Encarando a verdade (ou algo a



Capítulo 17


 


Encarando a verdade


(ou algo assim)


 


Os primeiros que encontrei assim que deixei Arktos foram Louise e Etan. Eles estavam bem, no entanto Louise ainda estava assustada com o que havia acontecido. Assim que me viu, me abraçou.


— Que bom que você está bem, Ari! Quando ouvi aqueles gritos, sabendo que você estava sozinha com o Black...


— Estou bem, Lou, se acalme. Vocês conseguiram se esconder a tempo?


— Sim — Louise respondeu, soltando-se de mim e segurando a mão do namorado. — Estávamos indo ao Três Vassouras. Muitos conseguiram se esconder lá.


— Eu não entendi esse ataque — Etan disse. — Quero dizer, do nada? E tão sem propósito... Eles ficaram...sei lá, vinte minutos?


— Eu também achei estranho.


— Pelo menos os aurores sabiam desse ataque — Louise falou.


— Outra coisa estranha, também — Etan retorquiu. Pelo visto, ele pensava igual a mim.


— Lou, você viu a Lily?


— Sim, ela também estava no Três Vassouras. Acho que ela deve estar vindo, já que Dumbledore nos ordenou voltar para a escola. Além disso, o Potter precisa ir à enfermaria, também.


— O Potter? O que aconteceu a ele?


— Ele não se controlou quando viu os comensais.


— E um o acertou em cheio, fazendo com que batesse a cabeça contra a parede do bar — Etan completou.


— Mas ele está bem, não está?


— Preocupada comigo, Lakerdos? Que tocante.


Olhei para o lado, deparando-me com James Potter sorrindo para mim de maneira arrogante.


— Pelo visto a pancada não foi forte o bastante para consertar esse seu jeito idiota, não é? — retorqui.


— Não comecem, vocês dois — Lily interveio. — Vamos, James. Madame Pomfrey precisa dar uma olhada em você.


— Acho melhor irmos todos — Clair disse.


Assim que começamos a andar na direção das carruagens que nos levariam ao castelo, Sirius prontamente ficou ao meu lado. Não ousei olhá-lo, ainda mais com a tensão que eu sentia somente com essa aproximação.


— Dina! — Olhei para trás e vi Arktos andando rápido em nossa direção. — Espere, vou com vocês. Duncan me mandou tratar esse braço.


— Achei que ele não fosse te liberar para cuidar disso — falei depois que Arktos cumprimentou meus amigos.


— Tinha coisas que ele queria conversar, antes. Nada de mais.


Quando chegamos às carruagens, tivemos que dividir os grupos. Fiquei mais aliviada quando Sirius preferiu ir junto com James e Remus. Louise e Etan foram conosco e ela recostou-se no namorado assim que se sentou; eu e Arktos também não conversávamos. Foi Etan quem quebrou o silêncio depois de um tempo:


— Senhor Lakerdos?


Arktos o olhou com as sobrancelhas erguidas, achando divertido o tratamento de Etan. Segurei-me para não rir também.


— Sim?


— Desculpe incomodar o senhor e ser tão direto, mas... O ataque de hoje. Como vocês chegaram tão rápido?


Meu irmão não sorria mais. Ele me olhou, fazendo uma pergunta muda: o quanto ele poderia contar. Eu meneei afirmativamente.


— Como você se chama? — Arktos perguntou.


— Etan Bornwick, senhor.


— Bem, Etan, não que tenhamos um sensor de ataques de comensais, mas temos algumas informações. O Ministério da Magia não é tão incompetente assim.


— Mas é que vocês chegaram tão rápido que foi estranho.


— Isso eu tenho que concordar com ele, Ark.


Arktos respirou fundo e se ajeitou melhor. Vi Louise também ficar mais atenta.


— Duas coisas nos ajudaram hoje. A primeira é que Dumbledore pediu ao Scrimgeour um reforço extra, uma vez que vocês visitariam o povoado. A segunda é que nós, aurores, estamos trabalhando com um comunicador. Algo bem parecido com o que os trouxas usam, só que não precisam de nenhum tipo de conexão. Na verdade, o usamos para emergência. Duncan, que estava fazendo guarda por aqui, só precisou encostar sua varinha no comunicador para sabermos que havia problemas.


— Legal — Etan falou, admirado.


— Não é? — Arktos sorriu para ele.


— E por que eles atacaram assim tão rápido? — Louise perguntou. — Os Comensais da Morte gostam de fazer alguns estragos e hoje quase não houve feridos.


— Isso eu não sei, Louise. — Arktos ficou taciturno. — Talvez eles não esperassem toda essa proteção, ou simplesmente preferiram algo rápido só para mostrar que estão saindo cada vez mais de seus esconderijos.


— Verdade — Etan falou, o cenho franzido em concentração. — Eu não ouvi falar em nenhum ataque durante o dia, ou em um lugar tão aglomerado antes de hoje.


— E eu temo que, a partir de hoje, será cada vez mais comum esses ataques, Etan.


Olhei Arktos quando ele falou. Se Voldemort e seus Comensais da Morte decidissem sair de seu esconderijo, a situação se agravaria muito. Pensei em Severus, no meio disso tudo. Senti muita vontade de contar a Arktos o que eu sabia sobre nosso primo, porém, tal preocupação não teria nenhuma serventia para meu irmão. Mas, ainda assim, guardar esse segredo dele acabava comigo.


Acompanhei Arktos até a Enfermaria quando descemos da carruagem. Tivemos que esperar um pouco para que ele fosse atendido, uma vez que como o corte que havia em seu braço não fora feito por magia negra, poderia esperar um pouco. Três camas a frente, James estava sendo tratado cuidadosamente por Madame Pomfrey sob os olhos atentos de Lily e seus amigos.


— É o filho de Richard, não é? — Arktos perguntou, apontando para James.


— É, sim.


— Os comensais o pegaram?


— Ele não conseguiu se segurar quando os viu, e acabou sendo ferido.


— Foi grave?


— Acho que não. Ele conseguiu até me azucrinar, quando nos vimos.


— Você ainda não se simpatiza com ele, Dina?


— Sabe que eu nem sei mais, Ark? — Olhei para meu irmão e sorri com pouca vontade. — Depois que o pai do James morreu, ele mudou muito. Antes, não passava de um moleque idiota que vivia implicando com Severus. Mas, desde que voltamos a Hogwarts, nunca mais o vi rondando. — E, embora eu não dissesse para Arktos, o fato de James ter salvado a vida de meu primo no fim do sexto ano também lhe rendera muitos pontos.


— Aquele outro é o Black, não? O que está morando na casa de Richard.


— Sim. O que foi? — perguntei quando Arktos suspirou.


— Estou me lembrando de vê-los quando cheguei na casa dos Potter. Havia tanto medo, tristeza no olhar deles, mas... Também havia determinação. Força. Era o James quem consolava a mãe dele, não o contrário. Enquanto isso, o outro garoto dava todas as informações que os aurores precisavam. Os dois pareciam velhos de dezessete anos.


Olhei para James, como se as palavras de Arktos abrissem meus olhos para o óbvio. Madame Pomfrey não estava mais perto da cama, seus cuidados já desnecessários. Lily paparicava o namorado enquanto Remus, Clair, Pettigrew e Sirius deixavam o casal a sós. Como meu irmão dissera, James não parecia mais aquele idiota de antes. Realmente estava mudado; no entanto, a maior prova de seu amadurecimento era a aproximação de Lily. Eu conhecia minha amiga muito bem, e se James Potter não tivesse mudado, ela não estaria ao lado dele, neste momento, daquela maneira.


Inevitavelmente, meus olhos foram para Sirius, minha mente trazendo à tona o que acontecera em Hogsmeade, antes do ataque dos Comensais da Morte. Eu sabia que tudo isso era uma loucura, e não sei por quanto tempo eu me xingaria em pensamento enquanto cogitasse sentir algo por ele. Mas, como eu sabia, tinham coisas que eram óbvias demais. Continuei olhando Sirius, que me olhava de volta, até que ele passou por mim com seus amigos; só voltei minha atenção para Arktos quando ele saiu da Enfermaria. Nem reparara que Madame Pomfrey já finalizava os cuidados com meu irmão.


— Você vai ficar bem, Senhor Lakerdos. Só me deixe colocar um pouco dessa poção no machucado que seu braço ficará novo em folha.


Tão logo Arktos foi liberado, saímos da Enfermaria.


— Eu gostaria de conversar com você, Dina.


— Sobre o quê?


Uma vez que estávamos sozinhos no corredor, meu irmão continuou.


— Eu disse a você que procuraria por algo. Sobre seus pesadelos, quero dizer.


— E o que você achou?


— Não muita coisa definida, ainda. E nada muito agradável.


— Como assim?


— O jeito que você me descreveu os sonhos. Mais parecem visões, entende?


— E isso quer dizer?


— A pessoa que fez tudo aquilo... De alguma maneira, ela quer que você reviva. Como se ela colocasse suas próprias lembranças em sua mente enquanto você dorme.


— Mas isso é possível?


— É raro. Mas não impossível.


— Você sabe quem fez aquilo com nossos pais, Ark? Quem fez aquilo comigo?


— Eu ainda não sei. Talvez eu tenha que fazer o que não estou muito a fim, que é procurar Alexey.


— O namoradinho da Aimèe?


— Namoradinho? — estranhou Arktos.


— Ela tem uma queda por ele.


— Sei. Mas, sim, é ele. Talvez ele tenha algumas respostas.


— Será que ele é confiável?


— Ele ficou muito irritado na época. Além disso, é primo do papai, não acho que esconderá alguma coisa, e também foi ele quem nos salvou.


— Eu o acho um pouco estranho. Só o vi duas vezes, mas a impressão que tenho é que ele demora mais que nós bruxos para envelhecer.


Arktos sorriu com minha observação.


— Talvez ele tenha o Elixir da Vida com ele.


Rolei os olhos.


— Pelo visto a conversa séria acabou, não?


— Sim, acabou. Além disso, eu preciso voltar ao Ministério.


— Tudo bem.


Acompanhei Arktos até o portão que dava acesso a Hogwarts, uma vez que apenas do lado de fora da propriedade ele conseguiria desaparatar.


— Fique tranquila, Dina, vou descobrir o que está acontecendo. E então, daremos um jeito de acabar com tudo isso. Eu prometo.


Por mais que eu quisesse descobrir os motivos de meus estranhos pesadelos, meu coração se apertou com a promessa de Arktos.


— Tome cuidado, está bem? — pedi, abraçando-o.


— Pode ficar tranquila, irmãzinha — ele disse. Então se afastou, sorrindo e piscando um olho para mim. — Você não vai se livrar de mim tão cedo.


Depois que Arktos desaparatou, decidi andar um pouco pelos jardins ao invés de voltar para meu salão comunal. Queria apenas dar uma volta, suavizar um pouco meus pensamentos, tentar tirar toda a pressão que fazia minha cabeça doer.


— Como está seu irmão?


Sorri com ironia. Claro que eu não teria sossego.


— Ele está bem. O corte não foi grave.


— Que bom... Eu não sabia que você duelava tão bem.


Disfarcei o sorriso ao receber aquele elogio.


— É de família — retruquei um pouco arrogante. Ouvi Sirius suspirar ao meu lado, aborrecido. De repente, um pensamento me veio à mente. — Por que você também brigou com eles? Você não precisava estar no fogo cruzado, sabia?


— Nem você.


— Eu sei, mas sua família meio que apoia Voldemort, não?


— Obrigado por me lembrar disso — ele falou aborrecido.


Apenas dei de ombros.


— Você parece preocupada.


Parei de andar e encarei Sirius seriamente.


— Black, o que você quer?


— O que houve com o “Sirius”?


— Black...


— Qual o seu problema, afinal? — Surpreendi-me com a raiva que ele mostrou.


— Meu problema?


— Sim! O que mais eu tenho de fazer, Ariadne, para você saber que eu gosto de você? Gosto de verdade? A tal ponto de ficar aqui feito um idiota, te esperando, insistindo, enquanto você só me retribui com patadas? Eu até deixei seu primo em paz, mesmo ele fazendo questão de me irritar a cada vez que me vê!


Fiquei quieta, sem saber o que dizer. Eu não esperava aquela explosão de raiva, ao menos não naquele momento. Sirius aproveitou o meu silêncio para continuar, um pouco mais calmo.


— Eu sei ser paciente, Ariadne, mas não sou um idiota. E quando eu penso que não há chance alguma, você... Você age daquela maneira em Hogsmeade! O que você quer de mim? O que você realmente espera?


Uma parte de mim queria apenas responder àquela pergunta com um sonoro “Nada!” e em seguida sair dali. No entanto, a outra queria muito mais. Queria pedir mais paciência a Sirius enquanto eu colocava minhas ideias no lugar, queria pedir que ele não desistisse! Porém minhas pernas, automáticas, já começavam a me tirar de perto dele.


Sirius foi rápido, segurando-me pelo braço e me virando para encará-lo.


— Você não vai fugir dessa vez, Ariadne. Vamos conversar. Por que você foge tanto? Qual o problema em admitir, de uma vez por todas, que sente algo por mim?


— E o que você quer que eu diga? — retorqui, livrando-me dele com um safanão. — Hein, Sirius, o quê? Desde que entramos nesta escola você vem tratando meu primo da pior maneira possível, sem que ele tenha feito algo a você. E não me olhe assim, pois no começo ele não fez nada! Você e o Potter que bancaram os imbecis. Ele só retrucou! Em nosso terceiro ano foi aquela humilhação com o bicho papão, no quinto, a cena lastimável depois dos N.O.M.s, e no fim do sexto ano, você...


— Eu achei que você já tivesse me perdoado por isso.


— Eu perdoei — retruquei. — Mas eu não sou uma retardada que fica esquecendo as coisas, Sirius. Isso já é pedir demais, não entende?


— Então é isso? Você nunca vai admitir que gosta de mim, simplesmente porque eu fui um idiota com seu primo? Eu mudei, Ariadne! Você não vê? Está na hora de deixarmos essas idiotices para trás e darmos valor ao que realmente importa. Nós!


— Você não se dá conta do quão difícil isso é para mim? Sirius, nós somos tão diferentes!


— Ótimos, nos completamos.


— Não é assim que as coisas funcionam. É mais complicado.


— Não, Ari, não é nada complicado. A vida é simples. Nossa situação se resolveria facilmente, é só você dizer que sim. É só admitir!


— Mas eu não sei o que admitir, entendeu? — retorqui, afastando-me da tentativa de seu abraço. — Eu simplesmente não sei o que admitir. Eu não sei o que sinto por você, se é que sinto alguma coisa.


— Ari...


— Não, Sirius. Deixe... Só me deixe pensar, está bem?


E sem lhe dar chance de me reter ali, afastei-me de Sirius. Fui o mais rápido que pude para a segurança do meu quarto, onde sabia que ninguém me incomodaria. Dessa vez, eu precisava realmente pensar. Entender o que se passava comigo de verdade e lidar com isso. Eu precisava resolver, de uma vez por todas, a confusão que minha vida se tornara por causa de Sirius.


Porém, por mais que eu pensasse, mais a balança deixava de pender para um lado. Pensar em deixar me levar pelo o que quer que eu sentia por Sirius era bom; pensar em como minha relação pioraria ainda mais com Severus, todos os anos sempre achando Sirius Black um completo imbecil que só servia para constranger meu primo e me irritar, me deixava com as mãos atadas. De um lado era o que eu sabia sentir e achava de tudo aquilo, de outro era apenas a suposição de um sonho.


E no café da manhã, a situação só me pareceu piorar.


Eu estava sozinha na mesa da Slytherin, uma vez que Louise há muito havia levantado para se encontrar com Etan. Vez ou outra eu levantava os olhos das torradas em meu prato; quando não era Severus quem eu via me olhar de uma maneira quase acusatória (embora eu não fizesse ideia de onde vinha toda aquela raiva e acusação depois de quase duas semanas de indiferença gélida), era o olhar de Sirius que eu surpreendia. Às vezes eu tinha a sensação de que ele deixaria seus amigos conversando sozinhos e viria em minha direção. Em outras, ele simplesmente desviava seu olhar.


Eu estava prestes a me levantar da mesa quando uma coruja pousou à minha frente. A princípio pensei ser uma carta de Artkos, mas logo descartei a possibilidade quando percebi que aquela era uma das corujas de Hogwarts. Então, outra possibilidade me veio à mente, embora relutante, pois desde que eu retornara à escola que meu “amigo anônimo” não me escrevia. Sorri quando reconheci a letra e percebi que ele era o autor daquela carta.


 


Às vezes, não vale à pena pensar demais.


Talvez, se deixar levar pela situação pode ser o primeiro passo para abrir os olhos para a realidade.


Já estou cansado desse anonimato.


Se estiver disposta, me encontre hoje à noite na “sua sala”, depois do toque de recolher. Sei que você consegue fazer isso.


Te vejo por aí.


 


Virei a carta, procurando algo mais, intrigada com aquelas poucas palavras. Mas é claro que não havia mais nada. Olhei pelo salão principal, procurando alguém que poderia tê-la escrito; como antes, apenas Severus e Sirius me olhavam. Suspirando, olhei novamente para a carta, lendo pela segunda vez o que meu amigo escrevera.


Eu gostaria de saber quem ele era, perguntar-lhe por que me escreveu no verão anonimamente e por que esperou tanto para me escrever de novo. E, também, o motivo daquelas palavras.


O dia foi terrivelmente longo enquanto eu fazia minhas lições na biblioteca, juntamente de Louise e Etan. Principalmente pela presença de Sirius a três mesas de mim. Lily me convidara para estudar com eles, mas, para mim, a mesa estava lotada demais. Depois do jantar, fiquei em meu salão comunal até não restar dois alunos. Fui ao meu quarto e peguei a capa da invisibilidade que eu escondia em meu malão. Olhei-a um pouco desgostosa; estava muito gasta, logo teria que comprar uma nova. Isso, claro, se Arktos me deixasse pagar por uma nova. Antes de sair, entretanto, meus olhos relancearam a caixinha de música que eu havia recebido de aniversário. Sem pensar duas vezes, coloquei-a no bolso do meu casaco e saí do quarto.


Fui para a sala onde eu sempre ia quando tinha meus pesadelos. Eu sabia que meu amigo anônimo se referira àquela sala. Ah, sim, outra coisa que eu gostaria de perguntar-lhe: como ele sabia dessa sala.


Não foi difícil alcançá-la. Assim que entrei, olhei ao redor, procurando por alguém, mas ele ainda não havia chegado. Colocando a capa na janela, retirei também a caixinha de música e a abri. A melodia suave me fez sorrir. Porém, nem mesmo os movimentos delicados da bailarina faziam minha tensão diminuir.


— Quem é você e por que tanto segredo? — perguntei, embora soubesse que não tinha ninguém na sala além de mim.


— Você deve saber o motivo do segredo, agora que sabe quem eu sou.


Virei-me, assustando-me com a voz de Sirius.


— Você quer me matar do coração? Eu nem ouvi você chegando!


— Desculpe — ele sorriu. — Você não me ouviu chegando, porque eu já estava aqui.


— Eu não te vi.


— Não é só você que tem truques, Ari. — Ele ergueu algo e eu notei que também era uma capa da invisibilidade. E, pelo visto, deveria ser nova, pois continuava tão transparente quanto o ar.


— Eu não sabia que você tinha uma.


— Não tenho. É emprestada.


Olhei dele para a capa de novo, para em seguida encará-lo. A princípio, ver Sirius naquela sala me pareceu ilógico. Então, minha mente começou a ferver. Ele era meu amigo anônimo. Só então eu comecei a ligar os pontos. Meu amigo anônimo se mudara de casa, Sirius também; nós nos víramos no Beco Diagonal e ele quis me abraçar para me desejar feliz aniversário, mas eu não deixei, e na carta, meu amigo dissera que quis me parabenizar, porém não conseguiu. E quando houve o ataque aos Potter e eu escrevi aquela carta... E ele não pode me responder. Mas...


— Por quê?


— Por que o quê?


— Por que você me mandou cartas? Me mandou presentes?


— Você realmente quer que eu responda isso, Ari?


— Quero! — Sirius ergueu as sobrancelhas, surpreso. — Ah, eu não sei!


Fiquei de costas para ele e novamente meus olhos caíram na caixinha de música. Naquele momento, ela me parecia muito imprópria ali. Fiquei tentada em fechá-la.


— Eu não tenho nada a ver com ela, sabe? — disse baixo.


— Mas quando eu a vi, lembrei-me de você na hora. O jeito que você fica quando eu te beijo. Você não é a Ariadne racional demais, cheia de barreiras. É apenas alguém que se deixa levar pela música.


— Está virando poeta? — perguntei, sorrindo, querendo soar irônica.


— Se você não fosse tão cabeça-dura, perceberia que o que eu falo é a verdade. Se você não se prendesse a um passado em vez de viver o presente, com tudo o que ele mostra e dispõe, não precisaria de tantas barreiras, tanta racionalidade. Tanta hipocrisia.


Não tive coragem de encarar Sirius, então continuei de costas para ele. Eu sabia que o que ele dizia era a mais pura verdade. Eu sabia que estava agindo de maneira hipócrita ao deixá-lo me beijar quando eu dizia aos quatro ventos que o odiava, que não me permitia ver que ele havia mudado no último verão depois de tanto testemunhar e ouvir sobre esse amadurecimento. Certo que ele não se tornara um homem de uma hora para outra, mas... Eu também não havia mudado muito. Talvez até menos do que ele.


Suspirei, cansada, com esse autodiagnóstico.


— O que você quer que eu faça? Eu não sei o que fazer. Não agora.


— Você não precisa saber. Só sentir.


— Não, Sirius, por favor. — Tirei sua mão de minha cintura e me afastei. — Agora, não. Eu realmente preciso colocar minha cabeça no lugar. Saber que era você quem me escrevia aquelas cartas é tão...estranho.


— Porque éramos civilizados?


— Talvez.


— Estamos sendo civilizados agora.


Quando Sirius deu um passo em minha direção, eu sabia que precisava sair dali.


— Eu preciso pensar. — Fui até a janela e peguei minhas coisas.


— Foi o que você me disse ontem.


— Acredite em mim. Eu pensar tanto antes de fazer alguma coisa é o melhor para nós dois.


E sem permitir que ele dissesse ou fizesse alguma coisa, deixei-o sozinho na sala.


Esperar que o sono chegasse não foi tão torturante quanto o dia seguinte. Louise me questionara logo cedo, perguntando por que eu estava tão pensativa. Depois, foram Lily e Clair, que notaram minha distração na aula de Feitiços, o que provocou a perda de cinco pontos para minha Casa. Elas até me convidaram para estudar com elas, porém eu sabia que, em vez de estudos, eu sofreria um interrogatório. Preferi Louise e Etan mais uma vez. No entanto, minha atenção continuava dispersa. E só piorou quando Lily chegou com o namorado à biblioteca, pois, como não poderia ser o contrário, Sirius estava com eles.


Depois disso, minha atenção foi toda para o espaço. E depois de tanto pensar no dia anterior, a noite passada e hoje (fora os dias anteriores que não foram um total desperdício de tempo e pesagem de prós e contras), eu sabia o que deveria ser feito. Só não sabia como. Ainda.


— Eu preciso pegar um livro de... ahm...


— Magia das Trevas? Que é o que estamos estudando? — retorquiu Louise, soando preocupada.


— Isso. Magia das Trevas. Já volto.


Honestamente, não sei se foi sorte ou coisa de destino que eu tive que passar pela mesa de Sirius para chegar na parte de livros que eu precisava. Não que eu tivesse algo em mente, também, quando olhei para ele até chegar nas estantes ali perto. Também não foi calculado ficar mais tempo que o necessário analisando um livro que eu nem sabia o conteúdo. Porém, eu sabia muito bem o que estava fazendo quando fingi não notar que Sirius viera atrás de mim e estava ficando cada vez mais perto.


Virei uma página de maneira quase violenta, fazendo um barulho desnecessário, como se, assim, desse a desculpa que eu precisava para ter algum argumento posteriormente. Eu precisava ter um argumento. Afinal, como eu poderia dizer que não ouvira Sirius vir atrás de mim e chegar tão perto que nem mesmo um surdo poderia ignorar sua presença?


— Acho que é isso — falei num murmúrio. Quando me virei, fingi me assustar com a presença dele. De última hora – talvez nos últimos segundos antes de me virar –, ensaiei mentalmente o que falaria para ele. Contudo meu pensamento e minha voz morreram por alguns segundos assim que eu o olhei.


Eu esperava uma feição arrogante, como se o meu teatro fosse óbvio demais e ele soubesse disso. Mas não havia arrogância em seus gestos; ele estava ansioso. Talvez tão ansioso quanto eu.


— Achou algo interessante? — ele perguntou enquanto continuava a se aproximar.


— Talvez.


— E eu deveria me preocupar com o que você acha interessante?


— Talvez — repeti.


Quando ele finalmente se aproximou o bastante para eu saber o que aconteceria, mas também para que eu pudesse sair dali se quisesse, falei a primeira coisa que me veio à mente – mas também que me martelava há dias:


— Isso é loucura e você sabe disso.


— Sem loucuras, a vida seria muito sem graça.


— Ninguém pode saber disso.


— Pode ficar tranquila. Eu sei guardar segredos.


— Ninguém, Sirius. Ninguém.


Com um enorme sorriso, ele acenou para mim, para em seguida me beijar. Meu corpo inteiro ficou tenso quando senti seus lábios nos meus. Contudo, no instante seguinte eu já fechava os olhos e minhas mãos subiam vagarosamente para seu rosto enquanto ele me abraçava pela cintura. Pela primeira vez eu estava sendo beijada de verdade por Sirius Black. E estava gostando. Eu não sei quanto tempo esse beijo durou. A única coisa que eu sabia era que eu não consegui olhar por muito tempo para aqueles olhos azul acinzentados sem iniciar outro.


 


***********************************************************


NB: ALELUIA SENHOR!!!!!!!!!!!!! Eu já não agüentava mais essa relutância dela, #prontofalei kkkkkkkkkkkkkkk Que Merlin ajude pra que isso nunca mais se repita :P Liv, espero o próximo e juro que não vou mais demorar pra betar. Bjkssssssssssss


 


N/A: E enfim Ariadne e Sirius desencantaram! Espero que tenham gostado (pelo menos gritando um “Aleluia”, como minha beta..kkkk). Honestamente, essa demora também estava me dando ojeriza.  Daqui para frente, muita coisa acontecerá (para quem leu “HP e o Encontro das Trevas”, já deve ter uma noção). Inspirada como estou, pretendo terminar de escrever logo o capítulo 18.


Agradeço a Ana pelo comentário! Ele me motivou mais ainda, querida. Beijo pra você.


Até o próximo, queridos.


Livinha


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.