Saída à Francesa



- Mamãe, a Senhora não pode simplesmente ficar parada!- despejou Tonks fuzilando com os olhos a figura calma da mãe.

A Sra. Tonks, porém, permanecia estática fitando algum ponto ao fundo de sua sala no ministério. Raciocinava.

- Por que se algo acontecer com Hermione não será só culpa de falhas da Ordem ou do ministério...- continuou Tonks.- Afinal de contas a Sra. é a tutora dela até setembro.

- Cale-se Ninfadora!- interrompeu Andrômeda se levantando com um sorriso. - Esse departamento de Aurores estragou mesmo você. A fez esquecer o respeito quanto ao silêncio.

Tonks a fitou meio incrédula, meio indignada. Mas nem teve tempo de recomeçar a falar.

- Ela não pode voltar à casa dos pais, pois sabe que nós os mudamos de lá. Não fugiria de casa e seguiria até a ordem já que está fugindo de vocês...

- De nós.- interveio Tonks.

- Potter e Weasley estão na Ordem e se ela abriu mão de dividir suas idéias com eles então...- Andrômeda começou a andar de um lado para o outro.- Ela procurou a Luanazinha...

- Luanazinha?

- Luna McKinnon Lovegood.- informou Andrômeda.

- Ela não esteve lá...- começou Tonks.

- Esteve sim.- murmurou Andrômeda.- Provavelmente antes de a garota ir para St. Mungus.

- Lovegood está em St. Mungus?

- Elas conversaram por horas. Hermione narrou todos os fatos, mas a Luanazinha não podia lhe dar uma resposta suficiente...- prosseguiu Andrômeda inquietamente.- Então ela resolveu procurar a única outra pessoa do mundo em quem confia além de Potter, Weasley e Lovegood...

- Draco Malfoy?- arriscou Tonks sem entender muito bem a lógica daquilo tudo.

- Exato.- sorriu Andrômeda finalmente parando.- O que está esperando? Já sabemos pra onde ela foi!

Tonks encarou a mãe hesitando até que por fim ela deu um sorriso e se entregou ao fato de que com os últimos acontecimentos a chance de sua mãe ter razão era muito grande.

- Se um dia a Senhora morrer...- começou Tonks ainda sorrindo.- Quero como herança a sua fonte de informações.

- Pensei que não acreditasse nelas.- disse Andrômeda maternalmente.

- Eu não sei...- disse Tonks estreitando os olhos sem deixar de sorrir.- Elas parecem extraordinariamente menos seguras que a fonte de notícias da revista de Lovegood. Mas sempre acertam.

Andrômeda riu com gosto. Tonks caminhou até a mãe e lhe deu um beijo na testa como despedida.

- Não pare o trem ou o invada.- murmurou a Inominável antes que sua filha alcançasse a porta.- Não convém causar alarme. A Srta. Granger é uma mocinha esperta e ligeira. Saberá chegar bem até a estação. Hogsmead é que me preocupa.

Tonks consentiu com a cabeça e finalmente deixou a sala. Fora do ministério a noite provavelmente já tomara seu lugar.




****




Hermione observou a última estação antes de Hogsmead se aproximar. Girava entre os dedos, desde que deixara Londres, o distintivo de monitora chefe. Passara toda a sua vida em Hogwarts sonhando com aquela insígnia e agora que a tinha sentia que não a merecia.

O trem parou com um assobio no meio da noite. A cada estação alguns passageiros deixavam o trem ao passo que poucos entravam. A verdade é que parecia que bruxo nenhum queria estar em Hogsmead desde que o Cabeça de Javali fora abandonado.

O temor das pessoas à cidade era na verdade uma leve suspeita para Hermione. Lia o jornal, mas desde que deixara o trabalho no ministério ela já não tinha mais contato com bruxos que não fossem os Tonks.

Talvez agora ela entendesse um pouco o que sentira Harry durante cada um dos últimos verões. Pobre Harry, talvez peça crucial àquela confusão promovida pela Comensal, mas tão alheio a tudo... Talvez narrasse toda a história a ele mais tarde. Ainda pensava nisso quando lhe veio à mente a lembrança.

Às vezes sentimos saudades de alguma coisa, de algum fato e nos forçamos a lembrar o que foi aquilo. Porém, existe um outro tipo de lembrança. Uma lembrança espontânea e impertinente que surge do nada, sem ser solicitada.

E lá estava Harry, completamente sem jeito, sentado diante dela no Salão Comunal.

- Eu já não lhe via somente como a amiga acolhedora.- disse Harry ignorando o comentário que Hermione fizera antes.- Eu a amava e eu não queria lhe envolver nisso tudo. Eu não queria ter que acorrentar você a mim por causa da maldita profecia. Não queria expor você ao perigo. Eu não queria me expor ao perigo de perder você como perdi o Sirius.

- E porque você iria me expor a algum tipo de perigo me falando sobre a tal profecia?- perguntou Hermione.

- Por que você passaria a se preocupar ainda mais comigo.- disse Harry.- Porque passaria a querer me proteger e estaria disposta a dar a sua vida por mim se fosse preciso.

Contar à Harry podia definitivamente ficar pra depois...

- Com licença.

Hermione ergueu os olhos, sobressaltada, enquanto metia o distintivo no bolso. Havia um rapaz parado à porta.

- Posso me assentar aqui?- indagou ele.

- Claro.- disse Hermione educadamente sem entender porque num trem vazio como aquele o rapaz escolhera logo a sua cabine.

Hermione o observou entrar. Era um rapaz alto, os cabelos e os olhos claros e um jeito galante que arrancaria risadinhas de qualquer aluna normal do sétimo ano. Trajava vestes azul marinho que pareciam mais o uniforme de um lugar qualquer e, assim como ela, ele não trazia nenhum tipo de mala ou bagagem.

Sentindo que o olhara durante tempo demais, Hermione resolveu concentrar-se na paisagem escura que voltara a se mexer lá fora. Não adiantou muito, agora era o rapaz quem a observava.

- Muito me admira ver uma mulher tão jovem indo pra Hogsmead a essa altura.- comentou o rapaz. Hermione pôde perceber que ele tinha um carregado sotaque.

- Não é uma cidade muito freqüentada?- indagou Hermione achando melhor não se deixar ser identificada. - Li que é o único vilarejo totalmente bruxo...

- Bruxos das Trevas.- interrompeu o rapaz.

- Pensei que depois de Você – sabe - quem nós teríamos calma.- comentou Hermione.

- Sempre há algo pior por vir.- disse o rapaz.- Lestrange. Belatriz Black Lestrange. A Comensal. Sorte ainda não temermos seu nome.

- Ela não parece tão perigosa assim...- murmurou Hermione dando ombros e voltando a olhar pela janela. Seguiu-se algum tempo de silêncio. Hermione voltou a virar-se para o rapaz. – E você, fará o que em Hogsmead?

- Um bom filho a casa torna.- sorriu ele. Ficava ainda mais atraente quando sorria.- Estudei em Hogwarts, faz quase dez anos que me formei...

- Pensei que não fosse inglês.- Comentou Hermione.

- Ah! O sotaque!- sorriu novamente o rapaz.- Filho de um Irlandês e uma Francesa. Passei meus sete anos de escola por aqui e então voltei à terra de minha mãe. Sou Auror.

- Ah!- Fez Hermione entendendo o que talvez fosse o porquê das vestes que pareciam um uniforme. - E o que um Auror francês faz por aqui? Reforços?

O rapaz não respondeu a princípio. Hermione não entendeu porque, mas ele pareceu evitar olhá-la. Seguiu-se um momento de silêncio e Hermione pôde apostar que ele acabara de concluir que ela era uma bruxa das trevas “Porque diabos resolvera se vestir totalmente de negro, pela manha?” Logo entendeu que estava errada, pois a conversação aparentemente interrompida e findada voltou tomando um rumo interessantíssimo e inesperado.

- Não é do Ministério Inglês ou de algum outro, pois é?- indagou o rapaz conferindo se o restante da cabine estava deserta.

- Não.- disse ela antes de sorrir com franqueza.- Nesse momento você pode seguramente me considerar uma fora da lei.

- Fugindo de algo?- indagou o rapaz.

Hermione concordou com um murmúrio quase inaudível enquanto cruzava as pernas elegantemente e se preparava para ouvir o que viria a seguir.

- No início do verão o ministério Francês recebeu um alarme de que uma Ex-Comensal da morte provavelmente estava refugiada por lá.- sussurrou o rapaz.- A fonte, uma velha caduca do Departamento de pesquisas britânico, não era segura, porém, e o Auror Chefe não quis se preocupar.

O rapaz olhou novamente à volta. O trem seguia quieto em seu ruído e balanço normais.

- Sabe, as guerras de Você – sabe - quem atinge sempre mais que somente a Grã-bretanha. E há muitos simpatizantes dele por todo o mundo. E um desses foi, desde sempre meu colaborador.

- Um colaborador é como um capanga?- indagou Hermione demonstrando-se interessada.

- Eu, era o capanga. - sorriu o rapaz com um brilho estranho no olhar.- Nada melhor que um auror como fonte de informações, não acha?

- Lógico...- concordou Hermione.

- Pois esse meu colaborador não acreditou que o alarme fosse falso e me mandou ir atrás de pistas sobre a tal Comensal. Não foi preciso mais que um jantar à beira do Reno para concluirmos que ela seria o próximo Voldemort!- o rapaz fez uma careta ao pronunciar o nome.- A partir de então nós a acobertamos durante todo o seu período de estadia na França.

- E...?

- Ela voltou.- murmurou o rapaz.- Afinal de contas ela precisava reunir, desde já, alguns seguidores de sua terra natal também.

- Deixe-me concluir.- pediu Hermione com um sorriso simpático.- E ela não dá muitas notícias e você resolveu vir atrás dela?

- Quase.- murmurou ele.- Logo ela começará a agir. E eu, como um exemplar auror, sou um perfeito espião dentro da fracassada Ordem da Fênix!

Hermione sorriu concordando com o “fracassada”. Concentrou-se então em algum ponto próximo ao encosto da poltrona do rapaz. Sentia os olhos do Francês medindo-a parte a parte. Dos pés à cabeça, demorando-se um pouco em seu busto.

Quando Hermione finalmente sentiu que os olhos claros do rapaz haviam alcançado seu rosto ela lançou os próprios ao encontro dos primeiros e sorriu.

- A propósito, como se chama?- indagou a garota sorrindo de uma forma que não estava muito acostumada a sorrir.

- Hugo Foucault*¹.

- Já tem lugar para ficar em Hogsmead, Sr. Foucault?




****




- Pensei que demoraria menos para chegar.- murmurou Tonks ao ouvir a porta da sala se abrir.

A aurora encontrava-se assentada em uma poltrona que ficava confortavelmente posicionada diante da lareira, porém de costas para a entrada da casa em Hogsmead.Sabia exatamente quem era o recém chegado.

- Já estava começando a acreditar que as bizarras fontes de mamãe finalmente começaram a falhar.- ela se virou e tomou um leve susto ao encarar o rosto de Hermione Granger.- O que aconteceu?

- Acalme-se, eu não fui estuprada.- disse Hermione sem se preocupar em sorrir. Tinha plena ciência de que estava completamente amarrotada, que havia a marca de uma mordida em seu pescoço, um enorme arranhão em seu braço direito sob um rasgo na manga das veste e que os três botões mais altos das mesmas estavam abertos.

Ouviram-se passos e Gui Weasley surgiu pela porta que levava à cozinha, atraído pelo som de vozes. Ele ficou igualmente estupefato ao deslumbrar a garota.

- Que diabos...?

- Me poupem do sermão, ok?- pediu Hermione esfregando o local da mordida.- Temos algo mais importante para o momento.

Gui e Tonks se entreolharam meio sem fala.

- Já ouviram falar de um auror francês chamado Hugo Foucault?

- O nome não me é estranho...- murmurou Gui pensativo.

- Ele seria enviado pelo Ministério Francês para ajudar na caça à Comensal.- informou Tonks.

- Sim! Ele fez Hogwarts conosco, Tonks.- disse Gui se lembrando.- Era um Sonserino galante, acho que pelo jeito afrancesado, costumava falar demais até...

- Muito me admira você não ter se apaixonado por ele.- murmurou Tonks.

- Tonks!- reclamou Gui olhando-a ofendido.- Ele foi um dos únicos Sonserinos da história a se tornarem auror em algum canto do mundo. Mas o que tem ele?

- Eu o conheci no trem.- murmurou Hermione ficando um pouco afoita. Conseguira se controlar desde que decidira fazer aquilo, ainda no trem, porque não conseguiria manter a calma até o fim?- Quem mais está aqui?

- Uma aurora novata.- informou Tonks.- Mas não consigo entender: O que Hugo Foucault tem a ver com esse seu estado? Onde ele está?

- Fletcher chegou pela lareira há pouco.- interrompeu Gui sem ter idéia do quanto aquele nome traria alívio à Hermione.

- É o seguinte.- começou Hermione sem conseguir esconder o sorriso aliviado.- Ele não está do nosso lado. Ele me contou o que pretende e não é boa coisa. Ele é um comparsa da Comensal e veio à Inglaterra somente por causa dela.

- Ele é um espião?- indagou Gui incrédulo no momento que a tal aurora novata, uma moça alta de cabelos louros cacheados, e o sebento Fletcher adentraram a sala.

- Seria.- disse Hermione.- Mas ele não sabia quem eu era. E, não sei por que, pensou que eu também era do lado de lá. Então nós seguimos até a Casa dos Gritos, trocamos alguns beijos, eu o desmaiei e corri pra cá.

- Ew.- murmurou a Aurora novata que possuía o nariz mais fino que Hermione já vira na vida.- Quantos anos você tem?

- Quanto tempo faz isso?- perguntou Gui.

- Cerca de sete minutos.- informou Hermione consultando o próprio relógio depois de lançar um olhar de desprezo para a aurora novata.

- Como chegou aqui tão rápido?- indagou Fletcher.

- Vim voando.- murmurou Hermione com o sorriso de quem acaba conseguir cem pontos para sua casa depois de responder corretamente uma pergunta sobre transfiguração.- Por isso o arranhão.

- Não creio que Foucault seja tão tolo a ponto de deixa-la em posse de sua varinha enquanto ele estava desarmado.- murmurou Tonks pensativa.

- Na verdade ele não estava só desarmado, como também seminu.- murmurou Hermione deixando transparecer que no fundo se orgulhava disso.- Já ouviu falar em Feitiço Preservativo?

Tonks encarou a garota por rápidos segundos e então sorriu em sinal de aprovação. Sacou sua varinha e aparatou.

- Sinceramente.- murmurou Gui parecendo chocado.- Harry provavelmente prefere nunca saber que já sabe usar esse tal “Feitiço Preservativo”.- completou antes de aparatar também.

Hermione então olhou de Fletcher, que pensava, para a aurora novata. A última parecia escandalizada. Voltou-se então para Fletcher.

- A Srta. aprendeu direitinho.- murmurou ele com um sorriso malicioso no rosto.- A hora de o aprendiz superar o mestre está próxima, tenha certeza.- e então aparatou também.

Hermione encarou a aurora novata por mais alguns minutos até que esta finalmente voltou a funcionar e lhe ofereceu um quarto e um banho. A monitora aceitou com gosto e uma hora depois já estava deitada.

Os moradores de Hogsmead tiveram a certeza de que, naquela noite, os fantasmas da Casa dos Gritos voltaram à atividade. Ouviu-se o rumor de vozes, assistiu-se o espetáculo de raios coloridos que cortavam os cômodos da casa abandonada. O som de baques e destruição resistiu por mais de hora. E então, quando a noite foi virar-se em dia, a aurora Ninfadora B. Tonks e o força-tarefa Guilherme A. Weasley adentraram o hospital St. Mungus trazendo um jovem auror francês entre a vida e a morte.

Hugo Foucault só teve tempo de confessar suas más pretensões antes de morrer sob os olhos atentos de meia dúzia de aurores ainda trajando seus pijamas, e a análise perspicaz de um jornalista que por acaso tinha sua filha em repouso no hospital.

Mais tarde, o Ministério informou que o arsenal de armas da família Malfoy, desaparecido desde a Primeira Guerra, havia sido quase totalmente recuperado por aurores.




****




- Eu já esqueci todas as broncas que ensaiei e ainda me sinto em dívida.- murmurou Tonks sorrindo para Hermione que se encontrava perdida por trás do Profeta Diário.

- Só há um jeito de me agradecer.- murmurou Hermione sem sequer olha-la. Era melhor falar rápido, de uma vez.- Me deixando ver Draco, e falar com ele.

Tonks, que acabara de tomar uma golada de chá quente, engasgou com o líquido e acabou por entornar o restante dele por toda a volta.

- Se nem com Veritaserum ele falou, porque você conseguiria algum sucesso?- indagou Tonks olhando desanimada para a lambança que acabara de fazer.

- Mesmo depois de ontem não consegue crer em meu potencial?- indagou Hermione ainda de trás do jornal.- E além do mais, ele costumava confiar em mim.

- Minerva não vai gostar nada disso.- disse Tonks antes de apontar a varinha para o chão e murmurar um feitiço qualquer que acabou por triplicar a quantidade de chá espalhada.

- Ah! Tonks! Vamos!- murmurou Hermione finalmente largando o jornal e indo limpar, sem dificuldade, a lambança de chá.- Você pode ser tão persuasiva quanto eu quando quer.

- Se prometer ficar em casa até o fim da tarde.- murmurou Tonks.

- Eu prometo.- disse Hermione com um sorriso agradecido nos lábios.




****




Draco acordou com o rumor de vozes vindo de algum ponto no corredor que levava à enfermaria. Sabia que aquele era o último dia antes do regresso às aulas. Sabia também que começando as aulas começaria a contagem regressiva para o fim de sua liberdade.

A punhalada na boca do estômago já estava praticamente curada. E ele sentia-se fisicamente descansado, apesar do cansaço por diversos depoimentos que prestara nos últimos dias.

Os passos que ouvira antes agora adentravam a enfermaria. Eram duas pessoas aparentemente sendo que uma delas era Madame Pronfey. Depois de um mês trancafiado ali ele já era capaz de reconhecer o andar ligeiro da enfermeira.

- Sr. Malfoy, acorde, você tem visitas. - disse a voz da própria segundos depois.

- Não percebem que já estou de saco cheio de visitas?- despejou Draco enquanto se assentava em sua cama. - O que vai ser dessa vez? Mais aurores e homens do ministro? Repórteres? Ou o prisioneiro de Hogwarts já está em exposição para curiosos?- ele abriu o cortinado. - Granger?!

E era ela. O verão parecia ter feito bem à garota. Seus traços estavam amadurecidos e ela perdera, agora totalmente, o jeito de menina. Estava um pouco mais alta, talvez. E mais magra também. E nem as vestes totalmente negras, ou o rosto pálido de quem passara as últimas semanas atordoado lhe tiravam o eterno ar de “mocinha sabe-tudo”. A diferença é que agora isso recebera uma promoção a ar intelectualizado.

- E - eu... - gaguejou o rapaz observando madame Pronfey deixar a enfermaria. - Você era a última pessoa que eu esperava ver aqui.

Hermione deu ombros e se virou, puxando um banquinho de três pernas onde se assentou. Estava compenetradamente séria.

- Ninfadora Tonks permitiu que entrasse?- indagou Draco.- Porque até onde eu sei, ela estava sendo uma chata.

- Você deveria chamá-la de Professora Tonks.- disse Hermione com secura.- É como um Monitor Chefe deve tratar os professores. Como conseguiu o distintivo?

- Como sabe que eu o consegui?- indagou Draco levemente surpreso.

- Eu também recebi o meu.- disse Hermione.- Sua tia por acaso andou invadindo a mente de outras pessoas por aí e as manipulando para conseguir a chefia dos monitores para você?

Ela ergueu os olhos desafiadoramente para Draco após dizer isso, mas o garoto não pareceu indignado, ofendido ou tampouco culpado. Um brilho tomou seus olhos cinza, o brilho de alguém que acha algo que a muito procurava.

- Então foi isso!- disse o rapaz sorrindo. - Escuta. Não diga mais nada.

Hermione abriu a boca sem dizer nada, dividida entre incredibilidade e confusão. Draco percebeu isso.

- Sei por que está me tratando assim.- disse ele.- Provavelmente você também acha que o meu esquecimento é apenas uma forma de ajudar minha tia. Só que ao contrário do que todos pensam, eu não estou do lado dela. - Ele levou as mãos ao rosto. - Não lembre! Não lembre!

- Você...?

- Saia daqui, Granger.- disse Draco entre dentes.- Saia.

- O velho Draco Malfoy está voltando?- indagou Hermione com sarcasmo. - Eu já estava com saudades dele, pra ser sincera.

- Saia.- repetiu.

- Eu não vou sair, Malfoy.- disse Hermione rispidamente.- Não enquanto você não me contar o que aconteceu durante aquelas quase vinte e quatro horas.

- Eu não vou repetir.- disse Draco.- Saia, sangue-ruim.

Foram como as palavras mágicas. O “sangue-ruim” ecoou pela mente de Hermione ao passo que ela ficava vermelha. Era melhor sair, não ia adiantar insistir naquilo e além do mais, era melhor ela provar à Comensal que podia fazer algo sem ajuda. Dando as costas, gastou alguns três passos até que parou e novamente se virou.

- Talvez você tenha mesmo voltado ao normal.- disse com a voz rouca.- Talvez tenha voltado a ser o velho Sr. Sarcasmo que cansou de bancar o ajudante da - como é mesmo? – Sangue ruim! O que importa é que não foi o único a voltar ao normal.

Ela encarou Draco e riu.

- Eu voltei a ser a velha sabe tudo. E sei que nesse caso você também sabe de tudo.- recomeçou.- E se ainda lhe interessa: eu não estava sendo influenciada por ela quando nos beijamos na biblioteca. Você possui certa genialidade, e isso foi algo que sempre me atraiu.

E então ela deixou a enfermaria. Antes de autorizá-la a falar com Draco, Tonks prometera buscar as coisas da garota em casa, e como num passe de mágica, ao adentrar o dormitório já preparado do sétimo ano, Hermione encontrou seu malão ao lado de sua cama.

Sentia-se cansada pelo longo dia. Tirou sua varinha do cós da veste e a colocou sobre o criado. Em seguida rumou para o banheiro do dormitório enquanto amarrava o cabelo e desabotoava o colarinho.

Dois minutos depois a garota sentia a água quente do chuveiro caindo-lhe à nuca. O arranhão que adquirira na noite anterior ia cicatrizando bem. Um cheiro bom de lavanda enchia o banheiro. Era bom estar de volta, pensava Hermione de olhos fechados.

Então, uma idéia rápida lhe atravessou a mente. E se a Comensal aproveitasse o castelo vazio para ir atrás dela? Não teria, porém, passado de uma idéia caso a porta do dormitório não batesse estrondosamente, exatamente naquele momento.

Hermione desligou o chuveiro e olhou à volta a procura de sua toalha ou sua varinha. Só então percebeu que estava tão cansada que não trouxera nenhuma das duas ao banheiro.

Tentando controlar o medo, ela abriu uma parte da porta do banheiro e viu Bichento. Sorriu sentindo-se tola. Era só o gato.

Sentindo um pouco de frio, Hermione atravessou o dormitório até sua cama onde apanhou a toalha com a qual começou a se enxugar. Ainda se sentindo tola pelo susto que tomara, a garota se viu encarando a própria imagem nua, no espelho da penteadeira que havia por ali.

Não era do tipo de garota que perde tempo analisando as formas de seu corpo, se está magra ou se engordou. Mas dessa vez não pôde deixar de admirar-se. Estava muito mais magra que de costume.

E então instantaneamente ela riu enquanto apanhava alguma roupa em seu malão e começava a se vestir. Tudo era óbvio demais quando se via defronte a um espelho.




****




Tudo parecia mudado quando a tarde seguinte caiu e o expresso Hogwarts chegou trazendo mais um mundaréu de alunos para o novo ano letivo. Apesar de tudo Hogwarts, como todos logo concluíram, continuava de pé. As paredes continuavam no lugar. O teto do Salão Principal permanecia encantado. Os Elfos ainda cozinhavam escravamente o banquete da noite de abertura. Pirraça ainda corria atrás dos calouros na chegada ao saguão de entrada.

Com as pessoas que compunham a escola tudo parecia em paz também. A professora Tonks derrubou os talheres mais de três vezes durante o jantar e só não se mostrou mais espalhafatosa que Rúbeo. Snape também permanecia o mesmo, com seu nariz de gancho e seu crispar de boca. Filch, por sua vez, parecia à beira de um enfarte. Como poderiam aceitar Fred e Jorge de volta? Como ele conseguiria controlar aqueles objetos traquinos se a fonte deles agora estava dentro do castelo?

Quando, ao fim do jantar, a Professora Minerva pediu atenção é que todos notaram que algo se perdera. A velha de óculos quadrados discursou por cinco minutos como um gato que ronrona ao dono por estar indignado com algo.

Tudo continuaria na mesma sem Dumbledore, ela garantia. Não havia professores novos neste ano, já que por milagre a Professora de Defesa Contra as Artes das Trevas quebrara a tradição anuênia do cargo. Não só a própria professora Ninfadora B. Tonks, mas um grupo de bruxos competentes permanecia pelas redondezas para garantir a segurança da escola. E para os aventureiros da madrugada, desvios no regulamento seriam friamente punidos por professores, funcionários ou até mesmo pelos monitores-chefe.

Depois do fechamento do banquete os alunos deixaram o salão principal e como de costume seguiram para seus respectivos salões comunais.

Hermione foi a última a chegar ao da Grifinória. Ficara presa no salão comunal, ouvindo da Diretora Minerva quais eram os direitos e deveres de uma monitora chefe.

O salão estava em polvorosos e ao observar aquela porção de pessoas pequenas Hermione sentiu que estava ficando velha. Tudo o que queria era estrear o banheiro de monitores chefe e cair na cama. Mas esperar até que tudo estivesse em paz fazia parte de seus deveres.

Meio desanimada, a monitora acabou por apanhar um de seus livros já lidos e se deixar cair em uma das poltronas. Não conseguiu se concentrar e de fato ler. Refletia sobre a figura impassível de Draco durante as recomendações aos monitores.

De quando em quando, porém, flagrava-se observando Harry, que mais à frente conversava sobre quadribol com alguns calouros.

Havia mudado muito durante o um mês em que não se viram. Estava mais alto, talvez. E menos magro, com certeza. Seus olhos verdes haviam adquirido um brilho intenso e sua cicatriz agora parecia à ela uma cicatriz qualquer. No rosto do garoto os sinais de uma futura espessa barba começavam a surgir.

E então ele deixava os olhos passarem por ela e a garota, sem graça, erguia novamente o livro. Quase duas horas se passaram dessa maneira. Hermione finalmente se concentrou em uma mancha amarelada que marcava várias das páginas do livro.

- Se continuar desse jeito, quando chegar as vésperas dos N.I.E.N.s você já terá morrido de enfarto ou algo parecido.- murmurou Harry se assentando ao lado da garota.

- Típico! Doença de trouxa.- murmurou Hermione baixando o livro.- Não estava estudando, a propósito.

- Deu pra perceber.- disse Harry.- Mesmo porque ainda nem temos o que estudar.

- Ah! O que é isso? Eu sou Hermione Granger.- riu a garota.- E como tal tenho que decorar todos os livros antes da primeira aula.

- Pra mim, Hermione Granger fingindo ler um livro só pode significar uma coisa.- disse Harry sorrindo de forma marota.- Vai fazer algo essa noite.

- Esperar esse bando de calouros ir pra cama. Verificar se não há ninguém perambulando por aí.- comentou a garota.- E dormir!

- Ah bom!- disse Harry.- Já estava até pensando em lhe oferecer a capa da invisibilidade emprestada. Mas se mudar de idéia...

- Ah! Nem é preciso.- disse a garota indicando o distintivo reluzente.- Posso usar e abusar do meu cargo.

- Vantagens de ser monitora chefe.- concluiu Harry.

- Mas só existe essa.- cortou Hermione.- Além de ter um banheiro especial, com uma enorme banheira.

- Uau!- fez Harry com um sorriso claramente mal intencionado. - Sempre quis conhecer o banheiro de monitores-chefes.

- Eu poderia fazer isso por você, essa noite, se esses calouros não tivessem tanta energia.- murmurou Hermione.

- Isso não é um problema.- disse Harry se levantando.- Afinal de contas, Fred e Jorge, fonte universal de inspiração, estão de volta!

- Senti o velho clima no ar?- indagou Gina com um sorriso maroto indo se assentar junto a Hermione assim que Harry se distanciou.

- Clima? Onde?- indagou Hermione rindo.

- Pode ir.- sorriu Gina com simplicidade.- Onde quer que seja. Eu fico por aqui esperando que os calouros vão se deitar.- E então, fitando algum ponto vago em sua frente a caçula dos Weasley suspirou.- Eu não conseguiria dormir mesmo.

Seguiu-se um tempo do silêncio repleto pelas vozes animadas que enchiam o salão comunal. Hermione viu-se olhar para o alto da escada que levava aos dormitórios masculinos. Harry estava parado lá em cima, como se esperasse por aquele olhar. O rapaz então sorriu e desapareceu, provavelmente por baixo da capa da invisibilidade.

Hermione sorriu sentindo-se inexplicavelmente ruborizar. Há quanto tempo, exatamente, não deixava aquela mágica existente entre ela e Harry agir? Desde que ela e Lestrange começaram aquela guerra de mentes, talvez.

Esperando um outro sinal para se levantar e sair, a monitora chefe acabou voltando-se para Gina Weasley. A garota ruiva continuava a fitar um ponto vago adiante. Hermione olhou na mesma direção e encontrou o fogo fraco que ardia na lareira, o tom esverdeado não mais existia. Talvez Minerva temesse que a permanência da proteção nas lareiras instigasse mais alunos à provocar incêndios por aí. Mas ao julgar pela expressão no rosto de Gina, ela não pensava nisso.

- Uma moeda por seus pensamentos.- murmurou Hermione.

A garota ruiva piscou, corando, e voltou a olhar para Hermione. Ela hesitou um pouco e então falou.

- Você viu Luna desde que chegou?

Hermione pensou por um minuto. Parecia uma indagação com fundamentos. Luna Lovegood realmente não comparecera ao banquete de abertura. E também não tinha notícias dela desde que a visitara antes de retornar à Hogwarts.

- Não reparei muito na mesa da Corvinal.- disse Hermione sem querer transmitir preocupação à outra.

- Estou preocupada.- murmurou Gina com murcha sinceridade.- Você sabe como é a Luna: nunca responde satisfatoriamente nossas corujas e, quando responde, não o faz em tempo hábil.

- É. Eis Luna!- sorriu Hermione amavelmente. No momento em que ouviu um pigarro logo atrás. Era Harry.- Eu tenho que ir.- desculpou-se enquanto se levantava e ajeitava o distintivo.

Hermione deu dois passos em direção ao buraco do retrato quando como se lembrasse de algo ela voltou-se novamente até Gina e curvou-se sobre ela para lhe falar algo ao ouvido.

- Parvati Patil sempre entra na Corvinal quando precisa de algum objeto da irmã emprestado.- murmurou a Monitora chefe.- As palavras certas e uma dose de eloqüência podem ajudar.

E então Hermione deu novamente as costas e deixou o salão comunal. Seguiu em passos largos pelos corredores que a levaram até o, tão sonhado por tantos monitores, banheiro dos monitores chefe.

- Hipogrifo- murmurou ela antes de conseguir passagem e entrar.

A garota permaneceu parada à porta por um momento, esperando sinais de que Harry já estava lá dentro. Enquanto isso deslumbrou o local. O cliente da suíte de luxo do hotel trouxa mais caro de Londres invejaria aquela deslumbrante banheira que mais parecia uma piscina com suas dezenas de torneiras.

- Não está fascinado?- indagou a garota quando ouviu a passagem que levava ao banheiro finalmente se fechar.

- Não é um lugar novo pra mim.- disse Harry com sinceridade sem se descobrir da capa.

- Pensava que você “sempre quis conhecer isso daqui”.- murmurou a garota sem muita credibilidade nisso.

Harry não disse nada, mas sentiu que ruborizava por baixo da capa da invisibilidade; talvez por lembrar-se de ser flagrado durante o banho por Murta-que-geme na ocasião em que usara aquele banheiro, talvez não. O rapaz encontrava-se de pé em algum ponto da parede atrás de Hermione, ela provavelmente sabia onde ele estava através da voz, mas não pareceu importar-se em se virar para falar diretamente com ele.

Seguiu-se um período de silêncio em que Hermione apenas observava o enorme quadro com uma sereia em uma das paredes, ainda meio impressionada, e que Harry a observava. Então a garota assentou-se no chão, ao lado da banheira e começou a tirar os sapatos e o meião do uniforme.

- O que você ta fazendo?- indagou Harry depois de assistir a garota ligar todas as torneiras existentes na banheira.

- Dando às garotas do dormitório motivos para inveja.- sorriu Hermione de forma marota enquanto tirava a capa e a estendia no chão.

- Eu também me empolguei com as torneiras quando vim aqui, três anos atrás.- riu o rapaz.- Não consegui mais do que ser flagrado por Murta-Que-Geme.

- Ela deve ter sonhado com você nessa banheira durante meses.- riu Hermione enquanto afrouxava a gravata.

- Espero que não tenha narrado a experiência pra ninguém.- murmurou Harry se perguntando sobre o que estava fazendo ali.

Seguiu-se um tempo de silêncio. Hermione finalmente jogou a gravata de lado e assentou-se, com as pernas dentro da banheira enquanto esperava a mesma encher-se.

- Você me deu um grande susto.- disse Harry observando o perfil da garota.

- Agora você sabe como eu me senti em todas as vezes em que você fez coisas loucas por aí.- murmurou Hermione fitando a água.

- Eu sempre achei que tinha sentido o que era perde-la no dia em que terminou tudo comigo.- murmurou Harry com a voz fraca.- Mas eu só pude ter real noção disso quando Tonks e Gui vieram nos interrogar sobre o seu paradeiro.

- Eu visitei Luna e depois vim para cá.- disse Hermione vazia.- Foi só isso.

- Deu um jeito em um seguidor da Comensal no caminho.- murmurou Harry.- Gui me contou.

Hermione deu ombros.

- Ganhei um arranhão por isso.- murmurou ela sem se importar.

- Você foi magnífica.- disse Harry sem perceber que sorria.

- Achei que faria um discurso à Rony Weasley, dizendo que era melhor perder minha vida a seduzir o cara e entrega-lo à aurores.- murmurou Hermione sentindo um aperto no peito ao lembrar das crises de Rony.

- Por um momento eu tive certeza que a última pessoa importante na minha vida havia-se ido.- murmurou Harry se desencostando da parede sem deixar de lado a capa.- Por um momento eu senti exatamente aquilo que você sentiu em todas as vezes em que eu tomei alguma atitude impulsiva e arrisquei a minha vida.

Hermione respirava pausadamente enquanto observava a água da banheira já na metade. Ela tateou à procura da varinha e com um leve toque na mesma seus cabelos se prenderam em um coque.

- Onde você está?- indagou Hermione depois de ouvir algo passando em algum ponto à suas costas.

- Aqui.- murmurou Harry hesitante.

- Tire essa capa, Harry!- ordenou Hermione começando a se irritar com aquilo.- Pare de bancar o fantasma da ópera.

- Tente me achar, Senhorita Monitora Chefe.- riu Harry.

Hermione fechou a cara por um momento, mas, depois de com um toque de varinha fechar as torneiras, ela se levantou e olhou à volta.

- Ah! Vamos lá, dê algum ajuda.- pediu ela rindo com os braços esticados para frente como se procurasse algo no escuro.

Silêncio. Alguns segundos se passaram durante os quais Hermione olhou à volta apurando os ouvidos. Então um zumbido cortou o ar e a garota só entendeu o que estava acontecendo quando conseguiu voltar à superfície da banheira.

Harry saltara de cima das torneiras contra ela e os dois despencaram dentro d’água. Isso foi concluído em um segundo apenas, pois no seguinte um Harry completamente ensopado e sem óculos emergiu da banheira. Ele ria.

- O que dirá McGonagall ao ver sua Monitora Chefe chegando à torre da Grifinória totalmente ensopada, an?- indagou Harry rindo.

- Você me assustou.- disse Hermione fingindo estar brava.

- Ah! Nem venha. Você nem teve tempo de se assustar.- disse Harry erguendo uma mão ensopada que segurava sua varinha.- Accio óculos!- murmurou ele.

Hermione sentiu algo subir pela água e lhe bater à nuca. Virou-se e apanhou os redondos e agora rachados óculos de Harry boiando.

- Conseguiu quebrar seus óculos.- disse ela.

- Não têm importância.- murmurou o rapaz enquanto tirava madeixas negras e ensopadas dos olhos deixando aparecer a cicatriz.- Eu não preciso deles pra enxergar que estou diante da pessoa que eu mais amo nesse mundo.

Hermione sentiu-se ruborizar tão violentamente quanto há muito tempo não fazia. Não pode deixar de sorrir com doçura para o garoto.

- Por um momento eu pensei que a tivesse perdido de vez, é sério.- murmurou Harry andando com dificuldade dentro d’água até chegar mais perto da garota.- Mas aí eu prometi a mim mesmo, que se você não aparecesse, eu iria atrás de você... Eu iria até o fim do mundo atrás de você.

- E se você tivesse realmente me perdido?- indagou a garota esquecendo-se de todo o esforço que fizera nos últimos meses para se manter longe de Harry.- Digo, e se eu estivesse morta? Se ninguém nunca mais me encontrasse... Se eu tivesse sido feita em pedaços...

- Eu choraria por alguns dias...- murmurou o rapaz passando os braços, por baixo d’água, em volta da cintura da garota.- ...Me olharia no espelho e encontraria essa cicatriz e ela me lembraria que nenhum bruxo realmente morto se vai sem deixar seu corpo ou os restos de si.

- Eu poderia ter atravessado algum véu...

- Não importa. Eu a procuraria pelo resto da minha vida. Até que com a velhice todas as minhas esperanças se esgotassem.- completou o rapaz.

- Porque gastar o resto da sua vida assim?- indagou Hermione sentindo-se idiota por ainda estar falando.

- Porque eu a amo.- completou o rapaz antes de finalmente beija-la.




****




Gina mal pôde acreditar quando se viu no meio do pentagonal salão comunal da Corvinal. Havia poltronas azuis marinhas por todos os lados, e em cada uma das cinco paredes havia pelo menos uma estante de livros.

- Ande, Weasley.- murmurou Padma Patil fazendo a garota ruiva lembrar-se de que não deveria estar aqui.- O dormitório do sexto ano é o do terceiro andar.

- Ok.- Fez Gina lançando um olhar agradecido para a irmã gêmea da grifinoriana que dividia o dormitório com Hermione.- E se alguém acordar?

- Elas nunca acordam com os roncos de Di-Lua, não acordarão com você se for discreta.- murmurou a monitora da Corvinal meio afoita.- Eu estarei aqui em baixo lhe esperando.

Gina concordou com a cabeça e rumou para a escada que subia formando um espiral quadrado. Três lances acima ela abriu sorrateiramente a porta e entrou.

O dormitório, diferente dos grifinorianos, não era redondo, mas em formato de uma espécie de trapézio. Havia exatamente cinco camas de coluna, duas na parede diagonal à direita, duas à esquerda e uma ao fundo.

Todas as camas laterais tinham suas cortinas fechadas e a respiração das ocupantes enchia o ar. Os quatro respectivos malões estavam ao pé das camas. Um deles estava aberto e meio bagunçado. Mas a cama do fundo parecia diferente a começar por sua cortina estar aberta. Não havia um malão ali, tampouco uma ocupante.

Gina observou a colcha azul e o travesseiro intactos. Sobre os criados não havia nada. E na penteadeira mais à esquerda não havia nenhum objeto que parecia pertencer à garota que faltava naquele dormitório.

Gina ainda observou o fundo do quarto por alguns segundos, que não demoraram a virar minutos. Sentia um aperto no peito e uma crescente preocupação. Por que Luna não voltara?




****




- Porque ela parece maior, dessa vez?- indagou Harry fazendo o caminho da cicatriz no ventre de Hermione com o indicador.

- Talvez por que da última vez você não teve tempo para reparar nela, como agora.- murmurou Hermione que encontrava-se deitada sobre sua capa usando o próprio braço de apoio para sua cabeça. Harry encontrava-se deitado junto ao colo da garota.

- Quando ainda havia a possibilidade de Voldemort ressurgir, eu não conseguia me olhar no espelho sem ter que encarar a cicatriz.- disse Harry.- Hoje em dia eu às vezes me esqueço que ela existe.

Ele calou-se esperando que Hermione dissesse algo. Mas ela não parecia muito disposta. Então o rapaz prosseguiu seu raciocínio sem saber por que, entre tantos outros assuntos e dúvidas que ele desejava que ela esclarecesse, ele escolhera logo aquele.

- É como se ela ficasse maior quando pode causar problemas...quando representa perigo!- murmurou Harry temendo não estar usando as palavras certas.

- Minha cicatriz não foi causada por magia, Harry.- murmurou Hermione incerta de queria prosseguir com aquele assunto.

- Mas ela marcou algum ponto da sua vida.- murmurou o rapaz girando sobre a capa estendida ao chão e ficando debruço apoiado pelos cotovelos.- Ela talvez tenha mudado a sua vida, não é mesmo?

- Foi uma fatalidade.- disse Hermione sem emoção enquanto se assentava.- Só isso.

Harry a fitou por alguns segundos pensando no que dizer. A demora foi o suficiente para fazer a garota levantar-se e começar a torcer suas vestes a fim de deixá-las menos molhadas.

- Melhor voltarmos pra torre.- disse Hermione em tom de ordem, enquanto se vestia. Harry a observou desenvolvendo tal ofício durante alguns segundos. Em seguida tratou de levantar e começar a se vestir também.

- É melhor você voltar encoberta pela capa também.- concluiu Harry observando a garota em suas vestes ensopadas, alguns minutos depois.




****




- Weasley!- chamou uma voz sussurrada.

Gina virou-se e viu Padma Pátil parada à porta do dormitório. Sentiu-se culpada, estava abusando da sorte, ela sabia. Sorrateiramente ela deixou o dormitório, as duas desceram as escadas, atravessaram o salão comunal pentagonal e então deixaram a torre.

- Muito obrigada, de novo.- disse Gina meio sem jeito.

- Tudo bem, só não saia contando isso por aí, ok?- pediu a garota.- Todos sabemos que Hermione Granger não durará muito no cargo de monitora chefe. E eu pretendo manter minha reputação até lá.

- Er... Não sei por que pensa isso.- disse Gina meio incomodada.- Mas eu não sairei por aí contando que fiz um tour pela torre da Corvinal.

- Di-Lua não voltou?- indagou Patil de repente.

- Não.- disse Gina com a voz fraca.- Não acha que deveríamos procurar algum professor e informa-lo?

- Farei isso pela manhã, não se preocupe.- disse Patil.- É melhor voltar para cama, agora.

Gina concordou com a cabeça e observou entrar pela parede de pedra balançando seus longos cabelos. Acabou seguindo quieta e silenciosa pelos corredores que desciam até a torre da Grifinória. Sabia que não dormiria bem naquela noite, mas ao alcançar o corredor que levava ao retrato da mulher gorda ela simplesmente sorriu e correu para alcançar a pessoa invisível que atravessava a passagem naquele momento.

Não deu tempo. Quando entrou no salão comunal só escutou o som de duas portas se fechando torre acima. O único sinal de algo errado por ali era o rastro de pegadas úmidas que em menos de meia hora já teriam desaparecido.




****




Quando em algum ponto do castelo um relógio bateu a meia noite, a paz parecia já estabelecida. Talvez por estarem cansados e cheios do banquete, ou talvez porque antes de uma série de acontecimentos esdrúxulos sempre há um período de inquietante calmaria; Mas nem Pirraça causou problemas aquela noite. E quando um rapaz de aparência pálida, em contraste com seus cabelos negros, surgiu de algum ponto e se esgueirou ruidosamente até a mais sombria das quatro torres habitadas de Hogwarts, aquilo não pareceu mais que uma ofensa à toda calmaria posterior.

E no dormitório mais alto da mesma torre, um rapaz louro acordou mal humorado com o som de algo pesado sendo depositado sobre seu próprio criado.

- Que diabos...?- indagou Draco Malfoy sacando a varinha e abrindo a cortina.

Mas Draco não terminou de xingar e nem chegou a mandar a azaração que pretendia. Não porque Crabbe e Goyle, dois dos outros habitantes daquele dormitório, haviam lançado azarações antes dele, mas porque antes de despencar atingido por feitiços quase inofensivos; Blás Zambini depositara uma pequena e triangular penseira sobre o criado de Draco.

- Que diabos vocês pensam estar fazendo?- indagou Draco se levantando e lançando um olhar mortífero aos outros dois. - Voltem a dormir, andem!- ordenou antes de virar o corpo de Blás de barriga pra cima para acordá-lo. Não foi difícil, com dois tapas no rosto o rapaz abriu preguiçosamente os olhos.

- Ela lhe mandou isso.- murmurou Zambini.- Ela mandou lhe devolver isso.

Draco olhou mais uma vez para a pequena penseira. Sabia que aquilo era uma penseira por já ter visto suficiente delas na casa de seu pai. Mas o que o intrigava era que aquele objeto só podia vir de uma pessoa.




***Continua***




Nota da autora: *¹: Eu precisava de um nome para um francês. Como boa futura Física o primeiro nome que me veio à cabeça foi do físico francês que determinou por uns experimentos a velocidade da luz. Leão Foucault era o nome dele, eu só peguei o sobrenome.



Desculpem-me a demora. Motivos: Primeiramente eu estive com alguns problemas me azucrinando a cabeça. Depois encontrei falta de tempo. Por último eu estive me entretendo com o HP6. Mas aí eu parei e pensei: Não posso deixar a fic sem um final. (Mesmo porque eu já tinha os três últimos capítulos prontos e só faltava este, que é uma espécie de gancho, para terminar) Então aqui estamos.

Ah! O pouco que eu tenho a declarar sobre o capítulo é: Eu tinha que fazer mais uma cena H² antes do final da fic... (A seguir temos um Spoiler) nem que seja pra mostrar pra todo mundo que havendo H/G no Hp6 ou não, enquanto existirem fics nós H² sobreviveremos!!!! \o/

E bem, pra quem estava com saudades da Bella, ela vem com tudo no próximo capítulo, se preparem! ;)

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