As aparências enganam (Fato Um




Capítulo 08


 


As aparências enganam


(Fato Um)


 


Rotina. Era a palavra que eu queria seguir naquele momento. Seguir minha rotina, esquecer fatos estranhos que com certeza não deveriam estar passando por minha cabeça, ler meu livro, tranquila e concentrada, e fingir que não havia ninguém ao meu lado que não deveria estar.


Todo domingo de manhã era sagrado eu ir até o lago, sentar-me à sombra de um carvalho e ler um dos livros que Arktos me presenteava. Segundo meu irmão, essa era uma maneira de eu me esquecer de meus problemas adolescentes e parar de ser insuportável algumas vezes. De certa maneira funcionava. E eu seguia essa rotina tanto em Hogwarts quanto em minha casa. Meus livros preferidos eram sempre os que se passavam em época medieval, quando o herói, cheio de bravura e nobreza, nunca enchia a paciência da mocinha. Muito pelo contrário. E quando a incomodava, pensava logo em se desculpar e fazer-lhe um agrado como recompensa.


Talvez fosse isso que eu esperava de Sirius Black.


Eu o percebi se aproximar bem antes que ele se sentasse ao meu lado. No entanto, fingi não notá-lo. Acho que isso foi um erro, pois, se eu tivesse me levantado ou sequer olhado para ele e mostrado que não queria sua presença, provavelmente ele não estaria agora olhando para mim como se essa sim fosse uma rotina.


— O que você quer, Black? – perguntei sem olhar para ele.


— Saber por que você está nessa página há tanto tempo. Não conseguiu entender? O cara está explicando como aconteceu o envenenamento e que ele não teve nada a ver com isso. Quer que eu explique? Foi assim...


— Black, por favor – o interrompi. Fechei meu livro e o encarei. — O que você está fazendo sentado do meu lado? Eu não te chamei aqui. Eu nem sequer te quero aqui. Não aprecio sua presença.


— Verdade? Que estranho você dizer isso.


— Pois não acho que seja.


Levantei-me. Ele me imitou. Dei um passo para o lado e ele repetiu o gesto, continuando à minha frente.


— Qual o seu problema? Saia da minha frente, por favor?


Ele ergueu as sobrancelhas, sorrindo. Mesmo eu dizendo “por favor”, não havia muita educação em meu tom de voz.


— Por que essa pressa toda em ir embora?


— Eu não quero sua presença, Black, só isso. Entendeu, ou quer que eu desenhe?


— Não precisa ficar toda agitada – ele deu de ombros. — Eu não sabia que minha presença te deixava tão nervosa. Quero dizer, não até ontem.


— Sua presença não me deixa nervosa, Black. Não deixa hoje, nem deixou ontem. O que me deixa nervosa é você bancar meu amigo sendo que eu não te suporto.


— Não foi isso que pareceu ontem.


Eu o ignorei e dei um passo para o lado, passando por ele. Contudo, sem que eu pudesse prever – embora pensando depois eu não tenha me surpreendido –, ele me segurou pelo braço e me fez olhá-lo, virando-me para ele.


— Ontem você não estava achando ruim minha proximidade.


Senti meu rosto corar. Não pelo que ele dissera, mas por estarmos muito perto. Se ele abaixasse um pouco que fosse seu rosto, conseguiria me beijar. Não que eu estivesse interessada, na verdade.


— Ontem eu precisei me esconder com você. Nada mais.


— Se você pensa assim... Mas saiba que na próxima vez você não vai conseguir escapar tão facilmente.


— Do que você está falando? – perguntei, realmente sem entender aonde ele queria chegar.


— Na próxima vez eu faço o que não consegui ontem à noite.


Ele então sorriu e apertou levemente minha cintura; somente neste momento notei que a mão dele estava onde não devia. Soltei-me dele com um safanão.


— Você é um abusado, Sirius Black! – disse entre os dentes. Fechei minhas mãos em punho, tentada a dar um soco naquele rosto idiota. — Até parece que vai haver uma próxima vez. Na verdade, não tem por que haver uma próxima vez, pois não ficaremos sozinhos de novo.


— E estamos como, agora? Acompanhados? – ele zombou.


— Você entendeu o que eu quis dizer. Além disso, apareceu aqui sem ser convidado – respondi, começando a andar em direção ao castelo.


— Há certos momentos que não devemos esperar convite, Ariadne.


— Esperar ser convidado é o mínimo que uma pessoa educada deve fazer, assim como não dizer o nome de batismo de alguém se não for seu amigo – falei, continuando a caminhar.


— E quando não quer ser amigo? Como faz?


— Mantém distância.


— Não foi nesse sentido que eu quis dizer – ele retorquiu, rindo.


Contudo não lhe respondi, estava mais interessada em manter-lhe distância.


— Não estou te perseguindo por querer ser seu amigo, Ariadne.


Eu parei de andar e me virei irritada para ele, não aguentando mais aquela discussão completamente inútil e infundada.


— E então por que raios você...?


Não pude continuar a fazer minha pergunta. Mal havia me virado, Black me deu um encontrão, uma vez que ele estava me seguindo muito de perto. Não sei se ele não esperava que eu me virasse e agiu impulsivamente, ou se simplesmente era apenas isso que ele queria para fazer o que já estava planejando. A questão era que, assim que nos chocamos, no instante seguinte Sirius Black me beijava.


Não consegui reagir de imediato. Ser beijada por ele era tão surreal que nem meus instintos funcionavam. Mas eu não era tão idiota ao ponto de ficar ali, parada, enquanto era beijada por Sirius Black. Portanto, logo o empurrava e retirava minha varinha que estava no bolso de minha calça, apontando-a para ele.


— Nunca mais faça isso de novo – disse entre os dentes; minha mão tremia de raiva. — Ouviu, Black? Nunca mais!


Ele parecia não acreditar no que havia feito, porém o sorriso que ele deu quando viu minha varinha conseguiu me tirar do sério. Isto, somado ao que ele disse em seguida:


— Vai dizer que foi tão ruim assim?


— Não importa o quão horrível tenha sido, Black.


— Ah, qual é, não foi horrível, Ariadne.


— É Lakerdos para você, coloque isso de uma vez por todas nessa sua cabeça imbecil! E na próxima vez que você ousar se aproximar de mim, saberá o quanto de feitiços e azarações eu conheço. Está avisado.


Então me virei e segui para o castelo. Para a boa saúde de Black, ele continuou nos jardins.


Assim que alcancei o hall de entrada, vi Lily e Alice.


— O que aconteceu? – Lily perguntou. Pelas suas feições, eu deveria aparentar toda a irritação que eu estava sentindo naquele momento.


— Não me faça lembrar, Lily, pelo amor de Deus!


— Você parece à beira de um ataque de nervos, Ariadne – continuou Alice.


— Bem, eu acho que você também estaria se um retardado te beijasse sem você esperar ou sequer permitir, não é?


— E quem te beijou? – Lily perguntou. — Ah, não... – ela gemeu; por apenas um segundo, minha amiga desviou seus olhos de meu rosto enfurecido para encontrar uma pessoa que acabava de entrar no hall. Acompanhei seu olhar e vislumbrei rapidamente o Black entrando no Salão Principal depois de sorrir para nós.


— Você sabia que ele iria fazer isso? – perguntei acusatoriamente.


— Claro que não! – Lily falou, chocada. — Se eu soubesse que ele faria uma coisa dessas com você, não acha que eu a teria prevenido?


— Mas eu não precisei responder para você saber de quem eu falava.


Lily rolou os olhos e cruzou os braços.


— O que foi? – perguntei.


— Você fica muito chata quando se sente ofendida, sabia? Insuportável. Posso dizer por que eu sabia que foi o Sirius quem te beijou ou você vai achar que eu não sou de confiança?


Embora eu quisesse dizer a Lily que a chata era ela, percebi que acusar minha amiga não era algo que eu deveria ter feito. Duvidar da lealdade de Lily era a mesma coisa que pensar que dragões não cuspiam fogo. Automaticamente minha culpa começou a tomar conta da raiva que eu sentia.


— Certo – falei mais calma. — Como você sabia?


— Quando desci para o meu salão comunal, ouvi o Sirius conversando com o Potter.


— Eles falavam sobre mim?


— Não disseram seu nome. Só ouvi o Sirius dizer que hoje ele daria o segundo passo e que logo conseguiria conquistar “ela”.


— Como é? – espantei-me. Como assim, segundo passo? E, como assim, me conquistar?


— Pois é... Mas, o que ele quis dizer com segundo passo, Ari?


— E eu sei, Lily? Não sei nem por que o Black quer me conquistar! Aposto que é para irritar o Severus.


— E por que o Sirius conquistaria você para irritar o Snape? – disse Alice. — Isso não é lógico, Ariadne. É mais fácil ele estar gostando de você.


Eu ri.


— Claro, Alice, e eu acredito em Papai Noel. Eu nunca parei para conversar com o Black para ele nutrir o mínimo de simpatia por mim.


— A não ser ano passado, quando você teve que fazer dupla com ele nas aulas de Feitiços porque o professor não aguentava mais ele e o James aprontando.


— Foram dois meses.


— E no começo do sexto ano, na viagem para Hogwarts?


Senti meu rosto ficar vermelho de raiva. Lembrar-me da viagem do ano passado fazia meu sangue ferver. Não sei como acontecera, mas eu ficara trancada com o Black em uma cabine no trem por três horas até que Severus conseguisse encontrar alguém para me tirar de lá. Nós não conversamos; enquanto Black dizia algumas coisas sobre seu verão ter sido horrível e, assim que pudesse, sairia da casa dos pais, eu me preocupava em olhar pela janela e contar quantas árvores passavam por nós.


— Não teve conversa e... Alice, por que você está tão crente que pode ser isso? – perguntei; o nível da conversa estava me deixando mais irritada.


— É o que eu consigo perceber. Sabe, ter cara de santa ajuda, às vezes. Além disso, sou amiga do James desde que éramos bem pequenos. Ele me conta algumas coisas. – Dessa vez ela olhou para Lily, que entendeu a indireta.


— O que não entendi é ele dizer que daria o segundo passo – Lily falou, olhando para mim. — Qual foi o primeiro?


— Humf! Se ele contar a noite de ontem, ele está muito equivocado. Não aconteceu nada atrás daquela tapeçaria. Ele está maluco, isso sim. – Então contei às duas o que havia se passado.


— Quer dizer que você teve um papo estranho com o Sirius e depois se enfiou com ele em um espaço apertado e não aconteceu nada? Ariadne, você me surpreende. Não de uma maneira boa, vale dizer – implicou Alice.


— Rá, rá! Realmente engraçado – resmunguei.


— Desculpe, mas é que realmente foi uma situação estranha.


E ela vinha falar isso para mim.


Suspirei, deixando o assunto de lado.


— Meninas, vou para meu salão comunal. Preciso falar com o Paul.


— Algum problema? – Lily perguntou, notando meu tom desanimado.


— Vai contar a ele sobre o Sirius?


Fiz uma careta para Alice.


— Claro que não. O Black não é tão relevante assim. É que não sei se o que a gente tem está dando certo. Quero dizer, o Paul é um pouco grudento, sabem?


— Mas vocês não estavam namorando? – Alice perguntou.


— Não. A gente ainda estava se conhecendo, sabe? Bom, eu já vou. Preciso pensar no que vou dizer.


Despedi-me das duas e segui em direção às masmorras.


Antes do Black chegar e me interromper, mais cedo, eu também estava pensando sobre Paul. Realmente nossa relação não estava tão agradável para mim. Eu gostava dele, porém não o tanto que precisava para deixar as coisas fluírem entre nós como deveria. Eu sentia Paul exigir mais de mim a cada dia e estava me sentindo desconfortável sempre que dizia “não” a ele.


Estava prestes a chegar em meu salão comunal, quando encontrei Louise.


— Ari!


— O que foi? – sorri um pouco diante da animação dela; não queria que Louise notasse minhas preocupações.


— Acho que tenho uma boa notícia para você – ela sorriu de lado.


— E qual seria?


— Paul está te procurando. E parece que se sente culpado.


— Essa é a boa notícia? – perguntei, sem entender.


— Claro que é. Sei que você adora um pedido de desculpas, principalmente quando não é você quem o faz.


— Do jeito que você fala, eu pareço a pessoa mais arrogante do mundo.


— Do mundo eu ainda não sei, pois não viajei por ele todo, mas de Hogwarts, eu acho que você está na lista dos cinco mais.


— Vá procurar explosivins, Louise.


Ela riu.


— Tá, é que eu estou um pouco animada demais, se é que isso existe... Etan quer falar comigo. E o bilhete que ele me mandou estava bem sugestivo.


— Verdade?


— Sim! Ele dizia: “Quero me encontrar com você no lago. Venha logo, pois não quero perder a coragem. Beijos, Etan.”


— E se ele for terminar com você?


Louise arregalou os olhos, o sorriso sumindo de seu rosto.


— E por que ele faria isso? Ele te disse algo? – ela me perguntou, receosa.


— Não, não! Não precisa ficar apavorada. Mas essa coisa de “perder a coragem” é um pouco estranho. – Afinal, eu não queria perder a coragem em terminar tudo com Paul.


— Bem, obrigada pelo balde de água fria, Ari.


— Mas talvez seja o que você está pensando. Afinal, ele vai precisar de muita coragem para te namorar, sua maluqinha. – Louise sorriu para mim e eu fiquei mais aliviada. Não queria agourar o romance da minha amiga. — E onde você viu o Paul?


— Ah, é. Eu o vi ir em direção ao salão principal.


— Só que eu vim de lá agora – reclamei. Como não me encontrei com Paul no meio do caminho?


— Bom, então vamos voltar para encontrarmos nossos respectivos namorados – Louise disse, puxando-me pelo braço para acompanhá-la.


— Paul não é meu namorado, Louise. E Etan também não é o seu.


— Questão de tempo e perspectiva, queridinha.


Rolei meus olhos. Não diria para Louise que a perspectiva dela em relação a mim e Paul estava prestes a terminar ou, simplesmente, não acontecer.


— Ah, eu me esqueci de dizer outra coisa também. O Snape estava te procurando.


— Você sabe o que ele queria?


— Como se ele me passasse algum relatório todas as vezes que me pergunta de você – ela respondeu, rolando os olhos. — Sabe, Ari, no quesito arrogância, seu primo te supera. Não sei como ele tem tantos amigos, sendo que ele só me parece ser legal com você.


Olhei para Louise de lado. Amigos, o Severus? Para mim, aquelas pessoas com quem ele andava não poderiam, de maneira alguma, serem rotuladas de “amigos”.


— Mas ele está no salão comunal? – perguntei.


— Não, também saiu de lá assim que me perguntou de você. Ele não me disse, mas o ouvi falar sobre você estar no lago, lendo.


Se Severus sabia onde eu estava, por que não foi atrás de mim? Ou talvez ele tenha ido e me tenha visto com o Black. Será que ele pensou algo errado? Severus nunca me perdoaria se achasse que eu era amiga do Black e... Oh, Deus, será que ele viu o Black e eu...?


— Olhe ali seu namorado. – Louise interrompeu meus pensamentos. Eu gostaria muito que a animação dela fosse contagiosa, pois meu humor não estava em nada convidativo. Ela cumprimentou Paul. — Com licença, pois preciso me encontrar com Etan.


— Boa sorte – sorri para ela.


— Obrigada.


Acompanhei Louise com o olhar enquanto ela se afastava de nós. Somente quando ela virou o corredor que eu consegui encarar Paul. Como minha amiga disse, ele estava com uma expressão bem culpada. No entanto, ela havia se esquecido de dizer sobre a parte ansiosa no olhar dele. Eu não estava gostando dessa perspectiva.


— Olá – ele disse, sorrindo de uma maneira hesitante.


— Oi, Paul.


— Eu gostaria de falar com você sobre ontem.


Eu realmente pensei em dizer que ontem deveria ser esquecido, pois isso era um sinal de que não daríamos certo e que seria melhor cada um seguir seu caminho. Contudo, mal abri minha boca, Paul já me jogava seu discurso.


— Não fala nada, por favor. Sei que ontem eu passei dos limites, não deveria ter brigado com você daquele jeito, levado por uma coisa que o Cros disse por raiva. Eu sei que nós não temos nada sério, e você havia me pedido para cobrar menos, mas é que... – Ele suspirou, acalmando-se. — Ariadne, eu realmente gosto de você. E sei que posso estar prestes a me atirar em um abismo com o que vou dizer a seguir, porém eu preciso te perguntar.


— Perguntar o quê? – foi apenas isso que conseguir retorquir. A enxurrada de palavras havia me deixado um pouco zonza, e o jeito com que ele finalizou não me pareceu um bom prenúncio.


— Nós estamos juntos há quase dois meses. Não juntos juntos, afinal, cada um tem seu tempo, não estamos um do lado do outro o tempo todo, só que eu queria mudar isso.


Paul parou de me encarar e baixou os olhos para suas mãos nervosas. Eu sabia que deveria pará-lo naquele momento, que não poderia permitir o que viria a seguir. Seria muito mais doloroso terminar com ele depois de todo esse discurso e da pergunta que viria a seguir do que agora. Contudo, tive o vislumbre de mais alguém no corredor. Claro que apareceria alguém, afinal não estávamos sozinhos naquele castelo. Entretanto, eu não gostaria que ele ouvisse o que Paul diria a seguir. Mas também gostaria muito que ele ouvisse.


— Paul – comecei, desviando meu olhar. Paul me encarava.


— Então? Você aceita?


— Ah... O quê?


Paul hesitou, mas repetiu o que eu não escutara.


— Você quer ser minha namorada, Ariadne?


— Eu... – Olhei novamente para o intruso. Por que eu não queria dizer na frente dele? Seria um ótimo castigo depois do que eu descobrira. Inferno, que se danasse tudo. Paul merecia uma resposta. E eu sabia qual resposta deveria lhe dar. — Eu aceito, Paul. – Ou talvez não.


O sorriso de Paul foi tão grande que eu achei que algo assim seria impossível. Em seguida, e tão rápido que eu não consegui reagir, ele segurou meu rosto em suas mãos e me beijou apaixonado, ao que eu retribuí meio sem saber como fazer. Depois ele me abraçou e foi então que eu consegui olhar novamente para Sirius Black.


Tudo foi tão rápido, porém as reações do Black pareceram me entorpecer contra Paul. De uma maneira eu não me importava com o que via à minha frente, pois para mim o olhar de derrota do Black era apenas orgulho ferido, pois ele não conseguiria terminar seu joguinho de me conquistar, como Lily me prevenira minutos antes.


No entanto, algo também me parecia muito, mas muito errado mesmo. Bem no fundo, aquela situação também me incomodava. Paul me abraçando, falando coisas em meu ouvido que eu deveria estar entendendo, Sirius Black à minha frente parecendo prestes a matar alguém, eu preocupada com alguém que eu não suportava e querendo absurdamente soltar-me de Paul e lhe virar as costas...


Oh, meu Deus! Eu devia estar enlouquecendo! Meus pesadelos pareceram queimar totalmente meus neurônios, e eu havia tido apenas dois! O que aconteceria se eu continuasse com isso?


Eu não devia me importar com o que Sirius Black pensava ou sentia, principalmente pelo que ele havia feito noite passada e hoje. Além, claro, da razão mais importante e que eu apregoava desde que eu entrara em Hogwarts: ele vivia humilhando Severus, portanto, por que me importar com alguém assim?


— Ariadne – Paul afastou-se, suas mãos voltando para meu rosto, forçando-me a encará-lo. — Eu prometo que não vou ter crises de ciúmes, pois sei que você não gosta. Portanto, o que aconteceu ontem, gostaria muito que você esquecesse.


— Pode deixar, eu... Eu vou esquecer. – Forcei minha concentração em Paul. Eu deveria me focar. Estava me sentindo uma retardada. Porém, ainda tentei vislumbrar Black novamente, mas não o encontrei. Suspirei de alívio, sentindo minhas emoções voltarem ao lugar. Olhei para Paul e sorri. — Já está esquecido, Paul.


— Que bom. Então... quer dar uma volta, namorada?


Sorri e segurei a mão que ele me estendia.


— Claro, namorado.


Fomos para os jardins, e volta e meia Paul me surpreendia com um beijo. Eu sabia que esse relacionamento tinha tudo para dar errado, mas eu queria dar-lhe uma chance mais uma vez. Ele me parecia legal de verdade e gostava de mim como nenhum outro garoto gostou antes. Além disso, Paul conseguia me distrair. E era disso que eu precisava.


Não encontrei Louise e Etan quando olhei na direção do lago, contudo vi Lily, Alice e Frank Longbottom conversando. Minha amiga olhou para Paul e eu, seus olhos logo caindo em nossas mãos entrelaçadas. Ela franziu o cenho e me encarou com as sobrancelhas erguidas em seguida. Senti meu rosto queimar um pouco, mas dei de ombros e sorri. Ela meneou a cabeça, compreendendo meu sorriso.


Lily conseguia me entender apenas com um olhar. Ela tinha esse condão que muitas vezes me incomodava. Eu confiava em minha amiga cegamente, embora tivesse meus surtos, mas mesmo assim existiam coisas que eu preferia contar ou esconder, dependendo do meu humor e o nível de situação a que me segredo se referia. Eu não poderia contar para ela, por exemplo, como eu aceitara o pedido de Paul. Ela poderia me entender melhor do que eu mesma, e eu não queria isso.


Portanto, permiti que Paul me abraçasse novamente e me beijasse. Como eu disse, distração era tudo o que eu precisava. Quando ele me soltou, vi Severus a poucos passos de nós. Peguei Paul pela mão e quase o arrastei atrás de mim.


— Severus! – o chamei.


Ele parou de conversar com Mulciber e me olhou, rapidamente relanceado a minha mão e a de Paul juntas. Fiquei tentada em soltar na hora, mas me segurei. Eu aceitara namorar Paul e agir como uma idiota não seria bom.


— Louise disse que você estava me procurando.


— Não é nada de mais – ele falou, arrastando a voz.


— Algum problema?


— Comigo não, e com você? Alguma dúvida, ou todas já foram solucionadas hoje cedo?


— O quê?


— Pelo visto você já se decidiu, não é? – Severus olhou rapidamente para nossas mãos de novo. Quis perguntar o que ele queria dizer, mas então ele olhou para além de mim e soltou um leve riso em desagrado. — Também, as alternativas não eram tão difíceis assim, não acha? E não podemos tirar-lhe o crédito, pois ele tentou.


Então ele se afastou de mim, voltando a conversar com Mulciber. Curiosa, olhei para trás e vi Sirius Black junto de James Potter, Clair e Lupin. O primeiro me encarava, não prestando muita atenção na conversa dos amigos. Toda sua atenção em mim e Paul chamou a atenção de Clair, que logo seguiu o olhar de Black para nós. Eu sorri para minha amiga, ao que ela correspondeu, porém olhou novamente para Sirius, parecendo agitada. Novamente eu quis soltar a mão de Paul, mas me controlei. Sair correndo dos jardins não era uma opção atraente e muito menos racional.


— O que o Black tanto olha? – ouvi Paul perguntar.


— Não faço ideia. – Encarei Paul. — Vamos dar uma volta? Não gosto de toda essa atenção.


— Tudo bem.


Demorei para perder a vontade de soltar a mão de Paul e a tentação de olhar novamente para trás para me certificar de que Sirius Black não me encarava mais.


Toda essa situação estava muito estranha, e o fato de ela ter acontecido nessa manhã, toda de uma vez, não ajudava em nada eu colocar minha cabeça no lugar. Só havia uma solução que eu conseguia encontrar neste momento: ficar com Paul o resto do dia e não olhar para os lados. Fingir-me de cega. Talvez isso desse certo.


 


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N/B: Mas eu posso dar uma cacetada na Ari??? Deixa vai! Ô garota complicada, aposto que ia se sentir muito melhor estando com o Sirius... Amada, capítulo excelente. Parabéns!


 


N/A: Pois é, eu também penso que a Ari iria se sentir bem melhor se ficasse com o Sirius, mas... Quem sou eu para opinar na vontade dela? (Ta, pergunta nonsense).


Espero que tenham gostado, queridos!


E eu estou escrevendo uma fic nova.


Totalmente Universo Alternativo. Se chama Sombras de Uma Escolha.


O link é esse: http://fanfic.potterish.com/menufic.php?id=38053


Há mais informações da fic no menu. ;-D


Beijos,


Livinha


 


 

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