A Crise



Hermione mal acreditou quando se levantou na manhã seguinte e percebeu que já passava das sete e meia. Rapidamente procurou por vestes de Hogwarts limpas em seu malão e se trocou. Sentia-se como se não dormisse direito há noites.

Assim que juntou os livros que precisaria no dia ela deixou o dormitório já vazio e desceu as escadas até o Salão Comunal. Teria provavelmente ganhado os corredores e corrido até o Salão Principal para pegar o final do café da manhã se não tivesse visto uma Gina perplexa assentada a um canto.

- Dia.- murmurou ela indo se assentar ao lado da garota.- Como foi ontem à noite? Conseguiu falar com alguém da Corvinal?

- Padma Patil me ajudou a entrar lá em troca de um esconderijo para bebidas que serão usadas na festa surpresa de aniversário de Lilá Brown.- murmurou Gina sem se importar que aquele tipo de informação não deveria estar chegando aos ouvidos da monitora chefe.- Luna não voltou.

- É isso o que te preocupa?- indagou Hermione mesmo já sabendo a resposta.

- Sim. E você?

- Eu não estou preocupada.- disse Hermione meio embaraçada.- Quero dizer, Luna não ter voltado também me preocupa, mas creio que não deve ser nada demais. Talvez tenha se esquecido, ou...

- Se divertiu, nadando com a Lula Gigante ontem à noite?- cortou Gina.

- O que?- indagou Hermione ruborizando violentamente.

- Vi o rastro de água que vocês deixaram ontem à noite.- explicou Gina.

- Nós voltamos.- murmurou Hermione com um sorriso feliz.- E estamos bem, eu acho.

- Provavelmente porque ele ainda não pediu explicações.- retrucou Gina.

Hermione teria desmentido e tentado explicar porque não daria explicações. Mas Fred e Jorge surgiram pelo buraco do retrato naquele momento.

- Lar doce lar!- murmurou Fred se jogando ruidosamente na poltrona defronte a as garotas.

- Bom dia ó majestade!- disse Jorge fazendo uma reverência para Hermione antes de ir se sentar ao lado de Fred.

- Nunca pensei que depois de Percy idolatraríamos outro ilustríssimo chefe dos monitores.- zombou Fred.

- Chefa, você quer dizer.- completou Jorge.- Onde o mundo vai parar? Uma diretora, uma chefa...

- O que temos pra começar o ano?- indagou Fred.

- Transfigurações, História da Magia e Feitiços.- informou Hermione.

- Um prolongado discurso sobre o N.I.E.N.s, um cochilo e Feitiços!- sorriu Jorge.

- Estive pensando sobre uma coisa.- cortou Gina.- Vocês dois vão voltar pro time?

- McGonagall diz que não.- respondeu Fred.

- Mas ainda não é uma questão fechada.




****




- Se eu, que só tenho duas matérias extras, já estou pirado.- Dizia Harry ao fim do dia quando ele e Hermione chegaram ao salão comunal depois da última aula do dia.- Imagina você que faz praticamente todas.

- Dar conta dos estudos nunca foi problema pra mim.- disse Hermione parecendo tranqüila quanto a isso.

- Mas isso era antigamente.- disse Harry.

- O que quer dizer?- indagou Hermione olhando-o interessada.

- Que antigamente você não tinha problemas com bruxos das trevas.- disse Harry.- É que nós dois meio que trocamos de papel.

- Não vejo as coisas dessa forma, Harry.- disse Hermione muito calma.- Eu não tenho problemas com bruxos das trevas.

“Na verdade eles é que terão comigo.” Disse uma vozinha narcisista e maldosa no fundo da cabeça de Hermione.

- O que você diz sobre os últimos meses então?- indagou Harry.

- Digo que foi...- Hermione mediu as palavras.- Um período confuso em minha vida sobre o qual eu não pretendo discutir com você. Não por agora.

- Não vai me dizer o que tem acontecido entre você e Belatriz Lestrange?- insistiu Harry.- Porque é obvio que você veio pra cá atrás das informações que Malfoy poderia ter dela.

- Harry, escute, eu não quero ser rude contigo.- cortou Hermione sem perder o tom calmo na voz.- Mas isso não é um assunto sobre o qual eu tenho algo a declarar. Definitivamente.

Harry fitou Hermione com olhos confusos. A garota sequer piscou. O rapaz ajeitou os óculos e levantou-se.

- Vou procurar Madame Hooch para me informar sobre o quadribol.- disse o rapaz antes de deixar o salão comunal.

Não se falaram, exceto sobre assuntos escolares, durante o dia seguinte. Ambos sabiam que aquele assunto causaria brigas e pareciam muito dispostos a evitá-lo.

- Se ela não quer falar, você não pode fazer nada, Harry.- disse Gina ao garoto quando eles se encontraram no café da manhã da primeira sexta-feira em Hogwarts.

- Porque Malfoy pode saber o que está acontecendo e eu não?- indagou Harry ainda chateado.

- Ninguém garante que ele sabe.- contrapôs Gina.

- É obvio que ele sabe, Gina.- disse Harry com peculiar secura.- Aconteceu algo naquele período em que ele desapareceu. Algo que diz respeito à Hermione...

- Ninguém da Ordem têm informações?

- Não.- disse Harry.- Fred e Jorge ao menos só sabiam que o maldito resistiu ao Veritaserum.

- Acho que só lhe resta falar com ele.- concluiu Gina depois de pensar por alguns segundos.

- Ele também não vai querer me dar informações assim de graça.- disse Harry.

- Você não aprendeu nada com Hermione até hoje?- indagou Gina meio impaciente.- O segredo é reunir todo o pouco que você sabe e jogar verde.

- Dia!- murmurou uma voz conhecida de forma afoita.

Os dois ergueram os olhos e viram um pouco sobressaltados Hermione se juntar a eles.

- Seus irmãos ainda me deixarão louca!- murmurou Hermione sem se importar com a ausência de resposta ao Bom dia.- Resolveram distribuir seus artigos altamente proibidos por Filch entre os calouros e se alguém sabe que eu não os repreendi...

- Eles são Fred e Jorge.- murmurou Harry sorrindo.

- Nem se você os repreendesse eles se intimidariam e deixariam de distribuir os logros.- completou Gina.

- O pai de Luna me escreveu, à propósito.- disse Hermione enquanto se esticava porá alcançar um empadão.- Ela deve chegar à escola pouco depois do almoço.

- Não disse o que aconteceu?- indagou Gina ainda demonstrando-se preocupada.

- Outra crise, me parece.- disse Hermione de boca cheia.- Nada muito grave.

Gina ainda disse algo mais, mas Harry não prestava atenção. Prendia-se aos movimentos de Draco Malfoy, do outro lado do salão comunal. Tinha que dar um jeito de falar com ele e isso não podia ser tão difícil já que teriam poções dupla no primeiro tempo.

Segundos antes do Professor Snape começar a palestrar sobre o fascinante mundo do desenvolvimento de poções que eles poderia seguir após prestarem seus N.I.E.N.s Harry tratou de rabiscar um “3:00 p.m. torre leste, é importante” e faze-lo voar discretamente até Malfoy.

- Ele não para de esfregar o braço.- murmurou Neville depois de quinze minutos do discurso de Snape.

Fred concordou silenciosamente parecendo muito mais sério que o normal. Ele e Jorge estavam sentados à direita de Hermione e os três e Harry dividiriam uma bancada durante aquele ano.

Harry levou alguns segundos até processar a informação e então voltou seus olhos para o professor Snape. Era verdade, entre um olhar malicioso à alguém e um crispar de boca, ele levava a mão ao braço esquerdo e o alisava, como se algo ali o incomodasse.

- É o lugar onde deveria estar a marca negra.- sussurrou Harry. Fred concordou com a cabeça.

- Você-sabe-quem não pode...- começou Neville e Harry pôde vê-lo assentado na bancada de trás, exatamente entre Fred e Jorge.

- Não.- murmurou Fred.

- Só se algum comensal da morte sobrevivente...- começou Jorge.

- Lestrange aprontou alguma.- disse Hermione. Os quatro rapazes olharam pra ela que tinha os olhos estreitados numa expressão que provocou em Harry um estranho calafrio. O rapaz teria perguntado o que, por exemplo, a Comensal podia ter feito se o pedaço de pergaminho que mandara para Malfoy não tivesse batido silenciosamente contra sua cabeça.




Vai declarar seu amor por mim, Potter? Se for desista, você não faz meu tipo. Sério, espero que seja algo realmente importante, pois não pretendia perder meu tempo lhe encontrando.




Harry olhou para a direção onde Malfoy assistia à aula. Ele parecia muito interessado na mesma e não olhou na direção deles em momento nenhum durante o decorrer daquela aula.




- Harry! Mione!- chamou Gina correndo até os dois quando o salão Principal se abriu para o almoço. A garota parecia afoita e trazia um pergaminho recém desenrolado à mão.- Vocês não vão acreditar.- disse quando estava suficientemente perto.

- Prenderam Lestrange?- arriscou Harry.

- Luna voltou?- foi o palpite de Hermione.

- Não, a coruja era de papai.- disse Gina ainda afoita.- Mamãe acordou essa manhã com um bebê de pouco mais que um mês em sua porta.

- Outro menino que sobreviveu?- arriscou Fred que vinha, acompanhado de Jorge, se juntar ao grupo.

- Era um bebê ruivo...- continuou Gina fazendo Hermione entender imediatamente o que acontecera.

- Quem foi que Carlinhos andou engravidando por aí?- riu Jorge. Fred o acompanhou nas risadas.

- Desde quando Carlinhos é o garanhão da família?- indagou Harry entrando na gozação.

- Tomas Black Weasley.- murmurou Gina arregalando mais seus olhos se é que isso ainda era possível.

Os três se calaram assim que seus neurônios se deram conta do peso daquela informação.

- Rony...?- começou Harry em claro estado de choque.

- ...com uma mulher mais velha...?- prosseguiu Fred em igual estado.

- ...com idade pra ser sua mãe?- findou Jorge.

- Belatriz Lestrange tinha um dos últimos puros sangue com uma família capaz de criar uma criança no mundo.- disse Hermione que foi a única a não demonstrar surpresa.- Ela só aproveitou a oportunidade.

- Mamãe não pode ter acolhido um filho de Belatriz Lestrange em nossa casa!- disse Jorge ainda incrédulo.

- Papai diz na carta que ela o aceitou como um presente divino. Diz também que o moleque é a cara do Rony quando pequeno. - despejou Gina.

- Você já sabia?- indagou Harry fitando Hermione de forma estranha.

- Talvez.- disse a garota evasivamente.- Desculpem,mas eu tenho que checar uns horários antes do almoço.

- Eu não acredito que já sou tio!- murmurou Fred depois dos dois minutos de silêncio após Hermione deixar o grupo.




****




Draco ouviu passos que subiam a escada circular que levava à torre. Desencostou-se do parapeito no momento em que Harry surgiu pelo alto da escada. Uma das vantagens de esquecer Hermione talvez fosse nunca mais ter de falar com Potter, mas esquecê-la parecia um pouco difícil para o Monitor Chefe, no meio de tudo o que vinha ocorrendo.

- Potter, você por aqui?- indagou o rapaz louro sorrindo com malícia.

- Achei que não viria, Malfoy.- disse Harry.- Afinal de contas, porque viria ao encontro de um mestiço?

- O que você quer, Potter?- indagou Draco meio impaciente.

- Talvez o mesmo que você.- disse Harry sorrindo por estar no comando daquela conversação, para variar.

- Ainda em busca da Granger?- indagou Draco.- Deveria saber que eu, como ser mais evoluído que sangue-ruins e mestiços já desisti dessa batalha.

- Desistiu ou foi obrigado a faze-lo?- desafiou Harry.

- O que está querendo insinuar, Potter?- indagou Draco medindo o outro a começar pelos sapatos mal lustrados de Harry até chegar nos olhos verdes por trás dos óculos redondos que diziam claramente que nem ele próprio sabia onde queria chegar.

- Eu não sei o que aconteceu.- disse Harry.- Mas você é Draco Malfoy, e depois de seis anos me dando mal contigo aprendi que quando você cisma com algo, vai até o fim.

- Pensei que também achasse que eu só me relacionei com Granger para manipulá-la, Potter.- disse Draco surpreso pelo comentário do outro.

- O que eu penso não importa, Malfoy.- murmurou Harry seriamente.- Alguma coisa está acontecendo, algo de que você tem ciência. E sinto que a única maneira de impedir que tal coisa aconteça é descobrindo o que você sabe, o que testemunhou... O que foi? Pois você testemunhou algo grave, caso contrário sua tia não o teria devolvido à Hogwarts, quase sem vida.




****




Gina deu uma rápida olhada pela biblioteca. Estava deserta provavelmente por o ano letivo mal ter começado, Hermione era o único rosto conhecido entre os poucos por ali e estava tão compenetrada em seus estudos que Gina achou melhor não incomodar.

Logo havia ganhado novamente os corredores. Onde estaria Luna? Mandara um recado dizendo que tinha chegado. Porque não viera com o expresso Hogwarts, mas sabe-se lá como três dias depois? Foi quando sentiu uma estranha sensação de Dèjá vu, alguns meses antes estivera naquele mesmo corredor, talvez com tanta urgência quanto agora, procurando a amiga. E daquela vez, só fora revê-la no meio do verão.

Luna tinha sofrido a primeira crise da doença que herdara da mãe e fora levada pela mãe de Tonks do corujal à enfermaria, onde seu pai a buscara... Poderia ter sofrido outra crise? Talvez fosse melhor procurar Tonks.

No caminho coisas horríveis vinham lhe surgindo à cabeça. E se Luna estivesse novamente no corujal e dessa vez não houvesse ninguém para socorrê-la? E se a crise fosse ainda pior e ela acabasse morrendo em um incêndio como na última e mais grave crise que Luana Lovegood tivera.





****




- Você até que possui neurônios, Potter.- disse Draco sarcasticamente.- Caso contrário não teceria esse admirável raciocínio.

- Aceito isso como um elogio.- disse Harry cortesmente.

- Aceite. Mas isso não significa que eu tenha algo a lhe dizer.- sorriu Draco em triunfo.

- Nem se eu pudesse livrar a sua cara de todas aquelas acusações?- arriscou Harry.

- Você não pode.- disse Draco dando ombros.- Da mesma maneira que eu não posso dizer nada.

- Ou sua titia vai terminar o trabalho que começou?- arriscou Harry, novamente, só que dessa vez rindo com despeito.

- Exato.- disse Draco sério.

Harry parou de rir e fitou o outro por um momento. Já não havia sarcasmo ou desprezo algum na figura esguia de Draco Malfoy. Havia apenas um vazio, uma tristeza e um quê de incapacidade.

- Magia antiga.- riu Draco sem emoção.- Abre a boca e não só você morre.

- Magias antigas não funcionam.- disse Harry antecipadamente.

- Você deveria saber que funcionam sim, Potter.- disse Draco vazio.- Caso contrário você não estaria vivo aqui, agora.

- Eu digo.- corrigiu Harry corando um pouco.- Sem uma ligação forte, um pacto ou algo assim... falo de Sangue!

- Uma facada na boca do estômago parece o suficiente, não?- indagou Draco ainda mais vazio.- E do que veio depois eu realmente não me lembro.

Seguiu-se um minuto de silêncio. Quando entre estranhos, isso ocorre, nasce um profundo constrangimento. Talvez por isso Harry percebeu que ele e Draco Malfoy já não eram estranhos um ao outro. Ele não se constrangeu por ficar calado, pensando, nos minutos seguintes. Tampouco o rapaz louro, um metro adiante.

E de alguma forma ele sabia por que ele já não conseguia odiar aquele rapaz. Por que não mais se irritava e simplesmente lhe acertava um soco no nariz ou um feitiço qualquer. Ambos eram elos de uma cadeia. Ambos habitavam, de alguma forma, o coração de Hermione. Sim, ambos estavam lá. Em lados opostos.

- E se eu falasse com Tonks?- arriscou Harry depois do passar de um tempo. Draco riu.- É sério! Ela pode não escuta-lo, mas a mim ela escutaria.

- De que adiantaria? Eu continuaria sem falar, e você nem sabe se o que eu sei pode servir para alguma coisa.- disse Draco dando ombros, porém surpreso pela atitude do outro em querer ajuda-lo.

- Algo me diz que Mione sabe de tudo.- disse Harry sério.- Ela conta à Tonks e você só terá que confirmar.

- Acho que a Granger já teria contado tudo isso à Senhorita Desastre se realmente quisesse.- disse Draco.

- Não sem ter você pra confirmar.




****




Gina seguia alheia ao restante do mundo pelo corredor. Tão afoita estava que nem bateu na porta da sala antes de entrar. Mas ao ver quem estava lá dentro ela simplesmente viu-se paralisar sentindo um imenso alívio lhe subir pelo corpo.

Luna estava assentada em uma cadeira diante da lareira apagada. Tinhas os cabelos presos em duas tranças caídas pra frente graças ao rosto baixo e aos cotovelos apoiados nos braços da cadeira. Tinha o mesmo aspecto cansado, mas saudável de quando Gina a visitara em casa. Parecia aérea, pois nem se importou com a entrada da garota ruiva, talvez nem a tivesse notado.

Após o alívio passar, Gina acreditou que Luna realmente estivesse no meio de uma nova crise. Mas o fato de Luna Lovegood estar assentada em um lugar inusitado e completamente alheia às coisas ao redor não era nenhuma novidade.

- Luna?- indagou enquanto a porta atrás de si fechava-se com um claque!.

A garota continuou imóvel. Gina se aproximou e ajoelhou-se diante dela. Levantou seu rosto, os olhos estavam ainda desfocados.

- Luna, você está bem? Estive lhe procurando por toda parte e...

A cadeia de fatos que se desenvolveu a seguir foi sem sombra de dúvidas inopinada, ao menos para Gina. Os olhos enormes e úmidos de Luna giraram e foram focar-se amavelmente dentro dos castanhos de Gina, que sentiu seu estômago cair.

Quis tornar a perguntar se a outra estava bem. E lançar também todas as perguntas que lhe vieram à cabeça no caminho até a sala, mas sua voz simplesmente morreu antes de dar vida às palavras.

Luna curvou-se mais para frente e apoiou o rosto em uma das mãos. Gina estranhamente perdida em seus olhos nem percebeu que, ainda de joelhos, arredou para mais perto da outra. Só quando seus narizes se tocaram e ela sentiu a respiração de Luna muito próxima da sua é que teve um presságio do que viria a seguir.

Em uma fração de segundo preparou-se para ficar de pé e provavelmente sair correndo dali, mas então a cadeira de Luna rangeu quando ela chegou ainda mais perto e fez com que os lábios das duas se tocassem.

Mas apenas se tocaram e ela se afastou, levantando-se. Luna também o fez. Era hora de sair correndo, pensou Gina, mas seu corpo já não a obedecia e quando deu por si estava embebida por um perfume doce e novo enquanto beijava sua melhor amiga de uma forma que ela nunca imaginara poder beijar alguém.

Só quando o som da porta se abrindo chegou aos ouvidos de Gina foi que a garota, mais vermelha que seus próprios cabelos, finalmente encontrou real motivação para dar um jeito de sair correndo. Luna havia caído assentada na cadeira, aparentemente desmaiada.

- Oouh...não!- murmurou Draco, com um sorriso entre o sarcasmo e o autismo no rosto ao entender o que acabara de acontecer.

Gina olhou de um para o outro e quase chegou a dizer que não era nada daquilo que eles estavam pensando, mas a partir do momento em que ela concluiu que realmente era aquilo se limitou a colocar o plano do “sair correndo” em ação e com isso deixou a sala.

- Elas...- balbuciou Harry.- Elas se beijaram?

- Não Potter, estavam apenas trocando saliva, atritando os lábios, disputando qual das línguas é maior.- despejou Draco indo erguer o corpo inconsciente de Luna.- Ela já não estava ciente de si.- concluiu tomando a pulsação da outra.

- Mas a Gina estava!- exclamou Harry incrédulo.

- Basta um louco pra se fazer a loucura, Potter.- disse Draco.- E sem querer ser chato, mas espero que a cena que acabamos de presenciar morra aqui.

- Vou fingir que sonhei com isso então!- disse Harry sem saber se realmente conseguiria guardar aquilo pra si. Draco olhou pra ele com um sorriso malicioso no rosto e ele, sem entender bem o porquê, ruborizou.

- Eu sei, não seria um sonho tão ruim assim.- concluiu o rapaz louro.- Mas é melhor a levarmos daqui.




****




Gina entrou aos tropeços pelo buraco do retrato e quase colidiu com Neville que parecia prestes a deixar o salão comunal.

- Gina, está tudo bem?- indagou o rapaz.

Gina olhou pra ele afoita. O ocorrido na sala de Tonks se repetindo incansavelmente em sua mente. Sentiu-se ruborizar ainda mais e correu escada acima até seu dormitório onde foi se trancar no banheiro.




****




Hermione entrou na enfermaria indiferente à seja lá o que acabara de acontecer. Sua cabeça doía desde que soubera sobre o filho de Rony e isso a preocupava. Temia que Lestrange tivesse algo a ver com a dor. Dificilmente a Comensal conseguira outra ligação, mas dores de cabeça como aquela nunca vinham à toa.

O dia que vinha sendo aquele também não cooperava para alguma melhoria em seu humor. Acordara atrasada depois de uma prolongada falta de sono e antes do café já tivera problemas com as gemialidades Weasley. Depois da aula de poções perdera metade da aula de runas separando uma briga entre calouros Sonserinos e Grifinorianos. Atrasara-se também para aula seguinte, de feitiços, após perder a hora na biblioteca e agora se encontrava ali, depois de rodar metade do castelo procurando Tonks para informá-la de que Luna Lovegood chegaria ao castelo antes mesmo do jantar.

Sobre Luna, porém, parecia que já era tarde para o recado. Pois deitada sobre um dos leitos da enfermaria ela estava apagada. Tonks conversava com a enfermeira. Ambas tinham expressões preocupadas.

Estranho, pensou, recebera uma carta do pai de Luna dizendo que ela estava melhor. Teria a garota loura entrado em outra crise? Aquilo já estava ficando repetitivo. Inquietantemente repetitivo.

Ouviu então o som de alguém pigarrear e olhou para o lado. Harry e Draco encontravam-se assentados por ali o que não foi de fato uma surpresa para ela, mas também não serviu para melhorar seu humor. Aproximou-se dos dois ainda observando Luna adormecida.

A garota estava coberta até o pescoço e seus cabelos, soltos, repousavam sobre as cobertas. Quando pequena Hermione sempre ouvira contar a história da Bela Adormecida. Talvez pelo simples fato de Luna Lovegood ser uma pessoa de aparência irreal e que agora, adormecida, parecia estranhamente sem vida - como uma estrela que se apaga - ou por outro motivo qualquer; mas a única idéia que Hermione conseguia formar de Luna, no momento, era a da mocinha que espetou o dedo na roca envenenada e adormeceu para sempre. E agora, em seu sono, esperava sonhadoramente pelo príncipe encantado que viria acordá-la.

Pensar em Luna Lovegood e em um príncipe encantado era por si só irônico, riu mentalmente quando estava suficientemente perto dos rapazes.

- Pensei que traria Gina.- disse Draco.

- Eu não vejo Gina desde antes do almoço.- disse Hermione ainda examinando Luna.- É mais uma crise? O que aconteceu?

- Quando nós entramos na sala, Luna estava em crise e Gina saiu correndo.- mentiu, de certa forma, Draco.

- Acha que Gina pode ter tido alguma participação no início da crise?- indagou Harry pensativo.

- Acho que vocês não estão querendo me contar o que realmente aconteceu.- disse Hermione secamente.

Harry e Draco se entreolharam cheios de cumplicidade. Nenhum dos dois queria contar o que realmente acontecera. Mas a simples possibilidade de Hermione penetrar-lhes a mente e ver o que o ocorrido lhes fizera à imaginação fez-los correr em arrumar uma desculpa, ou contar a verdade.

- Foi uma cena estranha.- começou Draco.

- É.- fez Harry.- Quando a gente abriu a porta Gina já tinha se virado e saído correndo, e Luna havia desmaiado.

- Foi isso mesmo.- concordou Draco.- Deu pra ver só um pouco.

- Muito pouco.- fez Harry.

- Parem de dar voltas!- resmungou Hermione.

Harry suspirou e olhou para Draco, que consentiu com a cabeça deixando os ombros caírem.

- Elas estavam...- começou Harry.

- Se beijando?!- completou Draco erguendo as sobrancelhas e arregalando os olhos.

- Foi isso?- indagou Hermione como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Por um momento achara que Belatriz pudesse ter possuído Gina e atacado Luna. Ou que a última pudesse ter finalmente tocado em algum assunto delicado com a garota ruiva, mas aquilo não parecia tão ruim.

- Você esperava mais?- indagou Draco

Hermione hesitou. É, talvez. Simplesmente deu as costas e foi falar com Tonks e a enfermeira.

- Ela sempre foi louca ou começou recentemente, tipo depois que vocês voltaram?- indagou Draco fitando Harry.

- Acho que deve sempre ter sido.- concluiu o garoto sem medir as palavras, imerso em seus pensamentos.

Draco fez uma careta incrédula pela resposta e balançando a cabeça negativamente deixou a enfermaria.

- Eu vinha avisar que ela chegaria.- disse Hermione com simplicidade para Tonks.

- Um pouco tarde não?- indagou Tonks parecendo um pouco irritada.

- Sinto muito, mas a vida de monitora chefa tem se mostrado bem estressante.- explicou a garota.

- Tudo bem.- disse Tonks com um sorriso fraco.- Esse início de ano tem sido difícil para todos nós. Mas já sabia que ela viria?

- Recebi uma coruja essa manhã.- disse Hermione olhando mais uma vez para Luna.- Dizia já estar boa. Avisava ainda que chegaria antes do jantar. O que aconteceu?

- Quem sabe?!- suspirou Tonks.- A única certeza que temos é que essas crises de Lovegood estão ficando preocupantes.

- Sabe...- disse Hermione hesitando.- Me pergunto se ela não em nada com isso?

- Penso nisso a cada crise.- disse Tonks também hesitante.- Hermione, não se meta nisso.

- Porque eu me meteria?- perguntou a garota com simplicidade.

- Por que é o que sabe fazer melhor.- disse Tonks rispidamente.- Não faça nada desnecessário. E não se preocupe, vamos mantê-la dormindo até decidirmos que providência tomar.

- Vocês...

- Vamos tomar as atitudes certas dessa vez.- disse Tonks olhando para a garota adormecida.- Agora vá, e leve Harry daqui. E avise Gina sobre o ocorrido, por favor!

Hermione consentiu com a cabeça e, virando-se para Harry fez sinal para irem embora.




****




- O que você e Malfoy faziam lá?- inquiriu Hermione.

- Porque você faz as perguntas erradas?- indagou Harry em resposta.

- Você não vai responder?

- Não, e você?

Harry observou a garota pensativa pelo canto dos olhos, então empurrou-a para dentro de uma sala que geralmente ficava deserta. Já ia beijá-la.

- Agora não, Harry.- murmurou Hermione o empurrando.

Harry fez um muxoxo impaciente.

- Namorar uma monitora chefe nem sempre é legal.- murmurou a garota saindo da sala. Harry seguiu atrás dela.

- Nada com que eu não possa me acostumar.- retrucou o garoto ajeitando os óculos.- Qual é o dever inadiável dessa vez?

- Ir atrás de Gina.




****




Gina lavou o rosto pela milésima vez e deixou-se cair novamente assentada no canto do banheiro. Aquilo não podia ter acontecido; aliás, deveria ser um sonho, ou melhor: um pesadelo. Beliscou o próprio braço e ao sentir algum sinal de dor fitou o mesmo, havia diversas marcas roxas e vermelhas por ali. É, não estava sonhando, infelizmente.

Como encararia as pessoas dali pra frente? Como olharia Harry, Malfoy, e Luna? E se mais pessoas ficassem sabendo do ocorrido?

Rostos familiares e amigos não paravam de lhe vir à mente. “Isso não é certo.” Diria Hermione. “Sempre disse a você que aquela amizade com a Srta. Lovegood durante a infância não daria em boa coisa, mamãe.” Diria Percy. “Isso foi nojento!” “Realmente nojento!” diriam Fred e Jorge. Chegou até a assistir Rony indo tirar satisfação com Luna pelo ocorrido quando ouviu duas partidas na porta do banheiro.

Gina se aquietou e chegou a quase prender a respiração. Quem seria? Não queria falar com ninguém, não queria ver ninguém, nunca mais.

- Gina, você está aí?- era a voz de Hermione.

A garota ruiva se espremeu contra a parede sem responder. Mais lágrimas chegavam-lhe aos olhos.

- Gina?- insistiu Hermione. – Eu sei que está aí, por favor, abra a porta.

- Vá embora.- disse Gina com a voz trêmula, lágrimas lavando seu rosto agora.

Do lado de fora do banheiro Hermione soltou um suspiro. Não gostava de ter que mentir para Gina, mas não podia deixar a irmã de um suicida trancada em um banheiro após de um acontecimento desestabilizante como aquele; não a irmã de Rony.

- Escuta, não sei porque está trancada aí, é que eu rodei o castelo todo atrás de você até vir parar aqui.- disse Hermione tentando soar convincente.- Tenho algumas notícias que lhe interessam.

- Desculpe, Mione, mas eu realmente não quero falar com ninguém.- repetiu Gina. Seu ímpeto inicial fora se afastar da porta antes que Hermione desse um jeito de penetrar sua mente. Mas ao identificar na garota do lado de fora sinais de desconhecimento do ocorrido, Gina hesitou em continuar a ignorar a todos.

- Aconteceu alguma coisa?- indagou Hermione.

- Não.- disse Gina rapidamente sem disfarçar o tom choroso. As lágrimas de repente secaram.

- Algo aconteceu.- concluiu Hermione.- Estar trancada em um banheiro na terceira tarde em Hogwarts definitivamente não combina contigo. Escuta, eu vou estar lá em baixo, se resolver sair daí e quiser conversar é só me avisar.

Hermione soltou um suspiro preocupado e se encaminhou para a saída do dormitório. Mal alcançara a porta quando ouviu uma chave girar e Gina surgir pela porta do banheiro. Tinha o rosto marcado por lágrimas.

- Quais são as notícias?- disparou Gina.

- Uma é boa e outra é ruim.

- As boas antes, sempre.- murmurou Gina.

- Luna está de volta.- sorriu Hermione, diferente de Gina que se deixou cair em sua cama.- Porque que não estamos felizes com isso?- indagou Hermione indo se assentar defronte à Gina.

- Por que ainda tem a ruim.- respondeu Gina com certa secura.

- Hum, ela estava em St. Mungus, por isso não veio conosco pra escola. - disse Hermione examinando Gina atentamente. A garota ruiva por sua vez sentiu uma sensação horrível nascer em seu estômago.

- St. Mungus?- indagou.- Porque?

- A ocorrência das crises provocadas pela doença que herdou da mãe tinha se tornado muito repetitiva.- disse Hermione.- Ela teve outra assim que chegou à Hogwarts, Tonks mandou que a colocassem pra dormir.

- Porque?- indagou Gina sentindo a sensação no estômago ainda pior.

- Acham que Lestrange pode ter algo com isso.- disse Hermione.- Como com o Rony.

Gina sentiu um frio na barriga. Ao lembrar de Rony, ambas se calaram, mas não só pela lembrança do Weasley.

Por um momento Gina considerara a hipótese de falar sobre o que acontecera entre ela e Luna para Hermione, mas se a garota estava agora na enfermaria, significava que não dava por si quando tudo aconteceu. Então, elas não haviam se beijado, mas ela própria havia beijado Luna.

Já em outra parte de sua mente, onde ela ainda não pirara com aquilo tudo, surgiu um segundo pensamento, cheio de medo. E se a Comensal estivesse mesmo influindo nas crises de Luna e acabasse levando-a ao suicídio como com Rony.

Hermione, por sua vez, já tinha ciência da hipótese. Era o único motivo para que Madame Pronfey deixasse Luna dormindo. O problema morava no fato que quando Rony estivera dormindo na enfermaria, ela própria insistira para que a mente do garoto fosse penetrada e que assim tivessem algum tipo de acesso ao caminho trilhado pela comensal.

Hermione arregalou os olhos levemente e olhou para Gina. Esta por sua vez assistiu mentalmente a um diálogo que mal se lembrava ter assistido antes.

- Eu já disse o que eles têm que fazer.- disse Hermione.- Aliás, já tinham que ter feito, mas simplesmente não me ouvem.

- E o que deveria ser feito?- perguntou Gina.

- Deveriam penetrar-lhe a mente.- disse Hermione.- Só assim eles saberão o que ocorreu. Só assim perceberão que apesar de tudo Rony não teve culpa de nada.

Aquilo não! Pensou Gina erguendo os olhos e topando com os de Hermione presos nela. Bastou um segundo para ser tomada pelo pânico: Hermione sabia.

Gina se levantou e deu as costas pra ela. As lágrimas voltaram a aparecer. Correu até o banheiro e bateu a porta.

- Gina! Espera.- disse Hermione correndo até a porta.- Eu não penetrei a sua mente. Eu juro! Não a respeito disso. Abra essa porta!

- Eu não devia ter aberto da primeira vez!- disparou Gina lá de dentro.- Vá embora!

- Eu não vou não.- murmurou Hermione.- Deixa ao menos eu lhe explicar o que aconteceu.

Silêncio. Gina chorava silenciosamente no canto do banheiro. Estava perdida. Hermione sabia e logo Tonks e os demais também.

- Por favor.- insistiu Hermione.- Não cometa os mesmos erros que cometi, por favor.

Dentro do banheiro Gina arregalou os olhos e se levantou enxugando as lágrimas.

- Eu não sou lésbica.- apressou-se em dizer a garota ruiva ao abrir a porta e encarar Hermione com firmeza.

- Eu também não.- disse ela rindo ao entender porque Gina abrira a porta.

- O que você fez, então?- indagou Gina.

Hermione deixou os ombros caírem.

- Terminei com o Harry.- disse.- Por um trauma de infância qualquer! Eu... Eu sou infértil.

- Foi por isso que terminou com o Harry aquela vez?- indagou Gina meio incrédula.

- Foi.- disse Hermione com a voz fraca.- Eu não sei, quando a coisa me veio à cabeça eu pirei!- completou mesmo sabendo o real motivo de ter pirado.

- Por isso a cicatriz?- indagou Gina indicando a cintura da outra, que concordou com a cabeça.

- Mas temos que cuidar de algo mais urgente agora.- disse Hermione.

- Tonks não vai escutar você se disser pra não usar a Legilimência em Luna.- disse Gina desanimada.

- Eu não vou fazer isso!- disse Hermione.

- O que vai ser então?- indagou Gina meio confusa.

- Vou providenciar uma distração para Madame Pronfey.- explicou Hermione.- Então você vai encher os vidros à cabeceira de Luna de água. Assim, quando derem as poções para mantê-la dormindo, este não terá efeito algum.

- De que adiantará ela acordar?- indagou Gina achando que seria melhor que a garota continuasse dormindo por um bom tempo.

- Adiantará, apenas.- disse Hermione.- Acho melhor não perdermos tempo.- completou se levantando.

- E se encontrarmos Harry ou Draco por aí?- indagou Gina sentindo-se vermelha.

- Ignore-os.




****




- Muitas dores no estômago, Draquinho?

Draco se virou na poltrona e encarou a horrenda Pansy Parkinson o fitando com os olhos brilhando.

- O que você quer?- resmungou ele.

- Só vi algo que talvez te interessasse.- disse a sonserina, sem conseguir despertar o interesse de Draco.- Pela manhã.

Draco deu ombros tirando o velho cachimbo de um bolso das vestes e o acendeu com a varinha. Deu duas tragadas até que Pansy deu a volta na poltrona e se assentou defronte a ele.

- Granger separou uma briga entre nossos calouros e os dela.- informou.- Deu um grande sermão nos moleques. E disse estar atrás de um espelho que lhe pertence...

- E porque isso me interessaria?- indagou Draco dando uma tragada e soltando a fumaça em um prolongado fio.

- Os moleques estavam intimidados.- disse Pansy.- Se ela descobrisse por onde anda o tal espelho talvez ela ficasse feliz e se esquecesse de informar aos professores sobre a briga.

- Eu sei que sou um tanto quanto narcisista, Pansy.- riu Draco.- Mas eu não cheguei a ponto de roubar espelhos de Grifinorianas sangue-ruins.

- Não é você que mostra ser do tipo furtivo aqui, Draquinho.- sibilou Pansy estreitando os olhos.- Fiquei um pouco surpresa ao compreender que eu não era a única a saber daquele espelho peculiar que você trás no fundo de seu malão.

- Mas é a única.- mentiu Draco unicamente para se livrar de Pansy.

- Eu não ficaria tão tranqüila em seu lugar.- disse Pansy arregalando os olhos.- Será que você perdeu a capacidade de pensar? Até a ameba unicelular em cima daquele armário sabe por que ela quer o espelho.

Como Draco nada disse a Sonserina simplesmente continuou, diminuindo a voz.

- Ela quer chamar sua tia até aqui, para ser pega. Então todos pensarão que ela veio por sua causa e aquela Granger terá matado dois mosquitos em um só golpe.

- Minha tia está longe, Pansy.- disse Draco fazendo pouco caso.

- Ninguém mandaria uma penseira por correio se estivesse longe.- retrucou a garota.- Ah! Eu esqueci, ela não chegou por correio. Zambini a buscou em algum lugar próximo...

Draco tragava seu cachimbo ao ouvir isso e acabou engasgando.

- Penseira?- indagou assim que conseguiu recuperar o fôlego.

- A que você recebeu no meio da noite retrasada.- disse a outra muito séria.

- Você tem me espionado ou o que?- indagou o rapaz louro. Toda a cor, já escassa, havia sumido de seu rosto.

- Sou apenas observadora...

- Não é não.- disse Draco, já de pé, enquanto apagava o cachimbo.- Você é uma garota tola sem amor próprio. Que me persegue na esperança de que um dia eu olhe pra você. Só que “até aquela ameba unicelular sobre o armário” sabe que isso não vai acontecer. Porque então não me deixa em paz e vai cuidar da sua vida ein?

Draco encarou a garota com desprezo. Ela por sua vez tinha os olhos arregalados, surpresa pelo ataque de fúria inesperado. Draco meteu o cachimbo no bolso e subiu correndo até seu dormitório onde passou as duas horas seguintes andando de um lado para o outro, pensando.

No fim das mesmas ele caminhou até a escada que normalmente o levaria ao salão comunal. Observou o mesmo, lá em baixo. Aquele era o seu território. Seu! E ele era Draco Malfoy, e um Malfoy não se rende no próprio território.

- Blás!- chamou ele em tom de quem manda e não quer ser desobedecido.




****




Hermione observou, por cima do livro que mais uma vez fingia ler, Gina atravessar o salão comunal em direção ao buraco do retrato. Ia indiferente à tudo, tentando se passar por nada.

Harry, que até então se distraía assistindo uma partida de xadrez bruxo entre Dino Thomas e Neville, acompanhou a garota com os olhos hesitando sobre ir perguntar se estava tudo bem. Quando o buraco do retrato se fechou atrás da caçula dos Weasley ele decidiu que era melhor não. Talvez ela estivesse a caminho da enfermaria, pretendendo ter notícias de Luna.

- Cheque...- disse Dino trazendo a atenção de Harry de volta à realidade.

Harry piscou e olhou em frente, dando de cara com os olhos de Hermione por sobre o livro. A garota rapidamente ergueu o último, fingindo-se compenetrada. Mas o minuto de distração da monitora-chefe da Grifinória fora o suficiente para deixar escapar para seu melhor amigo que havia alguma trama no ar.

- Não tão rápido.- retrucou Neville depois de finalmente mover sua defesa.

Harry virou-se para o jogo à tempo de assistir o Bispo de Neville destruir o cavalo de Dino que ameaçava o reinado das peças brancas.

- Isso foi cruel.- murmurou Simas que assistia ao jogo do outro lado da mesa.

Harry deu as costas novamente e voltou, mais uma vez, sua atenção para Hermione. Não estava lendo aquele livro de verdade, era o que mostravam seus pés que batiam no chão freneticamente.




****




Gina rodou pelos corredores do castelo por cerca de meia hora. Era o tempo que Hermione pedira para tirar a enfermeira da enfermaria.

A Monitora chefe, como tal, provavelmente tinha acesso à rotina dos professores e funcionários do colégio. E como se tratava de Hermione, possuía neurônios suficientes para criar distração para quem quer que fosse e sem chances de dar algo errado.

Gina, porém, como já dito, circulou por meia hora. Não se podia dizer que era tarde, mas também não era cedo. O jantar já fora servido, o grosso dos alunos rumava para seus salões comunais agora. E ver uma monitora circulando pelo castelo depois do jantar não era tão anormal assim.

Quando seu relógio finalmente alcançou a casa das oito horas Gina finalmente rumou para o andar da enfermaria. Já junto à porta, hesitou. Não vira nem sinal da enfermeira por ali até então, nem de mais ninguém. Hermione talvez tivesse falhado, apesar de não costumar faze-lo.

Por fim resolveu entrar. E se Luna estivesse acordada? Que tolice a sua, ela estava ali para findar o sono da outra. Seria, é claro, muito perturbador ver o rosto da garota, mas ela tinha que ignorar o seu incômodo pelo ocorrido, ou este se tornaria em breve ainda maior.

Entrou. A enfermaria estava escura e vazia. Só havia um leito ocupado cuja cortina estava semi-fechada. Gina caminhou até ele, logo estava olhando o lado da cortina fechada.

- Vidros sobre o criado.- murmurou para si mesma, mas o criado daquele lado do leito estava vazio, o que significava que ou estavam do outro lado do leito, onde a cortina estava aberta, ou não estavam ali. Dar a volta significaria ter que encara Luna.- Ela está dormindo, sua tola.- murmurou Gina sem entender porque sentia-se corar.- E além do mais, não há nada demais, eu gosto de garotos e sempre gostei...- completou enquanto ia dando, lentamente a volta no leito.

E lá estava Luna, como de esperado, adormecida. Parecia um pouco mais pálida do que o normal, sem chegar a perder a aparência saudável. Os tais frascos também se encontravam por ali. Gina apanhou-os e se dirigiu ao fundo da enfermaria, onde esvaziou os vidros, a um canto, e com a varinha foi enchendo-os um a um de água.

Logo estava de volta, recolocando cada frasco em seu devido lugar. Distraiu-se, e quando deu por si fitava Luna. Logo ela iria acordar, e Gina desconfiava de que não se lembraria de nada. O que era ótimo, por sinal, assim só restaria a ela própria esquecer o ocorrido.

Agora era voltar a seu dormitório. Suas pernas, porém, pareciam não querer arredar de onde estavam, centímetros à esquerda do leito da garota loura adormecida. Não sabia por que ainda estava ali, mas não conseguia sair também.

Foi quando lhe veio um estranho impulso. Um impulso que ela por algum motivo não conseguiu, ou não quis conter.

Gina curvou o corpo sobre o leito e deitou seus lábios sobe os da garota ali repousada. Em seguida deixou a enfermaria, veloz e desorientada.




****




- À toa?- murmurou Harry se aproximando.

- Esperando.- murmurou Hermione fechando o livro e jogando-o pra um lado.

- Onde Gina foi?- indagou ele.- Ela soube lhe explicar o que aconteceu?

- Não estou esperando por ela.- respondeu Hermione sorrindo.

- Por mim?

- Talvez possamos fazer algo juntos essa noite.- concluiu Hermione olhando pra ele de forma estranhamente dissimulada.

- Minha capa da invisibilidade está sempre disponível.- disse Harry.- E além do mais eu andei treinando alguns feitiços para secar roupas...

- Sabe Harry, muito tempo passou...- interrompeu Hermione com um sorriso maroto.- E eu me tornei do tipo furtiva...

- O que vamos roubar esta noite?- indagou o rapaz parecendo muito compenetrado na idéia. Hermione fitou-o por algum tempo até que sorriu e se levantou.

- Me encontre aqui dentro de uma hora.- disse ela antes de apanhar seu livro, dar um selinho em Harry e rumar para o dormitório feminino do sétimo ano.

Jogou-se em sua cama sem largar os livros e respirou fundo. Alguém tinha que fazer alguma coisa ou aquilo nunca ia parar. E como seus amigos nunca a deixariam tomar aquela decisão, o melhor era encher a noite de todos. Começara com a de Gina.

O plano para ajudar Gina fora perfeito. Uma reunião estava ocorrendo na sala de Tonks, entre os aurores e a diretora de Hogwarts. Hermione então mandou que um calouro dissesse à Madame Pronfey que ela acabara de ser convocada para uma reunião urgente na diretoria. A enfermeira então deixaria a enfermaria e até perceber o engano teria passado tempo suficiente para Gina agir. Aparentemente tudo dera certo, afinal de contas a Weasley caçula já estava em seu dormitório. Talvez ela quisesse ir também, para se divertir um pouco.

Hermione então desceu um andar até o dormitório do sexto ano. Este estava aparentemente deserto, todas as grifinorianas deste ano encontravam-se provavelmente fofocando no salão comunal.

As cortinas de todas as camas estavam abertas, o que deixava claro que Gina não estava dormindo ainda. Onde estava? Hermione então reparou que a porta do banheiro encontrava-se fechada. Caminhou até lá.

- Gina?- chamou depois de bater à porta.- Sou eu Hermione.

- Tudo deu certo.- murmurou Gina depois de algum silêncio.- Ela logo vai acordar...

- Eu sei... mas antes que isso aconteça eu preciso fazer mais uma coisa.- disse Hermione medindo as palavras.- Lembra-se de quando eu, Harry e Rony saíamos pela escola no meio da noite e você sempre dizia nos invejar por isso?

- Sim...

- Quer vir conosco?




****Continua****


Nota da autora: Ta, eu sei que prometi Belatriz Lestrange para esse capítulo, mas ele acabou ficando mais longo do que eu pretendia de forma que acabei adiando as coisas para o próximo. E sim, só faltava algum tempero Slash para a minha coleção de histórias chocantes e indignantes.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.