Sem Preocupação



Harry e Hermione decidiram permanecer no hotel de Sophia. Na verdade, não havia porquê saírem dali. O chalé era aconchegante demais e a dona fazia de tudo para deixar seus momentos maravilhosos. Talvez se sentindo profundamente arrependida pelo acontecido, ela se desdobrava para agradá-los ao máximo, mesmo que eles dissessem que não precisava. Nunca explicaram para ela quem era Potter ou Granger. Ela ainda os tratava por Mason e eles achavam muito melhor.

No dia em que retornaram, Sophia os recebeu com um jantar muito especial, à luz de velas e com o restaurante do hotel todo para eles. Após a surpresa inicial, eles não deixaram de aproveitar a ocasião. Arrumaram-se com esmero e foram jantar. Harry apreciava os contornos de Hermione dentro do vestido decotado que ela usava. Ela exalava um perfume estonteante e tóxico que, definitivamente, iria acabar levando-o a alguma atitude impensada. Hermione, por sua vez, havia esquecido completamente o seu incidente e concentrou-se em admirar seu acompanhante, seu amigo e leal confidente, seu pilar, seu porto seguro, sua vida, seu amor. Era assim que o via agora. Sentia-se completamente em segurança ao seu lado e, definitivamente, seus sentimentos por ele estavam aflorando com uma intensidade absurda, que chegava a amendrontá-la. Como poderia dizer-lhe o que sentia? Sempre fôra seu amigo, desde os 11 anos de idade. Sempre estiveram juntos e ela nunca havia sequer imaginado que aquele sentimento de amizade pudesse se transformar, tão repentinamente, em uma coisa tão forte. Vendo que ele estava olhando meio abobado para ela, ela chamou-o, despertando-o dos devaneios.

- Harry?

- Sim?

- Está tudo bem?

- Claro! Mais do que ótimo! Você está aqui, comigo! – pegou em sua mão e beijou-a.

O simples contato da boca de Harry em sua pele a fez sentir um arrepio. Um formigamento inexplicável percorreu seu interior e ela fechou os olhos, apenas sentindo o momento. Quando os abriu encontrou os dele e eles ficaram em silêncio um tempo, apenas olhando-se. Ela quebrou o clima:

- Harry, você não me contou direito. Quem me achou e quem me levou para o hospital?

- Eu mesmo! Quando voltei do Ministério e dei de cara com você caída no chão, eu achei que fosse enlouquecer. Você estava com uma febre altíssima, então eu tirei a sua roupa e mergulhei você na banheira com água fria. Depois eu...

- Espera aí! – ela exclamou – Que história é essa de “eu tirei a sua roupa”?

- Bem, eu..., eu meio que tive que fazer isso. Você estava fervendo e eu precisava baixar a sua temperatura e...

- Harry Potter, diga que pelo menos você me deixou com a roupa de baixo, antes de me colocar na banheira?

- Eu, ah..., bem... não foi bem assim.

- O que quer dizer com “não foi bem assim”?

- Ah, droga..., ok..., eu tirei tudo! Não sobrou nem um pedacinho de pano sobre você, satisfeita?

- Harry! – ela exclamou fazendo ar de séria, meio que segurando o riso.

- Ah, Mione, eu estava desesperado, não sabia o que fazer. Se isso faz você se sentir melhor, eu não reparei em nada no seu corpo, ok? – ele mentiu.

Hermione não sabia se ficava aliviada ou decepcionada.

- Em nada mesmo? – Ela perguntou levantando as sobrancelhas.

Ele baixou os olhos.

- Bem... – e ergueu a cabeça – Mione, não faz essa cara!

- Que cara?

- Essa cara de repreensão. Eu conheço essa cara desde meus 11 anos!

- E a resposta, Harry?

- Eu..., bem..., posso dizer que agora eu sei que você tem um sinalzinho perto do umbigo e que também ficou uma pequena marca, quase imperceptível, do que aquele Comensal fez com você lá no Ministério, há 10 anos. Aí, bem na altura dos...

- Harry!

- Foi você quem quis saber. – disse se fazendo de bobo e dando um sorriso para ela. Depois completou – Você tem um corpo lindo.

Ela, então, se aproximou dele e deu-lhe um beijo na face. Quando ía se afastando, Harry não resistiu, segurou seu rosto e beijou-lhe a boca. Primeiro delicadamente e depois mais profundamente. A língua dele estava com um gosto de vinho tinto e era embriagante. Ela poderia facilmente se deixar ficar de porre naquele beijo quente e gostoso, mas foram interrompidos pelo barulho do garçom que se aproximava. Separaram-se meio desconcertados, sem se encararem.

Ao terminarem o jantar, eles voltaram para o chalé em silêncio. Hermione trocou de roupa e deitou-se na cama. Esperava que Harry fizesse menção de se aproximar e deitar-se com ela. Na verdade contava com isso, mas ele foi direto para o sofá e também se deitou.

- Boa noite. – ele disse e apagou a luz.

- Boa noite, Harry.

Disfarçadamente, na penumbra do quarto, ela o olhou. Dava para ver que ele estava de olhos abertos, mirando o teto. “Eu acho que realmente estou ficando louca! E eu achando que ele poderia querer algo a mais comigo. Ele me respeita demais para isso. Droga Harry!”

Harry pensava nela e no beijo deles, quando se deitou. Queria desesperadamente estar ao seu lado na cama agora, mas não pretendia forçar a barra. Mesmo porque ela ainda estava fraca da doença. “Você é louco se tentar algo com ela agora! Se controla Potter!” Pensou ele.

Hermione virava-se de um lado para o outro da cama, inquieta, tentando dormir e esquecer a tentação de ter Harry ali tão próximo a ela, porém, por mais que fechasse os olhos, ela não conseguia pegar no sono. Seus pensamentos voltavam sempre a ele. Imaginava Harry a tocando, acariciando. Soltou um gemido baixo e imediatamente colocou as mãos na boca, torcendo que ele estivesse dormindo e não tivesse ouvido.

Ele permanecia acordado, mas fingia estar dormindo. Olhava discretamente para ela, vendo-a rolar na cama. Será que estava bem? De repente ouviu um gemido e pensou em levantar-se e perguntar se estava tudo ok, mas desistiu.

- Harry... – ele a ouviu chamar baixinho – está acordado?

- Sim. – levantou de pronto.

- Eu... eu estou me sentindo... estou..., ah..., deita aqui comigo?

- Você está se sentindo mal?

- Não! É que eu queria me sentir... assim... com alguém...ao meu lado. Eu queria dormir abraçada com você.

Ele entendeu e não recusou. Devagar ele afastou as cobertas e se deitou ao lado dela. Ela chegou perto e se aninhou nos braços quentes dele, sentindo-se completamente protegida. Harry fechou os olhos, sentindo o corpo quente de Hermione junto ao dele. Aquilo era um sonho. Como havia decidido, ele não tentaria nada, apenas iria saborear aquele momento, pois não sabia se poderiam haver outros. Ele podia sentir a respiração dela contra seu pescoço, arrepiando todos os pêlos da sua nuca. Depois que Gina morrera, ele achava que nunca mais sentiria o que estava sentindo. E sorriu internamente, pois tinha certeza que ele havia reencontrado aquele sentimento há tempos adormecido nele. Estava amando novamente e se sentia como um adolescente outra vez. Um adolescente que acabava de ganhar o primeiro beijo. Ficou ali, apenas sentindo sua alma gêmea, adormecida em seus braços. Os dois se sentiam da mesma forma, extremamente extasiados pelo momento simples e singelo que viviam. E assim finalmente adormeceram, um nos braços do outro.

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