Lobo Mau



Se Lily estava triste, muito diferente da amiga estava Dorcas.     Estranhamente, a menina estava com um sorrisinho de malícia no rosto, quando a ruiva entrou no dormitório feminino, com aquela mesma expressão de “desculpa por ter nascido” que Emmeline viu no Salão Comunal. Dorcas abriu a boca, eufórica, louca para contar alguma grande novidade, mas ao reparar na expressão de fracasso da amiga, deixou os ombros caírem em sinal de derrota.
    - Por Merlin, Lil... – Dorcas murmurou. – Alguém morreu?
    - Sim, Dorcas. Eu morri! – a ruiva se jogou na cama, chorando e agarrando um travesseiro.
    - Mas...? Que houve? Conta pra mim... ah, não fica assim, amiga... – a menina sentou-se ao seu lado na cama, passando a mão pelos cabelos vermelhos da outra.
    - Ai, amiga... eu faço tudo, tudo errado! Eu sempre coloco a culpa nele, mas a errada sou eu!
    - Nele...? Nele quem? No Jay?
    - Isso! Dorcas... eu o fiz me odiar! – Lily afundou a cabeça no travesseiro.
    - Nossa! Até que enfim ele abriu os olhos... estava demorando...
    - DORCAS! – ela gritou, mas a voz era abafada.
    - Ah, desculpa, Lil, mas espera aí... Você queria o quê? Você trata o Potter como se fosse um cachorro sarnento – Dorcas deu de ombros.
    Lily levantou a cabeça, com um expressão indignada. Como Dorcas era tão insensível? Ela estava sofrendo e a amiga de longa data não fazia nada para animá-la, pelo contrário, parecia estar disposta a afundá-la mais ainda. A sua amiga reparou, mas antes que pudesse ouvir um sermão, continuou.
    - Lil, realiza... James é um dos carinhas mais populares de Hogwarts, isso é um fato. Ele, Black e... – Dorcas fez uma pausa, para abrir um sorrisinho sonhados - ... e Bones... Ai, Edgar Bones... – Olhou para Lily, vendo que a amiga estava com cara de tédio, e balançou a cabeça - Bom... Voltando aqui... Ele te chama para sair desde o quê? O 3º ano?
    - Desde o 2º - Corrigiu Lily.
    - Não importa... O que eu quero dizer é que ele gosta de você há tempos, ele preferiu você a todas aquelas galinhas que ficam gritando para ele nos jogos – Dorcas levantou num pulo da cama, fazendo uma estranha dança com os braços no ar. – “Vamos, Potter! Você é o maior! Me chama de pomo de ouro, me caça, me dá uma pegada... casa comigo, Potter”!
    - Dorcas, menos... – Lily afundou novamente a cabeça no travesseiro.
    - Lil, você é cega, amiga? Nunca viu a torcida organizada do James? Aposto que qualquer garota, não digo só da Grifinória, mas qualquer uma de Hogwarts, daria qualquer coisa para ter James Potter aos seus pés. E você o tem aos seus e o esnoba.
    - Eu sei... mas... agora eu fui cruel, Dorcas. Eu feri os sentimentos de James.
    - Não diga? Ah, não acredito que você, doce e meiga desse jeito, conseguiu fazer isso! Como você conseguiu? – o tom da garota era irônico.
    - Dorcas... me faz um favor? Me deixa sozinha? – Lily virou o rosto, sem topar a ironia da amiga. Dorcas era uma ótima amiga, mas como inimiga era melhor ainda.
    - Claro, claro... fica aí curtindo suas dores. Eu vou pensar no meu vestido de baile. Edgar tem que ver uma princesa na minha pessoa...
    - Ele vai ver uma bruxa malvada, ou um dragão... – Lily resmungou, mas Dorcas já tinha deixado o dormitório.

Enquanto Lily curtia todo seu ódio e Dorcas sonhava com Edgar Bones, James se preparava psicologicamente para o esporro que estava entalado na garganta de Remus, louco para sair. O rapaz mantinha os olhos baixos acompanhando o amigo, até que este parou, cruzando os braços na frente do corpo, esperando que James o olhasse. James foi levantando os olhos lentamente, sentindo horror ao encarar aquela expressão de “eu sempre tenho razão” do amigo. E o pior: Remus realmente sempre tinha razão.
    - Então...? Que houve com a Evans? – Remus falou sem rodeios.
    - Ahh, Rem, é que eu estou...
    - Eu quero a verdade, não me enrola.
    James deu um suspiro longo, baixando os olhos novamente. Os ombros caíram juntos, denunciando que ele era totalmente culpado.
    - Eu fiz Lily se sentir mal por me esnobar – Falou, num tom envergonhado.
    - E...?
    - Ela ficou chateada, queria se desculpar e eu não dei chances. Falei que estava desistindo dela, que fazia votos que ela encontrasse alguém mais legal e sério que eu... e que eu ia me juntar a uma trupe circense quando acabasse Hogwarts.
    - Uma trupe circense? – Remus fez uma careta.
    - É, fazendo mágicas para os trouxas aplaudirem...
    - Por que você tem essa mania de ironizar tudo, James? Será que você não consegue falar sério uma vez na vida?
    - Eu já tentei! OK? Eu já tentei! – James aumentou o tom de voz, nitidamente revoltado. – Mas quando eu fui falar sério com ela, ela me esnobou, me fez me sentir um completo idiota! Eu não vou ficar triste por causa disso! E tem mais, Remus... é bom mesmo que ela esteja triste, assim ela pensa no quanto eu já sofri por ela! O que você quer, Remus? Que eu me jogue na cama, faça greve de fome e morra gritando “Lily, você é a culpada pelas minhas dores?” Sem chances! Eu não vou!
    Remus ficou em silêncio, observando o amigo, que estava ruborizado de raiva. Parecia estar analisando cada palavra que ele acabara de ouvir, como se estivesse meditando sobre a veracidade delas. Por fim, balançou a cabeça.
    - Sabe, James... eu só queria que você soubesse que eu não estou nada satisfeito com isso...
    - Ah, não? Então, meu caro Aluado... vou te dizer uma coisa: não se meta na minha vida! Isso é um problema entre mim e Lily, ninguém mais!
    James quase se arrependeu de ter dito isso, quando reparou que Remus não estava esperando por aquilo, visto sua cara de decepção. Quando pensou em se redimir, Remus foi mais rápido.
    - Tudo bem, James. Realmente, eu não tenho nada a ver com isso...
    - Rem, eu não...
    - Não, você está certo... – o rapaz loiro ergueu a mão, pedindo tempo. – Eu sempre quero me meter na vida de vocês... Eu digo com quem Sirius deve ou não ficar, eu digo a Peter o que é bom ou mau, eu te digo como agir... eu sou um grande entrão...
    - Não, não é bem assim...
    - Eu entendi – Remus abaixou a cabeça, como se estivesse se rendendo – Obrigado por me fazer enxergar que eu sou um chato... Eu nunca mais, prometo, nunca mais me meterei na vida de vocês. Mas é que eu me sinto tão responsável por vocês, porque vocês cuidam de mim quando eu mais preciso, vocês fazem tudo para me ajudar, eu só queria retribuir...
    - Ai, Remus, não fala isso... Olha, eu fui um...
    - Jay – Remus tinha os olhos úmidos –, desculpa? Eu não queria me meter na sua vida.
    - Ah, para, você não vai...
    - Eu sou um monstro! – Remus escondeu o rosto entre as mãos.
    James ficou atônito. Remus pirou? Ele sempre pensou sobre a convivência do tão certinho Remus Lupin com ele e Sirius Black... Mas agora, parecia que eles tinham feito um ótimo trabalho: Remus estava completamente estranho, como um maníaco depressivo.
    - Rem... não... não peça desculpas... – o rapaz chegou perto, passando um braço pelos ombros de Remus.
    Quando Remus ergueu a cabeça, havia um sorrisinho de vitória nos seus lábios.
    - Agora você entende como Lily está sentindo? – Perguntou, em tom de desafio.
    “Safado, me enganou!” James pensou.
    Pois sim, a convivência com James Potter e Sirius Black havia feito de Remus um grande ator, espertinho e debochado. A única diferença é que Remus escondia seus “talentos” para quando fosse realmente necessários os mostrar.
    - Remus, você é um lobo mau na pele do cordeiro... no sentido literal da frase!

Enquanto isso, na sala do Diretor da Sonserina, Minerva dava um longo suspiro, olhando de relance para Slughorn, que tinha o queixo apoiado na mão, com uma cara de tédio misturada com raiva. Os dois esperavam que os alunos a sua frente se calassem, mas parecia impossível tal feito.
    - Você tem inveja de mim, sua despeitada! – Amanda gritou.
    - Inveja de uma galinha como você, ahaha! Me faz rir, Stonebreaker! – Marlene revirou os olhos.
    - Claro, inveja! Eu tenho o cara que eu quiser, meu bem! Sirius, Domini, Travis...
    - Espera... – Sirius a olhou, incrédulo – Você pegou o Travis? Putz, que nojo! E você ainda se gaba por isso?
    - Ai, ai... queridinha... Se eu fosse você teria vergonha de falar isso em voz alta. O único que passa é o Sirius mesmo... se bem que pegar o Sirius não é vantagem para ninguém, Hogwarts inteira já o pegou, inclusive eu... – Marlene debochou.
    - Nossa, valeu mesmo... – Sirius olhou de relance para ela. – Estou me sentido um safado filho da pu...
    - Não completa a frase, Sr Black – Minerva saltou para frente – ou eu esqueço de tentar entender os motivos de vocês e parto logo para detenção!
    - Opa... Desculpa! – Sirius sorriu.
    - É realmente necessário ficar ouvindo esses três debatendo sobre quem namora quem nessa escola? – Slughorn falou no meio de um bocejo. – Na nossa época, não era essa festa de beijos. É essa história de “faça amor, não faça a guerra”... Malditos trouxas... Marcaram a década de 70 como uma época de liberação sexual...
    Minerva virou a cabeça, olhando com sua melhor expressão de incredulidade para Slughorn. Sirius, Amanda e Marlene também o fitavam, estarrecidos. Slughorn deu uma tossidinha para disfarçar e se ajeitou na cadeira.
    - Bom, por mim, Minerva, os três podem ir dormir e esquecer esse dia de hoje. – Falou, com tom de superioridade.
    - Hã??? – Minerva deixou o queixo cair. – Como assim?
    - Analisemos os fatos, cara Minerva: Longbottom perdeu a cabeça quando sua namoradinha, Prewett perdeu a dela também, Black e Potter estavam ajudando a manter a ordem, então Stonebreaker resolveu liberar suas neuroses e McKinnon deu uma de justiceira...
    - E os trasgos fizeram uma linda apresentação do balé Quebra Nozes no final – Minerva ironizou. – Horace...? Você bebeu?
    - Olha, Minerva... Eu não admito que você suspeite da minha sobriedade!
    - Mas como não duvidar? Você está completamente estranho...
    - Por favor, se quiser continuar com isso, continue na sua sala... Eu tenho muito que fazer antes de dormir e... – o diretor se levantou, afastando a caixa de abacaxis cristalizados para um canto da mesa – estou realmente cansado para perder meu precioso tempo com crises amorosas de adolescentes... – ele foi se arrastando até a porta, a abrindo. – E Stonebreaker não receberá detenção, se quiser aplicar alguma nos seus alunos... Problema seu. Boa noite a todos.
    Os alunos e a Diretora da Grifinória ficaram estáticos, olhando para Slughorn, parado ao lado da porta aberta.
    - BOA NOITE... A todos... – ele repetiu, enfatizando o “saiam agora daqui” subentendido na frase.
    Sirius foi o primeiro a se levantar, pegando Marlene pelo braço. Logo após, Amanda os seguiu. Minerva foi por último, deixando os alunos saírem pela porta e alcançarem o corredor, antes de se virar para encarar Slughorn pela última vez.
    - Isso foi ridículo. Eu sei que tipo de afazeres você tem com sua garrafa de hidromel e seus abacaxis cristalizados!
    - Meta-se na sua vida, Minerva... – e ele bateu a porta com força, deixando a Diretora com cara de tacho.
    Sirius estava se segurando para não rir. Olhou para seu lado e viu que Marlene também fazia uma careta ao segurar o seu riso. Quando os olhos dos dois se encontraram, parecia que havia começado a tocar uma música muito romântica, como nos filmes de romance. Mas todo o romance se desfez quando a voz aguda de Amanda cortou o ar, bem no meio deles.
    - O circo acabou? Posso voltar ao meu dormitório? Meu diretor não me dará detenção então...
    - Espera aí, mocinha! – Minerva ergueu a mão. – Seu diretor não é o único que pode lhe aplicar detenção!
    - Mas como...?
    - Você e McKinnon, as duas, estejam na minha sala amanhã, após o almoço... Tenho um trabalho como detenção!
    - Mas não é... – Amanda contra-argumentou, mas Marlene a cortou.
    - Certo, Diretora, eu estarei lá. – a menina morena sorriu.
    - E o Sr... Sr Black... Não vai ter detenção, mas na próxima balbúrdia com o seu nome... Ai, ai, ai... Eu vou lembrar desse evento para piorar a detenção! Estamos entendidos?
    - Sim, senhora – Sirius bateu continência. Minerva rolou os olhos, dando um grunhido de impaciência.
    - Eu não mereço isso... Vão... Vão para os Salões Comunais... Eu vou tomar um gole daquela poção da Poppy para dormir com as fadinhas encantadas...
    - Acho que a professora está convivendo muito com Emmeline – Marlene comentou com Sirius, quando ela se afastou.
    - É, vai ver que sim – ele riu.
    Os dois novamente se encararam, num clima de romance, mas Amanda estava realmente disposta a os deixarem loucos.
    - Isso ainda não acabou, certo? – Ela os desafiou.
    - Stonebreaker... – Sirius virou-se lentamente para ela. – Vai ver se o retardado do seu namorado, Bletlchey, se limpou direitinho depois da caquinha, vai...
    Marlene soltou uma gargalhada escandalosa, se curvando para frente ao rir. Amanda deu um gemido de raiva e saiu trotando pelo corredor, rumo às masmorras. Os olhos de Marlene estavam cheios de lágrimas de tanto rir quando Sirius a pegou pelo braço, olhando em seus olhos novamente.
    - Lene... – ele começou, e Marlene sentiu os joelhos bambearem – Eu nem sei como te agradecer... mas eu prefiro te pedir desculpas ao invés de agradecer.
    - Desculpas?
    - Sim. Eu tenho agido como um perfeito babaca. Estava tão entretido comigo mesmo que não percebi o quanto eu precisava de você... e o quanto eu te magoei.
    - Mas... Sirius...? – ela começou, mas ele levou um dedo até seus lábios, fazendo-a calar.
    - Não, não fala nada... só me perdoa? Lene... eu não poderia ter mais sorte na minha vida. A garota mais linda, mais meiga, mais corajosa e perfeita estava na minha frente o tempo todo... e eu não a enxergava. Eu sei que você merece alguém melhor que eu... mas eu quero merecer seu amor, e eu vou merecer...
    - Sirius... – As lágrimas de Marlene, antes de tanto rir, agora já começavam a ser de emoção. – Você merece!
    - Não, eu ainda não mereço. Mas eu vou merecer uma garota tão incrível quanto você.
    - Você não entendeu – A garota se aproximou dele, colocando uma das mãos em seu rosto – Você me merece. Eu... eu...
    - Eu estou completamente apaixonado por você, Marlene – Sirius falou, passando uma das mãos pela cintura da garota.
    - E eu te amo, Sirius – ela aproximou o rosto do dele, colando seus lábios no do rapaz, num beijo muito esperado, tão esperado quanto a declaração dele.

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