Osso, carne e sangue



– Osso, carne e sangue.

– Não, não, não… – Lily balbuciou, baixando o livro – Não gostei nada do nome desse capítulo.

– Isso não é nada bom, – Tiago concordou apreensivo – a taça só pode ter levado Harry para Voldemort…
– Não posso ler isso… Não vou conseguir ler isso. – Lily disse, encarando o livro como se ele fosse explodir em suas mãos.
– Tenta. – Harry murmurou nervoso – Se não conseguir eu leio… – completou receoso.
Lily respirou fundo antes de começar a ler:

Harry sentiu seus pés baterem no chão, a perna machucada cedeu e ele caiu para frente, por fim, sua mão soltou a Taça Tribruxo. Ele ergueu a cabeça.
— Onde estamos? — perguntou.
Cedrico sacudiu a cabeça. Levantou-se, ajudou Harry a ficar de pé e os dois olharam a toda volta. Estavam inteiramente fora dos terrenos de Hogwarts, era óbvio que tinham viajado quilômetros — talvez centenas de quilômetros — porque até as montanhas que rodeavam o castelo haviam desaparecido.

– Não! – Remo murmurou temeroso – Voldemort conseguiu tirar Harry de Hogwarts…

– Não é possível! – Sirius disse irritado – Dumbledore devia ter sido mais cuidadoso! Ele sabia que alguém em Hogwarts estava armando para atacar Harry! E ele não fez nada!
– Ele não tinha como saber quando ia acontecer. – Alice tentou defender o diretor – E ele não tinha como saber que o plano era tirar Harry da escola… Devia achar que queriam apenas matá-lo…
– Não posso ler. – Lily declarou categórica – Sinto muito, – completou virando-se para Harry e percebendo que ele também havia empalidecido – mas não vou conseguir…
– Tudo bem. – Harry respondeu respirando profundamente, já havia contado aquela história uma dúzia de vezes, era capaz de contar mais uma – Eu posso fazer isso…
– Tem certeza? – Gina perguntou preocupada – Você vai…
– Deixa ele ler. – Hermione interrompeu Gina antes que ela deixasse algo escapar – Harry é o único aqui que já passou por isso… Se ele diz que consegue ler, ele consegue…
Harry suspirou antes de pegar o livro que Lily lhe oferecia e começar a ler.

Em lugar de Hogwarts, os garotos se viam parados em um cemitério escuro e cheio de mato; para além de um grande teixo à direita podiam ver os contornos escuros de uma igrejinha. Um morro se erguia à esquerda. Muito mal, Harry conseguia discernir a silhueta escura de uma bela casa antiga na encosta do morro.

– Se parece horrivelmente com a casa dos pais de Voldemort do primeiro capítulo… – Remo murmurou inquieto – Ele deve ter passado o ano inteiro na casa…

– Dumbledore devia ter ido investigar melhor o desaparecimento de Franco Bryce. – Sirius bufou temeroso – Tudo isso poderia ter sido evitado!
– Dumbledore poderia ter evitado uma dezena de coisas se quisesse. – Tiago disse com uma mistura de raiva e aflição – Mas nós vamos mudar esse futuro, – garantiu passando o braço ao redor de Lily – vamos mudar tudo o que for possível.

Cedrico olhou para a Taça Tribruxo e depois para Harry.
— Alguém lhe disse que a Taça era uma Chave de Portal? — perguntou.
— Não. — Harry examinou o cemitério. Estava profundamente silencioso e meio fantasmagórico. — Será que isto faz parte da tarefa?

– Isso não faz parte da tarefa! – Sirius disse balançando as pernas ansioso – Apenas peguem a taça de volta para Hogwarts!

– Mas a taça vai servir como chave de portal de volta? – Frank perguntou confuso.
– Provavelmente sim. – Tiago disse pensativo – Existem duas formas de fazer uma chave de portal, em uma delas a chave é ativada em um horário pré-determinado, como a chave de portal da copa mundial, nesse caso ela não volta. A outra forma é a chave sendo ativada a partir do toque… Nesse caso ela volta ao lugar de onde ela saiu se for ativada novamente. – Tiago deu de ombros – A taça tem que ser ativada pelo toque, quem a transformou em chave de portal não poderia saber a hora em que Harry tocaria ela…
– E como você sabe tudo isso? – Neville perguntou curioso.
– Meu pai não gosta nada de chaves de portal. – Tiago deu de ombros – Só usa quando vê uma pessoa confiável enfeitiçando o objeto… Então ele me ensinou tudo sobre elas para me manter sempre precavido.
– Seu pai também é um bocado desconfiado, não é? – Alice perguntou interessada – Do mesmo modo que Moody…
– Meu pai já viu muitas coisas ruins acontecendo. – Tiago respondeu soturno – Depois de tanto tempo no ministério, ele ficou bem precavido.

— Não sei — respondeu Cedrico. Sua voz revelava um certo nervosismo. — Varinhas em punho, não acha melhor?
— É — disse Harry, satisfeito de que Cedrico tivesse sugerido isso por ele.
Os dois puxaram as varinhas. Harry não parava de olhar para todo lado.
Tinha, mais uma vez, a estranha sensação de que estavam sendo observados.
— Vem alguém aí — disse de repente.
Apertando os olhos para enxergar na escuridão, eles divisaram um vulto que se aproximava, andando entre os túmulos sempre em sua direção. Harry não conseguia distinguir um rosto, mas pelo jeito que o vulto caminhava e mantinha os braços, dava para ver que estava carregando alguma coisa. Fosse quem fosse, era baixo e usava um capuz que lhe cobria a cabeça e sombreava o rosto. E... Vários passos depois, a distância entre eles sempre mais curta — Harry viu que a coisa nos braços do vulto parecia um bebê... Ou seria meramente um fardo de vestes?
Harry baixou ligeiramente a varinha e olhou para Cedrico ao seu lado. O rapaz lhe respondeu com um olhar intrigado. Os dois tornaram a se virar para observar o vulto que se aproximava. Ele parou ao lado de uma lápide alta, a uns dois metros. Por um segundo, Harry, Cedrico e o vulto baixo apenas se entreolharam.
Então, inesperadamente, a cicatriz de Harry explodiu de dor.

Lily, Gina e Alice gemeram em uníssono. O resto dos presentes empalidecera.

– O Lord das Trevas está perto. – Severo murmurou desconfortável.
– Deve ser o fardo nas mãos de quem se aproxima. – Tiago respondeu hesitante – Pedro. – completou reconhecendo subitamente que seu antigo amigo e futuro traidor era o único servo que Voldemort devia ter ali.
– Ainda não consigo acreditar que nos enganamos tanto quanto ao caráter dele. – Sirius suspirou desolado.
– Nós o conhecíamos desde os 11 anos… – Remo justificou triste – Não poderíamos imaginar que ele mudaria tanto com o tempo…

Foi uma agonia tão extrema como jamais sentira na vida; ao levar a mão ao rosto, a varinha lhe escapou dos dedos, seus joelhos cederam,ele caiu ao chão e não viu mais nada, sua cabeça pareceu prestes a rachar.
De muito longe, acima de sua cabeça, ele ouviu uma voz fria e aguda dizer:
— Mate o outro.

– Não! – Lily deu um gritinho de horror e escondeu o rosto no peito de Tiago chorando apavorada.

Alice também não conseguia conter as lágrimas, suas mãos tremiam enquanto ela segurava a de Frank com força por trás das costas de Neville.

Um zunido, e uma segunda voz que arranhou o ar da noite:
— Avada Kedavra!
Um relâmpago verde perpassou as pálpebras de Harry e ele ouviu alguma coisa pesada cair no chão ao seu lado, a dor de sua cicatriz atingiu tal intensidade que ele teve ânsias de vomitar, em seguida diminuiu, aterrorizado com o que iria ver, ele abriu os olhos ardidos.
Cedrico estava estatelado no chão ao seu lado, os braços e pernas abertos.
Morto.

Harry hesitou, a voz embargada pela última palavra que lera. Ainda se lembrava de Cedrico, morto, ao seu lado. Tentou retomar a leitura, mas simplesmente não conseguiu encontrar a própria voz dentro de si, tudo o que sentiu naquela noite voltando como uma onda, forte e repentina.

Lily, percebendo a hesitação de Harry, levantou a cabeça do peito de Tiago e apertou sua mão com carinho por um segundo, dando a ele a força necessária para continuar lendo.

Por um segundo que continha toda a eternidade, Harry fitou o rosto do colega, seus olhos cinzentos abertos, vidrados e inexpressivos como as janelas de uma casa deserta, a boca entreaberta num esgar de surpresa. Então, antes que a mente de Harry pudesse aceitar o que seus olhos viam, antes que pudesse sentir alguma coisa além de atônita incredulidade, ele sentiu que alguém o levantava.
O homem baixo de capa pousara o fardo que carregava no chão, acendeu a varinha e saiu arrastando Harry em direção à lápide de mármore. O garoto viu o nome ali gravado faiscar à luz da varinha, antes de ser virado e atirado contra a pedra.
TOM RIDDLE

– O túmulo do pai de Voldemort? – Remo perguntou receoso – Por que levaram Harry para lá?

– Existem alguns feitiços e poções que usam partes de pessoas mortas, é um ramo obscuro das Artes das Trevas, necromância. – Severo disse hesitante – E o nome do capítulo sugere algo do tipo.
– Você acha… – Lily perguntou resfolegante – Você acha que ele pode querer usar o Harry em alguma magia negra?
– É o mais provável. – Severo respondeu encarando Lily pesaroso – Pettigrew sugeriu que eles usassem outro bruxo…
– Mas Voldemort queria usar Harry. – Tiago suspirou desiludido.

O homem da capa agora estava conjurando cordas para prender Harry com firmeza, amarrando-o à lápide, do pescoço aos tornozelos. O garoto ouviu uma respiração rápida e rasa saindo do fundo do capuz, ele se debateu e o homem lhe deu uma bofetada, uma bofetada com uma mão à que faltava um dedo. E Harry percebeu quem estava sob o capuz. Era Rabicho.
— Você! — exclamou ele.

– Só podia ser ele. – Remo bufou entre resignado e decepcionado – Ele é o único servo que restou a Voldemort…

– Ele e quem quer que esteja em Hogwarts. – Sirius lembrou – Não podemos esquecer que um infiltrado de Voldemort colocou o nome do Harry no cálice e transformou a taça em chave de portal…
– Então quem quer que seja o infiltrado, – Tiago disse pensativo – ele teve acesso à taça depois que ela já estava no labirinto… Ou a pessoa que colocou ela no labirinto teria sido enviada para o cemitério…
– Ou foi a pessoa que colocou ela no labirinto… – Remo completou o pensamento de Tiago – Mas quem colocou a taça no labirinto teria que ser uma pessoa em quem os jurados confiam…
– E uma pessoa de quem ninguém desconfiaria… – Tiago bufou – Não tenho ideia de quem poderia ser!

Mas Rabicho, que acabara de conjurar as cordas, não respondeu; estava ocupado verificando se estavam bem apertadas, seus dedos tremendo descontrolados, apalpando os nós. Uma vez convencido de que Harry estava amarrado à lápide sem a menor folga e que não conseguiria se mexer, Rabicho tirou um pano preto de dentro das vestes e enfiou-o com violência na boca de Harry; depois, sem dizer palavra, virou as costas e se afastou depressa, o garoto não podia emitir som algum nem ver aonde fora Rabicho, não podia virar a cabeça para ver além da lápide, só podia ver o que estava diretamente em frente.
O corpo de Cedrico se encontrava a uns seis metros de distância. Mais adiante, refulgindo à luz das estrelas, jazia a Taça Tribruxo. A varinha de Harry ficara caída no chão aos pés do rapaz.

– E além disso está sem a varinha. – Lily enterrou a cabeça no peito de Tiago, apreensiva – Você nem ao menos tem como se defender…


O fardo de roupas que Harry imaginara que fosse um bebê continuava ali perto, junto à lápide. Parecia estar se mexendo incomodado.
O garoto observou-o e sua cicatriz queimou de dor... E, de repente, ele concluiu que não queria ver o que estava naquelas roupas... Não queria que o fardo se abrisse...

– O fardo… – Rony perguntou temeroso – É Voldemort?

– Parece que sim… – Sirius respondeu aflito – O que quer que ele tenha se tornado…

Harry ouviu, então, um ruído aos seus pés. Baixou os olhos e viu uma cobra gigantesca deslizando pelo capim, circulando em torno da lápide a que ele fora amarrado. A respiração asmática e rápida de Rabicho estava se tornando mais ruidosa agora. Parecia que arrastava alguma coisa pesada pelo chão. Então ele tornou a entrar no campo de visão de Harry e o garoto pôde ver que o bruxo empurrava um caldeirão de pedra para perto do túmulo.

– Ele vai fazer uma poção… – Lily disse, levantando os olhos para Severo.

– Existem muitas poções que usam ossos, carne e sangue… – Severo respondeu pensativo – Mas não consigo pensar em nenhuma que serviria para o Lord das Trevas nesse momento…

Continha alguma coisa que parecia água — Harry a ouviu sacudir — e era maior do que qualquer outro caldeirão que Harry já tivesse usado; sua circunferência era suficientemente grande para caber um adulto sentado.
A coisa embrulhada no fardo de vestes no chão se mexeu com mais insistência, como se estivesse tentando se desvencilhar. Agora Rabicho estava mexendo com uma varinha no fundo externo do caldeirão. De repente surgiram chamas sob a vasilha. A enorme cobra deslizou para longe mergulhando nas sombras.
O líquido no caldeirão parecia estar esquentando bem rápido. Sua superfície começou não somente a borbulhar, mas também a atirar para o alto faíscas incandescentes, como se estivesse em chamas. O vapor se adensou e borrou a silhueta de Rabicho que cuidava do fogo. Seus movimentos sob a capa se tornaram mais agitados. E Harry ouviu mais uma vez a voz aguda e fria.
— Ande depressa!
Toda a superfície da água estava iluminada pelas faíscas. Parecia cravejada de diamantes.
— Está pronta, meu amo.
— Agora... — disse a voz fria.
Rabicho abriu o fardo de vestes no chão, revelando o que havia nele, e Harry deixou escapar um grito que foi estrangulado pelo chumaço de pano que arrolhava sua boca.
Era como se Rabicho tivesse virado uma pedra e deixado à mostra algo feio, pegajoso e cego — mas pior, cem vezes pior. A coisa que Rabicho andara carregando tinha a forma de uma criança humana encolhida, só que Harry nunca vira nada que se parecesse menos com uma criança. Era pelada, de aparência escamosa, de uma cor preta avermelhada e crua. Os braços e pernas eram finos e fracos e o rosto — nenhuma criança viva jamais tivera um rosto daqueles — era plano e lembrava o de uma cobra, com olhos vermelhos e brilhantes.

– Isso é Voldemort? – Alice perguntou com asco – Essa coisa…

– Foi no que ele se transformou depois de nos atacar. – Tiago disse com nojo.
– Ele deve ter conseguido conjurar esse corpo com a ajuda de Pettigrew, – Severo disse desconfortável – mas não deve ter conseguido nada melhor…
– Existem magias que fazem isso? – Sirius perguntou com repugnância – Você conhece algum feitiço que daria a Voldemort esse corpo rudimentar e asqueroso?
– Li alguma coisa… – Severo admitiu – Envolvia veneno, a pele descartada de uma cobra, sangue de unicórnio e algumas outras coisas… Mas li apenas sobre experiências… Nada concreto. – concluiu incomodado.
– Isso é terrível. – Lily murmurou nauseada – E agora ele quer usar Harry, para que?
– Provavelmente para ficar mais forte. – Severo disse com uma pitada de aversão em sua voz, estava cada vez mais convencido de que esse caminho não valia a pena.

A coisa tinha uma aparência quase desamparada, ela ergueu os braços magros e passou-os pelo pescoço de Rabicho e este a ergueu, ao fazer isso, seu capuz caiu para trás e Harry viu, à claridade do fogo, a expressão de repugnância em seu rosto fraco e pálido, enquanto transportava a criatura para a borda do caldeirão.
Por um instante o garoto viu o rosto plano e maligno iluminar-se com as faíscas que dançavam na superfície da poção. Então Rabicho a depositou dentro do caldeirão, ouviu-se um silvo, e ela submergiu. Harry escutou aquele corpinho frágil bater no fundo do caldeirão com um baque suave.
“Tomara que se afogue”, pensou o garoto, a cicatriz doendo mais do que era possível suportar, “por favor... Tomara que se afogue...”

– Infelizmente, acho que ele não vai se afogar. – Sirius suspirou resignado – Voldemort pode ser muitas coisas, mas ele não seria burro a ponto de mandar Pedro jogar ele em um caldeirão de água fervente se não soubesse exatamente o que está fazendo.


Rabicho estava falando. Sua voz tremia, ele parecia assustadíssimo.
Ergueu a varinha, fechou os olhos e falou para a noite.
— Osso do pai, dado sem saber, renove filho!
A superfície do túmulo aos pés do garoto rachou. Horrorizado, Harry observou um fiapo de poeira se erguer no ar à ordem de Rabicho, e cair suavemente no caldeirão.
A superfície diamantífera da água se dividiu e chiou; disparou faíscas para todo o lado e ficou um azul vivido e peçonhento.

A maioria dos presentes virou-se para Severo esperando algum tipo de explicação, afinal ele era o que tinha mais conhecimento em magia negra e poções.

– Não tenho ideia de que poção pode ser essa. – Severo admitiu, desconfortável com toda a atenção que estava recebendo – Mas pelo que Pettigrew falou… Eles devem estar tentando restaurar o corpo do Lord das Trevas…
Um arrepio involuntário subiu pela espinha de Lily, e ela apenas escondeu o rosto novamente no peito de Tiago e se deixou chorar.

Rabicho choramingou. Tirou um punhal longo, fino e brilhante de dentro das vestes. Sua voz quebrou em soluços petrificados.
— Carne... Do servo... Dada de bom grado... Reanime... O seu amo.
Ele esticou a mão direita à frente, a mão em que faltava um dedo. Segurou o punhal com firmeza na mão esquerda e ergueu-o.
Harry percebeu o que Rabicho ia fazer um segundo antes acontecer, fechou os olhos com toda força que pôde, mas não conseguiu bloquear o grito que cortou a noite, e que o atravessou como se ele tivesse sido apunhalado também.
Ouviu alguma coisa cair ao chão, ouviu a respiração ofegante e aflita de Rabicho, depois o ruído nauseante de alguma coisa tombar dentro do caldeirão. Harry não suportou olhar... Mas a poção ficou vermelho-vivo e sua claridade atravessou suas pálpebras fechadas...

– Por algum motivo isso não me surpreende. – Sirius disse nauseado – Ele foi capaz de arrancar um dedo para me incriminar… Não é realmente como se ele desse muito valor à própria carne.

– Isso só pode significar que eles vão tirar o sangue de Harry. – Remo disse apreensivo – Vão usar o sangue de Harry para fortalecer Voldemort…
– Faz sentido. – Severo murmurou pensativo – No final do primeiro livro, Quirrel não podia tocá-lo por dividir o corpo com o Lord das Trevas…
– Você acha que usando o sangue de Harry na poção… Voldemort vai poder tocá-lo? – Tiago perguntou apavorado.
– Acredito que sim. – Severo respondeu incomodado – Deve ser por isso que ele fez questão de que não fosse outro bruxo qualquer…
Lily gemeu alto e afundou o rosto ainda mais nas vestes de Tiago.

Rabicho ofegava e gemia de agonia. Somente quando Harry sentiu sua respiração aflita no próprio rosto é que percebeu que o bruxo estava bem diante dele.
— S-sangue do inimigo... Tirado à força... Ressuscite... Seu adversário.
Harry nada pôde fazer para impedir isso, estava muito bem amarrado... Procurando ver mais embaixo, lutando inutilmente contra as cordas que o prendiam, ele viu o punhal de prata reluzente tremer na mão de Rabicho que restava. Sentiu a ponta da arma furar a dobra do seu braço direito e o sangue fluir pela manga de suas vestes rasgadas.
Rabicho, ainda ofegando de dor, apalpou o bolso à procura de um frasquinho que ele aproximou do corte de Harry para recolher o sangue.
O bruxo cambaleou de volta ao caldeirão com o sangue do garoto.
Despejou-o ali. O líquido no caldeirão ficou instantaneamente branco ofuscante. Concluída a tarefa, Rabicho se ajoelhou ao lado do caldeirão, depois deixou-se cair de lado e ficou deitado no chão, aninhando o toco sangrento de braço, arquejando e soluçando.
O caldeirão foi cozinhando, disparando faíscas em todas as direções, um branco tão branco que transformava todo o resto num negrume aveludado. Nada aconteceu...
“Tomara que tenha se afogado” pensou Harry, “tomara que tenha dado errado...”
E então, de repente, as faíscas que subiam do caldeirão se extinguiram.
Uma nuvem de vapor branco se ergueu, repolhuda e densa, tampando tudo que havia na frente de Harry, impedindo-o de continuar a ver Rabicho, Cedrico ou qualquer outra coisa exceto o vapor pairando no ar... Pensou... “Se afogou...” “Tomara...” “Tomara que tenha morrido...”
Mas, através da névoa à sua frente, ele viu, com um assomo gelado de terror, a silhueta escura de um homem, alto e esquelético, emergindo do caldeirão.

– Ele retomou o corpo? – Remo perguntou com verdadeiro horror – A poção deu um corpo a ele?

– Um corpo composto com o osso do pai, a carne do servo e o sangue do inimigo. – Severo murmurou pensativo – Nunca ouvi falar em uma poção que tivesse essa capacidade… Mas talvez ela seja apenas muito antiga...
– Mas como isso é possível? – Alice perguntou tremendo.
– Voldemort tem muitos conhecimentos… – Sirius bufou desgostoso – Dizem que ele era brilhante na época da escola… Ouvi meu pai dizer que ele teria a capacidade de acabar com todo o mundo bruxo apenas para reerguê-lo mais forte…
– Mas o que vai acontecer agora? – Lily perguntou com a voz abafada pelas vestes de Tiago, apavorada.
– Agora a época deles vai ser tão ruim quanto a nossa. – Remo afirmou resignado – Com alguma sorte Hogwarts vai ficar de pé...

— Vista-me — disse a voz aguda e fria por trás do vapor, e Rabicho, soluçando e gemendo, ainda aninhando o braço mutilado, correu a apanhar as vestes negras no chão, levantou-se, ergueu o braço e colocou-as apenas com a mão existente por cima da cabeça do seu amo.
O homem magro saiu do caldeirão, com o olhar fixo em Harry... E o garoto mirou aquele rosto que assombrava seus pesadelos havia três anos. Mais branco do que um crânio, com olhos grandes e vermelhos, um nariz chato como o das cobras e fendas no lugar das narinas...
Lord Voldemort acabara de ressurgir.

– Não! – Lily gemeu chorando copiosamente – Harry está amarrado, sob o poder de Voldemort… Sem defesas… Sozinho…

– Vai dar tudo certo. – Tiago murmurou, acarinhando os cabelos de Lily para acalmá-la – Nada disso precisa acontecer… Nós podemos mudar isso… Sei que sim…
– O que vamos fazer? – Sirius perguntou desolado – Como… Como vamos consertar tudo isso?
– Por enquanto vocês devem apenas continuar lendo o livro. – Hermione disse abalada, saber o que aconteceu não era o mesmo que conhecer todos os detalhes – Ainda há muito para se ler antes das decisões poderem ser tomadas.
Harry concordou com a cabeça e passou o livro para Alice, que o abriu, completamente temerosa, no próximo capítulo:
– Capítulo XXXIII – Os comensais da morte.

~~X~~

Hey leitores mais queridos do FeB! Como alguns de vocês certamente perceberam, o site estava fora do ar até hoje de manhã, quando eu tentei postar, então vou ter que postar correndo agora... Mas pelo menos tudo foi resolvido e o site voltou a funcionar! 


- Stehcec: Vi seus comentários nos caps anteriores, queria responder algumas partes do último. O Neville falou da avó materna no primeiro livro, assim que eles descobrem que ele foi criado pela avó e não pelos pais, então acho que é no capítulo da seleção. Eu sei que Harry só venceu a guerra por causa do Dumbledore, mas acho que algumas das coisas que o Dumbledore fez poderiam ter sido feitas de outra maneira, levando em consideração os sentimentos do Harry, sem mudar muito o resultado final. E os Marotos não tem feito muitas apostas porque o livro está começando a ficar meio sombrio demais, mas pode deixar que vou lembrar das apostas nas partes mais leves. E eu fiquei feliz que você percebeu que o Frank ficou pior que a Alice, foi bem proposital... Enfim, acho que você não leu o da Terceira tarefa ainda, pelo menos não apareceu comentário aqui, mas quis te responder de qualquer forma.
- Julia Angelini: Que bom que não te incomoda o modo como lido com o Dumbledore, porque as coisas vão piorar um pouco para ele em OdF (sinceramente, a culpa é dele, ele que se recusava a falar com o Harry). Espero que tenha gostado do capítulo, ele é pequeno, mas é intenso... Você disse que estava ansiosa para ele, espero ter feito jus a sua expectativa.
- MionGinnyLuna: Acho que até chegar no sétimo livro eles não vão estar se importando muito com o Harry usando crucio em um comensal da morte... Muita coisa ruim acontece antes disso eles vão estar chocados demais com todo o resto do que está acontecendo ao redor de Harry no livro.
- Samara Lima: Entendo perfeitamente porque você deixa acumular capítulos, eu faço a mesma coisa com as fics que eu leio... Não tenho paciência para esperar capítulo, ainda mais nessas partes mais tensas! (Não me ache hipócrita, dou meu máximo para vocês esperarem o mínimo!).
- Luiza Snape: É, você acertou, a Lily realmente não tinha capacidade emocional para ler esse capítulo... Mas não sei se o Harry tinha também. Mas como a Hermione falou, ele é o único que passou por aquilo, só ele poderia saber se tinha capacidade ou não de ler... Ele escolheu ler (ele está sempre se esforçando tanto para se mostrar forte...).
- Carolina Black: Agora quero saber o que achou da reação deles ao ver o Rabicho ali, ajudando Voldemort... Você realmente me confundiu quando comentou sobre o nyah, acontece tantas vezes de pessoas copiarem a fic, e postarem como delas (plágio) que eu já estava me preparando para a próxima, mas entendi que você estava apenas fazendo uma referencia a não conseguir comentar pelo celuar! Eu quero muito que chegue no último livro também, mas ao mesmo tempo tenho que escrever tudo...
- Ana Marisa Potter: Você também acertou, a Lily realmente não teria capacidade emocional para ler isso, Harry teve que ser forte e enfrentar tudo isso, mais uma vez. Ele contou essa história tantas vezes depois que aconteceu... Mesmo assim deve ser difícil ler tudo com tantos detalhes, mas ele está sempre se esforçando para se mostrar forte...
- In_Black: Que bom que voltou a comentar! Mas não se preocupe, desde que você sempre volte, está tudo bem não comentar alguns capítulos. É, eu realmente pretendo melhorar a relação deles com o Harry, mas vou trabalhar isso aos poucos também, quando você falou isso lá no grupo esse capítulo já estava escrito, para ser sincera, já tinha escrito até o primeiro de OdF...
- AndressaSR: O que achou da reação deles nesse capítulo, que apesar de tão pequeno é muito intenso? Também estou ansiosa para escrever algumas partes, e confesso que outras (a morte do Sirius) já até escrevi... Você comentou que está participando do grupo, qual o seu nome lá para eu poder ligar o comentário à pessoa? Eu penso muito no que você falou, sobre mudar o passado e mudar o futuro, e em todas as consequencias desses atos. Nesse caso, acho que Harry voltou no tempo com os livros porque ele estava preparado para enfrentar qualquer que fosse o problema que resultassem disso. Em relação a personalidade de Harry e a amizade com Rony e Hermione não acho que mudaria tanto assim, acho que a única mudança seria que Harry seria mais feliz. Com tudo o que ele passou com os Dursley, Harry não deveria ser como ele é. A maioria das crianças que passa por maus-tratos não consegue se reerguer como Harry conseguiu. Acho que a personalidade dele é intrínseca, independete da criação dele. Mas eu realmente estou sempre pensando nisso, nas mudanças e consequencias... Vamos ver o que eles vão resolver no final (eu realmente não tenho certeza ainda).
- Fran Oliveira: Que bom que gostou!
- Izabella Bella Black: É por isso que nunca assito o filme antes de ler o livro, quando eu sei que existe um livro. Isso e o fato do livro sempre ser melhor... Eu tinha falado que o problema da Alice era apenas que ela tinha tido uma criação diferente e que ela cresceu acreditando no governo e nos jornais (como muita gente da nossa sociedade), então para ela mudar ela só precisava enxergar que nem sempre os jornais dizem a verdade, e aprender que nem tudo é o que parece ser, acho que ela já evoluiu muito. Para mim os pais não o reconhecerem é bem pior que os pais estarem mortos também...


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Comentários (8)

  • Izabella Bella Black

    Primeiramente capitulo perfeito. Cuitada da Lily, imagino o quando é dificil para ela ler sobre o filho em pergo, ainda mas agora e não poder fazer nada. Eu entendo que Dumbledore também é humano e como tal pode cometer erros, porem algumas coisas poderiam ser evitadas se ele tivesse tomado decisões diferentes. Nunca tinha imaginado que seria Harry a ler esse capitulo, porem ele esta certo, antes disso ele já deve que repetir essa historia varias vezes, porem não deixa de ser ruim isso. Fico imaginando a reação deles a hora que descobrirem que o traitor é o "Moody". Tenho que concordar com cada um ali, o que Voldemort se tornou é horrivel e asqueroso, posso não gostar de Snape mas fico feliz de certa forma por ele começar a perceber o erro que ele esta para cometer ao se juntar a Voldemort. O problema foi que até o lançamento do sexto filme eu não tinha lido os livros, meu pai não queria comprar e não encontrava ninguem que tivesse os livros e tenho que confessar não gosta de ler naquela epoca, no dia em que eu fui ao cinema com a minha mãe assistir o Enigma do Principe, tinha um grupo de adolescente que sairam na minha frente e não pararam de comentar que o Harry iria morrer no ultimo livro, fiquei brava e também curiosa, quando chegamos em casa e minha mãe entrou na internet, meu recebeu no email dele a propaganda da submarino falando que os livros do HP estavam por 10,00 cada um, bati o pé e meu pai comprou os livros, passei toda as ferias de junho daquele ano lendo os livros, isso por que eu me recusei a começar do ultimo, li seguindo a ordem, já a minha mãe leu só o ultimo e depois ficou perguntando algumas coisas que ela não entendeu. Acho que é só.  

    2016-03-19
  • MionGinnyLuna

    HARRY MEU AMOR NÃO SOFRA POR FAVOR.COMO VOCÊ FAZ  ISSO? ESSE CAP JÁ ME DÁ DOR NO CORAÇÃO E VC FEZ ELE MIL VEZES PIOR??? 

    2016-03-07
  • Stehcec

    Olá, cheguei até você! Agora meu comentário vale ponto! 0/ Deixa eu ler, pq minha vida ta corrida... hahahaahhahhahaah   Claro que como eu li a prévia sei q a Lily não irá conseguir ler e isso é mais q normal. Acredito que Dumbledore tenha ido até a casa do pai do Voldemort, só que acho q o Voldemort era inteligente demais pra deixar alguém descobrir que ele estava lá, depois que o Frankie descobriu ele lá, deve ter colocado um milhão de feitiços, mas isso é só expeculação, só iriamos descobrir se a J.K falasse alguma coisa e soobre o torneio, claro q o Dumbledore deve ter checado, mas ele também confiou na pessoa errada que ele acreditava ser a certa. Muito triste a morte do Cedrigo, eu senti muito essa morte pelo caracter dele e pq tbm ele foi só um efeito colateral. Imagino o quão dificil está sendo pro Harry ler tudo com muitissimos detalhes, pq ele contou a história muitas vezes, mas nada tão detalhado como no livro acredito eu. Claro que o que mais conhece de artes das trevas seria o Snape pra comentar um pouco sobre oq o Voldemort realmente planejava. Fico contente de ver que o Snape esta refletindo que esse caminho do mal não vale a pena. Agora minha cara Lily começa realmente a era de tormento e vc vai sofrer cada vez mais com o Harry. Fiquei meio q contente em saber q o Snape não sabia essa poção ou seja lá oq foi, pelo menos mostra que ainda ele não foi tão longe. Triste, muito triste o sofrimento de todo mundo. Mas tudo dará certo no final. Eu acredito que eles conseguirão mudar tudo.   Obrigado por responder partes do meu penúltimo comentário. Não lembro do Neville comentar da Avó materna e tomara q ele fale um pouco do Avô tbm. Pode ser que o Dumbledore tenha tentado, eu prefiro acreditar que essa era a única opção dele, eu realmente fico muito chateada com ele no próximo livro,  mas eu o perdoo definitivamente no sexto. E realmente não tinha conseguido ler o último ontem mesmo.   Ótimo cap como sempre Juh, esse é muito triste.   Até o próximo! Abraços

    2016-03-07
  • In_Black

    Meu Merlin, não sei o que falar *chorei* Fiquei com tanta pena deles, imagina ler isso tendo um laço, mesmo que pequeno, com pessoa que ta sofrendo. Se fosse eu entraria em desespero no inicio do capítulo e não parava mais (talvez no começo do livro). Relembrar a morte do Cedrico T-T coitadinho do HarryA fic tá ótima meu amor, continua logo por favooor, necessito pra viver!!Beijoss,In

    2016-03-07
  • Flaa

    Mais um éotimo capítulo!

    2016-03-07
  • Ana Marisa Potter

    Oi mais uma vez adorei o capitulo esta re leitura dos livros é espantosa aguardo anciosamente o proximo capitulo. Ainda nao acabamos o calice de fogo e eu ja penso como vai ser a reacao dos marotos e cia sobre todos os outros livros.Lily ja esta no 4 livro acho que ela ja comeca a preceber que Harry nao vai ter um ano tranquilo em Hogwarts, finalmente snape comeca a interagir com os marotos espero realmente que agora ele deixe as inamizades de lado.Bjs e posta logo cada vez mais amo a tua fic 

    2016-03-07
  • Carolina Black

    Mulher, o que é isso. Até chorei aqui. Imagina como é pra família ler tudo isso acontecendo com o Harry. Se fosse ele, eu já estaria chorando faz tempo só de lembrar que o Cedrico iria morrer; só de lembrar tudo porque teria passado e tudo pelo que passaria.  Espero que eles todos aprendam bastante com a leitura dos livros, principalmente Alice, que parece ser a mais inocente de todos. Me sinto mal só em pensar na Ordem da Fênix, onde eles irão ler sobre o St. Mungus e Harry encontrando Neville lá. Como sera que vão reagir a ver a si mesmos daquele jeito? ‘Choro‘  Posta logo, por favor. Eu dependo dessa fanfic pra viver. Releio ela sempre que acabo de reler. Faz sentido? Kkk  Até mais 

    2016-03-06
  • Luiza Snape

    Vixi, agora o picadeiro foi dinamitado!!! Eu imagino que a Lily e todos os oldschool irão ter vários trecos. 

    2016-03-06
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