Lembranças da mãe à Legilimenc





- Não sente dores?

- Não.

- Na cabeça? No corpo?

Harry fez que não com a cabeça e fitou algum ponto atrás da enfermeira. Sentia dores, sim, mas em outro lugar. No coração.

- Se tem certeza de que está bem pode tomar seu rumo.- disse Madame Pronfey.- Não esqueça de se alimentar bem.

- Ok então.- disse Harry enquanto apanhava os sapatos e os calçava. Não demorou muito e ele ganhou os corredores.

Ele olhou o relógio. Eram quatro da tarde. Sentia-se como se tivesse passado a última noite em claro. E realmente passara.

Não sabia bem pra onde ir. A chuva caía lá fora. Deveria se apresentar para mais uma aula de oclumência às seis horas, mas ainda faltavam uma hora e meia para tal. Talvez devesse ir até a cozinha em busca de algo para comer.

- Harry?

Ele se virou, era Luna.

- Ah! Olá Luna!- disse ele dando meia volta e indo até a garota.

- Soube sobre o que aconteceu.- disse ela.

- Às pessoas devem estar comentando sobre Harry Potter, o louco apaixonado.- disse ele dando um sorriso nervoso.

- As pessoas ainda não o chamam de louco.- disse Luna calmamente.- Mas creio que isso é porque ainda não o viram andando comigo por aí.

- Não ligo para o que as pessoas dizem.- disse Harry.

- Eu já notei isso.- disse Luna.- Você se conforma fácil de mais.

- Eu nunca me conformo.- retrucou Harry.

- Se tivesse realmente inconformado não estaria aqui.- disse Luna.- E sim esperando Hermione sair da aula de Runas.

- Ela me trocou por Draco Malfoy, Luna.- disse Harry.- Se esse ponto da história ainda não circula por aí eu mesmo lhe conto: Eu os vi juntos ontem à noite, e não foi a primeira vez.

Luna soltou um longo suspiro e se assentou, ali, encostada à parede do meio do corredor.

- Hermione é bonita.- disse ela com certa simplicidade.- Inteligente, foi rejeitada pelo cara que ela gosta...

- Eu não a rejeitei.- disse Harry.

- Não!- disse Luna.- Você apenas complicou as coisas ao máximo que pode.

Foi a vez de Harry soltar um suspiro e se assentar.

- Você acha que ela gosta do Malfoy, Luna?- perguntou Harry.

- Porque não pergunta isso a ela?- perguntou a outra.

- Porque eu temo a resposta.

- Não seja tolo, Harry.- disse Luna.- Hermione não está trocando você pelo Malfoy.

- Não?- perguntou Harry.- Que nome você dá a isso então?

- Garotas como Hermione geralmente paqueram os garotos malvados.- disse Luna.- Mas é com os garotos bonzinhos que elas ficam no final.

- Lá vem você com suas histórias de mocinhos e mocinhas.- disse Harry.

- Eu não estou pedindo a você que me escute.- disse Luna calmamente enquanto brincava com as pontas alouradas dos próprios cabelos.


****


Hermione ouviu a sineta tocar e juntou todos os seus materiais. Não demorou muito e ela havia alcançado a enfermaria.

- Onde está o Harry?- Perguntou à Madame Pronfey.

- Recebeu alta meia hora atrás.- disse a enfermeira.

Hermione imediatamente rumou para o salão principal. Encontrou Gina, Rony e Neville por ali.

- Vocês viram o Harry?- perguntou ela assim que se assentou.

- Ele comeu rapidamente e seguiu para a sala de Tonks.- disse Rony fitando Hermione.

- Ah!- completou ela enquanto começava a servir comida em seu prato.

- Ainda brigados?- perguntou Gina.

- Parece que sim.- disse Hermione evasivamente.

- O que vocês precisam é de uma longa conversa.- disse Neville.

- Uhum.- fez Hermione após a primeira garfada.

Logo a noite daquela quinta feira caiu. Hermione se concentrou em seus deveres e por mais que a hora passasse, ela sequer viu sinal de Harry. Mal sabia ela que depois de um prolongado sermão ele agora estava sob intenso treinamento de oclumência.

A quinta feira nasceu trazendo frios “Bons Dias” e uma estranha distância entre aqueles que até um mês atrás eram quase que um só. À tarde, debaixo de chuva, foi realizado um segundo treino de quadribol. A gripe de Harry só fez piorar.

Aquele treino acabou resultando em cinco treinos semanais que eram intercalados com a reunião de monitores de Gina, Hermione e Rony às quartas, mesmo dia das aulas de oclumência.

É incrível a forma como quando você precisa realizar uma coisa simplória o tempo passa rapidamente impedindo-o de faze-la. Incrível a forma que algumas paredes são capazes de separar dois corações que não agüentam mais viver um sem o outro. Incrível como tudo de repente parece trival.


- Vamos lá, você tem certeza que está pronto?

- Uhum.

- Tem certeza que quer fazer isso?

- Ande logo Hermione. Pare de tentar me convencer a desistir!

- Ok.

Hermione sacou a varinha e se distanciou alguns passos.

- Não precisa ir tão longe, parece até que você quer fugir.

- Talvez eu queira mesmo.- disse Hermione dando um sorriso maroto.

- Tem medo de quê?

- Medo do que vou encontrar aí.

- Deixe de conversa e faça isso logo.

- Eu já teria feito se você parasse de falar.

Draco fitou-a por alguns instantes e então sorriu e fechou os olhos.

- Tente não me atirar longe dessa vez.

- Cale-se.- disse Hermione enquanto se concentrava.- Legilimens!

No primeiro momento nada aconteceu. Mas então Hermione viu como se um filme da vida de Draco estivesse passando diante dos seus olhos.

Ela via um pequeno bebê louro brincando com uma adaga. Depois via o mesmo garotinho, um pouco mais velho agora, voando em uma vassoura pela noite. E então ela via o garotinho, que agora já era um garoto, vindo na direção dela segurando uma pequena esfera de vidro. Por último ela viu o garotinho, que agora era quase um homem, de pé diante dela.

- Viu, não tinha porque temer.- disse Draco.

- Você só mostrou o que queria mostrar.- disse Hermione com veemência.

- Eu não queria lhe assustar.- disse Draco com um sorriso amarelo.- De toda forma isso já foi uma grande evolução.

- Não acho que vou ir a algum lugar treinando em um oclumente.- disse Hermione enquanto voltava ao lugar onde estava antes e se assentava.

- Eu acho que não lhe foi dada opções para cobaias.- disse Draco.- E eu não sou um oclumente.

- Não sei que nome dá ao fato de conseguir fechar a sua mente então.- disse Hermione.

- Eu não consigo fechar a minha mente.- disse Draco.- Mas consigo desviar meus pensamentos.

- Dê o nome que quiser.- disse Hermione.- Já eu quero desistir.

- Opção inexistente.- disse Draco se assentando ao lado dela.

- Quais são as existentes, então?- perguntou Hermione de modo cansado.

- Tentar novamente; Descansar um pouco e tentar novamente depois; Deixar pra amanhã e fazer outra coisa agora.- disse Draco.

- Que outra coisa?- perguntou Hermione.

- Talvez isso.- disse ele antes de beija-la.


****


- Desculpe a demora.- disse Lupin.- A Lua cheia passou e nós estávamos cheios de coisas a fazer. Tive que esperar o próximo mês para vê-lo.

- Obrigado pela preferência.- disse Harry enquanto se assentava diante de Lupin na sala de Tonks.

- Como anda, Harry?- perguntou Lupin de forma amável.

- Sem pais, sem coruja, sem padrinho, sem melhor amiga e gripado.- disse Harry.- Pareço bem, não?

- O que aconteceu com Hermione?- perguntou Lupin.

- Não quero falar sobre isso.- cortou Harry.

- Sobre o que quer falar?- perguntou Lupin.

Harry fitou o homem por um instante até que seus olhos recaíram sobre o pôster de Belatriz Lestrange.

- Sobre a prima de Sirius.- disse Harry.

- Qual delas?- perguntou Lupin.- Andrômeda Tonks?

- Belatriz Lestrange.

Lupin soltou um suspiro.

- Ela não foi a assassina de Sirius como você pensa que foi.- disse Lupin.

- Não é sobre isso, exatamente, que eu quero falar.- disse Harry.- Eu estive aqui, faz mais de um mês, frente a frente com ela.

- Eu soube.- disse Lupin.

- Eu queria afugenta-la de alguma forma, e resolvi provocar um incêndio para chamar a atenção dos professores.- disse Harry.- Mas o fogo a atacou... Porque?

Lupin encarou Harry, sério, por algum tempo até que se virou e fitou o fogo verde na lareira.

- Não sei.- disse o lobisomem com simplicidade.

- Você está mentindo.- disse Harry com firmeza.- Todos sempre mentem pra mim.

- Eu realmente não sei porque o fogo a atacou.- disse Lupin.- Pode ser que houvesse algum combustível com ela. Álcool ou coisa assim.

- O fogo não a atacou para queima-la.- disse Harry.- Ele apenas a afugentou.

Lupin olhou para a lareira novamente.

- Estou cansado de ver todos mentindo para mim.- disse Harry.- Dumbledore... Você!

- Eu não estou mentindo para você, Harry!- disse Lupin.

- Todos me escondem algo.- disse Harry.

- Não.- disse Lupin.- Como você pode ter tanta certeza de que há algo errado com o fogo, assim?

- Algum dia na minha vida eu tive certezas?- perguntou Harry.

- Eu não tiro a sua razão por estar inconformado com as coisas, Harry.- disse Lupin.- Mas é por isso que eu estou aqui, para conforma-lo.

- As pessoas sempre tentam me conformar TARDE DEMAIS!- disse Harry se levantando.

- Acalme-se, Harry.- disse Lupin.

- Passei dez anos da minha vida tentando me conformar pela ausência dos meus pais.- disse Harry.- Buscando respostas por eu ser diferente dos meus tios, por ser tão odiado, tão maltratado. Então eu descubro um novo mundo, onde a maioria das pessoas me idolatra, a maioria quer o meu bem. Eu não consigo entender porque nunca ninguém pôde aparecer para me conformar!

Lupin o fitava com uma expressão quase ilegível no rosto.

- E depois...- continuou Harry.- Sirius morreu, e ninguém fez nada para que eu me conformasse.

- Nós...

- Edwiges morreu.- disse Harry.- Como eu soube disso? Mandaram um recado. O que fizeram com a minha coruja? Eu não sei!

- Sirius não ficaria feliz por vê-lo assim.- Lupin limitou-se a dizer.- Tente se conformar pela lembrança dele, não foi isso que fez com seus pais?

- Foi.- disse Harry.- Mas essas lembranças são traiçoeiras. Cresci achando que meu pai era um máximo pra descobrir que um dia ele humilhou uma pessoa da forma que humilhou Snape. E minha mãe...

- O que tem sua mãe?

- Eu sempre achei que ela era a mais pura das garotas.- disse Harry.- Pra descobrir que ela já esteve com outro cara.

Lupin engasgou.

- Quem lhe disse isso?- perguntou ele.

-Não lhe interessa quem me disse.- disse Harry.- Então é verdade, não é mesmo? Minha mãe não era a santa que me disseram.

- Não diga tolices, Harry!- disse Lupin se levantando também.- Você não tem o direito de pensar mal de sua mãe!

- Não tenho?

- Se você está chateado com uma garota...- começou Lupin.- Com Hermione, você tem o direito de estar. Mas isso não lhe dá o direito de...

- Foi você.- disse Harry. Já pensara sobre isso algumas vezes desde que Luna soltara aquela história. Pedro não podia ser, ele era um covarde. Sirius... Ele não fazia o tipo. Só restava Lupin.

- O que?

- Foi você quem esteve ao lado dela antes do meu pai.- disse Harry.

- Não diga tolices, Harry.- disse Lupin, mas Harry viu que ele estava incomodado.

- Só pode ser você!- disse Harry.- Estudioso, monitor... Porque nunca me contou sobre isso antes?

A princípio Lupin continuaria a negar, mas ele fechou a boca a tempo e respirou fundo antes de se assentar.

- Seria uma boa apresentação.- disse Lupin.- Olá Harry, sou Remo Lupin, amigo de seu pai. No passado tive um caso com sua mãe.

- Então você admite!- triunfou Harry.

- Sente-se.- ordenou Lupin seriamente.

Harry prontamente obedeceu.

- No princípio...- começou Lupin.- No princípio de tudo. Tiago e Lílian se davam super bem. Sirius era o problema. Ele era um sangue puro vindo de uma família que era você sabe como.

- Meu pai também era sangue puro.

- Era por isso que os dois não se davam. Seu pai era como um Weasley, Sirius era como um Malfoy.- disse Lupin.- Mas continuando, foi sua mãe quem descobriu que eu era... que eu era...

- Um lobisomem.- completou Harry.

- Pois é.- disse Lupin.- Ela me apoiou muito, Harry, durante todo o meu primeiro momento em Hogwarts, e depois também. Foi por isso que eu me apaixonei por ela.

- Porque ela e meu pai começaram a brigar, se eles se davam bem no começo?

- A idéia de virarem animagos foi de Sirius.- disse Lupin.- Foi depois disso que ele e seu pai ficaram amigos inseparáveis e sua mãe não gostou nem um pouco da idéia. Nós crescemos. Eu apaixonado por sua mãe. Tiago também. O nosso sexto ano chegou.

“É lógico que eu tinha muito mais chances com ela do que seu pai. Como você disse, eu era o monitor, estudioso e tudo o mais. Foi numa cinza tarde de novembro, nós estávamos voltando da reunião de monitores quando aconteceu.”

Harry fez, involuntariamente, um muxoxo.

- Seu pai me odiou por dois meses até que resolveu passar a culpar Lílian por tudo. Nós passamos, creio eu, uns seis meses juntos.- disse Lupin sorrindo.- Ou até mais. Até que um dia eu notei que apesar de toda a antipatia com a qual ela tratava Tiago, ela o amava.

- Você, então, terminou com ela?

- Não.- disse Lupin.- Eu procurei Tiago. Disse a ele que não havia porque odiá-la, ela nem sabia sobre o que ele sentia. “Como não?” Ele perguntou. Você não contou a ela, respondi eu.

“No dia seguinte ela terminou comigo. Foi por tudo isso que todos achávamos que Sirius era o traidor. Pedro era um fraco e eu nunca trairia seus pais, não só pela amizade ao seu pai, mas pelo amor a sua mãe.”

Harry fitou o homem por um bom tempo. Seus cabelos, antes castanhos alourados, agora adquiriam um tom grisalho. Sentia-se calmo como um neto se sente ao término de mais uma fantástica história narrada pelo avô, dessas que eles contam para o neto dormir ou parar de chorar. Aquela não era uma história fantástica, mas pra Harry caía melhor do que qualquer história de avô.

- Não culpe Hermione pelo que você não foi capaz de dizer ou fazer, Harry.- disse Lupin.

- Quem lhe contou sobre Hermione?

- Tonks achou que eu poderia ajuda-lo.- disse Lupin sorrindo de uma forma paternal.

Havia um brilho por trás dos olhos de Lupin que lembrava muito a Sirius, Harry se perguntou se o seu pai também possuíra aquele brilho nos olhos.


****


- Tenho jogo de quadribol amanhã.

- Eu sei.- disse Hermione.- Harry e Rony parecem entusiasmados.

Hermione viu pelo canto dos olhos Draco olhar em outra direção.

- Eu queria que você fosse.

- Não vou torcer contra a minha casa.- disse Hermione com veemência.

- Não lhe pedi isso.

Silêncio.

- Nós estamos juntos agora?- perguntou Draco.

- Draco, nós já conversamos sobre isso.

- Nós estamos juntos agora, porque não podemos ficar assim pra sempre?

- Não quero ter que lhe responder isso de novo.

- É sempre assim.- disse Draco.- Nós nos encontramos, passamos bons momentos juntos. Nós, no fim, sempre nos beijamos e...

- Nada disso o tira da minha cabeça.- completou Hermione.

- É.

- Eu não escolhi ser uma garota, Draco.- disse Hermione.- Eu nasci assim.

- E você por acaso nasceu gostando do Potter?

- Não.- disse Hermione com a cara mais infeliz do mundo que combinava perfeitamente com a de Draco no momento.

Draco, por sua vez, deixou-se cair sobre a grama. Aquela era uma fria noite de outono, podia-se observar algumas estrelas no céu.


****


- Rodolfo Lestrange foi capturado por aurores.- murmurou Rony.

- Quem disse isso?- perguntou Gina indo se assentar ao lado do irmão, no salão comunal.

- Carta de Gui.- informou Rony indicando o pergaminho que carregava nas mãos.- Disse que ele e Moody o emboscaram, houve um duelo, e no fim o cara foi levado para St. Mungus.

- Puxa vida!- disse Gina.- Finalmente alguma novidade que se preze, pra variar.

- Ele diz também que não quer Harry dando sopa por aí.- disse Rony enquanto lia a carta.- “A captura de Rodolfo Lestrange provavelmente fará transbordar a ira, não só de Você-sabe-quem, mas da esposa do comensal também. Já tivemos demonstrações suficientes do que ela é capaz, não a queremos no encalço de Harry, e de nenhum outro de vocês.”

Rony lentamente dobrou a carta e a guardou no bolso.

- Onde está Harry?- perguntou ele.

- Na sala de Tonks.- disse Gina.- Falando com Remo Lupin.

- Hermione?

- Não sei.- disse Gina.

Rony a olhou por um instante, as pontas das orelhas da garota estavam vermelhas.

- Onde está Hermione, Gina?- insistiu ele.

- Não se preocupe, Rony.- disse Gina.- Onde ela está nada de mal lhe acontecerá.- ela sentiu Rony analisando-a atentamente. Queria muito acreditar no que ela própria dissera, pensava.


****


- Sabe porque estamos juntos?- perguntou Draco que estava deitado de costas na grama.- Sabe porque não nos matamos após nos beijarmos a primeira vez?

- Na verdade eu nunca cheguei a uma conclusão sobre isso.- disse Hermione.

- É que nós somos iguais.- disse o garoto.- Ambos possuímos mentes brilhantes e incrivelmente capacitadas, mas nos escondemos atrás de pessoas julgadas poderosas.

Hermione não respondeu, apenas se ajeitou na grama.

- Eu sempre estive por trás de meu pai e você por trás do Potter.- disse Draco.- Formaríamos uma grande dupla, sabe.

- Existe uma diferença crucial nessa semelhança entre nós, Draco.- disse Hermione.- Você odeia seu pai. Eu amo o Harry.

- Você nunca tinha dito isso antes.

- O que?

- Que o amava.- disse Draco se assentando novamente.

Hermione sentiu-se ruborizar violentamente.

- É que isso nunca esteve tão claro.

Draco se deitou novamente. Hermione o observou por algum tempo.

- Você já amou alguém?- perguntou ela.

- Não.- disse ele seriamente.- De forma alguma, ninguém.

Hermione o observava, ainda, atentamente quando ele se assentou novamente.

- Não sei se posso dizer que a amo.- disse ele.- Mas eu gosto de você. Mais do que eu possa suportar.- completou antes de beija-la novamente.

Para Hermione aquele foi o beijo que costumava ser, para Draco foi diferente. Foi frio, um frio cortante. Ele a largou rapidamente e arredou pra trás.

- O que foi?- perguntou ela.

- Nada.

Silêncio.

- Você odeia seu pai?- perguntou Hermione depois de recapitular o diálogo entre ela e Draco há minutos atrás.

- Sim.

- Por que?

- Ele odeia Sangues ruins, Hermione.- disse Draco.- E depois de você eu não posso mais odiá-los.

- Mas e antes?- perguntou a garota.- Você provavelmente já o odiava antes.

Draco soltou um suspiro.

- Eu cresci achando meu pai um máximo.- disse Draco fitando-a.- Até o dia em que o Lorde das Trevas entrou pela porta da minha casa.

- Sempre pensei que você fosse um devoto de Voldemort.- disse Hermione observando a pequena careta de Draco ao ouvir o nome.

- Eu sempre fui.- disse Draco.- Até perceber que eu, na realidade, era uma máquina. Que eu cresceria crendo cegamente em algo que em meu estado lúcido eu nunca aceitaria. Que mataria mesmo sem querer. Que seria sempre mau.

- E você não é?- perguntou Hermione.- Mau.

- Sim.- disse Draco.- Eu sou. Mas não do jeito que eles querem que eu seja.

Hermione deixou escapar uma expressão duvidosa, Draco a olhou de cima a baixo e sorriu.

- Eles querem que eu seja cruel.- explicou Draco.- E eu nunca vou ser. Eu sou mau, apenas mau.

- Como...- começou Hermione.- Como foi que você descobriu que aquilo não era pra você?

- Você acredita em destino, Hermione?- perguntou Draco.

- Às vezes.

- Pois devia acreditar.- disse Draco.- Todos nós temos um e descobrir qual é esse destino não é uma tarefa fácil. Mas um dia, quando você menos espera, ele se mostra.

- Quando em penso em destino...- começou Hermione novamente.- Me vejo ao lado de Harry, cuidando dele.

- Uma perfeita esposa.- disse Draco com desprezo.- Igual à minha mãe.

- Dizem que por trás de um grande homem existe uma grande mulher.- justificou Hermione com simplicidade.

- Você não é o tipo de mulher que nasce para ser esposa de um grande bruxo.- disse Draco.- Não a vejo como a minha mãe, e sim como minha tia Belatriz.

Hermione fez um muxoxo de nojo.

- Eu sei que você deve odiá-la.- disse Draco.- Mas ela é uma grande mulher, uma grande bruxa.

Hermione desviou os olhos de Draco. Era algo definitivamente desagradável ser comparado a bruxas e bruxos das trevas.

- Ela também teria se tornado uma bruxa do lar.- disse ele rindo.- Se não tivesse descoberto que era grande.

Hermione se virou novamente para ele.

- Você pode ser grande, Hermione.- disse ele.- Você pode ter muito poder, muito mais poder do que você possa imaginar, todo centrado em suas mãos.

- Está tentando me converter às trevas, Malfoy?- perguntou Hermione de repente.

- Estou tentando lhe converter ao terceiro lado.- disse Draco.- Onde não há comensais e onde não há velhos caducos que usam o nome do bem para tentar alcançar o poder.

- Acho que está na hora deu ir para o meu salão comunal.- cortou Hermione.


****


- Hermione!

Hermione, que acabara de atravessar o buraco do retrato se virou e viu Harry.

- Será que a gente podia conversar?- perguntou ele.

- E algum dia você precisou pedir pra conversar comigo, Harry?- perguntou Hermione serenamente.

Os dois seguiram salão comunal adentro e se assentaram próximos à lareira. Hermione cruzou os braços e ficou observando Harry que olhava ansioso à volta.

- Diga.- disse ela quase que como uma ordem.

- Vamos esperar que eles subam.- disse Harry, não queria correr o risco de ser interrompido e nem queria passar vergonha.

- Qual é o problema deles estarem ali?- perguntou Hermione em tom severo.- Eles não estão nos incomodando.

- Por favor, Mione.- disse Harry franzindo a testa.

Hermione o fitou por um segundo e então se levantou da poltrona e caminhou até os calouros.

- O que estão fazendo fora da cama até essa hora?- perguntou ela ajeitando o distintivo.

- Nada.- respondeu uma garota.

- Bom, se eu fosse vocês eu iria dormir.- disse Hermione.- Sabe, quando estava no primeiro ano, um dia, a Profª. Minerva chegou no salão comunal no meio da noite e me encontrou acordada. Garanto que não foi muito legal.

Os calouros se entreolharam. Hermione disfarçou um sorriso maroto e em seguida deu as costas e voltou para onde estava antes. Um a um os calouros começaram a subir.

- Agora diga.- disse Hermione.- Sobre o que quer falar comigo?


***continua***

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