Amanhã



Capítulo 22


 Amanhã


 


“Viva o hoje,


pois o ontem já se foi


e o amanhã talvez não venha.”


Antoine de Saint-Exupéry


  


 


— Então é aqui que você está se escondendo. Por que não estou surpreso?


— Não estou me escondendo — disse enquanto colocava de volta à estante mais um livro inútil.


— Não? Então por que não te vejo pelos corredores ou no Salão Principal por mais de cinco minutos?


— Porque estou pesquisando. E aonde mais eu iria que não aqui?


— E por que você não me pediu ajuda? — Sirius retorquiu enquanto me abraçava.


— Porque nem mesmo eu sei o que realmente estou procurando.


— Certo, não entendi. Você não está fazendo o trabalho da Prof.ª McGonagall?


— Não — respondi, lembrando que ainda havia o trabalho de um rolo de pergaminho que a professora havia pedido dias atrás.


— Então o que você está pesquisando? — Como eu hesitei por algum tempo em contar a Sirius o que acontecia, ele insistiu: — Ari?


— Faz uma semana que não tenho pesadelos.


— E isso não é algo bom? Suas olheiras até sumiram.


— Seria ótimo, se eu não tivesse tido outra visão.


Sirius me olhou com o cenho franzido.


— E quando foi isso?


— Faz quase duas semanas.


— Por que você não me disse?


— De que adiantaria, Sirius? De verdade? — retorqui, soltando-me dele. — Você não pode fazer nada, eu não posso fazer nada! Aquele homem faz tudo o que bem entende com minha mente, e agora esse silêncio mais me parece um prelúdio de que algo muito ruim irá acontecer. 


Ficamos em silêncio tempo bastante para eu conseguir me acalmar e não deixar a agonia me tomar como estava acontecendo naqueles dias.


Desde minha última visão os pesadelos haviam parado, o que me rendera noites de sono bem mais tranquilas. No entanto, o silêncio se tornou tão angustiante que procurar por algo ligado a Vrykolakes se tornou compulsivo. Porém eu nada encontrei. E estava começando a cogitar que tudo o que eu estava passando era apenas uma tortura.


— Será que realmente não adianta? — Sirius me perguntou. — Diga o que ele disse a você, quem sabe eu não ajudo com alguma coisa? O que você tanto pesquisa?


Respirei fundo e o olhei, desejando que nenhuma de minhas preocupações existissem. Eu queria tanto que fôssemos um casal comum, com problemas comuns, e que a única coisa contra nosso namoro fosse Severus...


Depois que contei a Sirius sobre a visão e o nome Vrykolakes, ele pensou por algum tempo. Olhou para as estantes e então sorriu. O sorriso arrogante que antes me era tão irritante.


— O que foi? — perguntei pressurosa.


— Você está procurando no lugar errado. — Ele pegou minha mão e me guiou para as estantes ao fundo da biblioteca. — Uma das coisas de família bruxa antiga é que há certas pompas que eles não deixam passar. E, caso você tenha se esquecido, a família Black é antiga.


— E isso tudo nos remete a...


— A isso daqui — Sirius falou, apontando um livro grosso que estava na última estante. Com um aceno da varinha, o livro desceu devagar para uma mesa. — Bruxos: desde antes de Merlin, até os Alquimistas brasileiros e os Feiticeiros africanos.


— E tem algo aí sobre sua família?


— Claro! É automático, sabe? Há um feitiço nesse livro que permite registrar, magicamente, todo e qualquer bruxo que deva ser lembrado, ou que simplesmente pertença a uma família bruxa antiga. Olhe só.


Sirius abriu um pouco mais para frente do meio, encontrando o que queria e o leu em voz alta:


Black. Família antiga composta na maioria por bruxos puro-sangue. Black, Alya (1352 – 1442) foi conhecida por fazer experiências entre elfos e duendes. Mas ela não é o ídolo da minha mãe, esse cara aqui sim — Sirius continuou, passando algumas páginas e então leu: — Thurkell, Thaddeus (1632 – 1692). Conhecido por ter tido sete filhos abortos e os ter transformado a todos em ouriços de tanta tristeza.


— Que horror!


— Gente maluca.


— Como você conhece esse livro?


— Minha mãe tem uma cópia. Claro que ele não é atualizado como esse, mas o Regulus faz questão de atualizá-la nas férias de Natal e no verão. Então... Aqui deve ter algo de Vrykolakes.


— Tem certeza que vou encontrar algo aqui, Sirius?


— Certeza eu não tenho, Ari. Mas, pelo que você me contou, o tal homem foi tão orgulhoso em dizer sobre seus ancestrais e o nome Vrykolakes, que talvez encontremos algo aqui. 


— Bom, vamos lá.


Puxei a cadeira e sentei com Sirius ao meu lado. Cada um olhava para uma página, tentando agilizar a procura. Porém, depois de várias páginas, comecei a cogitar que a tortura da visão consistia justamente nessa procura infundada. Que o homem de olhos roxos queria apenas me dar uma tranquilidade que não existia. Somente quase na hora do jantar, cerca de mil páginas depois, que a voz de Sirius me assustou.


— Achei! — ele gritou, atraindo olhares de censura em nossa direção. — Mas não tem muita coisa... — completou, desanimado. — A família Vrykolakes foi uma das mais antigas famílias da Europa Oriental. Dizia-se que elas descendiam dos reis e rainhas de Valáquia, e que Vlad Tepes, rei de Valáquia, fez vários acordos com feiticeiros dos ascendentes dos Vrykolakes. Só isso.


— Só isso? Toda aquela pompa para dizer que descendo desses feiticeiros? Tem algo faltando...


— Talvez ele só quisesse te deixar assim.


— Não. Tem algo faltando sim.


Comecei a folhear o livro mais avidamente, procurando por algo que, intimamente, sabia não existir.


— Ari, é só isso que você vai achar nesse livro.


— Você não pode ter certeza.


— Quanto a isso, eu tenho — Sirius falou e segurou minhas mãos. — Se tivesse algo mais sobre Vrykolakes, estaria na mesma página.


— Eu só esperava encontrar mais alguma coisa. Isso é tão pouco! — recostei na cadeira, desanimada. — Eu queria entender de uma vez o motivo dessas visões, o que esse homem tanto quer comigo.


— Ari, eu andei pensando — Sirius aproximou mais sua cadeira, de modo que ficamos próximos o bastante para baixar a voz. — E se falássemos com Dumbledore? Explicar o que está acontecendo com você, seus pesadelos, essas visões...


— Dizer ao diretor que estou tendo pesadelos com meus pais mortos e um homem que nunca vi na vida fica aparecendo à minha frente como seu eu desaparatasse de Hogwarts? Ele vai achar que estou ficando maluca.


— Não acho que ele vá pensar assim.


— Eu não sei...


— Ari, precisamos de alguém mais experiente. E tenho certeza que o diretor pode te ajudar com isso.


Olhei para aquela página novamente e suspirei.


— Só me deixe pesquisar mais um pouco, está bem? Talvez essa informação não seja tão inútil — completei indicando o livro. Vendo que Sirius iria continuar a argumentar, apressei-me a puxá-lo para fora da biblioteca. — Agora vamos jantar. Estou faminta!


Não consegui dormir muito àquela noite. Mal o dia nasceu, eu já estava completamente acordada, olhando para o teto do dossel de minha cama. O que eu havia encontrado no livro que Sirius me mostrara começava a se mostrar uma informação controversa. Quando o homem em minha visão me dissera que eu descendia de feiticeiros e da família Vrykolakes, me pareceu que se tratava de duas descendências diferentes. Contudo, no livro falava que os Vrykolakes eram feiticeiros. Eu não conseguia entender como isso se encaixava: afinal de contas, ele havia dito sobre duas famílias ou apenas uma? E em que isso influenciava tanto a ponto daquele homem me ambicionar?


Suspirei e então me levantei da cama. Ficar ali, deitada, não me adiantaria de nada, portanto troquei de roupa e fui para a biblioteca. Fui para uma ala que já me era conhecida e rapidamente encontrei um livro que falava sobre Feiticeiros. Não havia muita teoria, mas sim os nomes de feiticeiros famosos, tanto por seu perigo quanto por seus feitos maravilhosos. Havia apenas uma pequena definição na primeira página sobre o que era ser feiticeiro.


 


A palavra Feiticeiro origina-se do inglês arcaico WAERLOGA, que significa “aquele que rompe o juramento”. Não são muitos os feiticeiros que povoavam nosso mundo, mas o primeiro que se teve notícia foi Merlin, que viveu durante muitos e muitos anos. Alguns feiticeiros acreditam que Merlin não morreu e vive até hoje na ilha perdida de Avalon.


O que tanto torna a Feitiçaria Antiga diferente da magia de bruxos comuns é que o feiticeiro tem o poder de buscar mais poder e, então, corromper esse poder natural a seu favor. Ele teria o total controle psíquico de outros seres e favoreceria a satisfação do próprio ego na busca pelo poder. E é neste ponto, então, que o juramento é rompido. A busca egoística do poder faz o feiticeiro ser tomado pelas Trevas.


Merlin foi o primeiro feiticeiro que não se permitiu tomar pelas Trevas em nenhum momento. Hoje em dia, com a mistura de sangue entre bruxos comuns e feiticeiros, feiticeiros e trouxas, além de bruxos nascidos trouxa, a magia de um feiticeiro acabou se dissolvendo de tal maneira que não é mais sufocante e nem incontrolável para nenhum ser mágico.


Em contrapartida, a família Vrykolakes, desde seu primeiro ao último descendente, está fadada a ser a família de piores feiticeiros que se tem notícia no mundo mágico pelo seu sangue impuro. Contudo, não há notícia de que haja nenhum Vrykolakes vivo desde o fim do século XVIII.


 


Depois que li por três vezes aquela página, recostei-me na cadeira, tentando encaixar essa nova informação com o que o homem me dissera na visão. Eu sempre pensei que feiticeiros fossem apenas seres mais poderosos, e não facilmente corruptíveis. Ao menos hoje em dia os feiticeiros não eram mais puros a ponto de fazerem atrocidades com seus poderes.


Contudo, a citação do nome Vrykolakes foi tão surpreendente quanto angustiante. Eu havia pegado aquele livro durante um bom tempo no meu quarto ano, quando o Prof. Binns pedira uma redação sobre os famosos feiticeiros da Idade Média, mas sempre pulava a introdução do livro. Talvez, se eu tivesse prestado a devida atenção, não teria me angustiado tanto nos últimos dias procurando por esse nome. Os Vrykolakes estavam mortos há tanto tempo! Como aquele homem poderia me dizer que eu descendia deles?


— Como se eu fosse imortal — desdenhei em voz alta.


“Muito bem, Ariadne”. Ouvi uma voz sussurrar perto de mim. Olhei para os lados, assustada, contudo não havia ninguém na biblioteca. 


— Eu não sou imortal — falei alto como se houvesse alguém ali e fechei com um baque forte aquele livro.


Embora eu ainda estivesse na biblioteca de Hogwarts, a risada cruel do homem de olhos
roxos ecoou em minha mente. Inutilmente, tapei meus ouvidos, mas a risada continuava lá, fixa, aumentando seu volume, minha angústia.


— Sai da minha mente! — disse entre os dentes. — Sai agora!


Por um momento, minha angústia sumiu, dando lugar à raiva. A risada continuava em minha mente, aqueles olhos roxos fixando-se em mim, a visão da biblioteca de Hogwarts naquela mistura odiosa de que eu não conseguia me livrar. Minhas mãos fecharam-se em punho e a vontade de destruir aquele homem que me atormentava cresceu de tal maneira que a única coisa que eu queria, naquele momento, era que ele morresse. Que me deixasse em paz!


— Saia da minha mente agora — disse novamente. Não ouvi minha voz, entretanto, mas a risada havia parado, assim como o olhar tinha sumido. Era apenas eu na biblioteca, o som de passos e risos do lado de fora.


E Sirius me olhando como se não me conhecesse.


— O que aconteceu aqui?


— Como? — Ele apontou as cadeiras e alguns livros caídos no chão. — Eu não sei.


— Suas mãos estão frias — Sirius disse quando as segurou. Eu nem havia notado sua aproximação. — E seus olhos estão... estavam, quero dizer. Estavam com um tom dourado que parecia o sol.


— Você está exagerando — eu disse, desconfortável.


— Ari, eu sei o que vi. Você parecia que estava em transe. Seus olhos mudaram de cor, a sua voz ficou fria, como se não tivesse sentimentos, e o seu rosto...


— O que tem meu rosto? — perguntei quando Sirius hesitou.


— Você parecia que mataria o primeiro que visse à sua frente.


Não consegui sustentar o olhar de Sirius. Suas palavras me incomodaram absurdamente, embora que se o homem de olhos roxos morresse eu não acharia ruim.


— Mas eu não te matei, não é? — falei, por fim, tentando desanuviar a tensão entre nós.


— Você nem sequer me viu. Eu te chamei duas vezes, antes de você dizer para alguém sair de sua mente. Era aquele homem de novo?


— Era. E eu consegui o expulsar.


— Como você fez isso?


“Cuidado, Ariadne”. Novamente o sussurro.


— Eu não sei.


— Você
não sabe ou não quer me contar? — Sirius insistiu, fazendo com que eu o encarasse.


Minha primeira intenção foi dizer a Sirius como havia acontecido, descrever meus sentimentos, a sensação que me tomou enquanto eu afastava o homem de minha mente. Porém, a voz voltou, sussurrante.


“Não confie nele”.


— Ariadne? — ele insistiu.


— Eu não sei como fiz, Sirius — menti sem realmente saber o porquê. Sirius, porém, pareceu acreditar em mim.


— Vamos arrumar tudo isso antes que Madame Pince volte.


Em poucos minutos saímos da biblioteca, deixando-a tão arrumada quanto antes. Caminhamos silenciosamente e deixei-me guiar pela mão de Sirius, mais preocupada em entender tudo o que havia acontecido. Havia sido a raiva, o ódio pelo homem e a vontade de matá-lo que me permitira expulsá-lo de minha mente. Mas o que significava a queda dos livros e das cadeiras? Que tipo de energia havia passado por ali? E por mim? Eu já ouvira falar, é claro, de quem fazia magia sem perceber, mas eu já era uma bruxa que conseguia controlar muito bem os poderes. Não era uma criança de seis anos.


Além disso, havia as descrições que Sirius fizeram sobre minha aparência. Meus olhos mudando de cor, a feição mortífera e a voz fria de sentimentos. Como se eu tivesse sido tomada pelas Trevas, como aquele livro dizia. Se o homem de olhos roxos estivesse certo, eu descendia de feiticeiros. Eu descendia dos Vrykolakes. Será que meu destino já estava traçado e eu me tornaria uma feiticeira cruel?


Meneei a cabeça e deixei de lado todo esse pensamento. Só então notei que estávamos nos jardins, mais precisamente indo em direção a Lily e Potter, que nos esperavam do lado de fora das carruagens.


— Dia dos namorados — murmurei.


— Você tinha se esquecido?


— Na verdade, sim.


— Isso que é amor.


— Vá pastar, Potter.


— Não comecem vocês dois, está bem? — Lily pediu.


— É só ele não me irritar, Lily — respondi, entrando na carruagem com Sirius e os outros dois logo atrás. Tão logo sentei, lembrei-me de outra coisa. — Fabian!


— Quem? — Sirius perguntou.


— Fabian Prewett. Ele me escreveu, semana passada, dizendo que queria se encontrar comigo hoje em Hogsmeade.


— E o que ele quer com você hoje?


— Eu não sei. Ele só disse que precisava se encontrar comigo.


— Prewett? Ele não era o Monitor-Chefe, quando entramos em Hogwarts? — retorquiu Potter.


— Acho que sim — Lily falou.


— E o que ele pode querer com você? — Sirius perguntou.


— Já disse que não sei, Sirius — falei, tentando ser paciente. — Talvez algo sobre meu irmão. Eles eram amigos no Ministério.


Para meu alívio, o Potter pediu a atenção de Sirius, ao que eu fui conversando com Lily. Porém minha amiga servia apenas como distração da voz sussurrante que parecia não sair de minha mente àquele dia.


Não confie nele. Não lhe conte nada. Ele não se importa com você, só com ele...


— Você está errado — murmurei, olhando pela janela da carruagem.


Tão logo descemos da carruagem, Sirius e eu fomos para outra direção, ficando sozinhos rapidamente.


— Só isso que ele te disse? — Sirius me perguntou, ao que eu o olhei. — Quero dizer, o Prewett te mandou uma carta e escreveu: “preciso me encontrar com você. Cordialmente, Fabian Prewett”. Isso?


— Não apenas isso — respondi, suspirando em seguida. — Ele desejou que eu estivesse bem e disse que gostaria de me ver na próxima visita a Hogsmeade, se eu não me importasse. Respondi que não haveria problemas.


— E você nem pensou que a próxima visita seria no dia dos namorados?


— Não, eu... — Então sorri, finalmente compreendendo o tom rabugento de Sirius. — Você está com ciúmes.


— Claro que não — Sirius disse, em tom óbvio, voltando a andar.


A resposta dele fez meu sorriso aumentar. Segurei-o pela mão e o fiz se virar, para em seguida pegar o rosto dele com minhas mãos e fazer com que me olhasse. Dei-lhe um beijo leve e falei:


— Está sim.


— Não é isso — ele retorquiu, a feição indiferente não fazendo efeito algum em minha certeza.


— É sim — disse novamente e o enlacei pelo pescoço. Fiquei na ponta dos pés e lhe dei um beijo na bochecha. — Não sabia que eu tinha um namorado ciumento.


— Eu só cuido do que é meu.


Resposta típica, pensei.


— Quer dizer que sou sua?


Ele me apertou um pouco mais forte pela cintura, sem se importar com os transeuntes do vilarejo. Na verdade, eu também não dava a mínima para eles. Era Dia dos Namorados, ao fim de tudo. Encostando sua testa na minha, ele murmurou:


— Você é meu amor, Ariadne.


Senti que minhas pernas cederiam naquele momento com Sirius se declarando e em seguida me beijando sem reservas. Retribui o beijo, sentindo que o mundo poderia parar, ir mais rápido, ou até mesmo explodir que eu não me importaria. Eu queria dizer o mesmo a Sirius. Que ele era meu amor, também, que eu o amava, que ele havia conquistado meu carinho, meu respeito, e que viver sem ele não era mais uma opção. O homem de olhos roxos, com sua voz cruel em minha mente, estava errado.


Quando nos separamos, o olhei com todo o sentimento que me enchia naquele momento.


— Sirius, eu...


— Ariadne!


Olhei para quem havia nos interrompido e vi Fabian parado sorrindo para mim.


— Idiota — Sirius murmurou enquanto me liberava do abraço. Sua mão, entretanto, estava em minha cintura de maneira possessiva.


— Oi, Fabian — o cumprimentei com um beijo no rosto.


— Espero não estar atrapalhando.


— Sem problemas — eu disse, mas ouvi Sirius bufando atrás de mim, chamando a atenção de Fabian. — Fabian, este é meu namorado, Sirius.


Eles se cumprimentaram, ao que Fabian falou:


— Não vou tomar a Ariadne por muito tempo, Sirius, prometo.


— Tomar? — Sirius perguntou, me olhando com as sobrancelhas erguidas.


— É que o que eu tenho que falar com a Ariadne pede um pouco de privacidade. Mas é rápido.


— Se você faz tanta questão — falei. Virei-me para Sirius. — Nos encontramos no Três Vassouras? Acho que a Lily foi para lá.


— Claro. Até daqui a pouco.


O beijo que Sirius me deu para se despedir foi mais longo do que a boa educação mandava.


— Você parece que está muito bem — Fabian disse assim que começamos a caminhar em direção oposta a Sirius.


— Estou mais tranquila, é verdade.


— Você está no último ano?


— Sim.


— Já sabe o que vai fazer quando terminar a escola?


— Ainda não. Talvez auror — falei depois de um tempo. — Ou até mesmo uma Inominável.


— Você gosta de sonhar alto. Como seu irmão.


— Pois é...


Fabian ficou em silêncio por um tempo, parecendo constrangido e também ansioso. Como ele não disse nada – e eu ainda queria passar o Dia dos Namorados com Sirius –, perguntei, curiosa:


— O que você quer tanto falar comigo?


— Verdade, é melhor dizer logo, não? Afinal, não quero ficar tomando seu tempo com um namorado te esperando. — ele falou, sorrindo um pouco sem graça, mas ainda havia certa hesitação em suas feições.


Imaginei que apenas um assunto sobre meu irmão poderia trazê-lo até Hogsmeade, então perguntei, tentando diminuir seu constrangimento:


— O que você quer me falar é sobre meu irmão?


— Exatamente. — Sentamos em um banco, ao que Fabian continuou. — No dia anterior ao que te escrevi, querendo falar com você, foi porque encontrei isso em minhas coisas — completou enquanto me entregava uma pequena caixa.


— O que é isso?


— Eu não sei. Não olhei. Havia uma nota em cima, com a letra de Arktos. Ele pedia apenas que eu o entregasse a você.


Curiosa, abri a caixa. Nela continha um envelope com meu nome e uma pasta de couro. Meus dedos passaram pelo envelope que, com certeza, teria a explicação do que havia naquele interior. Parte da tristeza que eu conseguira controlar naquelas semanas após a morte de meu irmão pareceram voltar com força total. Em reflexo, fechei a caixa. Naquele momento, nada daquilo me interessava.


— Obrigada.


— Desculpe por fazer você se lembrar de Arktos assim, de repente. De todas as coisas, deixá-la triste não era minha intenção.


— Estou bem, pode ficar tranquilo.


Intentei me levantar do banco, mas Fabian segurou-me pelo braço.


— Ariadne, se você precisar de alguma coisa, qualquer coisa, pode me procurar, está bem?


— Eu sei. Mas, de tudo o que eu venha a precisar, não acho que você vá conseguir suprir.


— Mesmo assim. Não hesite em me procurar.


Sorri, olhando-o com gratidão.


— Obrigada, Fabian. Você foi um grande amigo de Arktos e eu o estimo por isso.


— Na verdade, ele me pediu que cuidasse de você — Fabian falou depois que me levantei e comecei a andar.


— Como?


— Além da nota sobre a caixa para entregá-la a você — ele disse, me acompanhando —, havia também um pedido de Arktos. De que eu cumprisse a promessa que sempre fazíamos quando a gente saía para fazer trabalho de campo.


— Que promessa?


— Se algum de nós faltasse, o outro cuidaria da família que ficasse. Molly está casada, então não há tanto problema, mas Gid precisaria de alguém. Gideon, meu irmão mais velho — ele explicou.


— Então é isso que você está fazendo? — perguntei, sorrindo. — Está cuidando da irmãzinha do seu amigo?


— Algo assim — ele retorquiu, também sorrindo.


— Arktos então conseguiu te convencer a cuidar da irmã mimada dele?


— Sabe como ele era. Até mesmo um carro seu irmão me fez comprar.


— Sério?


— Claro que meu cunhado também tem uma parcela de culpa. Ele é do tipo que adora tudo que é de origem trouxa, e tem um Ford Anglia na garagem, no qual faz todo tipo de experiência. O maior sonho dele é conseguir torná-lo invisível, mas é complicado por ele trabalhar no Ministério e isso ser um pouco ilegal.


Um pouco ilegal? — Fabian sorriu com minha pergunta.


— Eu finjo que não sei dos experimentos dele.


Olhei na direção do Três Vassouras e vi que Sirius nos olhava. Eu o conhecia o bastante para saber que seu ar despreocupado era tudo mentira.


— Eu preciso ir — falei.


— Tudo bem. Eu também não quero ser azarado pelo seu namorado.


— Ah, ele nunca faria isso — ri.


— Prefiro não arriscar. A gente se vê. — Fabian se despediu de mim com um abraço, se afastando em seguida. Porém, mal deu cinco passos, me olhou novamente como se lembrasse de algo: — Qualquer dia lhe mostro o carro.


— Com certeza!


Fiquei olhando Fabian se afastar enquanto me lembrava de Arktos, nossas conversas, ele sempre preocupado com minha segurança...


— Você cumpriu sua palavra, não foi? — falei, olhando para a caixa em minhas mãos. — Não poderia esperar menos de você. Mas me pergunto se vou ter coragem de descobrir o que há aqui dentro sem você ao meu lado, Ark... Algo me diz que eu não vou gostar nada quando souber o que se passa comigo. — Então olhei na direção que Fabian desaparatara. — E não adianta atormentar os sonhos do Fabian, fazendo-o cuidar de mim. Você sabe como gosto de ser autossuficiente. E de como odeio substituir as pessoas. — Respirei fundo, tentando reprimir as lágrimas que queriam voltar.


— Está tudo bem?


— Estou sim. Ele queria me entregar isso — disse, indicando a caixa.


— E o que tem aí?


— Era do meu irmão. Tem uma carta para mim e alguns papéis que não sei o que são.


— Você não vai abrir?


— Acho melhor fazer isso no castelo. Afinal — passei meu braço pela cintura de Sirius, trazendo-o para mais perto de mim —, hoje é Dia dos Namorados e perdemos muito tempo, não acha?


— Concordo plenamente.


Ficamos a nos beijar tempo bastante para perceber que, na verdade, voltar ao castelo seria uma opção melhor.


— Achei que você quisesse aproveitar a visita ao povoado — falei quando estávamos na carruagem rumo ao castelo.


— Não tem lugar para ficarmos tranquilos. E tudo o que precisava para hoje, já consegui — Sirius disse e ergueu uma sacola que tinha nas mãos. Eu havia notado a sacola, mas, distraída, não perguntei o que havia ali.


— E o que você comprou? — Tentei ver o conteúdo do saco, mas Sirius a afastou de mim.


— É uma surpresa.


Assim que chegamos ao castelo, fomos diretamente para a sala de sempre. Sirius lançou um feitiço para que ficasse trancada, além de outro que eu não conhecia.


— Que feitiço é esse?


— Caso alguém se aproxime a três metros da porta, minha varinha vai começar a tremer — ele explicou, colocando a varinha no chão.


— Depois você me ensina esse feitiço?


— Claro. É bem simples, na verdade — ele disse, retirando da sacola uma manta e forrando o chão com ela. — Mas você não quer aprender hoje, quer?


— Não.


Ele indicou a manta, ao que nos sentamos.


— Então? O que temos aí? — perguntei, tentando olhar para dentro do saco mais uma vez. — Além de um feitiço que aumentou o tamanho dessa sacola?


Sirius sorriu, quieto, e continuou a retirar as coisas de dentro do saco. Foram garrafas de suco de abóbora, cerveja amanteigada, tortas salgadas e doces... Um verdadeiro banquete. Coloquei a caixa de Arktos de lado e o ajudei a arrumar tudo.


— Estamos esperando alguém? — brinquei. A quantidade de comida era mais do que poderíamos comer.


— Não. Só nós dois. — Ele olhou dentro do saco e o colocou de lado. — Exagerei?


— Mais ou menos — ri.


Sirius deu de ombros.


— Talvez eu esteja muito acostumado ao Peter. Quando pegamos comida na cozinha, sempre tem que ter um extra.


— Para mim não precisava de extra — falei, embora o som de meu estômago roncando dissesse o contrário, fazendo-nos rir. Peguei um pastel de rim e o mordi, faminta. — Eu não tomei café da manhã.


— Por quê? — Sirius perguntou, parando de levar a pequena torta de abóbora à boca.


— Quando acordei, fui à biblioteca — disse, dando de ombros e me servindo de suco de abóbora.


— Ari, o que aconteceu hoje cedo, na biblioteca...


— Eu prefiro não falar sobre isso, Sirius. Ao menos hoje. — Deixei o pastelão e o suco de lado e me aproximei de Sirius. Sorri. — Eu prefiro aproveitar o Dia dos Namorados. Ou você discorda de mim? — perguntei, beijando-lhe o pescoço.


— Estou propenso a concordar com tudo — ele falou, me abraçando, e então me olhou. — Mas nós vamos conversar sobre isso.


— Amanhã.


— Amanhã.


Eu sabia que, assim que abrisse a caixa que Arktos havia me deixado, eu iria descobrir o que precisava. Algo dentro de mim me passava essa certeza, assim como a certeza de que minha vida mudaria. Portanto, eu queria muito aproveitar a tranquilidade que Sirius me proporcionava, o esquecimento que seus beijos me causavam e a embriaguez de seus toques. Meus fantasmas poderiam me buscar à noite, em meus sonhos, ou simplesmente na caixa que Arktos me deixara. Naquele momento, entretanto, eu queria me entregar ao que sentia por Sirius.


Sem que nos déssemos conta, já estávamos deitados na manta, as carícias se tornando mais ousadas. Senti meu corpo tremer quando sua mão subiu por minha coxa, alcançando minha barriga e brigando com a camiseta. Soltei um gemido involuntário quando a mesma mão subiu por minha cintura e alcançou levemente meu seio sobre o sutiã. O simples toque fez com que nos olhássemos por algum tempo.


Os olhos de Sirius estavam anuviados e eu sabia bem o que ele queria, afinal, era o mesmo que eu. Carícias ousadas, beijos de tirar o fôlego, contato de peles que nos faziam tremer e arrepiar. E pedir por mais. Por fim, ele encostou sua testa na minha e respirou profundamente para em seguida começar ajeitar minha blusa.


— Eu não quero que você pare — falei, colocando minha mão sobre a dele.


— Ari...


— Não estou falando de transpormos todos os limites. Eu só preciso ter você me beijando, me tocando. — Enquanto o enlaçava com minha perna, forçando a intimidade de nossos quadris, levei a mão de Sirius aonde eu gostaria, ao que ele, em resposta, apertou-me como nunca havia feito antes. — Me faça pensar que nada mais importa, Sirius.


Eu percebi o questionamento nos olhos dele, seu receio sobre meus fantasmas, meus pesadelos, o que havia acontecido na biblioteca mais cedo. Mas as perguntas ficariam para o dia seguinte.


— Eu vou até onde você deixar — ele disse, então. — É só me dizer para parar que eu paro.


— Eu confio em você.


— Não confie muito — ele falou, rindo em meu ouvido.


Eu sorri. Em seguida, sem me conter, porém em movimentos lentos, fiz com que Sirius se sentasse e retirei sua camiseta. Coloquei minha mão em seu peito, sentindo seu coração bater descompassado, sua pele arrepiada e os músculos tensos. Depois retirei minha própria camiseta, ficando apenas de sutiã.


— Confio sempre.


Então me entreguei ao abismo que era Sirius Black.


 


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N/A: Finalmente capítulo concluído! Espero que tenha agradado a todos, tanto pelos que pedem romance, quanto por alguns esclarecimentos. Ah, e quanto a esclarecimentos, finalmente a história vai correr como eu gostaria (e que, confesso, acabou se estendendo mais do que eu planejara).


Beijo grande para minha querida Priscila Louredo, que betou este capítulo, à Kelly, que sempre me salva no MSN mesmo sem saber, e à Duda, porque é uma fofa.


Aos demais, beijos e até o próximo.


Lívia.


 

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