O feitiço contra o feiticeiro



OK, o mundo estava doido... Mas quem não estava?
     O baile de Hogwarts contaria com casais meio... Digamos... Inesperados: Lily Evans e Sirius Black. Dorcas Meadowes e Remus Lupin, Marlene McKinnon e James Potter e Emmeline Vance e Edgar Bones. Loucura, loucura... Loucura.
    Emmeline sentia seu coração apertado. Sem saber o motivo real desse aperto. Na verdade, ela mantinha um leve interesse por Remus, o achava misterioso... Lindo, inteligente, responsável...
    CABAM!
    - Aiii!
    De repente, uma sensação muito dolorosa a acordou de seus sonhos com todas as qualidades de Remus Lupin. Ela não vira nada, mas agora, tentava se erguer do chão. Do nada, surgiu uma mão à sua frente.
    - Desculpa, Emme! – Sirius ria.
    - Emme, onde está com a cabeça? A gente gritou, mas você se meteu na frente! – Lily tentava decidir o que era prioridade: falar ou rir.
    - Que houve? – A loira se segurou na mão do rapaz, que a ergueu sem fazer força alguma.
    - Sirius e eu estávamos correndo, para não perder o almoço, e você se materializou do nada na nossa frente, e como não conseguimos parar... – Lily chocou as mãos, fazendo um barulho oco. – Bleeem! Nos chocamos!
    - Pois é, e você tinha que ter visto que vôo incrível você deu! – Sirius falou debochadamente.
    Emmeline olhou de Sirius para Lily. Algo estava errado naquela cena. Ou teria sido a pancada? Não, não... Alguma coisa estava diferente...
    - Vocês estavam juntos? – ela lembrou do pequeno detalhe de que Lily e Sirius nunca foram amigos. Não até onde ela sabia.
    - Ah, sim! Eu convidei a ruiva pro baile! – Sirius piscou para Lily, que abafou uma nova gargalhada.
    Os olhos de Emmeline se abriram de forma assutadora, esbugalhados.
    - Hã?
    - Eu vou com Sirius ao baile! – Lily comentou com ar quase sonhador.
    - Quê?
    - O baile, Vance! Lily… - e apontou para Lily -, Sirius... –, apontou para si mesmo - baile... dança… - Sirius fez como se dançasse com um par invisível, e falava pausadamente, como se duvidasse da competência mental de Emmeline.
    - Como é? – Emmeline já estava ficando chata.
    - Emme você já comeu? Glicose faz falta ao cérebro...- Sirius revirou os olhos. - Já é loira, com fome então...
    Falando em comer, realmente, Emmeline não havia comido ainda. Pensou porque ainda não havia comido... Lembrou, e sentiu vontade de matar alguém. Claro, ela havia se preocupado com Dorcas, com o convite de Edgar Bones, e fora se desculpar por ter sido tão estúpida e não ter dado um fora no garoto, ou falado: “eu não quero ir ao baile com você, mas aposto que Dorcas adoraria, né, Dô?” embora se tivesse falado tal coisa, a essa hora não estaria viva para nem sentir fome – Dorcas era perigosa, com uma varinha na mão ,então... Emmeline tremeu só de pensar. Mas, não... Dorcas estava muito bem, obrigada. Remus Lupin, o garoto mais tímido e lindo de Hogwarts a havia convidado.
    - Dorcas me paga! – Emmeline gruniu.
    Sirius olhou para Lily, com uma cara de “hã?” apontando com o polegar para a loira, como quem diz “e isso agora?” Lily balançou a cabeça e deu de ombros, como se dissesse: “liga não, ela está bem, esse é o normal dela”
    - Assembleia geral? – Remus falou, chamando a atenção para si.
    - Cara... De onde você saiu? – Sirius o olhou, admirado, como se nunca o tivesse visto antes.
    - Dali... Ué? – ele apontou para a porta do Salão Comunal da Grifinória, de onde Dorcas saía agora, olhando para Sirius confuso.
    - Ah, tá... Abstrai – Sirius fez cara de tédio, se sentindo um completo idiota.
    - Gente, vamos almoçar? Antes que recolham a comida! – Dorcas falou sorridente demais para quem há poucos minutos atrás teve o coração despedaçado. Lily registrou isso imediatamente. "Ah, Dorcas me paga... entendi" Lily meditou olhando para Emmeline. Era isso: Emmeline tinha o par que Dorcas queria; Dorcas tinha o par que Emmeline queria. Que doido.
    Emmeline virou a cara, andando na frente. No topo da cabeça de Dorcas surgiu um ponto de interrogação. Ela entreolhou os presentes e viu Lily com aquele velho ar de “tudo bem”, mas com algo do tipo suspeito também.
    - Ela está agindo como uma louca... – Lily comentou. - Aliás, está tudo muito louco hoje, não acham?
    - Emme é louca desde sempre! – Dorcas riu e pegou na mão de Remus. Sirius arregalou os olhos, Lily parou o curioso olhar nas mãos dadas deles. - Vamos comer, então? – Dorcas sorriu gentilmente para o garoto loiro, que corou.
    - Vamos sim... E vocês, Lily e... – Remus mudou a expressão. Espera? – Sirius? – A ficha caíra. Lily e Sirius, juntos...? Algo de errado não estava certo. Definitivamente.
    - Ah, vamos sim... – Sirius repetiu o gesto de Dorcas, e estendeu a mão para Lily. Remus e Dorcas se entreolharam, assustados. – Vamos, ruiva?
    - Vamos, moreno... – Lily riu. Dorcas estava boquiaberta. Quem foi que bagunçou tudo daquele jeito?

Nada, absolutamente nada, estava fazendo muito sentido naquele dia...
    Emmeline já estava sentada à mesa quando Dorcas, Remus, Lily e Sirius chegaram. Marlene e James, sentados lado a lado, observaram, piscando várias vezes, os dois casais que acabavam de chegar. James segurou o garfo com força, como se a qualquer momento pudesse usá-lo como arma, e Marlene estava com o seu próprio garfo suspenso, com um pouco de comida nele, como se fosse incapaz de terminar o trajeto que ele traçava desde o prato até sua boca.
    - Oi, Jay, Lene... – Sirius sorriu ironicamente. – Está bem temperada a comida?
    Lily reparou que Alice e Frank também estavam os olhando como se fossem anormais. Coisa estranha de se pensar... Alice não era lá muito certa das idéias, pelo menos não quando vinha com aqueles papos de destino, predestinação, adivinhação... E Frank, ora... Frank era o Frank... O dono daquela básica frase: “Tudo sobra para o Longbottom...”.
    - Animados para o baile? Alice, Frank? – Lily perguntou, para quebrar o clima.
    - Ah, claro... – Alice sorriu resplandecente. – Meu vestido está divino, em tom de amarelo queimado, sabe? Ah, e eu Adoro dançar,  Frank dança tão bem...
    - Bondade a sua, Alice, mas acho que são seus pés que já acostumaram com meus pisões... – Frank riu.
    Certo, Lily sentiu-se uma garota muito má por pensar daquela forma. Eles falando até pareciam um casal normal.
    - Alice, seu irmão está bem? – Emmeline perguntou, tentando não mirar Dorcas e abafar aquela vontade que tinha de esganar a amiga.
    - Ah... O Edward? – Alice fez uma ligeira careta, como se estivesse surpresa com a pergunta. – É, ele está bem... Por que a pergunta?
    - Não, nada... Eu soube que ele se acidentou na Copa de Quadribol.
    O casal de namorados se entreolharam, como se ambos tivessem acabado de engolir um gato inteiro e com unhas enormes que desceram aranhando o esôfago.
    - Ah foi...! – Alice parecia não lembrar desse detalhe e disfaçou como pôde. – Mas ele está bem. Frank tamborilou seus dedos na mesa distraidamente, tentando não demonstrar tensão.
    - Oh... – Emmeline percebeu que deixara a menina meio constrangida, e ela definitivamente não queria falar sobre isso. - Agora que ele terminou a escola, eu ontem ouvi umas meninas falando que o garoto mais bonito de Hogwarts fazia falta – Emmeline tentou sorrir para fazer Alice descontrair os músculos.
    - Ah, o garoto mais bonito de Hogwarts! – Alice riu de má vontade. Frank a acompanhou igualmente sem graça. – Dudy vai adorar saber dessa fama...
    - Mas Edward é lindo mesmo! Pena que nunca deu bola para ninguém... – Emmeline se lamentou.
    - É que ele só tinha olhos para uma garota... – Frank comentou, fazendo Alice o mirar furtivamente.
    - Ah, é? Quem? -  a loira quis saber.
    - Está falando da Rachel? – Alice apontou com o polegar para a mesa da Corvinal. Emmeline acompanhou com os olhos.
    - Rachel... Clearwater? - o queixo de Emmeline caiu. "A brega da Clearwater e o deus romano do Edward?" pensou, quase falando de tanta indignação.
    - É, ela mesma - Frank assentiu com a cabeça. - Eles namoraram um tempo aí.
    - Mas não foi nada de sério. - Alice fez questão de complementar. Depois serviu-se de mais um pãozinho e o papo acabou assim, sem mais nem menos.

Emmeline percebeu que já não participava mais daquela conversa, que terminara mesmo. E de nenhuma outra, inclusive. Agora, estavam todos muito calados, com exceção de alguns alunos na ponta da mesa, falando qualquer coisa sem utilidade. James e Marlene pareciam ter acabado de chegar de um enterro. Sirius e Lily, embora sem aparentar tédio ou raiva, ou qualquer outro sentimento, estavam calados. Remus e Dorcas pareciam se evitar um pouco, como se estivessem tímidos. “legal...” ela pensou “estou sobrando por aqui...”
    - Sirius... – James cortou o silêncio.
    - Quê? – Sirius falou de boca cheia.
    - Já arrumou par para o baile? – Ele perguntou, tentando parecer indiferente – Corre, pois só vão sobrar as feias daqui a pouco.
    - Não se preocupe com isso, Jay... Já tenho par... e ela é linda. – Sirius piscou para o amigo. Marlene bebeu um gole de suco para engolir aquelas palavras.
    - Ah, é mesmo? E ela é da Grifinória? – James provocou.
    - Sim, é sim... – e Marlene deu uma outra golada no seu suco, apreensiva.
    - E posso saber quem é?
    - Claro... – Mas não foi Sirius quem falou, foi Lily, erguendo seu próprio copo, como se fizesse um brinde ao garoto. – Sou eu, Potter.
    Marlene engasgou com o suco, respingando gotas em cima de Alice e começando a tossir sem parar.
    - Oh, céus! – Alice foi ajudar a menina. – Merlin, Lene! Calma, calma... Respira!
    - Tosse, McKinnon? – Sirius perguntou debochadamente.
    - Oras! – James encarou o amigo. Não podia acreditar: o feitiço acabara de se virar contra o feiticeiro. – Então... É vingança? É isso?
    Sirius e Lily se entreolharam, com cara de santos.
    - Do que você está falando, Potter? – Lily comentou inocentemente.
    - Só porque eu convidei a Marlene? – e apontou para a menina que ainda tossia, vermelha, sendo ajudada por Alice, que agora colocava seus braços para cima.
    - Mas você é muito convencido mesmo, não é? – Lily semicerrou os olhos ao dizer isso. – Acha mesmo que o mundo gira em torno das suas decisões? Se liga, Potter... Você não é tão especial assim!
    - Jay, Lily não tinha par... eu não tinha par... – Sirius comentou quase cantarolando.
    - Meadowes também não tem par, porque não a convidou? – James apontou para Dorcas, que ergueu os olhos à menção de seu nome, querendo dar um chute nele por ser apontada como “a última opção”.
    - Na verdade... – Remus se pronunciou. – Ela tem par sim... Eu.
    Agora, os olhares se direcionavam todos para Remus. Lily, Sirius, James, Emmeline (vermelha de ódio), Alice, Frank e até Marlene, engolindo sua tosse do nada... Todos os olhos arregalados fitando o rapaz. Remus sentiu a face corar e Dorcas abriu um sorriso.
    - É, Potter... Sabe? Tem gente que não me enxerga como a última opção!
    Emmeline, de repente, se ergueu, fazendo sua cadeira cair, de tão estupidamente usara sua força. Os olhos que antes fitavam Remus, voltaram-se para ela. Alice e Frank se entreolharam, confusos, praticamente estarrecidos com todo aquele caos ali. Observaram o que ela pretendia fazer. A garota foi balançando seus cabelos loiros até a mesa da Lufa-Lufa, chegando em Edgar Bones e dando um cutucão nada gentil no menino, que sorriu ao vê-la. Dorcas mordeu os lábios ao ver tal cena.
    - Sabe aquele seu convite? – Ela falou, sem cerimônias, batendo o pé como uma criança mimada. – Eu aceito.
    - Ah, que ótimo, Emme! – Edgar tinha brilho nos olhos.
    - Bom, só pra você saber... agora deixa eu terminar meu almoço... – Emmeline virou-se e caminhou de volta para a mesa da Grifinória.
    Edgar Bones olhou para os amigos da Lufa-lufa meio confuso com a reação da garota. Os amigos o olharam de volta, como se estivessem tanto ou mais confusos que ele. Estranho modo de aceitar um convite, esse...
    -Pronto! Eu já tenho par também! – Emmeline declarou, com raiva, ajeitando sua cadeira e se jogando nela, para tentar engolir mais alguma coisa do seu almoço.
    - Eu pensei que você tivesse dito que já havia aceitado o convite do Bones – Dorcas comentou sonsamente.
    Emmeline largou o garfo com força, batendo o punho na mesa.
    - Não, Dorcas! Eu não tinha aceito! Sabe por quê? Porque eu tinha ido ao Salão Comunal, conversar com você, dizer que estava arrependida de não ter dado um fora nele, dizer “desculpa, Dorcas” mas vocês estava lá, e aceitou o convite do Remus! Logo do Lupin?!
    Remus olhava boquiaberto para Emmeline. O que ela quis dizer com “logo do Lupin”? Dorcas não sabia onde enfiava a cara.
    - Puxa, Emme... Desculpa...
    - Não! – Emmeline se levantou novamente. Lily e Marlene, esquecendo o clima de guerra, se olharam nervosas. Ela estaria possuída? – Não desculpo! Você não pensou em mim, como eu pensei em você!
    - Do que você está falando, louca? – Dorcas se aborreceu.
    - Como do que? Como? – Emmeline estava rindo, desvairadamente. Lily sentiu medo daquilo. – Você vai ao baile com ele! – E apontou para Remus.
    - E o que tem isso, Vance? – Remus se meteu.
    - Oras, sou EU quem deveria ir ao baile com você, Lupin!
    Pausa. Momento “eu disse besteira” de Emmeline Vance.
    Tudo bem, ninguém tinha culpa daquilo, mas... Não era de hoje que a garota era apaixonada por Remus Lupin. Ninguém sabia, exceto seu diário. Nem para as amigas ela havia contado aquilo. Ela o via sempre sozinho, mas era incapaz de comentar o quanto ele a atraía. Fosse por vergonha, timidez ou pelo simples fato de acha que ele a ignorava.
    Mais um pouco de pausa. Momento “Eu ouvi isso mesmo?” de Remus Lupin.
    Era um sonho? Era real? Estava louco, ou Emmeline Vance acabara de se declarar... Declarar não seria a palavra mais adequada, talvez, mas sim... Se achar dona dele. Ele sentiu uma vontade de sorrir... Emmeline Vance era a garota dos seus sonhos. Era linda, meiga, inteligente... Ou seja: não era para ele. Um lobisomem. Um monstro. Não. Ela não falou isso...
    A pausa continuou. Momento de reflexão de todos os que ali estavam presentes. Emmeline não sabia se corria, se ficava, se gritava ou se matava logo de uma vez.
    - Ai, Merlin! – Emmeline optou por sair correndo, uma vez que acho que se matar na frente de todos não era a melhor idéia.
    - Não! Emme, espere! – Remus se levantou e foi atrás dela.
    - E isso agora, gente? – Sirius comentou, completamente abismado.
    - Ela me dá medo... – Marlene tremeu.
    - Gente... Isso foi tão... Lindo! – Alice falou, encantadoramente. Olhos voltaram-se para ela. – Remus ainda vai precisar muito dela, e ele vai descobrir que com ela, tudo é mais fácil de suportar...
    - Por Merlin...! – Lily murmurou olhando incrédula para Alice.

Emmeline sentia as pernas bambas. Tentava correr, mas era inútil. Remus logo a alcançou.
    - Espera! – Ele a segurou, antes que ela caísse, pois estava tropeçando em seus próprios pés.
    - Desculpa, Remus, desculpa... eu sou um idiota! – Ela deixou as lágrimas rolarem.
    - Eu não te acho idiota! Emme! – Remus colocou uma das mãos no rosto da garota. – O que você disse...
    - Ai, esquece, Remus!
    - Não! Eu preciso saber... É verdade? Você... Queria ir ao baile... comigo?
    O que fazer quando se está entre a cruz e a espada, e só temos dois segundos para pensar? Esse foi o sentimento que percorreu o cérebro de Emmeline.
    - É... foi. Mas pelo visto, você prefere a Dorcas... E eu entendo...
    Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa a mais, Remus a abraçou, e muito rapidamente, tão rápido que ela nem viu como foi, ele a beijou.
    Foi tão mágico!
    Os lábios do menino encontraram-se com os dela, num tipo de ligação superior. Emmeline sentiu que seus joelhos falhavam, mas os braços fortes de Remus a segurariam se ela tombasse, disso ela tinha certeza. Remus não pensou, apenas agiu. E estava feliz naquele momento por conseguir se libertar daquela sensação de que nunca seria feliz.

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