Chuva, Livretos e Resfriados



- Porque não se assentou conosco, lá na frente?- perguntou Rony a Hermione assim que eles se assentaram na mesa da Grifinória para o jantar.

- Você tem três chances para adivinhar.- disse Hermione.

- Brigou com o Harry de novo.- disse Rony.

- Não exatamente isso.- disse Hermione parecendo levemente angustiada.- Eu cansei, sabe.

- De quem?- perguntou Rony.- Dele?

- De tudo!- disse Hermione de forma aguda, mas com simplicidade.

- Não leve o Harry muito a sério hoje.- disse Rony.- Ele ficou meio impressionado depois da aula de Adivinhações.

- Não me diga que o Harry chegou ao ponto de acreditar em alguma previsão de morte que a charlatã da Sibila fez?!- disse Hermione incrédula.

- Não foi ela.- disse Rony enquanto servia batatas recheadas no seu prato e no de Hermione.- Foi uma tal de... Não me lembro nome. Uma especialista em quiromancia.

- O que ela disse?- perguntou Hermione desinteressadamente.

- Algo sobre amigos traidores.- disse Rony distraído.

Hermione, a princípio, deu ombros, mas então engasgou com a batata. "Transformou você em outra coisa." ... Amigos traidores! Como ele era capaz de desconfiar dela?! Perguntou-se incrédula antes de se levantar.

- Aonde você vai?- perguntou Rony.

- Matar o Harry com uma maldição imperdoável.- disse Hermione impaciente.- Ou simplesmente afoga-lo na primeira privada que eu encontrar, ainda não me decidi.

- Deixe-me traduzir: Você achou mais um motivo para brigar com o Harry e não pode deixar passar.- disse Rony, também impaciente.

- Talvez eu queira mesmo mata-lo.- disse Hermione antes de sair. Era lógico que aquilo era um exagero. Ela não faria mais do que acertar um tapa na cara do outro e dizer-lhe algumas verdades, mas onde ele estaria? Detenção. Não foi preciso sequer andar muito para encontra-lo. Assim que chegou ao topo da escada que levava ao corredor de DCAT ela o avistou.

- Hermione?- perguntou o garoto assim que a outra brecou, arfando, defronte a ele.

- Como você foi capaz?- perguntou ela quase chorando.

- Capaz...?- perguntou Harry sem entender.

- De desconfiar de mim.- disse ela.- Rony me contou sobre o que uma velha especialista em não sei o que lhe disse! Como você pôde, me diz!?

- Mione eu...

- O que está acontecendo aqui?- perguntou Tonks que tinha a cabeça para fora da porta entreaberta de sua sala mais a frente.

Nenhum dos dois respondeu.

- Já está atrasado, Harry.- informou ela.

Harry seguiu até a porta da sala após lançar um olhar aflito a Hermione. - Venha aqui você também, Mione.- disse a mulher de cabelos cor-de-rosa.

Hermione obedeceu.

- Filch o espera nas masmorras.- disse Tonks a Harry.- Pode ir.

- O que eu vou fazer nas masmorras?- perguntou Harry incrédulo.

- Limpar os candelabros.- disse Tonks calmamente impaciente.
Harry respirou aliviado, por um momento pensara que teria de aturar Snape durante a detenção. Em seguida ele se retirou.

Tonks o observou sair e em seguida tirou um pequeno livro de capa preta de uma das gavetas de sua escrivaninha e o estendeu para Hermione.

- Isso é para você.- disse Tonks.

Hermione apanhou o livro, confusa, e leu o título, O Manual do Legilimente, escrito em prateado.

- Porque está me dando isso?- perguntou ela.

- Foi o seu aniversário faz alguns dias não é mesmo?- perguntou Tonks.- Setembro.- completou sorrindo.

- Foi sim.- disse Hermione ainda sem entender.

- Pois então.- disse Tonks.- Presente de Aniversário. Faça bom uso.

Hermione olhou novamente para o livreto e então para Tonks, a última sorria. Sem querer seus olhos foram cair sobre o Mapa do Maroto na parede logo atrás da bruxa. Draco Malfoy estava em algum lugar próximo à cozinha.

- Era só isso?- perguntou Hermione desviando os olhos rapidamente.

- Sim.- disse Tonks.- Pode ir.

- Boa noite.- disse Hermione antes de deixar a sala.


****


- Olá.- disse Hermione timidamente.

Draco se virou e sorriu de forma bem mais amável do que costumava sorrir.

- Nunca pensei que você viria atrás de mim.- disse ele.

- Eu tinha que lhe agradecer.- disse Hermione séria.- O Harry estaria ainda mais encrencado se você tivesse dito que foi ele.

- Como você soube que foi ele?- perguntou Draco.

- Não é qualquer cara que tem coragem de sair lhe dando socos por aí.- disse Hermione

- Vamos dar uma volta?- convidou Draco.

- Ok.

Os dois deixaram o corredor que levava até a cozinha e seguiram para o saguão de entrada, de lá foram na direção do lago.

- Nunca me assentei por aqui.- disse Hermione ao se acomodar ao lado do outro na Sombra dos Sonserinos.

- Acho que toda vida, nós Sonserinos, monopolizamos este lugar.- disse Draco com certa simplicidade.

- Na realidade eu nunca tive vontade de me assentar aqui.- disse Hermione calmamente.

- Nunca me assentei aqui com uma garota antes.- disse Draco.
Hermione permaneceu séria e calada.

- Na realidade eu nunca tive vontade de me assentar aqui com uma garota antes.- completou Draco.

- Você deve dizer isso para todas.- disse Hermione dando um sorriso amarelo.

- Não!- disse Draco com veemência.- Sabe, você nem me conhece. Eu não sou esse tipo de cara.

- Não te conheço.- repetiu Hermione rindo ligeiramente impaciente.

- Eu falo sério. Você conhece apenas o Draco mala, o Draco que lhe odeia pelo simples fato de você ser a melhor amiga de Harry Potter, o garoto que eu cresci aprendendo a odiar.- disse ele.- Eu não sou um cara romântico. Eu não sou muito educado. Mas dizem que quando a gente gosta de alguém de verdade a gente muda, não é mesmo?

- Eu não sei.- disse Hermione de forma vazia, mas sincera.

- Nunca gostou de verdade de alguém?- perguntou Draco.

- Não é isso.- disse Hermione.- Nos últimos tempos as certezas têm fugido de mim.

- Porque não penetra a minha mente novamente?- perguntou Draco.

- Eu nunca penetrei a sua mente.- disse Hermione olhando o rosto de Draco iluminado pelo luar.- Eu não sei penetrar mentes.

- Como não?!- perguntou Draco.- O que você acha que fez na enfermaria hoje pela manhã?

- Eu não fiz nada.- disse Hermione francamente.- Apenas olhei para você.

Uma nuvem tampou o luar e o rosto de Draco ficou invisível na penumbra da noite.

- Você penetrou minha mente.- disse ele com veemência.- Eu sei quando alguém está passeando pela minha mente. Pode ter certeza que não foi a primeira vez e nem será a última.

- Mas eu não fiz nada!- disse Hermione.

- Eu vivo em um casarão com inúmeros poderosos bruxos das trevas. Eu tenho experiência na área.- disse Draco.- Você poderia ter nascido com o dom. Mas você nasceu trouxa.

- Eu realmente não li a sua mente, Draco!- disse Hermione.
Draco sorriu por dentro. Ela me chamou de Draco, pensou ele.

- A chance de um nascido trouxa ter o dom da Legilimência é uma em um milhão.- disse Draco.- Mas você o tem. Parece incrível, mas tem!

- Eu já disse que não tenho dom de coisa alguma.- disse Hermione se irritando.

- Que livro é esse?- perguntou Draco.

Hermione se lembrou que segurava o livreto que ganhara de Tonks. Draco o apanhou.

- Onde arrumou isso?- perguntou ele.

- Tonks me deu.- disse Hermione.

- Está vendo!- disse Draco.- Ela estava lá. Ela também deve ter notado. Você é mais poderosa do que pensa, Hermione Granger. É por isso que eu gosto de você.

Hermione sentiu um frio na barriga e uma vontade incontrolável de buscar os olhos do garoto. Não foi muito difícil. Os brilhantes olhos de Draco eram a única parte de seu corpo visível na escuridão.

Ouviu-se o ruído de Draco se aproximando, ainda mais, dela. Uma das mãos dele tocaram o rosto de Hermione. Logo ela sentiu a respiração dele perto da sua, mas o toque dos lábios foi precedido por um trovão.

- Era o que me faltava.- resmungou Draco mau-humorado.

- Parece que vai chover.- comentou Hermione inocentemente.

- Vamos voltar para o castelo.- disse Draco, pelo que pareceu, se levantando e estendendo a mão para Hermione.

- Ok.- disse a garota aceitando a ajuda para se levantar.

Eles não andaram nem dez metros quando a chuva despencou, mesmo assim eles continuaram a tentar vencer a grama, agora enlameada, em direção ao castelo.

Hermione escorregou uma, duas, e finalmente três vezes.

- Droga!- disse ela.- Fora da cama tarde da noite, fora do castelo, completamente molhada e ainda suja de lama. O que falta me acontecer?- perguntou enquanto tentava proteger o livreto.

- Acho melhor não entrarmos juntos.- disse Draco muito sério parando a uns trinta metros da porta do saguão de entrada.

Hermione concordou com a cabeça e tomou a dianteira quando a porta se arreganhou.


****


Harry venceu veloz todo o caminho até o saguão de entrada. Ia protegido pela capa da invisibilidade em direção à cabana de Hagrid. Já marcara o treino, já cumprira a detenção, precisava saber mais sobre Edwiges e não queria deixar o dia amanhecer.

Ele sabia que a chuva caía violentamente lá fora, mas não se importava. O que ele não esperava era encontra-la ali.

Ele abriu, com certa urgência, a porta do saguão de entrada e a viu. Vinha apressada. Encontrava-se completamente ensopada e suja de lama. As vestes estavam pregadas em seu corpo.


Hermione apertou os olhos tentando ver quem estava por ali. No choque, Harry quase deixou a capa de invisibilidade cair, em seguida agradeceu-se por tê-la segurado. Logo atrás de Hermione veio Malfoy.

- Quem está aí?- perguntou ele.

- Não sei.- disse Hermione olhando na direção de Harry. Ela sabia quem estava ali, Era Harry. Este, por sua vez, sabia que ela sabia que ele estava ali.

- Vamos entrar logo.- disse Malfoy.- Antes que alguém nos pegue aqui.
Hermione concordou com a cabeça e depois de lançar um prolongado olhar para o vazio onde Harry se encontrava ela entrou. Draco fechou a porta depois de olhar à volta a procura de alguém.

Harry não soube se chorou. Estava tão molhado por causa da chuva que se no meio da raiva que ele sentia - não só de Hermione, mas dele próprio também - lágrimas escapuliram ele não soube.

Depois de tropeçar diversas vezes no caminho ele alcançou a cabana de Hagrid, vazia. O gigante havia saído, talvez para ver Growp, talvez para ir à Hogsmead. Havia simplesmente saído.

- Droga!- ele gritou no tom mais alto que conseguiu e mesmo assim a tempestade impediu o som de se propagar.

Tinha agora duas opções: voltar ao salão comunal da Grifinória e enfrentar mais uma briga com Hermione, pois ele sabia que ela o esperaria, ou ficar por ali e adoecer no meio daquela chuva toda.

Se voltasse para o castelo seria apenas mais uma briga. Se ficasse ali adoeceria, arrumaria algo mais com o que se preocupar e ainda faria Hermione se sentir culpada.

A segunda opção era definitivamente a mais tentadora.


****


Rony se via caminhando imponentemente por um belíssimo jardim. Haviam muitos rostos desconhecidos ali.

Weasley é o nosso rei!

Todos olhavam-no admirados.

Rei! Weasley é o nosso rei!

Aquilo tudo era estranho. Onde estava Hermione? Onde estava Harry?

Onde estava Gina? Ele não via o rosto de nenhum dos três no meio da multidão.

Weasley é o nosso rei!

Ele finalmente chegou ao final do caminho e encontrou seus amigos, eles não pareciam felizes como o resto do povo.

Weasley é o nosso rei!

Gina estava assentada no chão. Parecia suja, parecia triste. Rony percebeu que ela chorava, sangue.

Weasley é o nosso rei!

No meio havia uma espécie de trono vazio. Rony percebeu que estava vazio esperando por ele. À esquerda desse trono havia dois outros tronos mas de importância, aparentemente, menor. Num deles havia um rapaz louro de olhos maliciosos, ao lado dele estava Hermione.

Weasley é o nosso rei!

Mas não era, definitivamente, a Hermione que costumava ser. Trajava uma espécie de veste fúnebre e tinha uma horrenda e vazia expressão de tristeza no rosto.

Weasley é o nosso rei!

Rony voltou os olhos para o trono do centro, só então percebeu que havia uma mulher de pé atrás dele. Era visivelmente mais velha que ele, mas isso não tirava a sua beleza.

Weasley é o nosso rei!

Era uma beleza quase cruel.

Weasley é o nosso rei!

Rony achou que a conhecia de algum lugar e não pode negar que sentia certa atração por ela. Ela sorria pra ele. Sorria de forma sedutora. Ele sorriu também, mas isso foi antes de seus olhos recaírem sobre algo mais que havia ali.

Weasley é o nosso rei!

Um caixão.

Weasley é o nosso rei!

Rony se aproximou e sentiu pânico ao ver quem se encontrava ali.

Weasley é o nosso rei!

Era Harry.

Weasley é o nosso...

- NÃO!

Rony abriu os olhos, se encontrava no dormitório Grifinoriano do sexto ano ensopado de suor. Um pesadelo. Fora tudo um pesadelo. Ele se levantou e bebeu em grandes goladas um copo de água, a frase Weasley é nosso rei! ainda martelava em seus ouvidos.

Ao devolver o copo no parapeito da janela, ao lado da jarra, Rony percebeu que chovia lá fora. Já deviam ser quase dia. A noite ia clareando.
Harry, Pensou Rony enquanto se dirigia até a cama do garoto. Será que ele estava bem? O cortinado estava fechado. Rony hesitou por um momento, acabou abrindo-o e encontrando a cama vazia.

Rony rapidamente calçou as pantufas e vestiu o roupão, para em seguida ganhar as escadas para o salão principal.


****


- Mione!

Hermione ergueu os olhos e viu Rony vir descendo as escadas.

- Você viu o Harry?- perguntou Rony.

- Sim.- disse Hermione voltando a olhar para o pequeno livro.

- Onde ele está?- perguntou Rony fitando-a.

- Em algum lugar nos terrenos da escola.- disse Hermione.- Provavelmente por debaixo da capa da invisibilidade e tomando chuva.

- Porque?- perguntou Rony erguendo as sobrancelhas.

- Pergunte a ele quando ele voltar.- disse Hermione com falsa calma.- Ceio que ele está fazendo birra.

- Hermione!- disse Rony.- O Harry está fora da cama, sozinho!

- Eu sei.

- Ele não pode andar por aí, durante a madrugada e sozinho!- disse Rony.

- Diga isso a ele quando ele voltar.- disse Hermione.

- Se você não vai fazer nada eu mesmo vou atrás dele.- disse Rony, mas nem Hermione disse nada nem Rony se moveu.

- Escute, Rony.- disse Hermione erguendo os olhos para ele, finalmente.- São quatro e meia da manhã. Segundo o regulamento, mesmo sendo monitores, só podemos estar fora da cama depois das cinco da manhã.

- Vou procurar Tonks e dizer que Harry corre perigo.- disse Rony.

- Para isso você terá que dizer que ele passou a noite fora.- disse Hermione baixando os olhos novamente.- Isso trará complicações para o Harry.

- E o que você quer que eu faça?- perguntou Rony.- Que fique aqui parado?

- Não.- disse Hermione.- Suba para seu dormitório e se troque, assim que derem cinco horas nós iremos atrás dele.

Rony olhou para Hermione intrigado. Ela já estava trajando as vestes de Hogwarts e tinhas os cabelos semi-úmidos.

- O que está esperando?- perguntou ela alguns minutos depois.
Rony, calado, subiu as escadas de volta para o dormitório.


****


- Potter?

Harry abriuu os olhos, mas não conseguiu identificar a pessoa que se aproximava, estava sem óculos. Encontrava-se em algum ponto dos terrenos de Hogwarts, deitado junto às raízes úmidas de uma árvore. Estava ensopado.

- Potter, o que está fazendo aqui?- perguntou novamente a pessoa, só então Harry reconheceu aquela voz, era a Profª. McGonagall.

Ele tentou dizer alguma coisa, mas no lugar disso saiu um espirro. Sentia-se estranho. Nunca havia ficado bêbado, mas não devia ser algo diferente daquilo, exceto pelo frio. Pessoas bêbadas não sentem frio.

Harry tentou, novamente, focar a professora McGonagall. Mas sem os óculos isso era impossível. Tudo escureceu.

Quando voltou a si Harry se viu deitado em um dos leitos da enfermaria. Já usava roupas secas. Dumbledore estava assentado ao pé de sua cama.

- O que aconteceu?- perguntou Harry.

- É exatamente o que nós gostaríamos de saber.- disse Dumbledore calmamente.

Harry colocou os óculos. Não se lembrava de muita coisa. Como explicaria porque estava fora da cama?

- Seus amigos procuraram a Professora Tonks esta manhã, pois não sabiam onde você estava.- disse Dumbledore.- Quando desceram para procura-lo encontraram a Professora McGonagall que vinha trazendo-no delirando de febre.

- Quantas horas são?- perguntou Harry.

- Duas da tarde.- informou Dumbledore ainda calmo.

- Perdi as aulas da manhã.- disse Harry levemente aflito.

- Não se preocupe, perderá as da tarde também.- disse Dumbledore sorrindo.- Só não está autorizado a perder a última aula, a de oclumência.

Harry consentiu com a cabeça.

- Acho que mereço uma explicação.- disse Dumbledore.- Não adianta muita coisa eu colocar mais de meia dúzia de aurores por aqui, para sua proteção, se você próprio não zela por ela.

- Eu...- começou Harry.- Estava pensando em Edwiges e resolvi ir procurar Hagrid para saber exatamente o que aconteceu, acabei encontrando a cabana vazia, então a chuva me pegou e eu não lembro de mais nada.

- Lupin se propôs a visitá-lo assim que a lua cheia passar.- disse Dumbledore.

Receber uma visita de Lupin seria mesmo bom, pensou Harry, ele tinha algumas perguntas a fazer.

- Você quer me perguntar alguma coisa, Harry?- perguntou Dumbledore.

Harry se perguntou por um minuto sobre aquilo. Queria perguntar alguma coisa a Dumbledore? Dumbledore responderia as suas reais dúvidas?

- Não senhor.- disse Harry.

- Ok então.- disse Dumbledore se levantando.- Achou que vou indo então... Até mais, Harry.

- Até.- disse o garoto observando-o deixar a enfermaria.


****


- Tonks...- chamou Hermione batendo na porta.

- Entre.- disse a bruxa. Hermione obedeceu.- O que deseja, Mione? Pensei que estivesse em aula.

- É que eu preciso falar com você.- disse ela.

- Sente-se.- pediu Tonks.

Hermione, novamente, obedeceu. Porém não disse nada.

- E então?- perguntou Tonks.- O que deseja?

Hermione a fitou por um instante, em seguida tirou de dentro da mochila o livreto preto e depositou-o sobre a mesa.

- Este é o livro que eu lhe dei.- disse Tonks confusa.

- É sobre ele que eu quero falar.- disse Hermione.

- Pois então diga.- disse Tonks.

- Você já leu esse livro, Tonks?- perguntou Hermione.

- Sim.- disse a professora calmamente.

- Isso é quase Magia Negra!- disse Hermione de forma extremamente aguda.

- A Legilimencia pode muitas vezes ser usada para o mal.- disse Tonks.- Mas é um dom raro, quem o tem deve desenvolve-lo.

- Você também acha que eu tenho esse dom, é isso?- perguntou Hermione.

- Sim.

- Eu não posso ter esse dom!- disse Hermione.

- Porque não?

- Tonks! Eu nasci trouxa!- disse Hermione se levantando e começando a andar de um lado para o outro.

- Eu sou uma mestiça!- retrucou Tonks.

- É muito diferente!- disse Hermione.- Você é uma mestiça, sim! Mas é uma Black. Você vem de uma das famílias bruxas mais poderosas existentes!

- Maldade não é poder, Mione.- disse Tonks.- Mas sim, no meu caso o dom veio da família da minha mãe.

- Não tem como eu ter esse dom.- disse Hermione.

- Harry é um ofidioglota e esse dom não veio nem da família trouxa de Lílian e nem da família bruxa de Tiago.- disse Tonks.

- Lord Voldemort passou o dom de falar com cobras para Harry ao tentar mata-lo!- disse Hermione.

- Ok. Mas nada disso anula o fato de você ser uma Legilimente.- disse Tonks dando um sorriso amarelo.

- Eu não sou uma Legilimente!- insistiu Hermione.

- Mas será.- disse Tonks.

- Eu não serei nada disso.- disse Hermione.- Por isso eu estou lhe devolvendo este livro.

- Você nem o leu todo para poder desistir.- disse Tonks.

- Não vê as minhas olheiras?- perguntou Hermione sarcasticamente.- Eu virei a noite lendo essa coisa aí.

- Achei que tivesse virado a noite com Draco Malfoy.- disse Tonks, Hermione virou-se rapidamente pra ela, sorria de forma estranha.

- Quem disse isso?

- Você está gripada, ele também.- disse Tonks abrindo ainda mais o sorriso.- Ambos parecem não ter dormido...

- Isso não significa nada.- disse Hermione.

- Ah, Mione!- disse Tonks.- Eu vi pelo mapa.

Hermione não discutiu, mas sentiu-se ruborizar violentamente.

- Agora deixe-me tentar adivinhar o restante.- disse Tonks.- Harry ia não sei aonde quando viu você e Draco Malfoy entrando de volta no castelo. Você viu que Harry estava por ali, mas fingiu não ver. Harry está morrendo de ciúmes de você e pra fazer birra resolveu ficar na chuva e adoecer, para faze-la sentir-se culpada pra ser exata. Por você saber que ele queria fazer isso não foi atrás dele ontem à noite.

- Foi mais ou menos isso mesmo.- disse Hermione se assentando novamente.

- Você sabia que Harry estava ali porque tem um poder de mente incrível. Você sabia porque ele iria ficar lá fora pois viu isso quando olhou pra ele na entrada do castelo.- disse Tonks.

- Eu não olhei pra ele na entrada do castelo.- disse Hermione antes de rir nervosamente.- Mesmo porque ele estava sob a capa da invisibilidade.

- Deixe de ser cabeça dura, Hermione.- disse Tonks.- Tenho aulas a dar dentro de alguns minutos e você tem que assistir as suas. Apanhe esse livro e só volte aqui quando já tiver prática de metade das coisas descritas aí.

- E porque eu faria isso?- perguntou Hermione cruzando os braços.

Tonks olhou de quadro em quadro por um instante, depois para o mapa do maroto na parede e finalmente se levantou e se curvou sobre a mesa de modo que seu rosto e o de Hermione ficaram no mesmo nível.

- Você sabe que todos nós corremos o risco de morrer a qualquer momento.- disse ela.- Você sabe que os comensais andam quietos de mais desde que minha tia Belatriz invadiu a escola. Você sabe que a qualquer momento eu posso ir para uma missão, atrás de algum comensal, e acabar me explodindo por lá.- Seu tom de voz ia baixando.- Você sabe que a única pessoa que permanecerá ao lado de Harry até o fim é você.

Tonks se assentou novamente.

- Ele precisa praticar oclumência até o fim.- disse finalmente.

- Você pode estar enganada, não pode?- perguntou Hermione.

- Todos nós podemos estar enganados.- disse Tonks.

- Pois é.- disse Hermione.- Você vai acabar descobrindo que estava enganada sobre mim.

- Hermione, desde que conversamos nessa sala a primeira vez, faz umas três semanas, eu descobri que você tinha esse dom.- disse Tonks.- Toda vez que nós nos olhávamos nos olhos eu a sentia tentando penetrar, furiosamente, a minha mente.

- Eu posso estar sendo possuída por algum bruxo das trevas.- disse Hermione revirando os olhos.

- Você e o Harry foram mesmo feitos um para o outro.- disse Tonks.- Mas se fizessem o concurso de qual é o mais cabeça dura não sei qual ganharia.

Hermione soltou um suspiro.

- Eu assisti você penetrando a mente de Draco Malfoy na enfermaria.- disse Tonks.

- Como assim, assistiu?- perguntou Hermione.

- Eu também estava por lá.- disse Tonks.- Ele havia sentido a minha presença e estava tentando me expulsar, foi quando você entrou e cuidou da minha expulsão.

- Você não estava mantendo o contato visual com ele.- disse Hermione.

- Há outras maneiras de penetrar a mente de uma pessoa.- disse Tonks.

Hermione a fitou por algum tempo. A sineta tocou. Ela acabou apanhando o livreto e rumando na direção da porta.

- Hermione, só mais uma coisa.

A garota se virou.

- Aprenda uma coisa desde já.- disse Tonks.- Nada é o que parece. Inclusive as pessoas. Você é um grande exemplo disso.

- O que quer dizer?

- Não menospreze as pessoas.- disse Tonks.- Sabe porque Belatriz Lestrange não a matou assim que a viu aí, nesta porta?

- Porque não sabia quem eu era?- perguntou Hermione.

- Exatamente.- disse Tonks.- É lógico que ela já ouviu falar em Hermione Granger, a poderosa sangue-ruim. Mas ela nunca ia imaginar que era aquela aluna com não mais de um metro e setenta, amassada por estar corroendo suas dúvidas até minutos antes, parada na porta.

- Ainda não entendo o que você quer dizer.- disse Hermione.

- Não pense que Harry é igual a Rony, pois ele não é.- disse Tonks.- Não pense que Draco Malfoy não é capaz de faze-la apaixonar-se por ele, pois ele é.

- Você esteve lendo a minha mente enquanto estivemos conversando?- perguntou Hermione.

- Não menospreze o meu dom de Legilimencia pois ele é muito maior do que você pode imaginar.

Hermione arregalou os olhos levemente.

- Volte quando já tiver alguma prática.- disse Tonks indicando o livreto com os olhos.

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