Encontros e desencontros.



Hermione desceu, o mais rapidamente que pôde, as escadas do saguão de entrada. Alguns alunos já circulavam por ali. Não demorou muito e ela alcançou a última estufa. Não foi preciso nem olhar duas vezes para as madeixas louras da pessoa que a esperava, ali, para saber de quem se tratava.

Enquanto isso, na torre da Grifinória, Harry descia as escadas do dormitório e dava de cara com Rony assentado onde antes estivera Hermione.

- Aonde foi a Mione?- perguntou Harry encabulado.

- Aonde foi?- perguntou Rony fitando-o. - Creio que ela ainda está dormindo.

- Não mesmo.- disse Harry.- Eu a deixei bem aí não faz nem vinte minutos.

- Eu cheguei faz quinze minutos e não havia Hermione alguma aqui.- disse Rony com veemência.

- Mas...

- Não se preocupe, Harry.- disse Rony se levantando e conduzindo o outro em direção ao buraco do retrato.- Ela deve estar cansada pelo longo dia de ontem, já já ela aparece.


****


- Espero que você tenha um bom motivo para ter me trago até aqui.- disse Hermione, muito séria, para Draco Malfoy que estava encostado na parede da estufa de braços cruzados.

- Ah! Tenho sim.- disse ele sorrindo, aquele não era o sorriso malicioso de sempre.

- Então diga logo, o Harry está me esperando.- disse Hermione.

- O Harry!- repetiu Malfoy.- Ele já lhe desculpou pela cena que presenciou?

- Cena?- perguntou Hermione ironicamente.- Não me lembro de cena alguma. E pelo que sei eu vim aqui, pois você tinha algo importante a me dizer.

- E tenho.- disse Draco.- Mais do que algo, inclusive.

Hermione ia abrir a boca para xingá-lo por estar enrolando demais, mas não foi preciso.

- Já ouviu falar em Legilimencia avançada?- perguntou Draco.

- E quem não ouviu?- perguntou Hermione impaciente.

- Os seus amiguinhos idiotas!- disse Draco desencostando da estufa.- Pois já pensou em um Legilimente tão poderoso e inteligente a ponto de pensar em um excelente plano de espionagem usando esse seu dom para possuir seres, mas não seres humanos, outros seres?

- Edwiges!- murmurou Hermione.

- Muito simples, não?- perguntou Draco.- Não foi preciso deslocar mais que dois comensais para isso.

- Então você quer dizer que Belatriz Lestrange também é Legilimente, que interceptou e possuiu Edwiges.- disse Hermione pensativa.

- Vejo que você faz jus ao cargo de sabe-tudo que tem.- disse Draco.- Depois foi só rumar para Hogsmead, o próprio Remo Lupin a encontrou e tornou a coisa ainda mais fácil.

- Então ela soube que Lupin estava de cama, por ser lua cheia.- disse Hermione.- E deve ter escutado a notícia de que Tonks acabara de sofrer um acidente.

- Creio que sim.- disse Draco.- E tem a outra coisa.

- Que outra coisa?- perguntou Hermione consultando o relógio. Harry já devia ter decido de seu dormitório e notado a sua ausência. Droga! Pensou, e se ele não entendesse porque ela havia saído sem avisa-lo?

- Que tenho para lhe falar.- disse Draco calmamente.

- Diga logo.- disse Hermione impaciente.

- Olhe para mim então.- disse Draco. Hermione o fez.- Sabe, acho que eu gosto de você.

Se não estivesse tão aflita, pensando em Harry, Hermione teria rido da cara de Malfoy.

- Não tenho tempo para brincadeiras, Malfoy.- ela limitou-se a dizer.

- Não estou brincando.- disse ele com firmeza.- Se não quer acreditar vá embora então...

- Até mais ver, Malfoy.- disse Hermione rapidamente antes de rumar para o castelo.

- Você vai ouvir isso novamente!- disse Draco mais alto vendo-a sumir.- Eu garanto!- completou para si mesmo.


****


- Ali está ela!- disse Rony ao ver Hermione entrar no salão principal.

- Bom dia!- disse ela tentando tomar fôlego por ter corrido até ali.- Desculpe-me por não ter lhe esperado, Harry, é que...

- Você tinha algo mais importante a fazer.- disse o garoto penosamente enquanto apanhava uma torrada e se levantava.- Pois agora eu também tenho.

- O que aconteceu?- perguntou Rony observando o outro rumar na direção da saída.

- Quando?- perguntou Hermione.

- Agora.- disse Rony.

- O meu bom relacionamento com o Harry acabou de ir por água abaixo novamente.- disse Hermione séria enquanto servia bacon em seu prato.

- Vocês não tinham brigado ontem à noite?- perguntou Rony.

- Fizemos as pazes esta manhã.- disse Hermione enquanto comia rapidamente.- Tudo estaria bem se eu não tivesse deixado o salão comunal às pressas uma hora atrás.

- Acho que vocês precisam decidir essa coisa entre vocês.- disse Rony de sobrancelha erguida observando Hermione comer.- O quadro amoroso dos dois é mais instável do que a cotação do galeão nos países subdesenvolvidos!

- Você anda lendo o caderno de economia do profeta diário, Rony?- perguntou Hermione surpresa pela comparação que o outro acabara de fazer.

- Não fuja do assunto.- disse Rony cujas orelhas estavam vermelhas.

- É impossível não fugir!- disse Hermione.- Descobri como Belatriz Lestrange conseguiu entrar no castelo.

- Foi por isso que você não esperou o Harry?- perguntou Rony.- Acho que ele não gostou muito.

- Foi por isso sim.- disse Hermione limpando a boca com um guardanapo e se levantando.- Vamos atrás dele e, então, eu conto tudo pra vocês.

- Bom dia, Gina.- disse Rony assim que alcançou a porta do salão principal e encontrou a garota por ali.- Você viu o Harry?

- Estava indo para a enfermaria agora a pouco.- disse Gina.

Hermione e Rony correram para lá e foram encontrar Harry conversando com Tonks, que estava em um leito tomando o conteúdo fumegante de uma xícara.

- Dia!- disse a mulher sorrindo para os dois.

- Está melhor?- perguntou Hermione.

- Estou sim!- disse Tonks.- Não há costela quebrada que Madame Pronfey não conserte!- completou piscando para Harry que parecia concentrado em não olhar para Hermione, esta por sua vez olhou à sua volta. Não havia mais ninguém por ali.

- Já descobriram como Belatriz Lestrange entrou no castelo?- perguntou ela se assentando no leito do lado.

- Talvez.- disse Tonks fitando-a com curiosidade.- Por que? Você sabe de alguma coisa, Hermione?

- Na realidade sim.- disse Hermione e em seguida ela narrou, bem diretamente, tudo o que Malfoy revelara.

- Não sei se ele é confiável.- disse Rony assim que ela terminou.

- Mas é realmente uma teoria provável.- disse Tonks.

- É só o Malfoy abanar o rabinho loiro dele pra você que você me larga e vai atrás dele.- disse Harry mau-humorado.

- Harry!- fez Tonks fitando-o severamente.

- Não diga tolices.- disse Hermione fechando a cara sem conseguir esconder a vermelhidão nas maçãs do rosto.

- Mas é a verdade.- disse Harry se levantando e se retirando da enfermaria.

- E ainda dizem que eu sou o pateta.- resmungou Rony.


****


Harry saiu veloz da enfermaria e nem precisou andar muito pra encontrar quem procurava.

Lá estava ele, com a pose pomposa de sempre. O mesmo andar. O mesmo jeito de pentear os cabelos. O mesmo distintivo muito lustroso em contraste com os sapatos caros igualmente lustrosos e vinha ladeado por aquele grato magro e pálido, Zambini.

- Seu idiota!- disse Harry antes de dar um certeiro soco no nariz de Draco Malfoy.

- O que eu fiz dessa vez?- perguntou Draco assim que se recompôs e segurou Zambini que já ia pra cima de Harry.

- Você quer trocar comigo?- perguntou Harry.- Quer ser Harry Potter é?

- Até parece que eu quero ser um traste como você!- riu Draco maliciosamente.

- É isso o que você está demonstrando.- disse Harry.- Até a minha namorada você está tentando roubar.

Draco riu mais ainda. Zambini, mesmo sem entender exatamente o que estava acontecendo, riu também.

- Isso tudo é ciúmes, Potter?

Harry cerrou os punhos novamente.

- Vamos Zambini.- disse Draco olhando-o de cima a baixo com desprezo.- Cuidado pra não perder a garota por sua idiotice, Potter.


****


- Acho que devemos ir andando.- disse Hermione.- temos aula de História da Magia dentro de alguns minutos.

- E você tinha que lembrar, não é mesmo?- disse Rony fingindo-se chateado enquanto se levantava.

- Até mais, Tonks.- disse Hermione antes de rumar na direção da porta da enfermaria, mal fizera isto e a mesma se abriu com violência dando passagem a dois sonserinos.

Madame Pronfey veio correndo até eles e pareceu impaciente ao ver o nariz inchado de Draco Malfoy.

- Andou brigando de novo, Sr. Malfoy, eu suponho.- disse a enfermeira.

Hermione fitou Draco e no segundo seguinte ela conseguiu pela primeira vez ver através dos olhos dele: tinha sido Harry.

- Eu...- começou Draco sem desviar os olhos. Hermione franziu a testa.- eu fui atingido por uma armadura enfeitiçada esta manhã.

- Vamos.- sussurrou Hermione para Rony e os dois deixaram o aposento.

- Uma armadura enfeitiçada.- repetiu a enfermeira em toom duidoso.

- Se fosse em outros tempos eu sugeriria uma autoria Weasley para o ocorrido.- disse Draco.- Mas nas circunstâncias atuais eu só sei que fui fatalmente atingido.


****


- Eu no lugar do Harry estaria mesmo com ciúmes.- disse Rony. Ele e Hermione estavam a caminho da aula de História da Magia.

- Não.- disse Hermione com veemência.- Você ficaria pior! Mas por favor não se meta, Ronald Weasley!

Rony deu ombros.

- Por mim que você e o Harry se matem!- disse ele.- Contando que ele não agarre a minha irmã novamente...

- Rony!- disse Hermione revirando os olhos em desprezo.- Você é um idiota!

O professor Beans ainda não havia chegado. Hermione viu Harry e como de costume se assentou ao lado dele, Rony fez o mesmo. Harry se levantou impaciente.

- Aonde você vai?- perguntou ela.

- Para qualquer lugar onde você não esteja.

Hermione o observou deixar a sala. Rony fez menção de segui-lo, mas o professor Beans surgiu por uma parede antes que ele se levantasse.


****


- Onde você costuma ir quando quer ficar sozinha?- perguntou Rony.

- Ao banheiro da Murta- Que- Geme.- disse Gina ruborizando assim que eles viraram a primeira esquina.- Mas não faz o tipo da Mione.

Harry riu nervoso, ao menos ali Hermione não o encontraria. Arrependeu-se em seguida pelo riso.

- Quem está aí?- perguntou uma voz esganiçada e em seguida o fantasma da Murta-que-Geme surgiu pela parede da cabine de vaso mais próxima.- Harry!

- Er... Olá Murta!- disse o garoto meio sem jeito.

- Pensei que nunca mais você viria me ver.- choramingou murta.- Já não agüentava mais assistir garotas deprimidas aí neste canto.

Harry olhou à volta e ruborizou. Estava agindo como uma garota deprimida.

- Er...Desculpe murta.- disse ele.- Mas na realidade eu não vim lhe ver... é que...

Harry observou a expressão de felicidade no rosto da fantasma se dissipar e antes que ele pudesse terminar a frase ela desapareceu tão rapidamente quanto veio.

Ok, ele pensou, ao menos não teria que aturar a fantasma chorando a própria morte.

Deveria estar na aula de História da magia. Tinha aula de adivinhação dentro de algumas horas. Tinha que procurar um dos aurores para saber informações precisas sobre Edwiges. Tinha detenção à noite. Tinha que marcar o treino de quadribol, pensar em táticas para o preparo do time pro jogo que já ia se aproximando. Tinha que praticar oclumência. Tinha que manter vigilância constante e, sobretudo tinha que pensar em como fazer as pazes, novamente, com Hermione.

Estava se cansando de pensar uma coisa e fazer outra. Mesmo que problemas com Hermione estivessem afastando os outros problemas mais graves da cabeça de Harry. Isso estava afastando Hermione dele. Isso a estava entregando de bandeja para o Malfoy, isto...

- Droga!- disse Harry se levantando. Murta acabara de alagar o banheiro.

- Hermione?!- Chamou Harry ao vê-la se aproximar. Ele e Rony estavam esperando a sineta tocar na porta da masmorra de Snape.- Onde você estava?

- Por aí.- disse ela.

- Porque suas vestes estão molhadas?- perguntou Rony fitando-a curioso.

- Foi um acidente.- disse ela.- Vamos entrar?

Harry deixou o banheiro e ganhou os corredores. Involuntariamente ele ria. Era, novamente, um riso nervoso, mas era um riso. Será que Hermione andara se escondendo no banheiro da Murta-que-Geme?

Ainda pensando sobre isso ele se dirigiu para a torre da Grifinória e trocou as vestes molhadas.


****


- Por onde você andou?- perguntou Rony assim que encontrou Harry no corredor que levava à sala da Profª. Sibila.

- Por aí.- disse Harry.

Rony lançou um olhar impaciente a Harry, mas acabou dando ombros e subindo pela pequena escada que acabara de descer pelo alçapão. Harry subiu logo atrás dele e os dois, como de costume, se assentaram nas mesas mais distantes. Não demorou muito e a sala já estava cheia. Porém dessa vez não foi a Profª. Sibila quem apareceu. No lugar dela veio uma velhota baixinha e gorda que com um girar de varinhas fez as janelas e cortinas se abrirem livrando a todos do insuportável perfume natural da sala de aula.

- Bom dia!- disse a mulher que parecia incrivelmente animada.

- Bom dia.- foi a resposta quase inaudível que ela recebeu.

- Você!- disse ela de repente para Lilá que pareceu saltar meio metro de sua cadeira no susto.- Me dê sua mão.

Lilá trocou olhares com Parvati e estendeu a mão para a bruxa que se concentrou por algum tempo.

- Eu vejo aquele que você tanto espera aqui!- disse a mulher.- E ele está mais próximo do que você pensa... abra o olho mocinha!

- Quem é essa?- murmurou Harry.

- Deve ser a tal especialista em quiromancia da qual a Sibila falou.- disse Rony.

- Ah!- fez Harry em um tom um pouco mais alto do que deveria.

- Você!- disse ela apontando Harry que imediatamente se afundou em seu lugar já prevendo o que viria a seguir.- Venha aqui, ande!- disse ela acenando freneticamente para ele.

Penosamente Harry se levantou e caminhou até ela. Ele era visivelmente mais alto. Ela tomou sua mão e a observou por um instante.

- Está tudo aqui.- Disse ela enquanto passeava o dedo por uma das linhas da mão de Harry.- Você...- ela de repente parou e soltou a mão do garoto.- Você é Harry Potter!

- É… - disse Harry meio sem jeito, sentindo os olhos da velhota presos em sua cicatriz.

- A mesma altura.- sibilou a bruxa.- A mesma sina do outro.

- Outro?- perguntou Harry erguendo a sobrancelha.- Que outro?

- Quando a proteção acabar. Quando a paz se esgotar. Quando a primavera findar. Um bom amigo que te trai por desejo e ambição. Um destino que finalmente se mostra e inimigos que se unem. Tudo ao mesmo tempo, agora.- foi o que a bruxa disse em tom grave.

Não só o próprio Harry, mas todos os presentes ali mantinham expressões idênticas de surpresa.

- Pode se assentar, mocinho.- disse a velhota sorrindo amavelmente como se tivesse acabado de recitar uma poesia para Harry.

O garoto, encabulado, obedeceu.

- O que foi aquilo?- perguntou ele a Rony.

- Será que ela adotou a moda das profecias?- perguntou Rony em resposta.

Harry revirou os olhos dum jeito muito parecido com o que Hermione costumava fazer. Não demorou muito e eles estavam ouvindo a velhota falar sobre “a Arte da Quiromancia”.


“Quando a proteção acabar. Quando a paz se esgotar. Quando a primavera findar. Um bom amigo que te trai por desejo e ambição. Um destino que finalmente se mostra e inimigos que se unem. Tudo ao mesmo tempo, agora.” Repetia Harry incansavelmente mentalmente.

Aquela podia ser apenas mais uma velha charlatã metida a prever as coisas. Mas se até a Profª. Sibila já fizera previsões verdadeiras quem garantiria que aquela não era mais uma dessas?

- O que o Harry tem?- perguntou Gina. Ela, Rony e Harry estavam assentados na mesa da Grifinória, neste momento, para o almoço.

- Acho que ele ficou meio impressionado.- disse Rony observando o outro cujos olhos verdes pareciam incrivelmente desfocados.

Não ouve resposta alguma da parte de Harry.

- Harry, porque não come um pouco?- perguntou Rony. Harry piscou e olhou para o amigo.

- Não, obrigada.- disse ele se levantando.- Vejo você na aula de Transfigurações.- completou antes de deixar a mesa.

- A cada dia que passa vocês ficam mais estranhos.- disse Gina olhando o irmão.- Você, que antes era o pateta, agora virou o amigo lúcido. A Mione que sempre amou o Harry está tendo uma queda pelo Malfoy. E o Harry além de apaixonado está insano também.

- Pelo menos eu evoluí para melhor.- disse Rony pensativo.

- É. - concordou Gina.

- Gina.- disse Rony depois de breve silêncio.- A propósito, aonde você foi ontem à noite?

- Ontem à noite?- perguntou a garota tentando não ruborizar.

- É. - disse Rony.- Você disse que tinha um palpite sobre onde Hermione podia estar e desapareceu.


Gina seguiu veloz na direção do lado. Não demorou muito e ela alcançou a chamada “Sombra dos Sonserinos”. Era uma árvore curva no alto de um vão. Porque havia desconfiado da presença de Hermione ali ela não sabia bem. Conhecia a garota há cinco anos e podia dizer que a conhecia bem a ponto de saber que mesmo sendo quem era, Malfoy havia mexido com a outra.

Sobre o vão da árvore curva. Hermione sabia tão bem quanto ela que aquele era o lugar predileto de certos Sonserinos, mas não foi Malfoy quem ela encontrou ali, mal iluminado pela luz do luar. Foi Zabini.

Gina pigarreou. O rapaz se virou.

- Weasley?!- exclamou ele.- O que faz aqui?

- Eu é que pergunto.- disse Gina.

- Até agora nada.- disse o garoto, seus olhos castanhos cintilavam e ele deu um sorriso torto.- Mudando a pergunta: O que procura aqui?

- Hermione.- sussurrou Gina.

- Pode checar se ela está no meu bolso, se quiser.- disse o Sonserino.

Gina se aproximou. Zambine ficou de pé. Mas não foi para procurar Hermione no bolso de ninguém que eles fizeram isso.


- Eu tinha um palpite.- disse Gina.- Mas ela não estava lá, então eu voltei.- Mentiu ela.

- E que palpite era?- perguntou Rony curioso.

- Era um palpite apenas.- repetiu Gina.

- Olá Gina!- disse Dino Thomas que acabara de se assentar ao lado dela e deu-lhe um selinho.

Rony fez cara de desgosto e se levantou.


****


Hermione ouviu o som do buraco do retrato se abrindo e se virou. Era Harry. Ela soltou um suspiro cansado.

- Não achei que a encontraria por aqui.- disse o garoto ao vê-la.

- Não achei que o encontraria por aqui, também.- disse ela.- Por onde esteve?

- Por aí.- respondeu o garoto enquanto se assentava numa poltrona próxima a de Hermione, ela tinha um livro no colo.- Pensando.

- Não é legal você perder aulas para pensar.- disse Hermione voltando sua atenção para o livro que carregava.

- Minha cabeça está muito cheia.- disse Harry.- Acho que ninguém conseguiria carregar tudo o que eu carrego dentro de mim, ao mesmo tempo.

- Quem garante?- perguntou Hermione sem reerguer os olhos.- Você ainda não é capaz de saber tudo o que as pessoas carregam dentro de si.

- Eu não sei o que você está sentindo agora.- disse Harry fitando o rosto compenetrado de Hermione.- Talvez você sinta mais coisas e em maior intensidade do que eu. Mas você sabe lidar com isso. Você sempre soube lidar com os seus sentimentos. Por isso você é forte.

Hermione sentiu algo estranho como se quisesse respirar e não conseguisse inspirar ar algum. Pobre Harry, pensou, mal sabia ele que o que se passava dentro dela neste momento era exatamente o contrário.

- Fale-me sobre o que você sente.- foi o que ela conseguiu dizer.

- Eu sinto falta... Eu sinto a ausência de coisas...de pessoas.- começou Harry.- O mundo tira as pessoas de mim muito rapidamente de modo que não há tempo para que eu me conforme com a perda anterior.

Hermione ainda mantinha o rosto baixo.

- Meus pais. Sirius. Edwiges.- disse Harry.- Você.

- O mundo não me tomou de você.- interrompeu Hermione.

- Tomou sim.- disse Harry. Um destino que se mostra- Ele tomou a amiga que você era.

Hermione finalmente ergueu o rosto. Ela ia protestar, mas acabou se curvando sobre o livro novamente.

- Transformou você em outra coisa. Em outra pessoa.- continuou Harry. Um bom amigo que te trai... Hermione...

Silêncio. Harry sentia um gosto estranho na garganta.

- Você é muito complicado, Harry.- disse Hermione quebrando o silêncio.- Mais complicado do que deveria ser.

Inimigos que se unem. Hermione... Malfoy. E pra completar aquela sensação de vazio dentro dele. Tudo ao mesmo tempo, agora.

- Você sempre confiou em mim.- continuou ela.- E na hora em que você mais precisa confiar você se nega a fazer isso.

Silêncio. Ouviu-se o som do livro de Hermione sendo fechado.

- Não é o mundo que está me tirando de você.- disse ela.- É você próprio que o está fazendo.

Harry a observou sumir pela escada que levava ao dormitório. Sentia-se vazio, ainda mais vazio. Sentia-se cansado. Seguiu, só, para a aula de Transfiguração. Hermione apareceu, mas tomou o cuidado de se assentar longe dele.

Parece que ela havia, realmente, decidido se manter distante. Isso podia significar duas coisas: ou ela estava chateada ou ela iria larga-lo de vez. Ele não soube em qual das opções deveria crer.


****


- Você confia em mim, Blás?- perguntou Draco.

- Sim senhor.- disse o outro.

Ele e Blás se encontravam na Sombra dos Sonserinos, a tarde cinzenta ia caindo lentamente.

- Você é meu amigo?- perguntou Draco fitando o horizonte além do lago.

- Sim.

- As pessoas dizem que são minhas amigas, mas na realidade não são.- disse Draco calmamente.- Eu sou o mais forte, inspiro proteção e é isso o que elas querem: proteção.

Blás permaneceu em silêncio.

- Estamos no meio de uma guerra.- disse Draco ainda com o olhar perdido.- Mas as pessoas não entendem a guerra. Talvez as mais inteligentes entendam, mas elas não são aquelas que julgamos ser as mais inteligentes.

- Não compreendo.- disse Blás timidamente.

- Não existe o bem ou o mau, Blás.- disse Draco.- Só existe o poder e aqueles que são fracos de mais para alcança-lo.

- Quem lhe disse isso?- perguntou Blás fitando-o com curiosidade. Porque Malfoy estava lhe falando aquilo tudo?

- Lord Voldemort me disse isso!- disparou Draco sem tirar os olhos do horizonte.

- Você falou o nome dele.- disse Blás temeroso.

- Há muito tempo eu ultrapassei a barreira dos nossos.- disse Draco.- Há muito tempo eu descobri que ser um fiel servo de Voldemort não me levaria a lugar algum. Há muito tempo eu decidi que ou eu lutaria para ser o poderoso ou eu seria um nada.

Blás parecia impressionado.

- E você acredita que pode alguma coisa contra um dos dois lados?- perguntou ele.

- Agora, não.- disse Draco.- Eu sou um rapazola de dezesseis anos que começa a criar um plano de ascensão, mas eu não consigo sozinho. Não que eu não seja capaz. É que ninguém é capaz de nada sozinho. Você provavelmente compreende o que eu quero dizer.

Silêncio. Blás se ajeitou em seu lugar. Ele poderia seguir o caminho que seu pai queria. Se tornar um comensal. Se Você- sabe- quem ganhasse aquela guerra ele seria poderoso...até um ponto. Ele compreendia o que Draco dissera. Se ele fosse um comensal de verdade, ele seria apenas mais um comensal de verdade. Se o bem ganhasse, ele nada seria.

- Eu estou com você, Draco.- disse ele.- Até o fim.

Draco permaneceu sério fitando o sol já quase posto completamente.

- Essas minhas idéias não sairão daqui.- disse ele.- De forma alguma. Certo?

- Certo.- disse Blás.- Mas por onde você vai começar?

- Quero Hermione Granger.- disse Draco.

- Nunca pensei um dia ver Draco Malfoy apaixonado por uma sangue-ruim.- disse Blás sorrindo.

- Ela não é uma sangue-ruim qualquer.- disse Draco se levantando.- Vamos ir andando.

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