No Corpo da Fênix



O trio seguiu até a sala de Tonks. Entraram. Belatriz se permitiu assentar enquanto observava, sorrindo, seu pôster na parede.

- Quer que eu autografe?- perguntou ela.

Tonks a ignorou.

- Onde estão os garotos?- perguntou.

- Garotos?

- É!- disse Tonks.- Você conseguiu manter Rony desaparecido por meses! Porque não manteria outros também?

- Não sei do que está falando.- disse Belatriz calmamente enquanto cruzava os braços.

Tonks a fitou por um momento. Talvez ela não soubesse que seis alunos haviam deixado Hogwarts às escondidas na última sexta feira. Preferiu calar-se.

Snape observava as duas, encostado junto à porta.

- Nunca pensei que você viria a nós.- murmurou ele.

Belatriz sorriu no momento em que Minerva entrou na sala.

- Alvo pediu que a levássemos até a sala dele.- disse ela.




****




Harry, Draco e Hermione encontravam-se espremidos a um canto, encobertos pela capa da invisibilidade. Passou-se meia hora quando um grupo de homens imundos veio marchando na direção oposta. À frente vinha o que Draco enfeitiçara. Eles passaram agitados e nem notaram a presença deles ali.

Draco se precipitou para fora da capa e começou a apagar os archotes próximos. Hermione e Harry não se mexeram.

- Pra que está fazendo isso?- perguntou Harry.

Draco olhou pra trás e não viu o outro.

- Questão de segurança.- disse ele.- Papai sempre ordena que alguém apague os archotes quando os portões estão bem trancados por fora. É uma forma de confundir seus homens.

Hermione ia perguntar quem eram os homens quando ouviu-se um urrado. Draco se virou pra trás rapidamente, apagou o último archote próximo e se jogou dentro de uma das celas.

- Saiam do caminho.- disse ele.

Hermione e Harry se levantaram sem deixar a capa escorregar e se espremeram pela parede até uma das celas. Segundos depois um novo homem surgiu trazendo uma corrente e atrás dele, preso à mesma vinha um enorme Trasgo que andava curvado para não bater a cabecinha no teto.

Os dois passaram enquanto Harry lutava com a esfera verde que insistia em pular pra fora escorregando por seus dedos.

- Accio!- murmurou Hermione.- Peguei!- completou, mas isso foi um erro, no movimento de apanhar sua esfera a varinha caiu com um baque no chão.

O trasgo parou e virou seus pequenos olhinhos para trás. Hermione viu na outra sela os olhos de Draco brilhando. Concentrou-se neles.

“Feche os olhos e prenda a respiração.”

O homem deu meia volta e deixou que o trasgo farejasse à beira das celas. Ele passou pela de Draco e então se virou para de Hermione e Harry. Harry, depois de arredar para o canto, prendeu a respiração e Hermione apertou seu braço como se isso fosse afastar o trasgo. O fogo! Pensou Hermione enquanto buscava os olhos de Harry.

“Fogo nele.”

Harry fez um sinal negativo com os olhos e indicou algo no chão. Era uma segunda varinha. Hermione sentiu seu coração disparar, o trasgo agora enfiava sua pequena cabeça pela abertura da cela.

“Draco, faça alguma coisa!”

Quando a cabeça do trasgo estava a menos de um metro dos dois ouviu-se um murmúrio, o som de algo batendo no chão e então um urro do trasgo que se erguia violentamente.

Hermione deixou a capa e apanhou sua varinha no chão.

- Estupefaça!- gritou ela. O trasgo tombou de lado, mas não pelo feitiço.

Quando ele atingiu o chão com um estrondo Hermione pode ver a adaga ensangüentada na mão de Draco.

- Vamos!- disse ele enquanto saltava o animal.

Harry embolou a capa debaixo do braço enquanto apanhava sua varinha.

- Isso não podia ter acontecido!- disse Draco aparentemente nervoso.- Eu não sabia que eles estavam usando trasgos aqui em baixo!

- Você sequer nos avisou que havia trasgos.- disse Harry enquanto Draco ia apagando os Archotes restantes.

- Quando algum homem passar por aqui e encontrar os dois caídos vão perceber a invasão.- disse Draco.

- Andemos depressa, então.- disse Hermione.

- Seguirei com vocês até a saída do calabouço, apenas.- disse Draco.

- E depois?- perguntou Hermione.

- Vou cuidar desses malditos sangue- ruins que papai mantém aqui em baixo.- disse Draco.

- São todos trouxas?- perguntou Hermione.

- Sim.- disse Draco.- Escravizados, na maioria, e com as mentes alteradas.

Seguiu-se um longo silêncio no qual eles apenas caminharam.

- Tenho uma dúvida.- disse Harry.- Como atiçaremos este fogo?

- Você pode quebrar a esfera se tiver uma força sobre-humana.- disse Hermione.- Ou pode simplesmente dizer Incêndio apontando para a mesma.

- O fogo se alastra sozinho?- perguntou Harry.

- Você pode controla-lo usando sua varinha e tomando muito cuidado.- disse ela.- Mas chega de perguntas, vamos nos apressar.

Eles seguiram por mais um longo tempo em silêncio.

- Essa coisa toda.- disse Draco.

- O que tem?- perguntou Hermione.

- Eu estou me sentindo um trouxa idiota queimando bruxos no século XIV.- riu Draco nervoso.

Harry se virou impaciente para ele, mas foi Hermione quem falou primeiro.

- Se você parar de dizer bobagens irá notar que na realidade você é um bruxo queimando bruxos no século XXI.- disse ela.- Mas não se preocupe, você vai entrar pra história da mesma maneira.

- E quando tiver seus netos poderá dizer: Eu era um bruxo talentoso em Artes das Trevas que ajudou Harry Potter a matar meus iguais.

- Cala a boca, Harry!- disseram Hermione e Draco em uníssimo.

Harry encarou Hermione, teria feito o mesmo com Draco se não fosse as vozes que eles tinham acabado de ouvir.

Draco olhou à volta, em um canto havia um vão onde casualmente se acendia uma fogueira. Ele indicou a mesma e os três foram se encolher ali, encobrindo-se com a capa de Harry.

Hermione olhou para Harry, à sua direita. O garoto sorriu tentando parecer calmo. Ela então olhou para Draco, à sua esquerda. Este olhava em frente, sério. Então uma pergunta lhe surgiu à cabeça, uma pergunta que a muito ela quisera afastar. E se Draco tiver mudado de idéia e preparado uma emboscada? Quem estaria se aproximando? Num impulso Hermione deixou seu corpo e começou a ver além. Era um grupo de cinco homens que vinham calmamente enquanto comiam algo que parecia um enorme frango assado.

“Talvez eu devesse mudar de planos. Voltar atrás e entrega-los a papai.”

Hermione olhou para o lado, Draco continuava imóvel.

“Posso render Potter com a adaga. Mas e tia Belatriz? Ela já está fazendo a parte dela. Posso complica-la se o fizer...”

Hermione olhou para o outro lado.

“Oh! Mione, o que fazemos aqui? Daria tudo para estar de novo naquele acampamento a seu lado.”

Quando o grupo dos homens estava realmente próximo Hermione voltou para seu corpo e olhou para Draco angustiada. Como saber o que ele decidiria. Então teve uma idéia.

- Tudo está estranho hoje.- dizia um dos homens.

Hermione olhou para Draco, continuava imóvel. Uma de suas mãos escorregou para próximo da cintura do garoto, como se Hermione estivesse apoiando na parede por ali.

- Não apertem.- sussurrou Draco.

- Os archotes estão metade apagados e nos mandaram ir cobrir um portão que não nos convém.- disse o mesmo homem logo que passaram pelo trio.

Hermione mexeu mais uma vez e finalmente pôde sentir a adaga.

- Vamos nos levantar sob a capa.- murmurou ela.

Draco consentiu com a cabeça e quando os três ficaram de pé ele nem notou que Hermione acabara de sacar a adaga.

Os três seguiram lentamente, sob a capa, por mais de uma hora, até que finalmente alcançaram uma escada.

- É aqui.- disse Draco se livrando da capa.- Haverá um alçapão no fim da escada e então um corredor. Sigam por ele e usem uma passagem atrás da tapeçaria.

- E onde estaremos, então?- perguntou Harry.

- No salão negro.- disse Draco sorrindo.- Frente a frente com o Lorde das Trevas.

Harry engoliu em seco e subiu no primeiro degrau da escada.

- Boa sorte.- disse Draco com um sorriso amarelo.- Vou cuidar para que consigamos sair em segurança.

Harry começou a subir as escadas com a varinha em punho, na outra mão a esfera. Hermione foi atrás e pode ter com os olhos cinzas de Draco antes de desaparecer de vista.

Ele mudara de idéia, tudo não passara de um momento de desespero. Hermione tirou a adaga de dentro do bolso das vestes e a olhou por um momento. Talvez ele precise dela, mas agora... agora era tarde de mais.




****




- Belatriz Black Lestrange!- sorriu Dumbledore, de pé, ao vê-la entrar.- Que, curiosos, bons ventos a trazem até mim?

Belatriz olhou-o e sorriu. Parte de sua mente concentrada em si mesma, a outra passeava pela sala. Pelos quadros nas paredes e todas as coisas mais analisando atentamente todo o seu campo de batalha.

- Porque não conversamos a sós?- perguntou ela.

Dumbledore nada disse. Ao lado da porta estava Minerva; à esquerda de Belatriz, Tonks e à direita Snape.

- Não vejo problema algum na permanência de pessoas de minha confiança aqui.- disse Dumbledore.

- Tudo bem.- disse Belatriz se assentando na cadeira defronte à mesa de Dumbledore.- E qual deles vai chamar o restante dos aurores?

- Para...?- perguntou Tonks.

- Creio que ao menos uma prisão honrada eu mereço!- disse ela.- Depois de todos os meus feitos!

Dumbledore, ainda com um sorriso calmo no rosto, virou-se para Minerva.

- Traga Moody, apenas.- disse ele.

Belatriz observou pelo canto dos olhos Minerva deixar a sala. Dumbledore se assentou e olhou-a por cima dos óculos de meia lua.

- E então, Belatriz.- disse ele.- O que mais desejas?

Belatriz encarou-o calmamente. Alvo Dumbledore podia ser o grande bruxo que fosse, mas hoje, nada perfuraria a sua mente.

- Você.- murmurou Belatriz.

Dumbledore riu e se levantou. Belatriz desviou os olhos para um planetário que havia a um canto. Pôde ainda ver Snape, de varinha em punho, atrás dela. Em uma fração de segundo ela girou, levando a cadeira junto dela. Com os olhos o planetário foi lançado no ar, atingindo Snape que deixou a varinha cair. No impulso ele agarrou Belatriz e deu nela uma chave de braço.

- Pensou que entraria na minha escola, com toda essa calma e tentaria algo contra mim, Belatriz?- perguntou Dumbledore. A varinha de Tonks agora estava apontada diretamente para o peito de Belatriz, que subia e descia enquanto ela emitia alguns grunhidos de garganta espremida.

Da forma que pôde ela contorceu o rosto, agora estranhamente corado, em um sorriso. Usava as mãos para tentar fazer Snape afrouxar a gravata, mas isso parecia não funcionar.

- Pois esperemos agora a chegada de mais um de meus aurores.- disse Dumbledore se assentando novamente em seu lugar.- E então você será levada para junto de seu marido.

- A...ô não!- murmurou ela.

- O que você disse?- perguntou o velho diretor sem sequer olha-la.

Belatriz sorriu novamente. Uma de suas mãos agora cravavam as unhas bem feitas no braço macilento de Snape, perfurando-o, mas ele parecia não sentir. Não demorou muito e ela conseguiu a ligação de que precisava.

Ouviu-se um “aaah” no momento em que Tonks sentiu a mão que segurava a varinha sendo chutada violentamente. Belatriz rolou pelo chão e apanhou a varinha de Snape.

- Coma!- ela murmurou e Tonks imediatamente caiu no chão, completamente inconsciente.

Belatriz ergueu os olhos e encontrou a varinha de Dumbledore calmamente apontada para sua cabeça. De certa forma ela já sabia que nunca venceria Alvo Dumbledore com feitiços.

- Era isso que queria, Belatriz?- perguntou ele.- Ficar a sós comigo?




****




Draco seguiu por um corredor estreito até a passagem que levava à Vila. Ao chegar lá ele ergueu o capuz negro e cuidou de se manter às sombras. Era uma vila de porte médio, sendo que no centro havia uma espécie de praça no meio da qual havia três gigantes conversando, calmamente. Draco seguiu pela rua mais próxima à muralha externa até o lugar por onde chegariam os outros três. Não demorou muito e eles apareceram.

- Draco, aconteceu alguma coisa?- perguntou Blás ao vê-lo.

- Há muito mais o que fazer do que eu imaginava.- disse o rapaz.- Andem! Não temos tempo a perder, temos que começar arrumando uma distração para aqueles gigantes.

Gina, que fora a última a sair do calabouço, ergueu os olhos e pôde ver as três criaturas um pouco longe dali. Draco olhou rapidamente à volta e parou os olhos cinzas numa pilha de feno a um canto.

- Accio!- murmurou.- Me ajudem, joguem tudo passagem adentro.

Blás e Luna o ajudaram. Gina permanecia paralisada temendo, profundamente, tirar os olhos daquelas criaturas.

- O que vai fazer?- perguntou Luna.

- Colocar fogo no calabouço.- disse ele.

- Onde estão Harry e Hermione?- perguntou Gina sem se virar para eles.

- Já estão seguros.- disse Draco olhando o relógio enquanto tirava do bolso a esfera.- A essa hora os homens já encontraram o trasgo caído e nos descobriram.

- Trasgo?- perguntou Luna.

- Eu explico depois.- disse Draco enquanto procurava a adaga, mas não encontrou mais que a capa de couro vazia. Então ele entendeu o que ocorrera.- Sangue ruim filha da...

Gina finalmente se virou e arregalou os olhos pra ele, que agora sacava a varinha.

- Incêndio!- murmurou o garoto louro. A esfera de vidro subiu alguns centímetros no ar e pareceu, agora, ser feita de fumaça.

Draco a atravessou com a varinha e quando tirou a mesma a bolinha despencou e bateu no chão com um estrondo agudo. Luna correu para apanha-la ao passo que Draco apontava a varinha para a escada do calabouço e se concentrava.

- Quando eu ordenar, empurrem o portão de pedra.- disse ele. Blás e Gina se posicionaram. Draco fechou os olhos quando um jato de fogo incrivelmente verde saiu da ponta de sua varinha. Eles ainda puderam sentir o calor do mesmo quando o portão de pedra foi fechado.

- E agora?- perguntou Luna com a esfera já firme entre as mãos.

- Cuidemos dos gigantes.- disse Draco passando as costas da mão na testa suada.




****




Hermione e Harry finalmente alcançaram o alto da escadaria. Ele segurou a alça para levantar o alçapão e olhou para Hermione.

- Se o Rony estivesse aqui ele nos perguntaria pela milésima vez se isso não pode ser uma emboscada.- riu Hermione nervosa, lembrando-se saudosamente do amigo.

- Me pergunto sobre onde pode estar Belatriz Lestrange a essa hora.- disse Harry.- Ainda não me conformei com acordo do Malfoy.

Por um momento Hermione se sentiu tentada a ir procurar a outra, mas acabou resistindo.

- Acho que devemos ir.- disse ela.

Harry consentiu com a cabeça e forçou o alçapão para cima. Em seguida ele terminou de subir as escadas e virou-se para ajudar Hermione. O alçapão foi fechado, tudo estava absolutamente escuro.

- Onde estamos?- murmurou Hermione com a varinha erguida.

- Não sei.- disse Harry enquanto desenrolava a capa da invisibilidade.- Mas é melhor prevenir.- completou antes de puxar Hermione pela cintura pra junto de si.

- Lumus!- murmurou ela e então Harry riu ao encontrar-se em um estreito corredor.

- Devemos seguir até uma tapeçaria.- disse ele soltando Hermione. Ela não se moveu.

Harry virou-se pronto para perguntar o que ela estava esperando, mas então encontrou os olhos da garota junto aos seus e foi se perder nos lábios dela se esquecendo, por um instante, do que estava fazendo ali.

- Vamos.- disse Hermione finalmente antes de seguir puxando Harry pela mão.

Eles seguiram calados por alguns minutos e então encontraram o fim do corredor e a tapeçaria. Hermione sentiu um frio na barriga. Harry uma dor na cicatriz. A garota se postou diante a tapeçaria e concentrou-se.

- Só há uma pessoa do outro lado.- murmurou ela.

- Pode não ser ele.- disse Harry.

- De qualquer maneira é melhor fechar a sua mente.- disse Hermione séria enquanto enrolava a capa de Harry.

Harry se concentrou por alguns segundos e então consentiu com a cabeça. Hermione levantou a tapeçaria e ele entrou.




****



- Eu devia ter desconfiado que você manteria a sua palavra.- disse Dumbledore.- Ser leal ao Lorde das Trevas até o final. Falando nisso, como vai o meu amigo Tom?

- Indiferente aos delírios de sua mais fiel serva.- disse Belatriz de rosto baixo.- Oh! Vovô dos Trouxas e Sangue- Ruins!- completou dando uma risada seca e insana.

- Quer duelar, Belatriz?- perguntou Dumbledore.- Quer um duelo comigo, foi a isso que veio, não?

Belatriz ergueu o rosto e sorriu.

- Acho que eu não seria tão tola.- disse ela.

- Pois lhe dou duas opções.- disse Dumbledore sem perder a calma.- Você pode esperar a chegada de meus aurores. Lembra-se de Alastor? Foi ele quem lhe capturou da última vez, você se lembra, Bela?

- E qual seria a minha segunda opção?- perguntou ela.

- Erga-se e faça o que veio fazer.- disse Dumbledore.- Duele comigo.

- Pensei que fosse o “Bom velhinho”.- caçoou Belatriz.

- Sou tão bom que estou lhe dando escolhas.- disse Dumbledore.

Belatriz se ergueu. Dumbledore deu um toque de leve em sua varinha e os móveis da sala foram todos para um canto. A Comensal recuou alguns passos e ergueu a varinha de Snape. Fawkes, até então quieta, levantou vôo e levou o corpo de Snape para longe dali. Um filete de sangue escorria do braço do professor de poções.




****




- Nunca pensei que viria até mim, Harry Potter!- murmurou aquele que metade do mundo mais temia.

Harry tentou encara-lo mas uma tonteira estranha tomou o seu corpo. Parecia haver algo no ar. Logo Hermione deu um passo em frente e ao sentir o cheiro do entorpecente no ar tratou de se cobrir com a capa e usa-la para tapar o nariz. Ela adentrou o salão e observou Lorde Voldemort fitando Harry, que parecia prestes a desmaiar, com um sorriso maléfico nos lábios finos.

Uma das mãos de Hermione seguravam a capa, a outra a adaga de Draco. Sua varinha estava presa ao lado da calça das vestes. Tentando fazer movimentos leves Hermione trocou-as de lugar. Pôde sentir o frio do metal da adaga tocando sua pele enquanto levantava a varinha e murmurava um feitiço.

Uma bolha de ar surgiu em torno do rosto de Harry, que já estava caído no chão. O garoto se mexeu e ao voltar a si começou a se erguer. Hermione já tinha uma bolha igual em torno de seu próprio rosto.

Lord Voldemort se ergueu, sacou a própria varinha e começou a olhar à volta procurando o autor do feitiço. Hermione se espremeu a um canto tentando não ser percebida.

- Finite Incantatem!- murmurou o bruxo. Harry sentiu a bolha se dissolver. Voldemort o fitava como uma onça fita sua presa minutos antes do ataque e aquilo fazia a cicatriz doer. Ouviu-se passos rápidos e em seguida dois bruxos surgiram à porta do salão.

Hermione observou Narcisa e Lúcio Malfoy se curvarem até o chão e então Lúcio começou a falar.

- Mestre.- disse ele parecendo afobado.- Não sei como, nem quando. Mas fomos invadidos. Há um incêndio no calabouço, metade de meus escravos trouxas já foram cremados!

Voldemort limitou-se a sorrir. Os olhos de Lúcio então recaíram sobre Harry e ele também sorriu no minuto seguinte seu sorriso se transformou em uma horrenda gargalhada.

- Quer que eu prepare a sala de tortura, mestre?- perguntou Narcisa, que era a única a não demonstrar cruel felicidade ao ver Harry ali. Hermione se perguntou se ela já sabia da presença de seu único filho ali.

- Prefiro me divertir a sós com ele.- sibilou Voldemort.

Harry queria agir, queria tacar logo o tal fogo em todos ali presentes. Mas fosse o que fosse, aquele estranho gás o havia afetado. Sentia-se vivo, porém imóvel. Por um momento ele pensou em abrir sua mente, talvez Hermione conseguisse domina-lo e fazer o que deveria ser feito. Mas se ele o fizesse se colocaria mais em risco do que podia.




****




Se Rony Weasley ainda respirasse teria dado tudo para assistir àquele duelo. Teria ficado excitadíssimo e perguntado a Hermione porque Legilimentes conseguem lançar feitiços sem nada dizer.

Dumbledore dava toques de leve em sua varinha, soltando jatos, em sua maioria prateados. Belatriz era obrigada a dançar pela sala para escapar deles enquanto fazia jorrar jatos vermelhos, verdes e roxos.

Dumbledore mandou um jato um pouco mais forte dessa vez. Belatriz rolou pela parede entre alguns móveis amontoados. Um segundo feitiço foi lançado. Se rolasse para o lado colidiria com a espada de Godric Gryffindor. Se ficasse ali cairia. Cair.

O feitiço de Dumbledore atingiu um quadro na parede e este explodiu. Belatriz havia se curvado pra frente e estava agora caída, imóvel, ao chão. Dumbledore se aproximou cautelosamente e a virou com as pontas do sapato de bico fino. A mulher tinha os olhos arregalados e parecia gélida e mole, mas não estava morta.

Com um toque de varinha Dumbledore a ergueu no ar e a fez assentar-se em uma cadeira. Quando voltasse a seu corpo teria perdido aquele duelo.

Ouviu-se um piado alto da fênix. Dumbledore se virou e observou o pássaro se contorcer no ar. Via-se obrigado a admitir que a Comensal tinha a mente boa para grandes duelos. A fênix finalmente parou e voou investindo contra o bruxo. Dumbledore tentou um feitiço, mas o pássaro era rápido demais. Desviou dela.

A espada de Godrico Gryffindor atravessou a sala até a mão do bruxo. A fênix recuou. Com a varinha em uma mão e a espada na outra Dumbledore investiu contra ela. Ambos giraram pela sala. A fênix recuava a cada girar de espada de Dumbledore, e entre o mesmo e um feitiço ela tentava ataca-lo.

Um feitiço finalmente atingiu o pássaro. Ela parou no ar e começou a se contorcer novamente. Sem piedade Dumbledore a atravessou com a espada e o pássaro foi cair sobre a mesa atrás da cadeira onde, ainda imóvel, o corpo de Belatriz estava.

Dumbledore firmou a varinha e atravessou a sala até ali. O pássaro se dissolveu e a espada repousou sobre cinzas. Seguiu-se um momento de silêncio. A expressão de Dumbledore, agora séria, era indecifrável. Ele se aproximou da Comensal e firmou um dos pés na barriga da mesma, firmando seu tronco na cadeira.

Um jato de luz rosada saiu da varinha de Dumbledore atingindo imediatamente a testa de Belatriz. A comensal começou a se contorcer como se tivesse tendo um ataque epilético.

Ouvia-se o som de Minerva voltando com Alastor lá em baixo, na entrada para a sala.

Dumbledore permitiu-se olhar para trás por um segundo, o que foi um erro. Belatriz parou de se contorcer e na velocidade de um raio sua mão alcançou o cabo da espada.

Dumbledore lançou um novo jato rosado e dessa vez Belatriz apenas revirou os olhos. Começou a forçar o braço a ser erguer com a espada. Dumbledore insistia mandando novos jatos rosados. Era visível a expressão de dor no rosto da comensal, mas apesar disso ela finalmente firmou a espada.

Com a mão desocupada Dumbledore firmou seus ombros para trás, impedindo-a de erguer o braço para qualquer ataque. A mão desocupada de Belatriz se abria e fechava tentando atrair a varinha de Snape caída ao chão.

Sua cabeça doía tanto que parecia que ia rachar em duas. Seu rosto, sempre pálido, agora estava tão vermelho quando se pode estar. A mão que segurava a espada estava muito trêmula apesar de firme. A outra fazia agora a varinha se erguer alguns centímetros do chão até que finalmente alcançou os dedos finos e longos da mulher.

O feitiço de Dumbledore de repente parou e ele até teria recomeçado-o caso não tivesse o estômago agora atravessado pela espada de Godrico Gryffindor. A escada de pedra parou. Ouviu-se passos que se aproximavam da porta da sala.

Minerva McGonagall adentrou o escritório desfigurado de Dumbledore seguida por Alastor Moody. A professora deixou uma das mãos caminharem até a boca onde ela abafou um gritinho agudo.

- A janela...- gemeu Alvo Dumbledore caído ao chão ensopado de sangue.

Moody correu até ela e pode ver o vulto negro de Belatriz Lestrange descendo por uma corda invisível.

- Finite Incantatem!- murmurou ele. A corda invisível se desfez e Belatriz caiu alguns metros no ar, antes de conseguir firmar outra.

Um gato listrado passou veloz pelo ombro de Moody e começou a descer saltando pelas janelas do castelo. Sobre a mesa do diretor de Hogwarts um pássaro muito feio começava a surgir por entre as cinzas.




***continua***

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