inteligentes ou menos cultos. Talvez isso tenha ocorrido ali.

Talvez a discussão tivesse se prolongado um pouco mais. Mas Hermione de repente empalideceu e desmaiou, o que sobressaltou a todos. Madame Pronfey veio correndo e reclamou do número de pessoas que estavam reunidas em torno do leito da garota. Mandou-os sair.

Saíram. Minerva mandou todos aos dormitórios, por último chamou Draco.

- Digam o que quiserem! O Sr. continua sob vigilância.- disse ela.

Horas depois, sem conseguir dormir e rolando de um lado para o outro, Draco tentava compreender o porque daquela repressão repentina. Esperava ser idolatrado em seu retorno, tão ou mais que Harry, mas pelo contrário, fora quase esculachado e se tudo continuasse dando errado teria seu futuro comprometido, poderia talvez ir para Azkaban, dividir uma cela com o próprio pai.

A única razão possível, porém, era o sangue dos Black que lhe corria pelas veias. Por anos o sangue dos Malfoy fora a porta para a impotência, para o máximo de poder que se pode ter, mas agora, Belatriz Black Lestrange ascendera e se tornara a bruxa mais procurada da Europa. Agora a descendência que ele possuía valeria mais do que todo o ouro dos Duendes.

Alguns dias depois o Profeta Diário publicaria uma matéria com o tema Como eles chegaram lá. Ele sabia que seria taxado como o espião e que nesse caso os dois lados das moedas seria ruins.

Por último lembrava-se das palavras de Harry, nunca esperara uma defesa vinda do mesmo. Foi talvez uma daquelas coisas inexplicáveis da vida. E definitivamente, ele não podia prever, mas nunca mais foi o mesmo.

E quando se acha que está chegando à alguma conclusão as soluções lhe escapam por entre os dedos, e aquele que antes perdera o sono inexplicavelmente adormece. E tão inexplicavelmente assim a noite encontra seu fim. E o vento vai levando tudo embora.*³ E os sonhos aliviam as dores do coração. Infelizes são os que não conseguem dormir depois de dias cheios como os últimos.

Infeliz daquela que, com uma perna imobilizada, mói e remói pensamentos. Lembrava-se da primeira vez que vira Tonks e a achara estranhamente familiar. Perdida em um beco sem saída ela distraidamente sente uma fina cicatriz junta ao ventre, causada, cerca de seis anos antes, por um acidente durante uma brincadeira de criança com seu primo Peter.

Quando ela se apaixonou, ela simplesmente pensou que tudo seria perfeito. Que um dia ela seria feliz para sempre. Mas chega um momento em que se perde a inocência, que o mágico vira apenas o belo. E que o passado retorna de longe, eliminando toda a alegria presente.




****




- Meu sangue seria compatível com qualquer outro. Sou o que nós, bruxos, chamamos de metamorfa.- explicava Andrômeda Tonks ao casal estupefato assentado timidamente e sua excêntrica sala de estar.- Quando os vi chegando no hospital imediatamente eu soube quem a pequena Senhorita Granger seria daí a alguns anos.

- E o que, exatamente, nossa filha seria?- indagou, temeroso, o Sr. Granger.

- Algo como a evolução de uma espécie.- despejou a Sra. Tonks.

O Sr. Granger arregalou levemente os olhos. A esposa continuava estupefata.

- Algo como o que vocês, trouxas, chamam de ‘coisa do futuro’.- tentou amenizar Andrômeda.- Não é tão complicado assim. Eu mesma possuo o dom, assim como minha filha, Severo Snape, professor de poções; O Lorde das Trevas; Alvo Dumbledore, Minha prima, Lestrange... Não está ajudando não é mesmo?

A Sra. Granger concordou com a cabeça.

- O que importa é que sua filha será estudada.- prosseguiu Andrômeda.- Não se preocupem, não a colocaremos em enormes tubos ou como naqueles filmes de ‘facção’ Científica.- soltou uma risadinha abafada.- Meu marido adora esses filmes, eu particularmente os acho extremamente “bizarros”.

Silêncio, a cada minuto o Sr. e a Sra. Granger pareciam mais assustados.

- Ah! Vamos lá, isso é algo honroso, ela provavelmente fará parte de vários livros futuros... e nós não vamos desmonta-las com ‘Chaves de fita’ ou coisa assim.




***Continua***




Nota da autora: Talvez esta seja a maior nota da minha carreira como escritora. (Eu não me importo de pensarem: Grandes coisas!) Mas vamos lá: Primeiramente peço desculpas pela demasiada demora por capítulos. Não vou entrar em detalhes, mas estive muito tempo sem computador e sem internet por motivos de problemas pessoais. Segundo vamos às “bibliografias”:

*¹Adoro séries cruéis e protagonistas maus! Achei essa frase no volume 17 de Blade, a lâmina do imortal (Hiroaki Samura). Pra ser exata foi na página 105 em dois balões de fala da Hisoka.

*²Se alguém acha que já viu esta frase em algum lugar provavelmente este alguém andou assistindo à Jack&Bob... Sei lá, tava vendo o seriado uns dias atrás e essa frase me tocou, daí tomei-a emprestada e pus aqui.

*³ Isso é Legião Urbana, não lembro o nome da música (Acho que é Angra dos Reis ou algo assim), mas é Lgião. =p

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